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A mostrar mensagens de novembro, 2012

De volta a Roma

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Regressei ao ponto de partida: Roma. É como diz o ditado: todos os caminhos vão dar a Roma. Para trás ficou Nápoles. E de Nápoles ficam as saudades da comida caseira/conventual, ou seja, a que aparece e não a que se escolhe. A cidade é bonita mas até chegar à beleza de Nápoles tem que dar muitas voltas. E não se decidem a tomar medidas eficazes para combater o lixo. Dá má impressão a quem está de visita. Mas sim, regressei. Como sempre, Videre Petrum: ver a Pedro. Não a quem Pedro é mas ao que Pedro significa. O papa estragou-me os planos para amanhã. Queria estar na abertura do Advento, nas Vésperas presididas por ele, mas não há entradas disponíveis para o povo: tudo reservado. Paciência. Por aqui se comprova que se pode vir a Roma e não ver o para. Vai sendo o meu caso. Parecia que hoje, em Roma, nada dava certo: não tinha entradas para amanhã, não se podia visitar toda a basílica de São Pedro por causa de amanhã… acabei por fazer uma coisa que desde a primeira vez estava p

O Vesúvio e o dilúvio

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Cá estou eu em Nápoles. Na verdade, fora de Nápoles. O grande convento de Madona Dell‘Arco fica já fora da cidade, e até, juridicamente, a outra diocese. Dois dias para visitar a cidade. E o que se aprende quando se é conduzido por gente destas regiões. Ontem levaram-me a ver o centro da cidade: Il duomo, a igreja do convento de San Domenico Maggiore, e mais outras igrejas importantes. E passear por umas ruas estreitas em que o comércio é quase exclusivamente dedicado ao presépio. Pois é, parece que aqui em Nápoles os presépios são muito importantes. Quase uma ofensa não saber isto. Lá me redimi, mostrei muita importância a esta tradição. E, de facto, nas ruas quase não se consegue andar com o movimento e as bancas com as peças para o presépio. Na Catedral montaram um com o cardeal de joelhos a adorar o Menino; nas ruas vêm-se á venda figuras públicas em terracota, inclusivamente o papa. Tradições. Este convento é um grande convento. Atualmente não poderia receber nenhum Capítul

Um dia de viagens

Duas viagens logo no primeiro dia: Lisboa - Roma e depois Roma Nápoles. Apesar de esta primeira semana não estar muito bem definida, a ideia é viajar. Visitar conventos. Embora não se trate de um passeio, acaba por ser e, para mim, com novidade, porque, de Itália, só conheço mesmo Roma. A viagem para Roma foi ótima. Um amigo meu, piloto, deu indicação ao colega que eu ia no voo dele. A mim mandou-me um sms a dizer que me apresentasse ao comandante. Assim fiz. Convidou-me a visitar a cabine de controlo, que aceitei e agradeci. Fui para a aterragem. E é uma outra visão da coisa. Eu que sempre temo e tremo nas descolagens e aterragens, dali, vendo bem onde se vai aterrar e sentindo tudo controlado, nem se dá conta. Fico-lhes verdadeiramente agradecido pela gentileza que toda a tripulação teve para comigo. Chegado a Roma, ir ao convento deixar a mala e trazer uma mais pequena para estes dias. Acabei por não estar com ninguém porque tinha ainda uma outra viagem, de comboio, para Nápo

Roma, lá vou eu

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Mais uma ida a Roma. E por mais tempo. Há seis anos, na minha primeira ida a Roma, por esta altura, mandaram-me deitar uma moeda na Fontana de Trevi para poder um dia voltar. Ou a moeda foi de dois euros ou a atirei com muita fé, o que é certo é que agora, pelo menos duas vezes por ano, lá vou visitar a Cidade Eterna. A mim as viagens custam-me sempre. O fazer as malas, pensar em tudo o que é preciso levar... É um stress. Ainda não fui e já tenho vontade de regressar. Mas tem que ser e o que tem que ser tem muita força. Vou à reunião da Comissão Litúrgica da Ordem. Regresso em breve. Até lá, sempre que possa, tenha tempo e net, vou passando por aqui para deixar alguns textos. " Viajar, num sentido profundo, é morrer. É deixar de ser manjerico à janela do seu quarto e desfazer-se em espanto, em desilusão, em saudade, em cansaço, em movimento, pelo mundo além ". (Miguel Torga)

