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A mostrar mensagens de maio, 2010

Uma visita inesperada

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Ela, mal soube da notícia - e que grande notícia lhe tinham dado -, pegou nos seus poucos haveres e foi ter com a sua prima. Demorou a lá chegar, pois estamos a falar de um tempo em que não havia nem luz eléctrica nem gasolina, quanto mais carros ou comboios. Ela lá foi, grávida, ainda nos princípios dos enjoos, sozinha, porque o marido não podia deixar as encomendas para mais tarde. E subiu montanhas, desceu vales, tudo em asfalto, caminho de cabras, em direcção à aldeia de Isabel, não para confirmar a notícia mas para a ajudar. Demorou a chegar. Ao avistar a aldeia animou-se. Como estaria ela? E o marido? Na verdade, tinha-lhe acontecido o mesmo: um anjo que lhes apareceu e as agraciou com o dom de um filho. A Isabel, estéril e já passada a idade de ser mãe; a Maria, rapariga nova, que ainda não sabia o que era a vida de casada. Ia ela nesta alegria e nestes pensamentos quando chegou a casa de Isabel. Um grande silêncio. Zacarias não estava, e Isabel estava a fiar lã. Chamou pela pri

Continuar partilhando

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Venho de uma Missa de "corpo presente". A Alda , Filha do Coração de Maria, partiu para a casa do Pai. Conheci-a há pouco anos, ultimamente vinha aqui à Missa ou ao Campo Grande. No último mês esteve hospitalizada na Luz, onde a visitei várias vezes. Esta Missa foi particular. Ao som dos sinos da igreja de Fátima, que tocavam melodias marianas - estava a chegar uma procissão de velas - celebrámos a Eucaristia . Uma homilia partilhada em que as suas irmãs de Instituto falaram da Alda como uma mulher simples, calma, descomplicada ... uma mulher de Deus. E foi naquele ambiente soturno - um escuro calmo - que ouvimos leituras da Bíblia que nos diziam que a nossa vida é como uma tenda, e que em Jesus encontramos descanso e alívio. Ultimamente, quando me pedem para celebrar funerais, fico sempre a pensar nesta frase do livro das Lamentações: "É bom esperar em silêncio a salvação do Senhor". Que o silêncio da noite nos mantenha acesa a esperança do dia que nunca terá o s

Pais e filhos

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Na Bíblia, mais concretamente na carta de São Paulo aos Colossenses, (3, 20-21) lê-se assim: " Filhos, obedecei em tudo aos vossos pais, porque isso é agradável no Senhor. Pais, não irriteis os vossos filhos para que eles não caiam em desânimo ". É frequentente os pais queixarem-se dos filhos e os filhos dos pais. A isso chamamos conflito de gerações. Os filhos, sobretudo a partir da adolescência, não concordam com as atitudes dos pais a seu respeito, mesmo sabendo que são para seu bem; e os pais depois reconhecem que às vezes não são correctos com os filhos e que, por vezes, se excedem na austeridade. Não acho o conflito de gerações uma coisa necessáriamente má. Seria mau que tivessemos pais infantis ou filhos adultos. Mas, no meu ponto de vista, há um trabalho reciproco a fazer: os filhos aceitarem as decisões dos pais quer pela experiência que eles têm quer pela educação que lhes querem dar e, os pais também reverem os seus critérios. É importante ter noção de que não esta

Costa Vicentina

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Estive ontem na Costa Vicentina. De visita a territórios onde nós, Dominicanos, estivemos nos últimos anos: Odemira, Porto Covo, São Teotónio, Cabo sardão - onde tirei estas fotografias com o telemóvel - e Vila nova de mil fontes. Foi um bom dia de descontracção, que bem ando a precisar. E de preparação para este dia maravilhoso de Pentecostes. Olhar para o horizonte, sentir a frescura do mar, ver como as ondas batiam na costa. Terminou o dia com uma Vigília de Pentecostes no Campo Grande. Com bastante gente, talvez por ter Missa, com grande qualidade musical e espiritual. E, no final da celebração chegava a esta conclusão: Deus dá-nos os seus dons. Se os colocamos ao serviço dos outros, é já fruto do Espírito; se não o fazemos é fruto do nosso egoísmo. Pensar no Espírito Santo como Dador de Vida, como o Defensor e Consolador, é sentir uma presença real - embora espiritual - de uma força que nos ajuda nos combates da vida. Por isso o Espírito nos dá uma vida em abundância, por isso o E

