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A mostrar mensagens de outubro, 2011

Passa o tempo e com ele as nossas vidas

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Este título é tirado de um hino da Liturgia das Horas. Hoje a igreja do Convento onde vivo faz seis anos que foi dedicada. Não tenho muitas palavras para dizer, já escrevi outras coisas neste dia no blogue (ver anos de 2009 e 2010). Mas hoje quero trazer aqui o que disse naquele 30 de Outubro de 2005, no final da Missa da dedicação da igreja: Santo Agostinho num dos seus sermões, certamente pregado num dia como o de hoje, dizia que a “construção de um templo faz-se com trabalho e a sua dedicação realiza-se com alegria”. E este dia é para muitos de nós, especialmente para os dominicanos portugueses, um dia de singular importância e de alegria. Vemos hoje realizado um sonho que há muito trazíamos no coração: a construção e a dedicação desta casa de Deus que é também a nossa casa, a casa da Igreja. Mas este dia é também ele de compromisso diante de Deus e diante e da Igreja: o compromisso de continuarmos a viver o carisma da Ordem Dominicana: a pregação. Queremos que esta igreja seja

Ode ao meu anjo da guarda

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Tenho um anjo que me protege. Não sei se é o da minha guarda a quem rezo ou se é aquela sombra com asas que reza por mim. Talvez não seja Arcanjo como Gabriel, Rafael ou Miguel. Se calhar nem está no catálogo das categorias da corte angelical. Mas é um anjo que às vezes é como o colo da minha mãe, onde gosto de me deitar quando o medo ou a tristeza me tocam. Um anjo que é aquela voz que me sossega e acalma as batidas alteradas do coração. É aquele que me protege com as suas asas e me aperta contra ele quando o frio e o vento que quase me levantam. É aquela presença discreta que age e orienta a minha vida e os meus passos. É aquele sorriso que se junta ao meu sorriso, é aquele olhar de esperança que olha comigo os horizontes da confiança. São aqueles passos que oiço quando caminho e aquele lugar ocupado ao meu lado. São aquelas palavras que me diz em nome de Deus, pequenas frases que me fazem andar e não desistir. Tenho de dizer obrigado a Deus porque me d

Agenda depois do dia ter passado

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Gosto de pensar no dia que tive. Diariamente. Quem vi, com quem estive, a quem falei, o que ouvi numa conversa, o que calei... o que fiz mal em ter dito ou ter omitido... muitas coisas, das mais normais da vida de um mortal. Hoje o meu dia foi longo (e eu a pensar que depois de Fátima teria dias mais calmos...); começou cedo e só agora está a ver o fim à meada. Aqui fica o percurso cronológico: 8h - Missa na paróquia dos Capuchinhos. De vez em quando chamam-nos para lá irmos celebrar. E gosto de lá ir. Hoje, ainda meio de noite, com chuva constante mas certinha, lá fui eu celebrar esta Missa. Não tinha muita gente mas encontrei gente conhecida. 10h - Missa no Mosteiro do Lumiar. Esta semana não foi na quinta como habitualmente. Entre Missas venho a casa deixar coisas e levar outras. Levo o mp3. Oiço música clássica para ir e para vir. Mozart. Uma sensação engraçada: ver os movimentos das pessoas e das coisas, com chuva, sem ruídos, só com Mozart a dar ambiente ao que se vê. A Mi

Datas que não se esquecem

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Sou um bocado esquecido em relação a datas; às dos outros e às minhas. Tenho uma agenda onde coloco as datas dos aniversários das pessoas amigas e muitas vezes esqueço-me de lá ir ver a quem toca festejar mais um ano; No diretório litúrgico (livrinho onde vêm as determinações da liturgia para cada dia) tenho os aniversários dos frades e as datas importantes do Convento e da Província; na minha cabeça muito poucas datas e às vezes confusas. Mas o dia de hoje é um dos que me ficou gravado. Talvez por estar associado a uma outra comemoração. Comecemos pela mais importante: hoje é o dia de aniversário da Dedicação da Sé de Lisboa. Temos que ir lá muito atrás na história lusitana, a 1150, três anos depois da conquista da cidade aos mouros, em que D. Afonso Henriques mandou destruir a mesquita e construir sobre ela uma igreja catedral para o seu primeiro bispo D. Gilberto de Hastings. Já agora, em atalho de foice, Catedral e Sé são dois sinónimos: Catedral, lugar da cátedra (cadeira) e Sé

