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A mostrar mensagens de agosto, 2016

Pôr do sol da saudade

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E assim terminam as férias Feirão 2016. A nostalgia do passado e as saudades do futuro são sentimentos que me invadem. Memórias, conversas, paisagens, pessoas, preencheram estes 20 dias de mais ou menos descanso. Amanhã será um novo dia.

A minha água

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Em Cotelo vou frequentemente a casa de uns amigos que ainda são família. Têm uma casa já um pouco afastada do resto da aldeia, junto a uma terra que em heranças ficou para o meu pai e, com a sua morte, para mim e para o meu irmão. É uma grande lameira, que é dividida com um tio meu, por ser grande e boa não podia ficar só para um. Estes meus amigos têm uma fonte, que nasce entre pedras num subterrâneo e depois é canalizada para uma saída, ainda debaixo de terra. A fotografia dá para perceber a saída. De vez em quando vou lá buscar água por ser natural, fresca e saborosa. No sábado lá fui eu à fonte e o dono da casa disse-me de cima: Ó senhor padre Filipe, olhe que a água ainda é sua. Pode beber à vontade. Estava a meter-se comigo, obviamente, mas achei graça. E continuou: esta água pertencia ao seu avô e ao meu pai e era dividida aos dias. Os três primeiros era para o meu pai e os outros três para o seu avô. E ao domingo alternada. Que contente fiquei. Afinal tenho água! E da boa.

O pão do Barreiro

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Aqui em Feirão, e não só, o padeiro vem a casa. Não só o padeiro. Antigamente (ainda me lembro) vinha o sardinheiro, vinha o galinheiro, vinha o merceeiro, em dias certos e com toques próprios, desde a buzina às músicas que os identificavam. Um serviço que se pode considerar social, no sentido em que apoia estas pessoas e aldeias isoladas, sem grandes hipóteses de carros ou boleias para irem a uma vila ou cidade. Padeiros há três que passam por aqui. Por tradição da nossa casa, nós compramos pão ao padeiro do Barreiro. A minha mãe, talvez por trauma, tem "imposto" este pão. E digo talvez por trauma porque muitas vezes foi ela ao Barreiro (a cinco ou seis quilómetros de Feirão) buscar pão para a Tia Maria Piedade, que depois o vendia aqui. Seria interessante deixar por escrito a história da vida dela, que viveu e morreu com fama de santidade. Não era natural de Feirão mas veio ainda nova para cá, com a mãe, não se sabe de onde (pelo menos ainda não descobri). Mulher de

Registos paroquiais

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Há mais ou menos dez anos que, nestas férias, me dedico a analisar os registos paroquiais. Até ao ano passado consegui esboçar uma árvore genealógica sobre a parte da família de Feirão (materna). Subindo de geração em geração consegui chegar à nona geração (eu pertenço estou à segunda). No ano passado comecei a parte de Cotelo (paterna) mas este ano é que tem sido mais consistente este trabalho de procura e pesquisa nos livros paroquiais de Gosende. Já me apercebi que não vou conseguir subir muito para além da sexta geração, pois é nesta que os meus antepassados se instalaram nesta freguesia. Ao que consta, um trisavô, que era almocreve por aqui se encantou com a que viria a ser sua mulher ou, como se crê mais real, encontrou aqui bons pastos para se fixar. No meio de um livro de registos encontrei umas folhas azuis, de papel almaço, com data de 1812 e acrescentos de 1815, que são como uma "cábula" para que se saiba o que é que se tem de dar à Igreja em certas ocasiões.

Oiro que o Senhor nos manda

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Feirão acordou hoje com uma chuva miudinha. Entre o nevoeiro e a chuva que molha. Podia-se chamar ‘morrinha’ ou chuva ‘molha tolos’, porque, como se diz e bem, só um tolo é que abre um chapéu-de-chuva e só um tolo se deixa molhar. O que é certo é que à hora da Missa, sempre às 8 horas, o nevoeiro cobria Feirão e a tal chuva miudinha caía. No fim de Missa, no adro, depois dos bons dias e de algumas despedidas – já mais alguns regressam a Lisboa – conversando com a tia Irene, dizia ela que esta chuvinha “era oiro que Nosso Senhor nos manda”. Expressão bonita. Os campos andam secos, sem água para regar porque as águas do povo, nestes meses de verão não se podem abrir para o caso de se dar alguma emergência. Por isso é oiro que Nosso Senhor nos manda. Ao mesmo tempo, como se tivessem combinado, os agricultores dedicam estes dias a ir apanhar lenha e a cortá-la. Na casa ao lado da nossa, tem-se acordado com o cantar do carro de vacas e das campainhas de quem o transporta. Arrecadar no

Que futuro?

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Dias mais calmos e frescos se vivem em Feirão. Poucos são os que ainda estão em férias, não mais de 20 pessoas, creio eu. A vida corre calma, com os trabalhos de quem trabalha e o descanso de quem descansa. Já Cotelo está mais povoado, seja de residentes seja de quem está de férias. Olhando para alguns anos atrás, em que as pessoas vinham para cá do um ao trinta e um de Agosto, tudo agora é diferente, deixa a pensar e dá que falar, como a conversa que tive esta tarde no café de Cotelo com um senhor de Feirão: que não há futuro para estas terras. E dizia eu que, daqui a dez anos, Feirão está muito mais reduzido e talvez sejam menos de 50 pessoas. Os mais velhos vão envelhecendo e desaparecendo, os mais novos que vivem cá – que são poucos – não conseguirão manter uma estrutura de aldeia, onde nem sequer café ou mercearia tem. E os filhos e netos, por Lisboa, Porto ou Marinha Grande, que vão vindo cá por causa dos mais velhos, acabarão por deixar de vir. Uma morte lenta ou paliativa, s

Sem manipulações

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Uma amiga mandou-me esta foto com uma rua com o meu nome! Mas, claro, não sou eu. Tem a sua piada. Sobretudo ter-se lembrado de mim em Avis! Obrigado.

