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A mostrar mensagens de junho, 2010

O Pão nosso

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Leio um artigo da revista "Pública", sobre o pão, de autoria de David Lopes Ramos, que vou transcrever de seguida. O pão que, como sempre me ensinaram, não se pode estragar. Nestes tempos de consumismo, em que o pão se tornou banal, que nos desfazemos dele como se de lixo se tratasse, aqui deixo a minha veneração ao pão, maravilhosa invenção humana, fruto da sua inteligência e, ao mesmo tem po, fruto dos quatro elementos do universo. " O pão é muito mais novo do que a humanidade. Só tem uns dez mil anos. Antes de descobrirem as técnicas de farinação, os homens comiam os cereais em grão. Os citadinos tendem a esquecer-se de que o pão se faz, não nasce da terra como o arroz, a batata, as maçãs ou as cerejas, que consumimos tal como os colhemos. Com o pão, não basta colher a espiga e já está. 0 pão sua-se – “Comerás o pão com o suor do teu rosto”, sentenciou o Criador a Adão, quando ele não resistiu à maçã do Paraíso –, confecciona-se à força de braços. 0 pão semeia-se, seg

Um jogo de bilhar

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Ontem à noite estive a ver dois documentários sobre comunidades religiosas francesas. Um de monges ortodoxos, com os seus ritmos e ritos, poucos, vestidos de preto contrastando com as cores das paredes do mosteiro, todo pintado de ícones. Vivem afastados da cidade. Trabalham, rezam, comem - aqui ressalta a frugalidade da mesa - falam pouco e quando necessário. O outro, mais ocidental, de uma abadia cisteciense. Mais numerosos, vivem num edifício austero, ou não fosse uma abadia a sério, também trabalham e comem mas sempre em silêncio. Só as orações rompem o silêncio. Aqui não falam uns com os outros, mas todos falam a Deus. O dia repartido entre a oração, o trabalho - vivem do fabrico de queijo de ovelha - e o descanso, assim vivem estes monges, também afastados da cidade, rodeados de montanhas e de árvores que, por ter sido gravado o documentário no inverno, estavam vestidas de neve. Falaram dois monges: o Abade, homem de meia idade, sobre vocações. O segundo, mais velho, dizia que an

A amizade espiritual

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" Um amigo fiel é uma poderosa protecção; quem o encontrou, descobriu um tesouro ". Isto lê-se na Bíblia (Sir 6, 14). Não é passagem única, e na Bíblia temos vários exemplos disso, veja-se, a título de exemplo, a amizade entre David e Jónatas, filho do rei Saúl, amizade tal que Jónatas chegou a amar David como a si mesmo (1 Sm 18, 1-5). Hoje, durante o silêncio da oração da manhã, distraidamente folheei o Livro das Horas e encontrei um texto sobre a verdadeira, perfeita e eterna amizade. Este texto é do século XII, do Beato Aelredo, abade, que escreveu um tratado sobre a amizade espiritual. Este excerto vinha no seguimento do episódio que lembrei, da amizade entre David e Jónatas. Então termina assim este texto: " Esta é a verdadeira, perfeita, estável e eterna amizade. Não se deixa corromper pela inveja, não diminui com suspeitas, não se dissolve pela ambição; posta à prova não cedeu; assaltada, não caiu; batida por tão graves insultos, ficou inflexível; provocada por t

Silêncio e tanta gente

1984. Maria Guinot leva ao Festival da canção uma das mais bonitas músicas que marcaram a minha infância, juventude e que ainda hoje mexe comigo. Não pelo amor mas pelo constante contraditório da letra: um sim alegre ou um triste não, troco a minha vida por um dia de ilusão... Sempre esta música me disse que também somos contradições. Faz parte da existência humana. Já ontem disse que não tenho jeito para a poesia. Mas acredito que a poesia nasce do silêncio e da solidão. Aliás, para a escrever e para a ler. Também na vida, às vezes o silêncio é bom para escrevermos e lermos a nossa vida. Escrever isto, hoje, neste neste blogue, é porque quer aqui quer na vida, sentimos, às vezes, que a vida é silêncio no meio de tanta gente.

