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A mostrar mensagens de setembro, 2009

Arte

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Impressionam-me as pessoas que pegam num lápis e fazem com naturalidade um desenho. Se calhar porque não consigo fazer um risco direito. As minhas aulas de Educação Visual, de Expressão Plástica e todas as que metiam desenhos eram para mim um verdadeiro tormento. Lembro-me dos lápis de cera, talvez os primeiros que usei, em que se pintava sobre papel manteiga, depois os lápis de cor, as canetas de feltro com aquele barulho que, só de pensar nele me arrepio ainda hoje, algumas vezes a aguarela... tanto investimento para nunca ter feito um desenho de jeito. Lembro-me só de um desenho, que voltei a repetir anos mais tarde. Uma vez, nos testes psicotécnicos que tive que fazer nos meus tempos de pré-seminário, mandara-me fazer o desenho de uma árvore. E eu lá fiz o melhor que pude: umas raízes, um tronco, os ramos e umas folhitas mal semeadas para não parecer árvore de Inverno. Resultado: a interpretação do desenho dizia que tinha pouca ambição, que era muito tímido, tinha que fazer desenvo

A corte celestial

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A Igreja celebra hoje a festa de três Arcanjos: Miguel, Rafael e Gabriel. Já devem ter reparado que hé muitos tipos de anjos e têm entre si uma hirarquia. São Paulo, por exemplo, faz uma pequena lista da corte celestial dizendo que Jesus está sentado à direita do Pai, onde é adorado pelos Anjos, Dominações e Potestades. Mas há uma lista completa de nove categorias de Anjos, divididos em três tríades: A primeira, e mais importante é a dos Serafins, Querubins e Tronos. A segunda comporta as Dominações, Virtudes e Potestades. Finalmente a Terceira tríade tem os Principados, Arcanjos e Anjos. Esta lista aparece num livro dos primeiros séculos cristãos, A Hierarquia celeste , atribuído a Dionísio, o Areopagita. Para hoje interessa-nos a classe dos Arcanjos. Sabemos que a Palavra "Anjo" significa mensageiro. Arcanjo é aquele que revela, que vem cumprir tem uma missão de Deus. São os "reveladores de Deus". E, por isso, os seus nomes, de origem hebraica, terminam em "e

Fim de uma etapa

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Dia de apresentar à minha Comunidade, por escrito, o meu relatório de fim de mandato como prior deste convento onde vivo. Assim o mandam as nossas leis. Se fosse opcional não o fazia. Não por medo, não por não me querer confrontar. Mas porque entendo que a Comunidade é um dom e o que o superior deve fazer não é andar a medir a temperatura da comunidade mas rezar por ela. Com dizia Bonhoeffer, " Quanto maior for o nosso agradecimento pelo que recebemos da comunidade em cada dia, tanto maior será o seu crescimento para glória de Deus ". Mas tive que obedecer às leis. É sempre difícil fazer relatórios. Começamos a ver o que foram três anos à frente de uma comunidade, o que foi mal feito, o que deveria ter sido feito, problemas, cansaços, algumas alegrias, preocupações, desgastes... Depois vem o complexo de culpa ou de desculpa. Se as coisas correram mal dividimos a culpa, se correram bem ficamos com o sucesso para nós. Finalmente agradece-se e pede-se perdão. A Deus e aos irmãos

Regra de vida

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Viver todos os momentos com igual intensidade, privilegiando cada um deles como sendo o mais importante do dia que Deus me dá.

Do Evangelho deste Domingo...

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" Quem não é contra nós é por nós. Quem vos der a beber um copo de água, por serdes de Cristo, em verdade vos digo que não perderá a sua recompensa ." (Mc 9, 40-41)

Mercado de Benfica

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Esta manhã fui ás compras ao mercado de Benfica. Gosto de lá ir. Os talhos com as montras de carnes e enchidos, as padarias, os lugares das frutas e legumes, dos frangos e das suas miudezas e, no centro, as peixeiras com os seus peixes frescos. Não fui em campanha, eh eh eh. Fui às compras para o almoço de amanhã. Serão, pelo menos, 9 pessoas. Gosto de sítios destes com gente, variedade de lojas, de cores e sabores, onde há um contacto directo entre comerciante e freguês. Pedimos carne magra e arranja-se, pede-se coentros e arranjam, queremos laranjas nacionais e lá estão elas, do Algarve. Quando lá vou não costumo encontrar ninguém conhecido mas hoje lá vi o Miguel, "meu freguês", que andava também nas compras. Agora vou preparar a homilia de amanhã... Logo há cá jogo do Benfica, com a confusão inerente a quem vive perto de estádios de futebol. Mas, ao menos, que ganhe!

