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A mostrar mensagens de 2021

Homilia desenhada

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  Ontem, no final da Missa, uma criança veio oferecer-me este desenho... E eu pensei: o efeito das minhas homilias na cabeça das crianças.

Arquivos: vida e pregação mendicante

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Propus-me, nos próximos dias, a inventariar uns arquivos de um irmão da minha comunidade sobre dominicanismo. São 4 pastas, com muito material interessante para um projecto que os dominicanos de Portugal querem tornar acessível. Há coisas que não vão caber neste projecto. Porque são tópicos, notas, apontamentos...    Transcrevo para aqui uma nota que este irmão enviou para o provincial da altura sobre o tema da mendicidade da vida dominicana, que foi tratada num encontro europeu. É uma nota com alguns pontos bastante interessantes e lúcidas para compreender a mendicidade das ordens religiosas, e em especial, a dominicana: 1. Na legislação canónica actual têm especial interesse quanto aos mendicantes os cânones 634ss e 1265 do CDC de 1983 que regulamentam o direito de propriedade e disciplinam o princípio de pedir esmola. 2. Desde o Concílio de Trento, em sentido estrito, só os Franciscanos, dos ramos capuchinhos e observantes, são considerados actualmente Ordens Mendicantes. 3. A nossa

Traditionis custodes - Guardas da Tradição

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O Papa Francisco aboliu hoje, salvo raríssimas excepções, a celebração da Missa no rito anterior ao Concílio Vaticano II, comummente chamada Missa tridentina ou pré-conciliar. Esta decisão do Papa merece o apoio de todos os que sentimos a frescura da renovação da estrutura eclesial, tão importante e necessária, para que a Igreja possa recuperar não só a credibilidade mas a sua cada vez maior proximidade a Jesus Cristo e ao seu Evangelho. E qual é a não-razão que levou o Papa a revogar todos os documentos e autorizações que João Paulo II e Bento XVI tinham concedido? É mesmo só uma: pensar que este movimento está de tal modo a crescer que é preciso travá-lo. Não foi, portanto, este o motivo. Os verdadeiros motivos mostrou-os o Papa na carta muito fraterna e consciente que enviou a todos os Bispos. O abuso destes movimentos que celebravam no rito antigo, promovendo-o como o verdadeiro rito da Igreja, a unidade da Igreja, sempre tão visível na celebração da Eucaristia e o caminho que a Ig

Aristides Sousa Mendes e a consciência

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No ano passado, na véspera da Eucaristia que celebrámos, o Papa Francisco na sua habitual audiência das quartas-feiras, lembrou o dia e a pessoa que nós hoje também lembramos: o dia da consciência e a figura a ele ligada, Aristides Sousa Mendes (ASM). Também por esses dias, o nosso país aprovava que Aristides Sousa Mendes tivesse um lugar no Panteão Nacional, o lugar onde ficam perpetuados os nossos ilustres. Como capelão do Externato Marista de Lisboa fiquei também bastante agradado ao ver nas salas das turmas do secundário, uma cronologia do século XX. E em todas elas constava a fotografia deste nosso grande herói. Comprovei que não só sabiam quem era, mas o porquê de fazer parte da história do século passado. Aos poucos vai-se redescobrindo esta figura de excelência nossa conterrânea, e quem dera que ficasse lembrado não tanto pela memória de um passado, mas pela urgência em dar continuidade às suas intuições e acções, tão importantes e actuais na construção de um mundo com mais res

