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A mostrar mensagens de maio, 2011

Bem aventurados

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Terminei hoje, no Externato Marista de Lisboa, a celebração das Bem-Aventuranças. É uma celebração que se enquadra na caminhada catequética, que acontece no final do 7º volume, que em idades, corresponde aos 11-12 anos, em plena adolescência. A celebração é simples: é uma Missa em que é lida no Evangelho a passagem do Evangelho de São Mateus, capítulo 5, e em que depois se explica o seu significado na vida do dia-a-dia. Estas celebrações envolvem os alunos que, no último mês de catequese, reflectiram também sobre o mesmo tema. No final da celebração é-lhes entregue o diploma como sinal de compromisso em querer viver o espírito das bem-aventuranças. Este ano, as duas celebrações tiveram uma dinâmica no momento depois da comunhão, que me pôs a pensar e que achei muito interessante o ponto de vista que lhe deram. A última actividade desta reflexão foi de pensar em alguém que eles conheçam e que achem que vivam o espírito das bem-aventuranças. Além de escolher essa pessoa deveriam explicar

Deus na ciência

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Terminou hoje a reunião que me fez vir a Ávila. E começaram nesta tarde umas jornadas de pregação. Este ano o tema é: Deus e ciência. Depois do que ouvi - duas de três conferências - creio que o título deveria ser Deus NA ciência porque, como dizia Einstein "A ciência sem a religião fica coxa e a religião sem a ciência fica cega". Portanto, não são duas realidades diferentes mas que se complementam ou até se explicam. Mas queria partilhar o que aprendi destas duas conferências que tinham o mesmo título "Deus e a ciência" mas com perspectivas diferentes: a primeira era na perspectiva da ciência - falou um Jesuíta - e a outra na perspectiva da filosofia - falou um Dominicano. Confesso que a da ciência me entusiasmou mais. Perceber as origens do universo e a evolução das espécies e perceber que Deus não está fora disto tudo foi importante. Perceber que há coisas que a ciência não explica, porque não consegue chegar lá, como por exemplo o primeiro segundo da origem do u

Um dejá vu

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Estou em Ávila, num encontro de conselhos provinciais das três províncias de Espanha, do vicariato da província do Rosário e ainda os da província de Portugal. É um encontro anual, com cerca de 40 frades, em que se trata de assuntos comuns. Isto parece-me, em escala pequena, o que vivi em Roma no Capítulo Geral, mas em castelhano, com discussões em castelhano em que os portugueses pouco pintam porque pouco nos diz respeito. O grande assunto desta reunião é a tentativa de reestruturação da Península Ibérica: conventos, frades, prioridades, apostolados, presenças. É, de facto, dramática, a falta de vocações. Por um lado dizemos que precisamos de melhor qualidade de vida (vida boa e não boa vida). Mas a verdade é que só se faz isto porque não temos vocações. O que poderia levar à conclusão de que a quantidade é também sinal de qualidade. O que eu acho é que este trabalho deveria ter sido feito há muito tempo, quer com vocações quer sem elas. Porque a qualidade de vida religiosa é tão impo

112

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Apesar de ser um número internacionalmente conhecido para as urgências não escrevo nem de urgências nem sobre urgências. Estou em Ávila, num encontro ibérico de dominicanos, e o quarto que me calhou foi o 112. Como não há acasos, este número está associado a muitas coisas da minha vida. Este blogue era para se chamar pátio 112. Mas como na altura não estava para explicar o porquê, aqui vai a minha relação com este número. A minha infância , vivida num bairro oriental da cidade, passou-se num pátio, num pátio à moda antiga. Este pátio onde vivi era o Pátio 112. Tinha à entrada um portão verde, portão de duas portas, e dentro do pátio parecia uma pequena vila, daquelas vilas que ainda hoje se encontram nos bairros antigos. Um portão verde com um corredor e casas de um lado e de outro. Eram umas quantas casas. A minha era a porta 6. Aliás, a morada compreendia sempre o nome da rua, o número do pátio e o número da porta. A nossa casa era a porta 6 do pátio 112. Se me perguntavam onde viv