Um acto comunitário... diferente

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Todos os dias, depois do almoço, a minha comunidade faz um tempo de recreio. Uns lêem os jornais e revistas, outros conversam, alguns tomam café e um fuma. Hoje foi mais curto este tempo de recreio. Porquê? Porque recebemos um rapaz que vem viver connosco, este ano lectivo, como postulante. O postulante é alguém que postula, que pede alguma coisa. Este rapaz pede para entrar na Ordem. E, por isso, vem conhecer-nos mais de perto, e a melhor maneira é de viver como nós vivemos. Já Jesus tinha desafiado os primeiros discípulos quando o conheceram e lhe perguntaram onde morava respondendo-lhes: vinde e vede (João 1, 35-39). Esta primeira etapa para quem quer ser dominicano começa com uma pequena celebração. Foi simples mas bonita: reuniu-se a comunidade, presidida pelo Provincial, o candidato apresentou-se, foi-lhe apresentada a comunidade, o Provincial dirigiu-nos umas palavras e terminámos com a recitação do salmo 118 (9-16): " Como há-de um jovem manter puro o vosso caminho? Guarda

Ordem de Pregadores em 3 minutos

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PERGUNTAS E RESPOSTAS RÁPIDAS PARA CONHECER OS DOMINICANOS 1. O que é a Família Dominicana? Somos religiosos católicos e fazemos parte da Ordem Dominicana ou de Pregadores. A esta família pertencem não só padres e irmãos, mas também monjas de vida contemplativa, irmãs de vida apostólica e leigos. A nossa vida fundamenta-se na prática dos conselhos evangélicos (obediência, pobreza e castidade), alimenta-se da oração, da vida comunitária, do estudo e da Pregação. 2. Quem é o fundador da Ordem dos Pregadores? O fundador dos Dominicanos é São Domingos. São Domingos (1172-1221) teve, na sua vida, um grande desejo: falar com Deus ou de Deus. Como resposta à propagação das seitas do seu tempo, fundou em 1216 a Ordem dos Frades Pregadores. O que caracterizou a Ordem desde o início foi a estreita ligação entre vida contemplativa e pregação, como também as suas constituições característicamente democráticas. 3. Algumas referências (personalidades) nos Dominicanos? Santo Alberto Magno (1200-1280)

As vidas dos irmãos

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Ontem à noite acabei de ler um livro muito importante para os Dominicanos: " A vida dos irmãos "; em latim, língua em que foi escrito, o título é " Vitae fratrum ". Claro que não li em latim, os meus dotes não chegam a tanto. Mas este livro é importante porque é do século XIII, escrito por um frade dominicano, fr. Gerardo de Franchet, curiosamente, fundador do primeiro convento dominicano de Lisboa, no Rossio, actual igreja de São Domingos, em 1241. É ainda importante porque narra histórias da vida dos frades, pouco anos depois da morte de São Domingos. Histórias verídicas (é preciso ter em conta o conceito de veracidade no século XIII), mandadas recolher pelo então Mestre da Ordem, Humberto de Romans, e que encomendou a este frade que as juntasse num livro. Estava em falta. Este livro foi-me dado em Fevereiro de 1999. Supostamente deveria ter sido lido nesse mesmo ano, porque fazia parte da leitura do noviciado mas, como nas nossas leis se diz que cada frade é prim