Dominus flevit - o terror da guerra e das lágrimas de quem sofre

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Se esta imagem o arrepia e comove é bom sinal. É sinal que ainda tem sentimentos e que a violência não leva a lado nenhum. Se as lágrimas lhe vieram aos olhos ou correrem pela cara, não pense que é caso único. Também o Senhor chorou sobre Jerusalém. E não desvie o rosto. Estas crianças mortas há dois dias merecem a nossa compaixão. Hoje, quem for à Missa, ou leia o evangelho do dia vai deparar-se com esta passagem, que eu tiro da bíblia dos capuchinhos por ser mais fiel à tradução do que a tradução litúrgica: " Quando se aproximou, ao ver a cidade (de Jerusalém), Jesus chorou sobre ela e disse: «Se neste dia também tu tivesses conhecido o que te pode trazer a paz! Mas agora isto está oculto aos teus olhos. Virão dias para ti, em que os teus inimigos te hão-de cercar de trincheiras, te sitiarão e te apertarão de todos os lados; hão-de esmagar-te contra o solo, assim como aos teus filhos que estiverem dentro de ti, e não deixarão em ti pedra sobre pedra, por não teres reconhecid

Onde é que está o Natal?

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Esta tarde comecei a escrever um texto para este blogue. O título era feroz: O enjoo do Natal - efeitos do consumismo. Escrevi, escrevi, a cascar na sociedade laica que se aproveita do Menino Jesus e do seu nascimento para que comprem e ajudem à crise... É inconcebível que a "religião" de consumo nos arraste, aos que celebramos o Natal depois do dia 25, a ter que levar com árvores de Natal, luzinhas e enfeites a partir de 10 de Novembro! Mas, como digo, escrevi e continuei até que decidi apagar tudo. Não valia a pena estar a bater na mesma tecla. Até que, no final de uma Missa que celebrei no final da tarde, um senhor se despediu de mim, olhando para o relório, para o quadradinho da data e me disse: "Obrigado, senhor padre, prazer em conhecê-lo e bom Natal. Sim, com esta história do consumismo já podemos a estas alturas dizer bom Natal". E lembrei-me do que tinha escrito e apagado... Não vou reproduzir, até porque, foi com convicção que apaguei o que escrevi. M

Entre a greve e o ficar calado

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Estive o dia todo a pensar se escreveria sobre a greve que hoje aconteceu por toda a Europa. No Hospital perguntaram-me se eu não fazia greve. Respondi que não. Que o meu sindicado não tinha feito convocatória. Apesar de ser uma resposta verdadeira era meio a brincar. E não fui às manifestações. Nem à da CGTP (tenho uma vaga ideia de ter ido a uma única, pelos finais dos anos 70, às cavalitas do meu pai, e de ter sido engraçada) nem à dos estivadores. Há quem faça greve e quem a não faça, pessoas que a defendem e que a atacam (o Primeiro Ministro elogiou quem foi trabalhar e, tanto ele e o seu séquito, como o Presidente da Republica, não fizeram greve, este último até prestou declarações, imagine-se, a dizer que hoje trabalhava). Ora, as greves só querem dizer uma coisa: que as coisas não estão bem. E fazer greve é melhor que fazer birra ou assobiarpara o lado. E, mesmo para aqueles que dizem que as greves não adiantam nada (concordo em parte), o certo é que é um direito que os

Em dia de São Martinho

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Não pode passar o dia 11 de Novembro se que se fale em São Martinho. Cada vez mais longe dos tempos em que se matava o porco e provava o vinho, só nos ficam as castanhas e o frio e, em alguns anos, o sol de inverno, conhecido como o verão de São Martinho. A vida de São Martinho, muitas vezes resumida ao episódio do seu encontro com o pobre, é um exemplo a imitar. Nos antigos livros dos santos estava escrito na vida de São Martinho que ele foi o primeira santo não-mártir, ou seja, foi santo pela sua vida e não por ter sido morto por causa de Cristo. Na Idade Média era celebrado com a mesma dignidade dos Apóstolos, pela sua grande tarefa do anúncio da Evangelho nas terras da Gália. Estamos, portanto, diante de um homem que passou a vida fazendo o bem. Ainda catecúmeno (um catecúmeno é um adulto que se está a preparar para o batismo), percebeu que ser cristão implica o próximo. Por isso, ao ver aquele pobre, nu e com frio, não hesitou em cortar metade da sua longa capa, para minora

