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A mostrar mensagens de agosto, 2011

O conceito de férias

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Assim, de repente, apetecia-me dizer que férias é um conceito burguês. Mas talvez não seja assim tanto. Não há (não conheço) uma "história das férias", de tipo interdisciplinar, que nos desse um estudo sério das origens das férias, os efeitos sociológicos, antropológicos, psicológicos, económicos... E acho que seria interessante. O que me sai, assim à primeira, sobre férias seria o seguinte: as férias são um privilégio. Talvez inaugurado pelos reis e nobres que faziam temporadas nas casas de campo (as idas à praia e as casas de praia são modernices do século passado), o tempo de férias servia para fugir do calor (até o Papa sai de Roma para ir para Castel Gandolfo onde corre uma aragem), para mudar de ares e desfrutar das vistas que os palácios e as casas nobres, embutidas nas montanhas e vales mais verdes das regiões. Pensemos, por exemplo, nos tempos de D. Sebastião, que passava temporadas em Sintra, com a avó e com o tio, onde se dedicava à caça, ia às festas e, apesar de

Mobilidade conventual

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Esta semana é de trânsito aqui no convento. Não trânsito de tráfego mas trânsito de circulação. Regressam os que foram de férias e preparam-se os que vão sair agora para descansar. Caixas de livros no corredor, de um irmão que virá do Porto viver para este convento; amanhã ou depois outras caixas sairão de um outro quarto de um irmão que deixa este convento e irá para o Porto. Os que vieram de outros conventos e que estão hospedados connosco, também começam os preparativos para regressar ao trabalho e ao estudo que os leva a sair do país. Esta semana seremos mais que a conta, que é dizer, mais dos onze que viveremos no Convento no próximo ano letivo. Para mim é também semana de arranque. Aos poucos regressam as actividades que hão-de ocupar parte dos meus dias. E assim é a vida de um convento: há os que vão, os que regressam e os que ficam.

Lacordaire

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O P. Lacordaire foi um dominicano francês do século XIX. Foi padre, educador, jornalista e até deputado. A importância deste homem foi a de que, a partir de um certo momento da sua vida quis reestabelecer a Ordem dominicana em França. Falamos de um tempo difícil na França, das chamadas revoluções de 1830, em que era proibido, entre outras coisas, o direito de associação religiosa, e por isso, Lacordaire vai interessar-se por esta causa - não é por acaso que escolhe os Dominicanos, uma vez que, para ele, a Ordem Dominicana, era benéfica para a sociedade pelas suas dimensões do estudo e do ensino. Era um grande orador. Uma pregação persuasiva. Não só na Igreja mas também no Estado. Em 1830 Lacordaire é eleito deputado da Assembleia Constituinte e aí, já dominicano, vai destacar-se pela sua defesa dos direitos do homem no que se refere à liberdade de expressão e de associação. Na Igreja, vai ter um momento forte quando é convidado pelo arcebispo de Paris a pregar as conferências da Quare

Como comungar?

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O Papa está a despedir-se de Madrid e, mais uma vez, a rainha não se ajoelhou para comungar. Em Barcelona saltou por cima do genuflexório para comungar na mão; e todos comentaram a quebra do protocolo, que já não há respeito, que a rainha deveria comungar como toda a gente. Hoje foi tudo muito discreto: como já tinham sido avisados que a rainha não comunga de joelhos nem mesmo sendo o Papa a dar-lhe a comunhão, o Papa foi ao lugar dela para lhe dar a comunhão. E mais uma vez a rainha não se ajoelhou: saiu do seu lugar, onde estava o genuflexório, aproximou-se do Papa e estendeu-lhe a mão e comungou dignamente. É um pormenor, vale o que vale, e há coisas mais importantes. De acordo. Mas é preciso acabar com tudo o que seja devocionismo e até fanatismo. Correndo as igrejas da baixa de Lisboa vemos de tudo: pessoas que rivalizam para serem as primeiras ou as últimas a comungar, pessoas que só comungam de joelhos, pessoas que se comungam parte da hóstia do padre vão à sacristia agradecer

Vários pontos de vista e de sentimentos

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1. O Papa lá está em Espanha. Neste momento em que escrevo estas linhas, acaba a impressionante Via-Sacra nas ruas de Madrid. E na mesmíssima Espanha estão os do papa e os do contra o papa. Vários se manifestaram contra a atitude que todos vimos em imagens feias, de violência, entre ateus e católicos. E começam os artigos de opinião, também eles a favor ou contra o papa. Percorro todas as noites dois principais jornais espanhóis (El País e ABC; o El Mundo paga-se...) e é interessante ver os vários pontos de vista: se os reis deveriam ter beijado a mão do papa na sua chegada, se o papa deveria ter recebido honras de estado, que as pessoas não andam afastadas de Deus, mas que é Rouco Varela (cardeal de Madrid) quem anda a afastar de Deus... enfim, coitado do papa que não agrada a gregos e a troianos (entenda-se: laicos e católicos). Sim, porque também há católicos que também estão contra a ida do papa a Espanha. Mas da visita do Papa agrada-me, além da boa disposição daquela malta nova,