O Mar

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Era Agosto e Miguel Torga estava em Miramar. Escreveu este poema sobre o Mar: Mar! E é um aberto poema que ressoa No búzio do areal... Ah, quem pudesse ouvi-lo sem mais versos! Assim puro, Assim azul, Assim salgado... Milagre horizontal Universal, Numa palavra só realizado. Não tenho o dom da poesia, esse grande milagre de juntar as palavras ao sentimento e de ultrapassar com a escrita o limite do olhar. Mas hoje estive na praia. Uma da praias da minha vida. Vou à praia para andar, ver o verde da floresta e o verde do mar. Não sei se é verde ou azul. Mas que mais dá? São cores que se adoram, seja o verde do mar ou o verde da floresta com o azul do céu. Mas gosto das cores da floresta, das cores da areia, das cores do mar e das cores do céu. Gosto do vaivém das ondas que rebentam e que fazem as crianças gritar, gosto de me envolver com esta natureza tão natural e tão própria, gosto do mar que puxa e empurra, gosto da linha que separa - ou será que une - o mar ao céu.

Raphanus raphanistrum

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Raphanus raphanistrum é o nome técnico, latino, de uma planta, o saramago. Foi um amigo quem mo disse, ontem, quando falávamos da morte do escritor. E é sobre o escritor, José Saramago, que escrevo este post, poucos minutos antes da meia-noite do dia em que foi cremado. Como premissa do que se segue, vale a pena dizer que não sei nada de literatura, e que o meu contacto com Saramago é só mesmo o do prazer da leitura dos seus livros, sem introduções nem explicações. Saramago é, sem dúvida uma pessoa de referência. Seria pobre deixar de ler Saramago, ou outro escritor qualquer, por ser comunista ou ateu. Como qualquer pessoa, somos mais do que aquilo que aparentamos ser. Saramago era rebelde, inconformado, do contra, diríamos nós em bom português. Li alguma coisa dele; o que mais gostei foi a 'Jangada de pedra', achei piada ao 'Caim', entusiasmou-me o 'Memorial do Convento', fez-me pensar as 'Intermitências da Morte', foi para mim aborrecida a 'Viagem

As aparências

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Na primeira leitura do Ofício de Leituras deste domingo, leu-se uma passagem do Primeiro Livro dos Reis. Para mim das mais bonitas dos livros históricos da Bíblia: a unção de David como rei. O episódio é todo ele revestido de sentimento e de pormenores. Deus diz a Samuel que vá a Belém para ungir aquele que Ele tinha escolhido para suceder a Saúl. Em Belém vive um homem com sete filhos. Samuel ao ver o mais velho pensou que era ele o escolhido de Deus. Mas Deus diz-lhe ao ouvido: "Não te impressiones com o seu belo aspecto, nem com a sua elevada estatura, porque não foi esse que Eu escolhi. Deus não vê como o homem; o homem olha às aparências, o Senhor vê o coração ". E assim correram os outros cinco filhos e será o mais novo, o que está a guardar o rebanho, David, que o Senhor escolhe para suceder o rei morto. Ver os outros com os olhos de Deus é o desafio para o crente. Não às aparências mas ao coração; não ao que as pessoas têm mas ao que as pessoas são.

Luzes escondidas

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Se olharmos à noite para o céu estrelado, o que vemos? A lua, formosa e brilhante, as estrelas que cintilam, as constelações mais ou menos nítidas. E achamos tudo de uma grande beleza e simplicidade. Mas esquecemo-nos do principal. É que, se há luz no firmamento, é graças ao Sol, que não se vê mas que ilumina e dá sentido a uma noite de céu aberto. Assim é na nossa vida. Às vezes olham para nós, acham-nos brilhantes, com luz própria, esquecendo-se que há um sol, que por discrição se colocou em segundo plano para iluminar estas pobres luzinhas celestes. Este post fica aqui escrito para lembrar aquelas pessoas, chamo-os de amigos, que têm a humildade, a amizade e a força de, na sombra, iluminar.

Um Diário

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Há muitos anos ofereceram-me o Livro em Branco. Adoptei-o como Diário. Ainda o tenho, misturado com os outros livros. A ideia que então tinha de Diário era ir todos os dias deixar por escrito o que me tinha acontecido. Depressa desisti porque não havia matéria e poderia tornar-se aborrecido. Retomei o Diário quando entrei no Seminário. Numa outra concepção, tornou-se o Livro das Emoções. Escrevia o que a alma me dizia e o que o pensamento me ditava. O primeiro Diário que li foi o de Florbela Espanca. O que se conhece é o do seu último ano de vida, 1930. Dramático, neurasténico, nostálgico, depressivo, porque não?... mas verdadeiro. A partir de Agosto entra-lhe a ideia da morte. Em Novembro pensa no suicídio, que o concretiza no próprio dia de anos, 8 de Dezembro. Dia trágico aquele. O do seu nascimento, o do seu casamento, o da sua morte. Seis dias antes escrevia uma só frase, terrível, sobre o sentido da vida: " E não haver gestos novos nem palavras novas !". Mais tarde, com

Amigos

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Rezava assim Santa Catarina de Sena pelos seus amigos: " Deus eterno, peço-te por todos os que me deste para amar com um amor especial e com especial atenção. Quer eles sejam iluminados com a tua luz, que toda a imperfeição lhes seja retirada para que na verdade possam trabalhar no teu jardim aonde os enviaste ".