Apresentação formal

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Esta manhã fui apresentar-me ao pároco de Carnide . Já o devia ter feito, uma vez que o hospital onde trabalho pertence juridicamente a esta paróquia. Mas o padre não estava não paróquia, estava em casa - o convento da Luz - e eu, além de me apresentar, fui também resolver a situação de dois batismos que fiz recentemente no hospital. Como tivemos de vir à igreja paroquial para carimbar uns papeis, falámos sobre a questão de pertença numa cidade como a de Lisboa. De facto, a mobilidade actual confronta-se com a rigidez do direito canónico, que não prevê a celebração de sacramentos fora das igrejas paroquiais, pelo menos à primeira vista. Parte-se do princípio que todos os paroquianos vão à Missa à sua paróquia e que a paróquia é a única referência. Neste momento nada mais errado. Porque temos os que usam a cidade só à semana, por causa do emprego, e que aos fins-de-semana vão para a casa de férias; temos os que não gostam do ambiente paroquial e vão à missa à capela de um hospital ou

Um dia de São Domingos

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Nós, Dominicanos, celebramos hoje uma festa “menor” de São Domingos. Digo menor porque o dia da sua comemoração, na Igreja, é a 8 de Agosto. A data de hoje é uma data alternativa para que as comunidades possam celebrar juntas a memória do seu fundador. Uma memória viva, ou real, se quisermos. Viva porque nós, dominicanos, e todos os que se identificam com este ideal, com este carisma de são Domingos, somos chamados hoje a tornar presente as atitudes e as intuições de São Domingos como o estudo, a pregação, a comunidade e, sobretudo, a misericórdia. Somos chamados hoje, no nosso tempo e nas nossas circunstâncias, a actualizar, através da nossa vida, a vida de São Domingos. Digo actualizar a vida de São Domingos porque nós, Dominicanos, só nos podemos agarrar ao que ele fez, porque o que ele disse vem narrado por outros que o ouviram dizer e, além de uma carta que escreveu às monjas de Madrid, não temos mais nada. Mas sim, poderíamos ver a vida de São Domingos como um livro evangélico, a

Já lá vão dois anos

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Há dois anos, mais ou menos por esta hora, inciava este blogue. Nunca medi o alcance. O bom ou o mau destes espaços é que dizemos o que queremos e o que achamos e continuamos do lado de cá, sem que ninguém nos belisque. No painel do blogue, o seu criador tem acesso a dados que acho de justiça hoje revelar. Serão só dados estatísticos: os seguidores inscritos são 78 e de há dois anos a esta parte este blogue teve 35.162 visitas (as do administrador não contam). O público que o visita é maioritariamente do Brasil: uma saudação amiga! Depois vem Portugal, Espanha, Estados Unidos e Itália. Quero, pois, neste dia e passado este tempo, agradecer aos que por aqui vão passado. Os porquês não sei, também não interessa, mas são um estímulo. E vou continuar. Assim o tempo e a vida mo permita. Para celebrar este segundo aniversário aqui deixo uns retalhos do dia de hoje. Esta manhã batizei uma menina nigeriana. O batismo foi de "urgência": nasceu no dia 17 e com problemas. De modo que, n

Em Fátima com os colégios

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Acabo de chegar de Fátima onde estive, ontem e hoje, com os alunos de três colégios onde dou assistência religiosa. Não foi combinado, coincidiu, o que fez com que em vez de ir a Fátima três vezes, numa só vez conseguiu-se fazer tudo. Mas o colégio que me ocupou mais foi o dos Maristas. Um grupo do 2º ciclo começou ontem um encontro com uma caminhada a pé, de seis quilómetros, desde o Santuário da Senhora da Ortiga à Capelinha das Aparições. Aí fizemos um momento de oração, rezando pela paz, pelo papa e pelas intenções de cada um. À noite este grupo foi ao recinto do Santuário para fazer um outro momento de refexão. Enquanto se rezava o terço - nós rezámo-lo durante a caminhada - em pequenos grupos fizemos uma avaliação sobre o que tinha sido o dia. Todos valorizaram o tempo dado para se conhecerem melhor e alguns deles acharam a caminhada "uma seca" (na idade deles, tudo o que não lhes agrada ou dá trabalho é seca). Mas sim, algums valorizaram esse momento, uma delas até o f