Em comunhão de orações

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Conheci e adoptei esta expressão, quando, há anos, uma Irmã Dominicana de Santa Catarina de Sena me escreveu um mail e se despedia assim. Acho-a bonita, simples e cristã. Porque, uma coisa é uma pessoa pedir a outra que reze por ela, ou que se lembre dela nas suas orações; outra é saber que entre mim e e outra pessoa, a oração é meio de comunhão sem ser necessário o pedido formal de orações. Quando entrei nos Dominicanos, uma comunidade de Monjas ofereceu-me este Rosário que, ás vezes, uso no hábito. Trazia um cartão com esta frase: " Este não precisa de ser rezado ". Não percebi. Mais tarde é que descobri que as monjas, enquanto fazem os rosários, rezam-nos! Algumas pessoas doentes não conseguem rezar. Pode parecer estranho; a mim, ao início, parecia-me. Agora, ouvindo este queixume uma e outra vez e quase sempre... "Não consigo rezar", fico sem palavras. Às vezes digo "Deixe. Eu rezo por si". A oração liga-nos a Deus, é verdade. Mas liga-nos também uns a

Construção de Deus

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Chamou-me à atenção um artigo com o título " Dieu, c'est Moi ". Dá conta de um estudo que psicólogos americanos fizeram a crentes sobre estas perguntas: " O que é que Deus pensa do aborto? Do casamento homossexual? Da pena de morte? Do Cannabis? " Primeira conclusão, a mais simples: pessoas mais conservadoras dizem que Deus é contra tudo, menos contra a pena de morte, a que Deus seria favorável; e as mais liberais dizem que Deus legalizaria os abortos, os casamentos homossexuais e que aboliria a pena de morte. Mas, mais engraçada e séria é a segunda conclusão deste estudo: os especialistas mediram a actividade cerebral das pessoas interrogadas e constataram que, quando pensam em Deus, é activada a zona cerebral do « pensamento autoreferencial », ou seja, as mesmas zonas que se activam quando falamos de nós, da nossa intimidade... Portanto, " nos crentes, as zonas do cérebro activas quando pensam em Deus e neles são exactamente as mesmas ". Terceira con

Calma de sábado

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Voltaram as minhas calmas tardes de sábado. Posso preparar a Missa de amanhã, posso ler, escrever, ouvir música (estou a ouvir Morten Lauridsen, Lux aeterna ), e até arrumar um pouco o quarto que, com tanto sair e entrar está um pequeno caos. Acabaram também as primeiras comunhões. Esta manhã celebrei as Profissões de Fé dos alunos do 6º ano do Externato Marista de Lisboa. Celebração simples em que, adolescentes, comprometem-se com Jesus professando solenemente a sua fé, mesmo que incerta ou inconsciente. Os acólitos que estavam ao meu lado também fizeram a Profissão de Fé. Vou-me apercebendo que estes rapazes começam a ganhar prática no serviço do altar; já desempenham bem as suas tarefas. O Tomás até me indicava linha-a-linha a leitura da Oração Eucarística. São importantes as etapas da nossa vida. Mesmo que mais tarde não nos lembremos do dia, importa é celebrá-lo no presente. Deixo como recordação deste dia as pagelas que dois rapazes com o mesmo nome me ofereceram no final da Miss

Uma visita positiva

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Várias pessoas que falam comigo sobre a vinda do Papa a Portugal têm-me dito que mudou a sua imagem em relação ao Papa. Hoje mesmo dizia-me um amigo: " A vinda do Papa ensinou-me a não ser preconceituoso ". Acho que o Papa se sente bem em Portugal. Sorri, faz bons discursos, surpreende, até, tem gestos de espontaneidade... Estamos todos felizes. E isso é bom. Não obstante o mau gosto de alguns comentadores que se põem a descontextualizar discursos, a esmiuçar sobre o que o Papa não disse, o quis dizer e o que não quis dizer e o que ainda podia ter dito. Estou com curiosidade sobre o que irá dizer esta tarde, no encontro com os membros da Pastoral Social da Igreja. Porque, por muito quer não se queira, a sociedade pode aprender muito com a Igreja. Entretanto, na terça-feira, fui ver o Papa chegar a casa. E filmei uns dez ou vinte segundos. Aqui fica o meu vídeo do Papa.

Já valeu a pena

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Para mim já valeu a pena a vinda do Papa a Portugal. O que disse aos jornalistas sobre a pedofilia na Igreja foi claro e sincero. Andavam uns e outros, sobretudo os mais fervorosos, a dizer que era um atentado à Igreja, que era perseguição, houve até quem falasse em martírio, imagine-se!, mas o Papa hoje, com humildade, reconheceu, esclareceu e, como já dizem as notícias, demarcou-se dos "disparates" que cardeais e responsáveis eclesiais andavam a dizer. E, católicos, é isso mesmo: temos " uma profunda necessidade de reaprender a penitência, de aceitar a purificação, implorar perdão ". Temos que perceber que somos humanos, que pecamos, que Papa, Bispos, Padres, Fiéis, todos precisamos da misericórdia de Deus. Só ela nos poderá fazer participar da santidade de Deus. Hoje, na missa comunitária, rezámos pelo Papa. Para que ele seja o garante da unidade e da caridade. Hoje vesti a t-shirt do Papa. As pessoas olham, algumas comentam até que estava a condizer com o dia. N