O Ano Sacerdotal

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Antes de falar do ano sacerdotal que hoje termina, quero partilhar algumas fotografias de uma região que me é querida pela paisagem e tranquilidade que lá vivo. Ontem andei à volta do rio Zêzere, fui ao centro geodésico do nosso país, visitei a Batalha, antigo Convento Dominicano, passei por Fátima e, por fim, porque a vida não é um passeio, regressei ao Convento onde trabalho me esperava. Hoje, o Papa terminou, em Roma, o Ano sacerdotal. Uma alegria triste. Se por um lado foi tempo de valorizar o papel dos padres na vida da Igreja e das pessoas, porque o padre se não está para as pessoas não tem razão de existir, pois a sua vida é estar ao serviço, por outro lado este ano foi manchado com o problema da pedofilia dos padres da Igreja Católica. Houve quem dissesse que este desmascarar partiu de dentro da própria Igreja, de movimentos que reivindicam o casamento dos padres e a ordenação das mulheres. Não quero acreditar que possa ter sido assim, como também não achei bonito aproveitar e

Uma mensagem

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Chego de um dia de viagem. Respondo a mails em atraso e abro cartas que precisam de ser lidas e de respostas. Uma delas, de agradecimento, traz um cartão com este desenho de um ex-dominicano, há dois anos falecido, e com esta mensagem também escrita por ele: " Olhai a terra com um olhar de criança, sorri às coisas como um homem que vai em viagem, e a esperança encherá a concha da vossa mão direita e o tempo será para vós como um arbusto que cresce ". Assim termina o meu dia 10 de Junho.

São Marcelino Champagnat

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Já aqui falei de São Marcelino Champagnat e, frequentemente, falo dos Maristas, sobretudo pela assistência religiosa que lá vou dando, com a ajuda de Deus e também com a dos professores e dos próprios alunos. Ontem foi dia de São Marcelino Champagnat. Ele é o fundador dos Irmãos Maristas e está na origem dos vários Colégios Maristas, espalhados por todo o mundo. Hoje, no Externato Marista de Lisboa, há festa, a festa do Fundador que incluiu, obviamente, a celebração da Eucaristia. Celebrar a santidade de um homem de Deus é lembrar a sua vida, os seus ensinamentos, tomá-lo como modelo. São Marcelino queria que os alunos que frequentassem as suas escolas fossem, ao mesmo tempo, bons cristãos e bons cidadãos. Queria que houvesse boa relação entre professor-aluno, que a educação fosse mais do que aprender a ler e a escrever. Queria que todos amassem muito a Nossa Senhora, "a nossa Boa Mãe", pois, como ele dizia: " Tudo a Jesus por Maria, tudo a Maria para Jesus ". Era u

Um santo passou por nós

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Recebo um mail de uma amiga com este título. Estava à espera de um powerpoint ou de um vídeo do Youtube. Mas não. Era sobre o P. João Resina, que ontem faleceu, no hospital de S. José, após cinco meses de internamento. Ontem e hoje tenho vindo a escutar alguns testemunhos do P. João. Homem da ciência, Professor de Física, no Técnico, homem de Deus, quer pelas palavras quer pelos actos, homem entre homens, que a todos nos empurrava para o caminho da autenticidade da vida cristã que implica sempre compromisso. Conheci-o há 10 anos, quando veio pregar um retiro à minha comunidade. Lembro-me que estavamos com alguma dificuldade em arranjar um pregador que nos agradasse. Por fim saiu o nome do P. João que foi unanimemente aceite. Há três anos, na sequência de um AVC, teve de abrandar o ritmo na sua actividade pastoral na paróquia do Campo Grande. E pediram-me que o substituísse na 'Missa das Seis'. É daqui que vem a minha recente ligação e colaboração no Campo Grande. Do P. João gu