Magnificat

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Comecei a ler no domingo um comentário ao Magnificat, escrito por Martinho Lutero. Já tinha ouvido rasgados elogios a este comentário como sendo um dos mais belos que se tenha escrito sobre o tema. Há dois anos comprei uma antologia de textos de Lutero, os mais interessantes e importantes, entre os quais o dito comentário de que vos falo. O comentário foi escrito pouco tempo depois de Lutero e da sua doutrina terem sido excomungados mas, como ressalva o editor, está escrito com uma grande serenidade e é considerado como "uma ilha entre o mar dos escritos de Lutero". Vale a pena ler uma biografia de Lutero, nem que seja das da net ou então, em tempo de férias, ver o filme que leva o seu nome como título que se pode ver em doze partes no Youtube (como em quase tudo desta época os dominicanos não estão no seu melhor...). Porque percebemos, de certa maneira, como a Igreja estava de excessos naquele século XVI e como, aos poucos, se verifica que Lutero tinha alguma razão nas s

15 de Agosto: Assunção de Nossa Senhora

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À ASSUNÇÃO A terra feita céu, de sol vestida, Sobe com nova glória e majestade A ser único espelho da Trindade, De anjos rainha, de homens honra e vida. A luz, que esteve cá nela escondida, Porque iguale o triunfo a dignidade, Vem receber a mãe, cuja saudade Leva tudo após si nesta partida. O resplendor da igreja militante Abrindo, como aurora um novo dia, Faz hoje mais fermosa a triunfante. Já goza o que esperava, amava e cria, Que logo mereceu no mesmo instante, Que Deus a fez mãe sua, e nossa guia. (Poema de fr. Agostinho da Cruz. Imagem de Fra Angélico)

Vale a pena ler

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Vale a pena ler a entrevista a D. Manuel Martins, bispo emérito de Setúbal, quem vem hoje no Expresso. D. Manuel Martins, que, enquanto bispo no activo, nunca teve papas na língua (foi até alcunhado de bispo vermelho), muito menos agora, que está mais afastado da confusão, embora não esteja afastado da realidade. E é bom que a Igreja tenha alguém que nos avive a memória; às vezes temos a memória curta ou selectiva; é bom que tenhamos algém que chame as coisas pelo nome e nos traga à realidade; é bom que todos tenhamos olhos para analisar a realidade mas não ficar só aí. Continua válida a tríplice atitude cristã: Ver-Julgar-Agir. D. Manuel Martins, nesta pequena entrevista, critica os governos, a união europeia e até a Igreja. Há quem veja nele um homem que nunca está contente, que critica tudo e todos. Pode até ser. Mas não gostar de ser criticado é dar razão a quem critica. Espero que este post não me venha a valer o titulo de frade vermelho... vermelho, para mim, só na bola, e es

A Igreja em Espanha

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O meu conhecimento e a minha ligação a Espanha é pouca ou nenhuma. Vivi lá no ano letivo de 1998/99, o ano do meu noviciado, e agora, por razões de "trabalho" e algumas vezes por descanso, tenho ido lá e, a verdade seja dita, por razões de trabalho demasiadas vezes para o meu gosto. Mas as razões de ofício obrigam e não dispensam. Nesta minha última ida a Espanha, finais de Julho, já se notavam as movimentações por causa da ida do Papa. Por um lado, o lado católico, tudo nos preparativos: às portas das igrejas os cartazes com a propaganda; nas livrarias, tudo o que seja Bento XVI está na montra e agora, já mais perto da data das Jornadas, começam a chegar os primeiros "peregrinos", chamemos-lhes assim porque nem só de jovens se enchem as jornadas mundiais da juventude. Mas há o outro lado. O lado que está contra a ida do Papa. E neste lado há católicos e ateus. Os católicos porque em Madrid, em Agosto, é um calor infernal, e que em tempos de crise não se deveriam

Um Santo que Roma deu

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Celebra hoje a Igreja, com alegria e orgulho, um dos seus santos mais antigos e mais veneráveis: São Lourenço. Homem de Deus, servidor da Igreja, amigo dos pobres, forte de carácter e de convicções, de tal maneira que acaba grelhado entre as brasas de um grande caldeirão. Aliás, a sua iconografia define-o bem: dalmática, veste dos diáconos, a grelha, sinal do martírio e, ou o Evangelho ou a bolsa dos pobres. Este é o diácono Lourenço que, apesar de ter nascido em actuais terras de Espanha (no tempo de São Lourenço, século III, era tudo Império Romano), cedo foi viver para Roma, onde era reconhecido como um bom cristão. Bom de fé, bom de costumes, bom de bondade. De tal modo que o Papa Sixto II, conhecendo-o, ordena-o diácono da Igreja de Roma e confia-lhe o ministério da caridade. expressão bonita para dizer administração dos bens da Igreja e ajuda aos mais pobres. São Lourenço levou a sério este ministério, sobretudo na ajuda aos mais pobres. E vemo-lo nas ruas de Roma distribuindo e

