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A mostrar mensagens de junho, 2009

Jesus, lembra-te de mim

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Certamente que a pessoa mais conhecida da Humanidade é Jesus Cristo. Crentes e não crentes ouviram falar, sabem quem é. Para uns um homem político, para outros uma pessoa extraordinária, para muitos o rosto de Deus no nosso mundo. Para mim, o que mais me impressiona na vida de Jesus não são os milagres; impressionam-me bem mais as suas palavras, mesmo que compostas por quem escreveu os Evangelhos, impressionam-me os seus gestos de perdão e bondade, impressionam-me os braços estendidos na cruz. Mas por incrível que possa parecer, a frase da Bíblia que mais me comove não vem de Jesus, mas daquele homem que padeceu como ele, e que antes de morrer lhe diz: "Jesus, lembra-te de mim quando estiveres no teu Reino" (Lucas 23, 42 ). Que outra coisa poderíamos nós pedir a Deus senão que nos acolha junto dele? Deixo aqui um pequeno filme que ofereci à Joana, no dia do seu aniversário, com estes aspectos da vida de Jesus que acho que devemos imitar. A música é de Taizé, a letra, em inglê

Já lá vão cinco anos!

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Os casais gostam de celebrar o aniversário de casamento. Nós padres lembramo-nos do dia da nossa ordenação ou da nossa Primeira Missa. Faz hoje cinco anos que celebrei a minha Primeira Missa na Comunidade em que vivo, o Convento de São Domingos de Lisboa. Cinco anos depois, só tenho que dar graças a Deus pelo que me tem concedido. Bem razão tinha São Paulo em dizer que somos um vaso de barro no qual trazemos um grande tesouro (2 Cor 4, 7). Partilho convosco um texto medieval sobre o sacerdócio que, na altura da minha ordenação, me causou impressão pela actualidade que traz: “Um sacerdote deve ser simultaneamente pequeno e grande, nobre de espírito, como de sangue real, simples e natural, como de raiz camponesa, um herói na conquista de si mesmo, um homem que se bateu com Deus, uma fonte de santificação, um pecador a quem Deus perdoou, dos seus desejos o soberano, um servidor para os tímidos e os fracos, que não se abaixa diante dos poderosos, mas que se curva diante dos pobres, discípu

Fonte da Telha

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Vejo o céu e o mar que se encontram no horizonte. Vejo verde, vejo azul, vejo as cores do mundo. Oiço o bater das ondas em tom e ritmo certo. Oiço as crianças que gritam de alegria pela praia. Sinto a força de Deus na fragilidade do universo. Sinto a novidade de Deus na monotonia do tempo.

O Cura de Ars

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Na sexta-feira passada, o Papa Bento XVI proclamou um "Ano Sacerdotal". Como ele escreveu, este ano é, em especial, " para fomentar a renovação interior de todos os sacerdotes em ordem a um testemunho evangélico mais vigoroso e incisivo ". Isto tudo porque se celebra o 150º aniversário da morte do Santo Cura de Ars (João-Maria Vianney). Não tenho especial devoção a anos temáticos, como um ano paulino ou ano sacerdotal. Contudo, podemos sempre tirar partido destes acontecimentos. Parto hoje para uma semana de férias. E vou levar um único livro: uma longa biografia deste santo. Pode ser que a leitura da vida deste homem me inspire a ser melhor.

Em cima do penedo I

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Ir de férias com a minha mãe tem outro encanto. Como durante o ano estou com ela, mais ou menos uma vez por semana, no verão conseguimos estar 15 dias, normalmente na sua terra de origem, Feirão-Lamego. Passear, conversar, trazer ao presente memórias antigas... Hoje, ao fazer uma limpeza no meu computador, apareceu o que iria ser um livro a partir da vida da minha mãe. Projecto ambicioso. Comecei a escrever as origens, até arranjei um nome para este livro: Em cima do penedo. Não sei se algum dia isto irá a algum sítio mas o princípio começava assim: " Como nada tinham, nada comiam. E se não era mal geral era de grande parte daquela aldeia de Feirão, nos finais dos anos cinquenta. Tinha a região passado por uma peste, a ‘malina’. Crianças e adultos morriam, funerais, três num dia, segundo se conta. A Erminda, que tinha casado há pouco com o Zé, está agora de esperanças. Breve nasce a primeira filha do casal. Como se há-de chamar? Clarinda, diz a mãe, lembrando-se de uma amiga que v

Extrema Unção

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Ontem, no hospital, ofereci a uma doente um poema de Miguel Torga com o título "Extrema Unção": Não tenhas medo, coração aflito! Bate serenamente Como se o infinito Fosse a tua medida permanente. Parar agora ou logo, tanto faz. O que importa é que a última pancada Seja dada Num ritmo de paz. É calmo que na foz da perdição O rio enfrenta as ondas e mistura A lírica doçura À trágica e salgada imensidão. Só há sono perfeito no regaço Da morte que primeiro foi vencida. Não percas o compasso, Metrónomo da vida!