São João de Latrão e os Dominicanos

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Hoje, todas as igrejas do mundo se unem à igreja-mãe no aniversário da sua dedicação. Esta igreja-mãe não é a basílica de São Pedro. É a de São João de Latrão. Essa é que é a mais importante de todo o mundo e daí lhe vem o título de " mãe de todas as igrejas da cidade e do mundo ". Por isso nos alegramos com esta basílica, catedral de Roma, onde o Papa tem a sua Cátedra e onde vai algumas vezes, em grandes celebrações diocesanas como a Missa crismal de quinta-feira Santa, ou no dia do Corpo de Deus. Nós, dominicanos, temos uma grande ligação afectiva com esta basílica. A vida de São Domingos passa também por São João de Latrão. Por um lado, porque no século XIII os Papas vivam lá e, por isso, para São Domingos, ao querer aprovar a sua Ordem, tinha que lá ir. Por outro lado, perto de São João de Latrão fica o convento de São Sixto, convento das monjas dominicanas por ele fundado, onde São Domingos ia frequentemente e, segundo os relatos da sua vida, fez alguns milagres.

A morte como regresso a casa

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A Ordem Dominicana comemora hoje os seus membros falecidos. De fato, ao longo do ano lembramo-nos deles várias vezes. Nas nossas Constituições diz-se mesmo: “ Os irmãos guardem uma fiel recordação dos seus predecessores na família de S. Domingos, que os ajudam «com o exemplo da sua vida, a companhia da sua amizade e com a sua intercessão». Prestem atenção às suas obras e à sua doutrina e dêem-nas a conhecer. E não faltem os sufrágios pelos irmãos defuntos ”. Das muitas celebrações que havia na tradição para com os defuntos, desde o De profundis ao menos uma vez ao dia às missas de sufrágios, comemoramos atualmente três aniversários mais gerais, que provêm do século XIII: no dia 8 de Fevereiro lembramos os pais e mães dos irmãos e irmãs da Ordem, 5 de Setembro os amigos e benfeitores da Ordem e 8 de Novembro, que hoje calha, todos os defuntos da Ordem. Se os lembramos é exatamente para percebermos que eles não foram irrelevantes, banais, na Ordem. As leituras que ouvimos dizem

Todos os santos num só dia

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Nós, dominicanos, celebramos hoje uma festa particular: a festa de todos os Santos da Ordem. Não se trata de uma festa à parte da que celebrámos no passado dia 1. É mais que isso. Por ser uma festa "interna", esta comemoração tem tons específicos que fortalecem a nossa espiritualidade. Antes de mais, são santos e santas que se santificaram nesta Ordem Dominicana e que, ao mesmo tempo a santificam. A origem é a mesma: Jesus Cristo; o modo é específico: o espírito de São Domingos. Frades, Monjas, Irmãs e Leigos que são da nossa família e que hoje lembramos de um modo especial desde o mais conhecido até ao mais discreto. Todos eles, porque agradaram a Deus e aos irmãos, estão agora junto de Deus a interceder por nós. Depois, esta festa diz-nos ainda outra coisa: entre os santos não existem uns mais santos que outros. Mesmo que as nossas devoções e preferências se inclinem para um ou outro, e até mesmo que a própria Igreja os tenha catalogado como santos, beatos ou veneráv

Claridade

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De minha vida não sei senão que sou feliz. Lá o que fui ou fiz antes de ser o que sou, ai!, tudo me passou: só sei que sou feliz. E que me importa a cor das águas que passaram? Estas águas me bastam que vão correndo agora. Fosse o que fosse, a minha passada vida incerta (feliz ou desgraçada), foi uma porta aberta pra esta vida clara. Por isso eu a bendigo, a minha vida ida. Talvez as rosas nela tivessem bem mais cor, o Sol mais Luz e Amor, e música mais bela a viração, então; mais verde fosse o Mar... - Mas que vale o que foi, se, quanto vejo ou provo, tem tudo um gosto novo?... Se nada cansa ou dói?... Se as rosas, para mim, nasceram mesmo agora, e as aves e o Mar?... Se o Sol aconteceu ao mesmo tempo que eu olhei à minha roda e vi o meu presente a ser-me a vida toda?... (Poema de Sebastião da Gama)

A morte chega cedo

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A morte chega cedo, Pois breve é toda vida O instante é o arremedo De uma coisa perdida. O amor foi começado, O ideal não acabou, E quem tenha alcançado Não sabe o que alcançou. E tudo isto a morte Risca por não estar certo No caderno da sorte Que Deus deixou aberto. (Fernando Pessoa) (Imagem: Arnold Böcklin, a ilha da morte, 1880)