Ainda sobre o dia de São Domingos

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Queria só partilhar o dia de ontem. Foi a primeira vez que passei o dia de São Domingos aqui no Convento. Desde já há alguns anos que passo este dia em Lamego, junto das Monjas dominicanas, excepção feita há dois anos, que passei aqui por causa de um encontro internacional de jovens dominicanos (IDYM) e, este ano porque fiquei em Lisboa. Nos últimos três anos esta comunidade tem vindo a reduzir-se, como muitas outras, infelizmente, e não me refiro só a comunidades dominicanas. Por isso somos poucos (a partir de Setembro seremos apenas onze) em Agosto, estamos ainda menos. De manhã rezámos Laudes. Apesar de estarmos só seis (digo só quando, na verdade é metade do número dos irmãos), a oração da manhã foi cantada como deve ser num dia de festa. Salmos da festa, leitura da vida de São Domingos em que se conta que só falava de Deus ou com Deus e que por amar a todos, porque grande era a imensidade do seu coração, por todos era amado. O almoço foi só para a comunidade. Rancho melhorad

Dia de São Domingos

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Hoje a Igreja celebra, e nós dominicanos com grande festa, o dia de São Domingos. Falar de um fundador é falar de um pai, de uma pessoa que admiramos pelo exemplo de vida, pelos seus ideais, pelo perfume que deixou ao longo da história. A caminho dos oitocentos anos, procuramos continuar o caminho traçado por São Domingos. Dele se dizia que só falava de Deus ou com Deus. Dele se dizia que porque amava a todos, por todos era amado. Num tempo em que se dizem tantas banalidades e que se evita falar de Deus, São Domingos é um bom modelo para a nossa vida. É o homem que sabe estar em silêncio e sabe falar quando é necessário. É um homem de oração e de acção. De estudo e de pregação. Um homem entregue a Deus e ao mundo. São Domingos era também conhecido pelo seu amor e compaixão para com o próximo. Este é outro grande desafio para nós, dominicanos: mostrar o amor e a compaixão de Deus presente na vida de cada ser humano. Este ano passo este dia no convento. Estamos poucos (ainda não

Viagens na nossa terra

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O último número do Jornal de Letras tem como tema principal o título deste post. Pediram a vários escritores que escrevessem um pequeno texto, sobre um lugar, uma terra, um percurso, que fosse da sua preferência. Foram 17 os escritores e os locais: Alice Vieira, João Tordo, Frederico Lourenço... cada um com o seu estilo, com a sua região e com o seu ponto de vista. Não quero ser o 18º nem comparar-me a um grande escritor, mas vou escrever aqui algumas linhas sobre uma terra da minha preferência. Quem feio ama bonito lhe parece. Este refrão popular serve para os amores. Mas é universal. Das pessoas aos animais, passando por terras e até carros e outros objectos, por feios que sejam, se os amamos, bonitos nos parecem. E é normal que o que é da nossa predileção seja também das melhores coisas do mundo. Todas as mães são as melhores do mundo, os nossos bolos são os melhores do mundo... e as nossas terras são as melhores do mundo. E assim deve ser. Para mim, Feirão, é o melhor sítio do mund

Pedras no caminho

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Li, há uns anos, um livro do Ir. Roger, de Taizé, com uma meditação para cada dia do ano. Um parágrafo, uma meditação, um pensamento, uma oração, para nos colocar em sintonia com Deus e com o seu Evangelho. Não o li de uma forma pedagógica: cada dia uma meditação. Não. Li-o de fio a pavio. Algumas aproveitei parar enviar por mail, no final de alguns avisos que fazia às pessoas ligadas à igreja do convento. O livro chama-se "Em ti a paz". Quando o li ainda não tinha saído a tradução portuguesa, li-o em espanhol. Há uma meditação que me acompanha em momentos mais desagradáveis: " em tudo a paz de coração, a alegria serena. Muito tempo antes de Cristo, um crente rezava assim: «Só em Deus descansa a minha alma; dele vem a minha salvação. Só Ele é o meu refúgio e a minha salvação, a minha fortaleza: jamais serei abalado». E no Evangelho, Cristo volta a dizer-nos: «Deixo-vos a paz; dou-vos a minha paz. Não é como a dá o mundo, que Eu vo-la dou. Não se perturbe o vosso coração