O descanso eterno

Recebi, há pouco mais de uma hora, a notícia da morte do Carlos. Acompanhei-o nos últimos dias, esta manhã estive com ele para lhe administrar a Unção dos doentes. Muito reservado, sempre, emocionava-se quando falávamos. A mãe desfeita em lágrimas (que dor maior para uma mãe senão a morte do seu filho...), a mulher, presente, calma, com fé e esperança em Deus, o filho que fazia desenhos, que escrevia cartas ao pai e que hoje se despediu dele. Quando passo pelo drama da morte acho-me sempre pequenino, e fico quieto. A fé diz-me que só junto de Deus é que não se sofre. E a morte torna-se uma passagem necessária para esse colo que todos nós gostamos, que é o colo de Deus. Esta noite, para aquela família, vai ser, certamente, de lágrimas, silêncios e talvez de sentir perto o vazio. Mas acredito que Deus pode dar sentido ao vazio e pode enchê-lo. Para mim é mais um amigo que tenho junto de Deus. Nesta noite rezo a Jesus: Pie Iesu dona ei requiem (Jesus Piedoso, dá-lhe o eterno descanso) .

Hoje é dia de São Mateus

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"Naquele tempo, Jesus ia a passar, quando viu um homem chamado Mateus, sentado no posto de cobrança dos impostos, e disse-lhe: «Segue-Me». Ele levantou-se e seguiu Jesus." (Mt 9, 9)

Recomeçar

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Recomeço, aos poucos, as rotinas deste novo ano pastoral. O Domingo continua a ser o grande dia: de trabalho, oração e encontro. Missa ao meio-dia, almoço com a Comunidade, visita aos doentes do Hospital e Missa às seis da tarde. À semana a agenda começa também a ficar preenchida com as suas rotinas: natação, idas ao hospital, Missas em várias comunidades, celebrações nos Colégios... Assim nos vamos entregando ao tempo e aos outros esperando ter ainda algum tempo para nós. É bom sentir que o nosso apostolado tem muitas caras, que vamos passando pelas vidas das pessoas e que elas também vão passando pelas nossas vidas. Parecemos um arado que vai rasgando o seu sulco na terra para depois vir o semeador cumprir a sua missão. Razão tinha são Francisco de Assis ao dizer que há mais alegria em dar do que em receber, porque quem dá, mesmo que não se dê conta, já está a receber.

Ter as crianças como Mestres

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A propósito do Evangelho deste Domingo (Mc 9, 30-37), aqui fica o conhecido poema de Carlos Queirós, "Canção inocente": Menino: queres ser meu mestre? - Contigo teria tanto que aprender! A ser casto, sem querer; a ser bom, sem o saber; a ser alegre, sem ter motivos para o ser. Menino: queres ser meu mestre? - Deixa o teu arco aí. Vem-me ensinar a sorrir e a confiar; a ter esperança e a perdoar; a esquecer e a chorar... Menino, que brincas no jardim: - Tu sim, podias ser um mestre para mim!

Momento musical

Santo Agostinho nas suas "Confissões" conta que, quando começou o seu caminho de conversão e se preprarava para o baptismo, a música não lhe foi indiferente. Diz assim (IX, VI, 14): " Quanto eu não chorei nos hinos e nos teus cânticos, vivamente comovido pelas vozes da tua Igreja que suavemente cantava! Aquelas vozes insinuavam-se nos meus ouvidos, e a verdade infiltrava-se no meu coração, e daí transbordava o sentimento da piedade, e corriam as lágrimas, e eu sentia-me bem com elas ". Deus converte até pela música! E a música tem este dom de nos acalmar e ver nela a beleza de Deus. Encontrei hoje este cântico que é executado por um dos melhores coros do mundo: Regensburger Domspatzen. Espero que gostem.