Fim de Semana

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Foram dias cheios. O meu fim-de-semana mais cheio do ano. Com baptismos, primeiras comunhões, Missas de Domingo... Sair de casa cedo e voltar tarde, ir e vir, daqui para ali, estar em casa como se não estivesse. Mas houve um miúdo, o Manuel, que me surpreendeu. De resposta pronta, na homilia, uma leitura "impecável", diria eu "um projecto de padre". Lembro-me de ser miúdo e de ser o único a levantar o dedo à pergunta do padre sobre quem queria ser padre. E cá estou eu. Vou rezar pelo Manel. Para que cresça em sabedoria, estatura e graça e que, se for a vontade de Deus, que lhe toque o coração. Não podia acabar este fim-de-semana sem a grande festa do glorioso Benfica. E, cansado mas contente, também eu fui ao Marquês, festejar a 32ª vitória. Embora o Braga tenha sido o "vencedor moral" (expressão inventada hoje no nosso recreio), o que é certo e que o Benfica chegou, ganhou e festejou. E embora fique mal escrever a vermelho, aqui fica escrito, este último

Silêncio, oração e tranquilidade

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Estávamos os três na capela: uma irmã meditava, outra lia e eu passava as contas do Terço. Num silêncio tranquilizante, convidativo à oração. E ali estávamos, esperando a hora da Missa. Que silêncio, que calma, que luz! Tudo isto com duas boas notícias, que hoje recebi em menos de uma hora. Não me dizem respeito a mim, mas, fico contente porque a espera estava a desesperar. É tempo de dar graças a Deus pelos bens que nos concede ( Benedictus sit Deus in donis suis ), dizíamos nós quando recebíamos alguma coisa de alguém. Bendito seja Deus por tudo o que nos concede, muitas vezes sem merecermos. Como dizia Santa Catarina de Sena: " A misericórdia divina é maior que a nossa maldade ".

Vem aí o Papa

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Fui ao Terreiro do Paço tirar esta fotografia. Já montam o tão badalado altar da Missa do Papa que, como foi noticiado, custará cerca de 200 mil euros. Mas não é sobre o Papa que vou falar nem das despesas que a visita vai ter. Uma das funções do bispo de Roma - o Papa - e a de confirmar o Povo de Deus na fé e na unidade. E, para mim, se vier por isto, já é importante vir a Portugal. Em relação a dinheiros, a Igreja Católica foi limpa: gastou do seu dinheiro para as suas coisas. O que tenho vindo a pensar nestes dias é o porquê da tolerância de ponto que o governo deu à função pública. Sejamos sérios. Por um lado o governo critica as tomadas de posição da Igreja Católica, quer tirar as cruzes dos edifícios públicos mas, por outro, não tira os feriados católicos e agora, que vem o Papa, dá tolerâncias de ponto. Continuemos sendo sérios. Acreditar que a tolerância de ponto que o governo vai dar servirá para que os funcionários públicos irão todos à Missa do Papa é puro engano. Até porque

Dia de São Filipe

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Antigamente, quem entrava na Vida Religiosa, no dia da tomada de hábito, mudava de nome. Não havia grande critério, quem impunha o hábito dizia em Latim: " In saeculo erat nomem tuum N..., in Ordinem vocaberis N... " (No mundo o teu nome era N..., na Ordem será chamado N...). E dia de festa passava a ser o dia da festa do santo e não o dia do nascimento. Com a reforma do Concílio Vaticano II, acabou-se este costume e agora é ao contrário: adopta-se o santo que tem o nosso nome. Hoje é dia de São Filipe, Apóstolo, o santo do meu nome. Nos evangelhos, há alguns episódios em que São Filipe tem algum protagonismo. Sobretuno no de São João. É Filipe quem apresenta Natanael a Jesus; no relato da multiplicação dos pães é a Filipe que Jesus pergunta como hão-de dar de comer a toda aquela gente; é também Filipe quem apresenta uns gregos a Jesus e, no capítulo 14, é Filipe quem interrompe um discurso de Jesus pedindo-lhe que Jesus lhes mostre o Pai, ao que Jesus responde: " Quem m

Crónica de um sábado de Maio

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Os sábados de Maio, já há alguns anos, estão reservados, quase exclusivamente a baptizados e primeiras comunhões. O primeiro foi hoje. Com uma celebração de baptizados, manhã cedo, em que seis alunos do Externato Marista de Lisboa receberam o baptismo, Missa de primeira Comunhão às 11 horas, aqui no Convento, e, à tarde, uma outra celebração do baptismo do Miguel, um bebé de Campo Maior. De todas as liturgias sacramentais da Igreja, a do baptismo, para mim, é a que tem maior beleza. Porque é simples - o simples é sempre belo - com as perguntas e respostas, a interacção entre presidente e criança e de criança com os pais e padrinhos. Porque é rica em símbolos - os óleos, a água, a vela, a veste branca - ritos que explicam a condição do baptizado, que deve ser luz, que é ungido, que é purificado e que ganha uma nova vida, tornam estas celebrações íntimas, pessoais e emocionantes. Amanhã continuam as celebrações de primeiras comunhões, desta vez num outro colégio. Para se conseguir resist