Louvor da Eucaristia

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 Frei Luís de Granada, dominicano espanhol mas que passou grande parte da sua vida em Portugal, em 1561 publicou um pequeno livro " Vita Christi " (vida de Cristo), em que vai comentando os vários passos da vida de Cristo. Porque hoje é dia do Corpo de Deus, deixo o final da meditação que escreveu sobre a Última Ceia e o Lava-pés: " Quem poderá explicar os efeitos e as virtudes deste sacramento tão nobre? Porque com ele de uma maneira maravilhosa une-se a alma ao seu esposo, com ele ilumina-se o entendimento, aviva-se a memória, apaixona-se a vontade, deleita-se o gosto interior, aumenta a devoção, derretem-se as entranhas, abrem-se as fontes das lágrimas, adormecem-se as nossas paixões, despertam-se os nossos bons propósitos, fortalece-se a nossa fraqueza e toma-se fôlego para caminhar até a montanha de Deus.  Ó maravilhoso sacramento, o que direi sobre ti? Com que palavras te vou elogiar? Tu és a vida das nossas almas, o remédio das nossas feridas, o consolo dos nossos

A poesia da Quaresma - 7

Se sois riqueza, como estais despido? Se Omnipotente, como desprezado? Se rei, como de espinhos coroado? Se forte, como estais enfraquecido?  Se luz, como a luz tendes perdida? Se sol divino, como eclipsado? Se Verbo, como é que estais calado? Se vida, como estais amortecido?  Se Deus? estais como homem nessa Cruz? Se homem? como dais a um ladrão, Com tão grande poder, posse dos céus?  Ah, que sois Deus e Homem, bom Jesus! Morrendo por Adão enquanto Adão, E redimindo Adão enquanto Deus (Fr. António das Chagas)  

A poesia da Quaresma - 6

guia-nos, Deus, na viagem através do deserto até ao lugar da tua crucifixão e da tua Páscoa. guia-nos, Deus, da via cinzenta dos nossos dias à via gloriosa da tua cidade. seja este o tempo favorável para a confissão do pecado e do louvor, nós que vivemos na fragilidade do corpo nómada o imaginário do oásis e os lugares de repouso. guia-nos, Deus, para a inquietação que permanentemente te nomeia, Deus em Jesus Cristo e no Espírito consolador.

As saudades

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 Aqui deixo dois desenhos que dois amigos meu me entregaram hoje no início da missa, porque estavam com muitas saudades! Obrigado Margarida, obrigado Alexandre!      

A poesia da Quaresma - 5

Portanto farei uma escada no coração. E pelos degraus subirei da minha casa Até bater com o pensamento no altíssimo. Apagarei os passos e o cérebro como um rasto no deserto Sempre atento como a águia quando fixa o sol Sem pestanejar. Farei portanto a escada no deserto para fixar A luz. Da minha casa subirei sem palavras Em silêncio, portanto, pisando o coração.  (Daniel Faria)  

A poesia da Quaresma - 4

No deserto, uma voz, O sol quente, o SILÊNCIO, a secura, o abismo, a tentação de ser Deus. Mas, mais forte do que eu é essa força que habito e que me habita e que sinto, essa marca, essa pegada que nenhum vento dissipa. E já não há pressa, nem tempo... E a resposta se intui, e é a tarde serena, e uma brisa se escuta... Tudo passa... E o horizonte de areia converte-se na Palavra. (Maria Helena Cabral)

A poesia da Quaresma - 3

Que coração tão duro, seco e frio Se poderá livrar do sentimento, Vendo num vagaroso movimento Fugir as claras águas deste rio?  Tamanho mal em tantos males crio, Que não fica lugar ao pensamento Para chorar sequer um só momento A secura, a dureza, em que me esfrio.  A corrente das águas, branda ou tesa, Mal pode desfazer minha secura, Pode mal abrandar minha dureza;  A saudade d’alma branda, e pura, Em que há-de acender minha frieza, Consiste na divina formosura. (Frei Agostinho da Cruz)  

A poesia da Quaresma - 2

Do alto deste monte, numa manhã assim, só há duas coisas a fazer: chatear deus ou deixar deus em paz. Minto. É claro que há uma terceira via (mas dá muito trabalho): fingir que não o vejo nem o oiço do alto deste monte na luz desta manhã. (A. M. Pires Cabral)