A chamada "doença terminal" - parte 4

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3. Dignidade e humanização da morte A proporcionalidade dos tratamentos, antes discutida, é no entanto apenas uma das respostas alternativas ao problema da eutanásia e do afinco terapêutico na doença terminal. A sua verdadeira evolução consiste, provavelmente, numa cultura diversa que nos leve a descobrir o sentido de viver e de morrer, que torne a morte ‘digna’ do homem e que nos capacite ‘acompanhar’ o moribundo a tal acontecimento último. É necessário redescobrir também, no nosso tempo, a atenção ao momento e ao significado da morte. O seu momento não pode apanhar-nos de surpresa. Talvez hoje sorrimos diante dos textos ascéticos dos séculos passados como a Preparação para a morte de S. Afonso de Ligório mas não nos deveria escapar o sentido mais profundo de tais atitudes. Toda a vida deveria ser uma longa preparação para a morte. Como diz uma frase atribuída a Leonardo da Vinci “como um dia bem passado no leito de dormir, assim uma vida bem vivida no leito de morrer”. Não se pode

A chamada "doença terminal" - parte 3

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2. Negar a morte para negar a doença: a obstinação terapêutica Os tratamentos “inúteis” No tema da eutanásia é inevitável abordar a obstinação terapêutica, dado que constitui, pelo menos no plano dialéctico, a contraposição mais imediata. De facto pensa-se que a recusa de praticar a eutanásia nos doentes terminais constitui, de facto, uma obstinação terapêutica, isto é, é inútil submeter o doente remédios que apenas lhe prolongam o sofrimento. Na realidade nem toda a intervenção que prolongue a existência de um doente terminal configura com uma inútil obstinação terapêutica. Podemos definir isto como a insistência no recurso a defesas médico-cirúrgicas não incidentes na medida significativa sobre o natural e irreversível percurso da doença nem sobre uma melhor qualidade de vida do paciente. Ainda que um pouco comprida e articulada, a definição que propomos delimita bastante bem o âmbito da obstinação terapêutica e sobretudo evita extensões indevidas a actos que certamente não constitu

A chamada "doença terminal" - parte 2

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1. Suprimir o doente para suprimir a doença: eutanásia Natureza da eutanásia Entre as respostas éticas relativas ao doente terminal, a mais problemática diz respeito à eutanásia, termo ambíguo enquanto sobrepõe o plano descritivo (isto é, da raiz grega, o conceito de “boa morte”, en Tanathós) com o plano valorativo (isto é, a supressão piedosa do doente). Antes de mais, então, procuremos definir exactamente os termos do problema. “Por ‘eutanásia’ podemos entender toda a acção ou omissão completa para suprimir a vida de, um doente com o fim de lhe evitar sofrimentos físicos ou psíquicos”. Logo, a eutanásia não consiste só no completar uma acção directamente finalizada a suprimir um indivíduo, mas também no omitir uma acção que poderia salvá-lo. No plano ético, em substância, não existe diferença entre uma morte directa e fazer deliberadamente que o indivíduo morra; como não existe diferença entre o eliminar um homem afogando-o no mar ou deixar que se afogue. Ninguém pode justificar-se

A chamada "doença terminal" - parte 1

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Ontem, quando cheguei do hospital, na mesa que tenho à entrada do meu quarto, alguém deixou um artigo de um Professor de Teologia Moral, traduzido pelo Dr. João Costa Jorge, sobre "A doença terminal como problema bioético". Li e gostei. Parece-me esclarecedor porque muito se diz e muito se quer enganar sobre estas questões ligadas ao final da vida. Converti o artigo em suporte digital e aqui fica, para quem o quiser ler e até comentar. Os sub-títulos são: 1 : Suprimir o doente para suprimir a doença: eutanásia; 2: Negar a morte para negar a doença: a obstinação terapêutica; 3: dignidade e humanização da morte. Por ser extenso vou dividi-lo em quatro partes, sendo esta primeira a introdução. O artigo vai acompanhado de pinturas de Thomas Cole (séc. XIX), que pintou quatro quadros aos quais deu o tema geral: " A viagem da vida " e depois, cada quadro com uma idade humana: infância , juventude , adultez e velhice . Sim, porque não são só os mais velhos que viajam...