Á espera da chuva

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Estive todo o dia à espera da chuva. Promessas de que o tempo ia mudar, as temperaturas iam baixar e que até podia começar a chover nesta tarde. Mas não. Parece que o dia andou a brincar connosco. Ora vinham nuvens ora vinha sol. Olhava para o céu e pensava: é desta. E não. Lá vinha um raio de sol que estragava tudo. Estou farto do verão. Estamos a terminar o mês e ainda nada de frio e chuva. Qualquer dia deixamos ter o "verão de São Martinho" para passarmos a ter verão até ao São Martinho! Mas durante este dia, muito caseiro, devo dizer, pensei bastante nos dias cinzentos. Não os dias metereológicos mas os dias em que só vemos cinzento na nossa vida. Não me refiro a mim, pessoalmente; apesar de algum cizento claro, inato, não costumo sofrer de daltonismo psicológico ou espiritual, mas tenho vindo a reparar que, às vezes, as pessoas carregam no cinzento da vida. Não nego que a vida, para muitos, esteja pintada em tons de cinzento ou até mesmo a preto, mas, algumas vez

Viagens

Viagens. Linhas à roda, que se cruzam ou não se encontram, como as vidas que andam de cá para lá, sem norte nem freio. Viagens. caminhos diferentes, obrigados ou livres, provocados ou facultativos, que nos levam mais além do que vemos e de nós mesmos. Viagens. simulações de uma outra que temos de fazer, sem muita bagagem ou distração; com destino certo e horizontes novos. Viagens que se fazem com Deus peregrino como nós.

Algumas linhas sobre os dias passados

Quinta-feira, dia 13 de Outubro. 9.30h - Missa no Lumiar. Durante a doença do fr. José Augusto assumi ir ao Mosteiro do Lumiar todas as semanas, normalmente à quinta-feira, celebrar para quatro monjas. É mais o tempo de viagens a pé e de metro que o tempo da Missa. Mas, bendito seja Deus. É uma Missa muito tranquila, e sempre com um café depois da Missa, com as Irmãs. O que me questiona sempre é o futuro. Delas e meu. A caminho de casa recebo um telefonema da minha mãe. Raramente me liga para telemóvel. Boas notícias. Um problema gordo que se arrasta há já uns anos acaba de resolver-se. Grande mulher, a minha mãe, que aguentou e esperou pelo melhor momento. Tem mais paciência que eu. Lembrei-me do que a minha avó me dizia quando era muito apressado e impaciente: A vida há-de dobrar-te. 13.30h - Funeral na paróquia de S. Domingos de Benfica. Almocei, antes do funeral, com o pároco, na paróquia. Tudo tranquilo depois de dois anos conflituosos. Aos poucos tudo acalma e retoma a paz per

Os feriados

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Volta à carga a extinção de dias feriados no nosso calendário. O Orçamento de Estado para 2012 quer que alguns feriados e pontes deixem de ser gozados. Claro que por causa da crise. Sabemos que por detrás da crise há outros motivos que forçam algumas decisões. O que me dá pena é que não se sejam motivos nem verdadeiros nem coerentes. Se o problema fosse, de facto, a crise, não se extinguiam mas suspendiam-se. Mas enfim. Queria escrever umas linhas sobre o que penso sobre os feriados em geral e sobre os feriados católicos em especial. Já não é a primeira vez que o faço e tenho consciência que muita gente vai estar em desacordo. É legítimo. E começo por estes últimos. Acho que  deveriam acabar os feriados católicos. Não fazem sentido numa sociedade laica, pluricultural e plurirreligiosa. Ponhamo-nos no lugar dos muçulmanos, por exemplo. Não poderem ir trabalhar no dia de Natal, ou no dia do Corpo de Deus... deve ser uma coisa horrível. Ou coloquemo-nos do lado dos não praticantes. U

Contagem decrescente

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Há dois anos que este dia 7 de Outubro, dia de Nossa Senhora do Rosário, é importante na minha vida de frade. Foi o dia em que aceitei, pela segunda vez, ser prior deste convento de São Domingos. E como nos dominicanos os priorados são limitados em relação ao número de anos (3 anos) e de mandatos (2 mandatos), começo hoje a contagem decrescente. Entro no meu último ano de prior do convento pela segunda vez. Neste dia só peço a Deus que me ajude a levar a bom termo este mandato e esta comunidade. Que a pressa de acabar não seja mais rápida que o correr dos dias, que o cansaço não abafe o que ainda pode haver de energia e que a tristeza do não conseguido não abafe a alegria de servir. E que Nossa Senhora do Rosário me ajude nesta etapa final. (imagem: Juan Espinoza de los Monteros, Nossa Senhora do Rosário, séc. XVII) (Durante esta semana o número de visualizações do blogue chegou aos 50.000. Muito obrigado pela vossa passagem por estes retalhos.)