As tílias

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Para mim uma boa árvore é aquela que dá boa sombra, bom odor e bons frutos. Nestes últimos dias, por alguns sítios por onde tenho passado, tenho sentido o cheiro forte e agradável das tílias, que começam a rebentar a flor. Lembro-me em especial, no passado dia 10, em Cernache do Bonjardim, na quinta do Seminário dos Missionários da Boa-Nova, do zumbir das abelhas e do cheiro sempre agradável das duas grandes tílias por onde passei. Esta é um exemplo da árvore 'útil': dá sombra, tem bom cheiro, e dá uma flor que, quando seca, podemos usar para chá. A tília até dá inspiração aos poetas. Aqui fica um da grande Florbela Espanca: "Diz-me a tília a cantar: "Eu sou sincera, Eu sou isto que vês: o sonho, a graça, Deu ao meu corpo, o vento quando passa, Este ar escultural de Bayadera... E de manhã o sol é uma cratera, Uma serpente de oiro que me enlaça... Trago nas mãos as mãos da Primavera... E é para mim que em noites de desgraça Toca o vento Mozart, triste e solene, E à min

O Papa Bom

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Hoje li um livro muito interessante: " Fioretti do Bom Papa João ". É um livro que recolhe algumas frases, pensamentos e atitudes deste homem de Deus, sem dúvida o grande Papa do século XX. A ele se deve o Concilio Vaticano II, a ele se deve o aggiornamento da Igreja, a ele se deve a grande encíclica " Pacem in Terris ". Ao ler as suas 'florinhas', vemos que este homem nunca ambicionou o poder, nunca quis ser rico, mas sempre quis estar próximo dos pobres e dos doentes. Também é muito conhecido pelo seu bom humor. Deixo aqui algumas das suas " fioretti ": "O Papa conta que, no final do dia em que anunciou o Concílio, sentia dificuldades em adormecer: « João, porque não dormes? És tu, Papa, quem governa a Igreja, ou é o Espírito Santo? É o Espírito Santo, não é verdade? Então dorme, João !»" " O Papa é um prisioneiro nos seus vastos palácios , disse um dia João XXIII aos camponeses de uma aldeola italiana". "Ao ouvir, por ac

Já fui Santo António

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Julho de 1980. Em Feirão, terra natal da minha mãe, durante uma procissão ao Santíssimo Sacramento, a minha avó cumpre uma promessa de fazer a procissão de joelhos diante do Santíssimo, para que o seu marido ficasse curado. A promessa era também a de que os seus filhos mais novos e eu, único neto nascido, fossemos com vestes de santos. A minha tia foi vestida de Nossa Senhora dos Milagres, o meu tio mais novo foi vestido de São José (à esquerda) e eu de Santo António (à direita). Cumprimos a promessa mas o meu avô acabou por morrer quinze dias depois. A grande mulher foi a minha avó que confiou em Deus. Pode-se concluir que não valeu de nada mas valeu. Valeu a fé daquela mulher que ficou viúva com sete filhos em casa, que teve uma vida dura mas que sempre confiou em Deus. Neste dia de Santo António recordo aquele dia em que eu fui Santo António (tinha 5 anos). Lembro-me da auréola que me apertava, lembro-me do Menino Jesus que acabou por cair e partir-se, lembro-me do calor que fazia.

Corpo de Deus

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Hoje os católicos celebram a festa do Corpo de Deus. É quinta-feira, para nos lembrarmos aquela quinta-feira em que Jesus instituiu a Eucaristia. À luz da Páscoa, as palavras de Jesus "Tomai e comei, isto é o meu Corpo", "Tomai e bebei, isto é o meu Sangue", "Fazei isto em memória de Mim", ganham um novo sentido. Sabemos que, cada vez que celebramos a Eucaristia, tornamos Jesus presente na Igreja e na nossa vida. Lembro-me hoje de uma jaculatória que, um pouco por todo o país, ainda se vai rezando: " Bendito e louvado seja / o Santíssimo Sacramento da Eucartistia. / Fruto do ventre sagrado / da Virgem puríssima Santa Maria ".