O pilar de Deus

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Foi com este sub-título que uma jornalista do Público escreveu hoje no P2 sobre um monumento antigo e nobre da Síria: a basílica de São Simeão. Já ontem tinha feito uma reportagem sobre um antigo mosteiro do século VI "Deir Mar Musa": Mosteiro de São Moisés ( http://www.deirmarmusa.org/ ). Mas hoje este 'pilar de Deus' fez-me pensar numa espiritualidade dos Padres do deserto muito ligada à solidão e ao sofrimento. O Pilar de Deus, São Simeão foi um homem que viveu na Síria, no século V. Uma vida de abnegação e martírio, como descreve a jornalista, este homem de Deus passou a vida a arranjar maneira de se macerar: desde se enterrar até ao peito e sofrer o calor e o frio, passando por uma corda que colocou à cintura e que, de tão apertada que estava, cravou-se na carne e quando o abade deu conta estava podre e criava larvas. Expulso do mosteiro enfiou-se num poço seco onde convivia com cobras e escorpiões. Ele é o pilar de Deus porque dos 33 anos até aos 70 foi viver em

Senhoras das dores

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Hoje é dia de Nossa Senhora das Dores. Nossa Senhora foi uma mulher e uma mãe como qualquer outra: teve alegrias e teve tristezas. Hoje lembramos as tristezas e as dores. A tradição fala de sete dores de Maria, relacionadas com o seu filho: três à infância e quatro à vida pública. São dores de mãe, dores humanas, dores de sangue. Este ano celebrei a Missa no Hospital da Luz. Foi a bênção da capela do hospital. Presidiu um Bispo Auxiliar, esteve o Pároco e o Responsável da Pastoral da Saúde. Eu "tomei posse" da capelania. Na oração dos fiéis, que foi partilhada, pedi pelas mães que sofrem pela perda dos seus filhos. Pedi, em especial, por duas mães que choram neste dia, porque os seus filhos, ainda bastante novos, vão partir. E diante de tamanha dor não há palavras humanas que consolem. Só as de Deus. E as palavras de Deus às vezes são silêncio. Como se lê no Livro das Lamentações (3, 26): "É bom esperar em silêncio a salvação do Senhor".

Santa Cruz

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Adoramos, Senhor, a tua cruz; louvamos e glorificamos a tua Ressurreição.

Dia de alegrias e tristezas

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1. Ontem um frade dominicano, um pouco mais novo que eu, fez a sua profis-são solene (votos perpétuos). Tem dois significados: o primeiro é que se trata de uma consagração a Deus "até à morte". Aquela semente que se semeou no baptismo começa agora a dar bom fruto. Que Deus leve a bom termo esta promessa que este meu confrade ontem fez. O outro significado é mais prático. A partir de agora este frade tem poder de decisão nas coisas da Ordem. Em linguagem canónica dizemos que passa a ter voz activa e voz passiva, ou seja pode votar e ser votado. Só agora acontece porque só agora se consagrou solenemente. Esta foi a última profissão que nós tivemos. A crise das vocações também acontece na nossa Ordem e na nossa Província. Por isso, além da esperança de podermos vir a ter novas vocações, temos que tomar consciência que a oração e o testemunho são os meios mais eficazes para que homens e mulheres se deixem tocar pelo dedo de Deus que continua a chamar. 2. Domingo, dia de ir ao hos

A riqueza do hospital

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Um dos motivos que me levou a criar este blogue e até a dar-lhe, indirectamente, este nome, foi o de trabalhar num hospital. Achei, desde o princípio que fui para lá, que me iria fazer bem e que me iria enriquecer. Não monetariamente, claro está, porque entendo que o dinheiro não paga tudo e mal de mim quando fizer da minha vocação uma fonte de rendimentos. Mas, dizia, tenho enriquecido muito. Quer a nível espiritual quer a nível científico mas, ultimamente, a nível literário. Hoje fui visitar, pela terceira vez, uma senhora, já com alguma idade, que está internada no hospital. Na primeira vez, estava nos cuidados intermédios. Estava à minha espera. Não queria passar o domingo sem comungar. Na segunda vez, já melhor, num quarto partilhado com uma rapariga que poderia ser sua neta (pelo menos). Quando comungou, estando eu a falar com a mãe desta rapariga sobre fé disse-nos: "Quando comungo digo: Senhor, eu creio em vós, mas aumentai a minha fé". E explicou com as mesmas palavr

À porta dos 100

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Despedi-me ontem desta veneranda senhora. Quase nos cem anos, cara muito branquinha e de olhos azuis. O tempo não marcou muito a sua cara. Quando soube quem era e ao que ia emocionou-se. Tinha pertencido à Legião de Maria, foi à Missa todos os dias, enquanto pôde, mete-lhe pena as pessoas viverem sem esperança e não se despedirem com o "até amanhã, se Deus quiser". Quase sem audição leu nos lábios que iamos rezar o pai-nosso. Rezou-o de olhos embargados, comungou fervorosamente e agradeceu. Despedi-me: "Muitas felicidades e até um dia, se Deus quiser !"