os nossos esquemas

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Ultimamente - de há uns meses a esta parte - tenho vindo a pensar numa matéria de psicologia que dei no secundário, a famosa janela de Johari (Joahari, ao contrário do que se poderia pensar não é um apelido mas sim a junção de dois meios apelidos dos criadores deste esquema: Jo -seph e Harri -ngton). Porque esta janela o que nos diz é que somos todos muito precavidos mas que nem sempre controlamos tudo. E, como qualquer janela que se preze, ela abre-se e fecha-se. Nunca percebi porque é que se chama janela e não ficheiro ou outra coisa qualquer. Mas é uma janela, talvez pelo formato com que se apresenta, um quadrado que se divide em quatro partes, como se pode ver em qualquer imagem tradicional de uma janela. Com a zona "livre" e a "secreta" controlamos nós bem: é o que eu sou e o que os outros acham que eu sou e o que eu sou mas que não convém nada que os outros saibam. Mas há a outra face da moeda ou, para adequarmos à figura, o outro lado da janela: a zona cega e

O luto

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A palavra luto tem-me sido próxima nestes últimos dias. A propósito deste meu confrade que morreu, uma amiga dele, minha conhecida, diz que ainda não fez o luto; numa comunidade de dominicanas que hoje visitei, uma irmã dizia-me que ainda não tinha feito o luto mas que uma amiga do fr. José Augusto estava a fazê-lo. Eu não sei se o fiz ou ainda não porque não sei o que é fazer o luto. Ao longo da minha curta vida tive duas grandes perdas: a da minha avó materna e a do meu pai. Desde que estou no convento três perdas, as duas últimas foram choradas, uma porque imprevista e a outra porque teve um fim rápido e talvez doloroso para todos. Mas insisto. Não sei o que é fazer o luto. Se se entende fazer o luto como as reacções diante da morte, a minha é de lágrimas; a verdade é que choro ao ver chorar. Mas hoje voltei a encontrar aquela rapariga (mulher) de quem falei num dos últimos posts (no mínimo comovente). E sem vergonha aproximou-se e deu-me dois beijinhos porque me reconheceu; para el

Estou vivo

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A ausência de escrever deve-se à catadupa do previsto e do inesperado. Têm sido dias complicados, cheios de trabalho (não estou a queixar-me porque há quem trabalhe bem mais do que eu), que barram, ainda que indirectamente, a vinda a esta janela, para dizer a vida. Às vezes a vida é como uma mó de azenha: se água é pouca roda devagar, se é muita não pára de girar. De modo que este pequeno post é só para dizer que estou vivo e que, domingo, acaba o reboliço de celebrações. Espero acalmar e vir cá com calma dizer da minha justiça.

A morte de um irmão

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Faleceu hoje, depois de cinco semanas internado com problemas graves, um irmão meu, dominicano, fr . José Augusto Mourão. Foi com ele que assisti à primeira missa nos dominicanos, em Janeiro de 1998; com ele que vivi desde essa data até hoje; foi com ele que aprendi os cânticos "especiais" dos dominicanos; com ele que caminhei nestas cinco semanas de dor e sofrimento. Hoje foi um dia de adeus. Mas, como ele escreveu e eu cantei num dos cânticos da Missa, que celebrámos esta noite em sua memória, "a pior morte é não haver um Deus de madrugada". O Inverno nunca será a última estação, assim como depois da noite vem sempre a madrugada. Muitas coisas deste homem "raro" me ficarão gravadas na cabeça e no coração. Hoje, depois de tudo ter passado, nesta hora de calma e de paz, mais uma vez dou graças a Deus pela sua vida. Hoje sei o que ele várias vezes dizia, que o que mais o caracterizava era uma " alegria-triste ". E também hoje sou eu que lhe digo

O meu Cristo sem cruz

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O Cristo que hoje vejo não está numa cruz. Vejo-o na cama, deitado, quase apagado, mas sem as dores nem as marcas de Jesus crucificado. Da cama onde está, envolvido num sudário comum, de mãos abertas e pés cruzados, não cita salmos. Respira fundo, habita o profundo nestes silêncios calmos. Voltado para Deus -virá da janela ou da porta? - espera, respira, volta-se, e sente a brisa suave, a mesma de Elias, que refresca o seu corpo doente e alivia o peso dos dias. O resto já não lhe importa. (Imagem de Georges Henri Rouault)