Reconfigurações

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Aterrei em Lisboa. Que é como quem diz. Regressei à base. Depois de 10 dias fora, volto ao trabalho do dia-a-dia. O que estava mais ou menos esquecido voltou: o meu computador que se avariou já está operacional, embora tenha perdido grande parte dos últimos documentos em que estava a trabalhar. Agora, reconfigurar tudo de novo: programas, favoritos, documentos... como se tudo se tivesse desmoronado e andar agora entre os escombros a ver o que é que ficou... O barulho dos carros e a correria voltaram. Que ironia. Ainda por cima no dia de São Bruno. Até eu tenho que me reconfigurar à cidade, que já quase tinha esquecido. Depois de dias tranquilos e silenciosos é difícil o readaptar. Entretanto, os planos mudaram nos últimos dias. Uma chamada de urgência de um mosteiro de monjas dominicanas a dizer que uma monja que conheço estava muito mal e que me pedia para me ver. Lá fui eu, numa visita-relâmpago, entre a tarde de terça e o dia de ontem, subir e descer montes às voltinhas, para i

Vidas paralelas IV

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Conclui-se este ciclo de artigos sobre as vidas paralelas, para dizer o que foram estes dias para elas e o que foram para mim. As Constituições das Monjas dizem que elas fazer um retiro anual de oito dias completos. Pode-se perguntar para que é que estas mulheres que vivem em silêncio e contemplação precisam ainda de um retiro e de oito dias, se a vida delas já é um retiro... Creio que o fazem por outros motivos que a obrigação das Constituições, se bem que estas irmãs são fiéis cumpridoras das leis. Faz sentido que, no ano, haja uma quebra na rotina. Abrandam o trabalho, as visitas são mais curtas e reduzidas, tendo mais tempo para a oração e meditação a partir dos temas que o pregador traz, quer lhe seja encomendado um tema quer seja livremente escolhido pelo próprio, que é o que costuma acontecer. Normalmente, nos retiros que oriento - e este é o segundo de oito dias a esta comunidade - costumo ter duas partes distintas: uma mais bíblica, que costuma ser na parte da manhã, e outra

Vidas paralelas III

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Seguem as vidas paralelas, deste mosteiro de monjas de clausura, onde estou hospedado durante estes dias. Vidas paralelas por causa da linha de separação estabelecida, e que é mais que uma ficção: onde não é porta é grade e onde não é grade é parede. Outro espaço dividido é o da capela do mosteiro. Aqui é uma grade que separa o coro das irmãs do altar e dos outros fiéis (as celebrações são sempre abertas embora, com a distância e os horários a participação se resuma à Missa) e, na sacristia, uma porta, que ao mesmo tempo faz de confessionário (a porta tem uns buracos a meio) e que divide a sacristia das irmãs, onde estão guardadas as alfaias, e a sacristia do padre, onde ele se paramenta para as celebrações. Comecemos pela capela. É bom que se diga que neste mosteiro não há fechaduras exteriores. Ou seja, as fechaduras ou as traves só fecham por dentro. Por isso, num mosteiro destes, nunca poderão sair todas as irmãs porque não conseguem nem fechar nem abrir o mosteiro. Na capela a me

Vidas paralelas II

Sigo com as vidas paralelas. Há o sino que é comum aos dois lados. Apesar de estar do lado da clausura, ele ouve-se em todo o mosteiro e arredores. O primeiro toque é às seis da manhã para despertar, e o último por volta das dez da noite para deitar. O som e o ritmo é sempre igual: compassado, de toada forte, a dizer-nos que devemos deixar o que estamos a fazer porque outra coisa mais impotante nos chama. Há também a comida, que é a mesma do lado de lá. Pelo menos é o que elas dizem e devemos acreditar. A mesa é frugal mas de qualidade e preparada com carinho. A sopa sempre boa, à moda do norte, sempre com um grão de arroz ou um fio de massa. Talvez um habito dos tempos de crise em que se engrossava a sopa com arroz ou massa. Certamente que não será o tipo de sopas recomendadas pelos nutricionistas, mas são do melhor, sopas fartas. Três conchas que as refeições não são só sopa. O prato principal varia entre o peixe, a carne e os ovos. Como fazem criação de galinhas já se pode imaginar