Santa Catarina de Sena e a Cadeira de São Pedro

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 Porque hoje se celebra a festa da Cadeira de São Pedro, deixo aqui uma bela oração de Santa Catarina de Sena escrita/rezada neste dia. Com quase 700 anos continua muito actual: " Escuta as nossas orações pelo teu vigário, o papa, guardião desta tua cadeira, da qual hoje celebramos a festa. Que o sucessor do velho e humilde Pedro te seja agradável, pois nos indica os remédios necessários para a Igreja. Eu digo que tu prometeste cumprir rapidamente os meus desejos, por isso com maior confiança te peço: não demores mais em cumprir as tuas promessas, ó meu Deus.  E vós, queridos filhos, já que agora somos nós os operários, é hora de se ocuparem da Igreja de Cristo, verdadeira mãe da nossa fé; para isto vos animo: uma vez enraizados na Igreja, sede os seus pilares. Trabalhemos todos juntos neste jardim da fé salvadora com o fervor da oração e das obras. Livres do amor próprio e da preguiça, coloquemos plenamente em prática a vontade do Deus eterno, que nos chamou a trabalhar na nossa

A graça do recomeço - homilia

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Começamos hoje, de uma forma muito diferente e se calhar nunca imaginável, o tempo da Quaresma. A Quaresma é um tempo e um rito. Um rito que tem muitos ritos dentro dela. Por exemplo, o rito da imposição das cinzas, que para muitos cristãos será hoje espiritual.  E podemos ver o rito de duas perspectivas: ou como rotina (mais uma quaresma) ou como um mecanismo que nos ordena (uma quaresma que traga novidade às nossas vidas). Antoine de Saint-Exupery, no Principezinho, define o ritual nesta segunda dimensão, que é a verdadeira. O principezinho pergunta à raposa o que é um ritual e a raposa responde-lhe: “É uma coisa de que toda a gente se esqueceu: é o que torna um dia diferente dos outros dias e uma hora diferente das outras horas”.  Todos os anos, quarenta dias antes da Páscoa, a Igreja reúne-se para dar início ao tempo de conversão (de regresso a Deus, como iremos cantar daqui a pouco) numa atitude de verdade e humildade. Aliás, atitudes indispensáveis que estão por detrás destas trê

A poesia da Quaresma - 1

Caminho deserto sem marcas nem flores, vou cantando amores que minh'alma busca. Sentindo, sem medo tão brandas as dores... Correndo e voando, Olhando o azul. Caminho sedenta, Sem pressa nem pausa... E o céu tão perto! (Maria Helena Branco)

Irmã Maria Domingos, op - in memoriam

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Faleceu hoje, na sequência do Covid, a Irmã Maria Domingos,  monja dominicana, fundadora do Mosteiro do Lumiar, encerrado há poucos anos. A Ir. Maria Domingos nasceu a 26 de Fevereiro de 1936. Ingressou no mosteiro de Fátima, onde fez o seu noviciado como monja dominicana. De lá partiu para o Porto, para o mosteiro dominicano que então havia lá. Em 1982, juntamente com outras irmãs, depois de terem passado algum tempo em Prouille (primeiro mosteiro da Ordem) fundam o mosteiro do Lumiar, propriedade que pertencia aos frades dominicanos irlandeses. A Ir. Maria Domingos distinguiu-se sempre pela sua forma de estar na Igreja e no mundo: simplicidade, humildade, discrição e muita alegria. Prioresa durante alguns mandatos foi sempre a alma do mosteiro, abrindo as suas portas e portões às várias pessoas e grupos que viam no mosteiro um lugar de acolhimento e de paz. Como a beleza está muito ligada à simplicidade, juntamente com as irmãs da sua comunidade cuidaram sempre, muito e bem, do exter

Caminhos de conversão

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Eucaristia do Dia Mundial do Doente