Diário de Miguel Torga II

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Lisboa, 14 de Maio de 1986 - Corrupção. O cancro que rói o corpo e ameaça contaminar a alma de Portugal.

Hoje é o dia do nascimento de Nossa Senhora

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Hoje, dia 8 de Setembro, celebra-se, no mundo cristão, a festa do nascimento de Nossa Senhora. Na Bíblia não há nada que nos diga como e quando foi. Também, no princípio não era importante. Foi pelo século III-IV que começou o interesse sobre a ascendência de Jesus. É por essa altura que aparece um Evangelho apócrifo (não oficial e de pouca verosimilidade) intitulado "Livro sobre a natividade de Maria", que a Tradição conseguiu fazer passar para as culturas e para os crentes. Curiosamente, nas pregações sobre as vidas dos santos, os ouvintes gostam mais de ouvir estas histórias do que os ensinamentos do Evangelho. Traduzi os cinco primeiros capítulos deste livro e que agora ofereço aos que por aqui passarem. Tenha-se em conta a máxima antiga italiana: Tradutore, Traditore (o tradutor é um traidor). As imagens são do grande pintor Giotto (séc. XIV) que estão na Capella Scrovegni, em Pádua. I A bem-aventurada e gloriosa sempre Virgem Maria descendia de estirpe régia e pertencia

O paralítico

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Resumidamente, o Evangelho da Missa de hoje contava um milagre que Jesus fez em dia de sábado, numa sinagoga, a um homem que tinha a mão paralisada. Os escribas e fariseus indignaram-se com Jesus por causa disso. Esta passagem chamou-me à atenção por dois motivos: 1. Jesus fez um gesto puro: curou um homem que tinha uma doença. Foi criticado por fazer o bem. Infelizmente, no seio da Igreja, sobretudo em pequenas comunidades paroquiais ou religiosas, mas mesmo no nosso dia-a-dia, as nossas boas acções, que até se fazem por puro bem, sem segundas intenções, são alvo de críticas; podem ser sinal de ciúme, de orgulho... sei lá. Esta é a minha primeira questão: deve fazer-se o bem sempre, sem julgamentos e sem interpretações. Devemos fazer o bem, como Jesus fez, porque sim. 2. Por vezes somos nós este homem da mão paralítica. As mãos são-nos necessárias para fazer o bem e às vezes dá-nos uma certa paralisia espiritual e não somos capazes de abraçar o outro, de lhe dar a mão, de lhe enxugar

Hoje fui à missa

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É verdade. Hoje foi um dos poucos domingos em que não presidi à Missa mas que concelebrei na bela igreja de Santo Agostinho a Marvila - Lisboa, templo do século XVIII e que hoje celebrava as bodas de ouro como igreja paroquial. Presidiu um dos bispos auxiliares de Lisboa, D. Joaquim Mendes, concelebrei eu e o Pároco, P. Luís Leal. O que me merece falar hoje sobre este acontecimento não é a raridade de concelebrar numa missa de Domingo mas sim o facto de me ter sentido em casa. Sim, porque foi naquela igreja que nasci na fé, foi naquela igreja que cresci, foi aquela igreja que servi como catequista, seminarista e, finalmente, como frade. Fez-se alusão aos padres que dali vieram servir a Igreja de Lisboa: somos três. A comunidade é formada, na sua maioria, por gente das beiras, sobretudo da Beira Alta: Cinfães, Castro Daire e Resende. Gente simples que veio das berças para a capital para ver se conseguia uma vida melhor do que granjear a terra. Apesar de ser uma comunidade envelhecida co