Miguel Torga no hospital

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Voltei a visitar uma senhora, internada no Hospital da Luz, unidade de cuidados paliativos. Sempre me fez muita impressão a rotineira pergunta: "Então como vai?" Se uma pessoa sabe que não está bem a resposta vai ser: "mal!". Opto por outra pergunta: "Então como tem passado?" E então há mais possibilidades de resposta e de seguir conversa: "Estou bem, não tenho dores..." Mas, como dizia, visitei esta senhora pela segunda vez. É impressionante como se mantém calma e serena em relação à morte que está perto. Tem pressa de morrer. Não queria morrer em casa... "Deus não me chama", disse-me. Falámos, então, do tempo de Deus que é diferente do nosso tempo. Mas o grande tema de conversa foi Miguel Torga, de quem ela é apaixonada: "é a minha paixão!" Vêm-lhe as lágrimas aos olhos. Li pouco Miguel Torga. A primeira coisa foi o Romance da Raposa. Já muito mais tarde li os Contos, e agora, tenho na estante a Poesia Completa e a Vindima à

Oração de Santa Catarina de Sena à Santíssima Trindade

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S anta Catarina de Sena, mística dominicana do século XIV, foi uma mulher que sentiu no seu corpo, como mais tarde também Santa Teresa de Ávila, a força e a presença da Santíssima Trindade. Santa Teresa de Ávila, num dos seus escritos que relatava uma das visões da Santíssima Trindade, escreveu que a Trindade lhe disse: “ Não trabalhes para me teres a mim, encerrado em ti, mas para te encerrares tu em Mim ”. Santa Catarina de Sena teve muitas revelações que as ditou e que estão reunidas num livro chamado “o Diálogo”. Porque é isso mesmo: um diálogo de uma pecadora com o Todo-Santo. Durante os seus momentos de êxtase os discípulos de Santa Catarina colocaram por escrito as orações e as preces que ela rezava. Há uma grande oração à Santíssima Trindade que Santa Catarina mandou escrever e com que termina este livro de que vos falei: " Agradeço-te ! Agradeço-te, Pai Eterno, porque não desprezaste esta Tua criatura e os seus desejos. Tu és a luz, eu sou a escuridão; Tu és a vida, eu so

Estar 'zangado' com a Igreja

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De vez em quando cruzo-me com algumas pessoas que dizem estar zangadas com a Igreja. Porque o Papa fez isto ou disse aquilo, porque a Igreja é rica e devia ajudar mais os pobres, porque os padres são muito pecadores, porque os que vão à missa são piores que os que lá não vão, porque a doutrina da Igreja está desactualizada... enfim, uma ladaínha de queixas, quase todas elas com algum fundo de verdade. No entanto, a Igreja é mais que um discurso do Papa, é mais do que o Vaticano cheio de obras de arte (que não se podem vender porque o direito internacional proíbe e porque o Vaticano tem a tarefa de as conservar em nome do Estado italiano...), é mais do que os pecados dos padres ou dos fiéis. A igreja é, como escreveu São Paulo, um corpo, do qual, todos os que são baptizados fazem parte; ou então, como diziam os primeiros Padres da Igreja, ela é 'Sancta et Meretrix' (santa e pecadora). E, por isso, mais do que queixar-se da Igreja ou zangar-se, devemos rezar por ela e pelos seus

Revelação do mistério de Deus

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Porque é que foste para padre?

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Infelizmente muita gente - e às vezes até os padres! - vê o ser padre como uma profissão como qualquer outra. Um especialista em coisas de Igreja. Mas ser padre é mais do que isso. Ou melhor, ser padre não é como qualquer outra profissão. Porque ser padre não é exercer uma profissão mas sim uma configuração com Cristo, um serviço aos outros na Igreja. Ontem jantei com um amigo que me perguntou porque é que eu tinha ido para padre. Há itinerários que vamos percorrendo na nossa vida, alguns deles sem saber onde vão dar. Sabia eu aos 12 anos que ia ser frade dominicano? Não. Mas foi aos 12 anos que os primeiros passos foram dados. Claro que há um envolvimento da família que ajuda. Não posso deixar de recordar o exemplo e o testemunho de duas pessoas que me ajudaram: a minha avó e o meu pároco (padre que governa uma paróquia). Experiências várias no Pré-Seminário, sem nunca ficar muito ligado, até que, pelos 18 anos, com um ano de acompanhamento vocacional e de trabalho efectivo, entrei no