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A moral ou a falta dela

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De há uns anos para cá venho defendendo que um dos motivos que leva à degradação da moral e dos bons costumes da sociedade foi o deixar de se ensinar filosofia. Aliás, devia ser obrigatório que nas universidades e empresas se fizessem formações sobre valores fundantes da nossa sociedade, a começar por aprender o que significa viver em comum, com as suas implicações e a importância dos actos virtuosos, da formação da consciência, da política, da democracia...  Vivemos como no tempo da predação. Senão vejamos: o que estamos a viver há quase um ano é catastrófico, mesmo se os estados sejam só de emergência. Esta pandemia, com tudo o que de negativo nos tem causado, devia fazer-nos reflectir sobre a importância da vida, a aceitação da nossa fragilidade, o respeito pelo outro, a prioridade aos mais débeis... mas não. Festas ilegais, um estado que não soube (sabe) gerir toda esta situação, tendo tido desculpa na primeira fase por ser novidade, não a tem agora por não ter preparado o país par

O que nos pode ensinar São Tomás de Aquino

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A Igreja lembra hoje e dos dominicanos celebram com festa e júbilo a figura incontornável de São Tomás de Aquino (Roccasecca 1225-Fossanova 1274). É mesmo incontornável. Mas confesso que só recentemente entrou nas minhas devoções. Quando entrei na Ordem, São Tomás era falado em qualquer círculo, para trás e para a frente e quem não conhecesse São Tomás ou não lhe tivesse devoção nunca seria um bom dominicano. A coisa andava sempre pelo "segundo São Tomás", "de acordo com São Tomás", "São Tomás escreveu"... às vezes apetecia pôr os reverendos tomistas à prova perguntando onde é que São Tomás tinha escrito ou onde é que ele tinha dito. As aulas de filosofia medieval não ajudaram e talvez a minha idade não conseguisse alcançar o seu pensamento. Digo isto sem nenhum escárnio ou desmérito dos frades tomistas mas a nós, mais novos, passavam-nos o certificado de ignorância. Por isso virei-me mais para Santo Alberto Magno, seu mestre, e de entre os grandes santos

Sobre a comunhão espiritual

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1. Sobre este importante tema que é o da comunhão espiritual, começo pro me valer de um pequenino livro que herdei, datado de 1826, que tem o título "Visitas ao Santíssimo Sacramento e a Maria Santíssima para todos os dias do mês". No início do livro, mesmo antes das ditas "práticas", há uma "Advertência ao leitor". E adverte-o assim: " Como no fim de cada uma das seguintes visitas ao Santíssimo Sacramento se persuade a Comunhão Espiritual, é justo explicar aqui no que ela consiste, que alcança quem pratica tão louvável exercício. A Comunhão Espiritual, conforme São Tomás, consiste num desejo ardente de receber a Jesus Sacramentado, e num abraço amoroso, como se já o houvéssemos recebido. Quanto estas Comunhões Espirituais sejam agradáveis a Deus, e quantas graças por este meio ele comunica às almas fervorosas, o mesmo Senhor o deu a entender àquela sua serva Soror Paula Maresca, Fundadora do Mosteiro de Santa Catarina de Sena em Nápoles, quando lhe f

Ano Dominicano | 2021-2022

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    A Ordem dos Pregadores deu ontem início a um ano jubilar. O motivo é o oitavo centenário da morte de São Domingos ou, como costumamos dizer, do seu nascimento para o céu ( dies natalis ). O tema parece estranho mas tem a sua lógica: "À mesa com São Domingos". A pintura inspiradora é esta, que acompanha estas linhas, pintada pouco tempo depois da canonização de São Domingos e considerado o seu primeiro retrato. São Domingos teve sempre uma grande estima pela vida comunitária. No seu ideal, a salvação das almas é conseguida pela pregação e que se prepara no estudo, na oração e na vida comum. Partilhar uma refeição entra na nossa privacidade. Não nos sentamos à mesa com um desconhecido nem o convidamos para se sentar à nossa mesa se não sabemos o seu nome. Quando nos sentamos à mesa com alguém e partilhamos uma refeição é porque sentimos alguma intimidade. Na vida comum a mesa é um lugar muito importante. É um lugar de reunião, de encontro, de partilha, de bênção e de paz. S