Sons e paisagens

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A história da cultura tradicional portuguesa não poderá ser feita sem ter em contas as várias recolhas que, ao longo do século XX e XXI se foram fazendo por este Portugal fora, em grande parte levado a cabo por Michel Giacometti pelos anos 70, no conhecido programa “um povo que canta”. Há três anos surgiu uma nova edição deste programa, com o acrescento do “ainda canta”. Não saberemos se daqui a 10 anos ainda teremos o povo a cantar e o que andará a cantar. Cantares ao desafio nas feiras, desgarradas nas tabernas, algum folclore agora mais visual que expressão de sentimentos, são resquícios do popular, em nada comparável ao pimba que grassa nestas festas de aldeia. Nas curtas viagens entre Feirão e Cotelo, oiço Isabel Silvestre, no seu recente álbum “Cânticos da terra e da vida”. A voz, os tons e os temas assemelham-se às paisagens da serra de Montemuro que nos envolve. Há um tom comum nestas serras inconfundíveis. Que não se aprende nem se ensina. Sai genuinamente, como a á

Como criança ao colo da mãe

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Por fim, Feirão! É como voltar ao colo da mãe.

Diários

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Comecei há dias a ler mais um Diário. Desta feita, o do P. Congar, dominicano, entre os anos 1946-1956. Gosto de ler diários e também de os escrever. Ao longo da vida várias tentativas, somadas à ideia inocente que todos os dias se deveria escrever alguma coisa... Já dominicano, tentei uma vez mais recomeçar um diário. Também sem sucesso, mas nesta fase já a ter consciência da perversidade dos diários. Se, por um lado, até se pode ter a necessidade de escrever, por outro esconde-se o que se escreve. Mas há sempre um fundo nublado que nos garantirá que, um dia, os diários serão lidos, mesmo sem nossa autorização. Tirando os casos de excepção de escritores que foram pagos para os escrever, grande parte dos diários são palavras escondidas com desejo de um dia serem reveladas. Creio que já aqui escrevi sobre este assunto, e mais que assunto uma inquietação e que aqui citei, também Miguel Torga, também ele escritor de Diários, em que, às tantas, ele chega a esta mesma conclusão: se não q

Discurso do Papa Francisco aos Dominicanos

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No dia 4 de Agosto o Papa Francisco recebeu, no Vaticano, os Padres Provinciais que estiveram reunidos em Capítulo Gera. Fez-lhes um pequeno discurso que aqui deixo, para lembrar a memória litúrgica de São Domingos: "Queridos irmãos e irmãs: Hoje poderíamos descrever este dia como “um jesuíta entre frades”: de manhã convosco e à tarde com os franciscanos: entre frades. Dou-vos as boas-vindas e agradeço a saudação que frei Bruno Cadoré, Mestre Geral da Ordem, me dirigiu em nome próprio e de todos os presentes, já a terminar o Capítulo geral, em Bolonha, onde desejaram reavivar as vossas raízes junto ao sepulcro do santo Fundador. Este ano tem um significado especial para a vossa família religiosa ao cumprirem-se oito séculos desde que o papa Honório III confirmou a Ordem dos Pregadores. Por ocasião do Jubileu que celebram por este motivo, uno-me a vós pelos abundantes dons recebidos durante este tempo. Além disso quero exprimir a minha gratidão à Ordem pela sua signifi

São Sixto II e companheiros, mártires

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Apesar de ser domingo, por ser dia 7, a Igreja lembra hoje um grande Papa, São Sixto II que, juntamente com outros cristãos deram testemunho do amor por Cristo, derramando o seu sangue. Estamos a falar dos primeiros séculos cristãos, à volta do ano 257.  Os cristãos eram perseguidos por causa da sua fé. Mas, como já tinha dito Tertuliano, "o sangue dos mártires é semente de cristãos", ou seja, a perseguição e o martírio faziam com que mais aderissem a Jesus Cristo. Por isso, as casas dos cristãos já eram pequenas para celebrarem a Eucaristia. Daí terem de ir celebrar para as célebres "catacumbas", que, ao contrário do que alguns dizem, não eram os lugares onde eles vivam mas sim, onde se reuniam  para a celebração da Eucaristia. Uma dessas catacumbas de Roma encontra-se na Via Ápia, onde este nosso Papa, juntamente com outros cristãos, foram apanhados durante a celebração da Eucaristia. Celebrava o papa juntamente com os sete diáconos de Roma. O Papa foi logo d

A idade do homem

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Andando eu ontem à procura de umas citações, encontrei na "Carta a um refém", de Antoine de Saint-Exupéry, esta pequena mas interessantíssima reflexão sobre a idade do homem. Eis como a descreve: " É incrível, a idade de um homem! Resume a sua vida inteira. Essa maturidade, que é dele, foi-se construindo lentamente. Foi-se construindo à força de tantos obstáculos vencidos, de tantas doenças curadas, de tantas mágoas abrandadas, de tantos desesperos superados, de tantos riscos cuja maioria escapou à sua consciência. Foi-se construindo através de tantos desejos, de tantas esperanças, de tantas saudades, de tantos olvidos, de tanto amor. Representa uma bela carga de experiências e de memórias. A idade de um homem! Apesar das armadilhas, das contrariedades, das rotinas, continuámos a avançar aos solavancos, como uma boa carroça. E agora, graças a uma convergência obstinada de felizes circunstâncias, aqui estamos. Chegamos aos trinta e sete anos. E a boa carroça, se Deus q