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A mostrar mensagens de 2019

Em todo o tempo dai graças a Deus

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É assim que São Paulo ensina na Carta aos Tessalonicenses. Dar graças a Deus em todo o tempo. Mas este dia é especial para dar graças. Não se trata de mais um dia, ou de um fim do mês mas de todo um ano. Não esquecendo o menos bom, que pode ter sido de perdas, mais ou menos achaques, as zangas e chatices que a vida e pessoas nos possam ter trazido, quando se dá graças, entrega-se a Deus tudo o que de bom se construiu e conquistou. Dar graças pela vida, pelo tempo bem aproveitado, pelas pessoas que por acaso entraram na nossa vida mas que já não foi por acaso que permaneceram, pelos que ajudámos e pelos que nos ajudaram, pelos projectos realizados e pelos que ainda esperam ver a luz do seu dia... tantas coisas que, se as registássemos, ficaríamos admirados com a quantidade de graças recebidas. Este é o dia de agradecer. E também de pedir que, em cada dia, possamos construir um mundo melhor, mais nosso (humano) e mais de Deus (divino). Em tudo dar graças. Também eu o faço, olhand

A feira do livro lido

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Nestes últimos dias alguns voluntários e amigos da João 13 e do Convento têm vindo a preparar uma das nossas salas para fazermos neste fim-de-semana uma feira do livro lido. A motivação é social: pedimos às pessoas que nos oferecessem livros que tivessem em casa e depois virem trocar por outros que gostassem de ter. Esta feira insere-se na partilha de Advento que este ano vai ajudar a comprar próteses dentárias às pessoas que precisam na nossa Associação. Muitos livros e de vários gostos e estilos. Num desses livros estava um soneto que já tinha lido quando era mais novo e que o acaso me fez ontem encontrar. É do Frei Castelo Branco (século XVII), está escrito à mão numa folhinha com umas flores, que acompanham este post. Aqui deixo o poema TEMPO, que, além da criatividade e do jogo de palavras, tem a sua profundidade: Deus me pede do tempo estreita conta É preciso dar conta a Deus do tempo Mas como dar do tempo tanta conta Se se perde sem conta tanto tempo? Para fazer a tempo

Um princípio de Advento

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Começou mais um Advento. O meu, logo no domingo, no convento, e agora em Roma nesta primeira semana. Também aqui vivo o meu Advento: com os trabalhos que me ocupam na Cúria, com o silêncio que vivo na abadia dos cistercienses onde tivemos que ficar por causa das obras em Santa Sabina, e com a oração que este ano decidi acompanhar com a Comunidade de Santo Egídio. Sempre que venho a Roma faço por participar numa celebração mas, desta vez, vou tentar estar em todas. A oração de Santo Egídio, que se faz na belíssima imagem de Santa Maria in Trastevere, enche a alma: sempre temática (ontem era pelos doentes e hoje com Maria), a leveza da sequência da celebração (meia hora), a beleza dos cânticos acompanhados pelo órgão da igreja e por um pequeno coro que se forma em cada dia, os pequenos gestos que se transformam em rituais (ontem escreviam-se nomes dos doentes e acendiam-se pequenas velas por eles), a escuta da palavra e a homilia que se faz (concreta e actual), tudo ajuda na fé e na e

Entardecer de Feirão

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O que resta de sol toca agora as magnas fragas do Penedo Gordo. Os cães uivam, As campainhas dos gados anunciam o regresso ao lugar de partida. A penumbra tudo cobre como um manto. Nas cozinhas acende-se o lume, como ritual vespertino qual lucernário que ilumina e aquece. Os sinos tocam para rezar, o mordomo fecha a igreja e o portão. O silêncio fecundo da noite manda-nos para o interior da casa e da vida. Assim é o simples entardecer De Feirão.

Feirão em 1758

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Feirão está despovoado. Migrações e emigrações, são a causa imediata de uma outra causa, mais profunda, que levou a que poucas pessoas tivessem ficado por cá. Mas não é de agora. Depois do terramoto de 1755, o Marquês de Pombal manda aos párocos, através dos Bispos, um questionário sobre as paróquias e povoações pedindo elementos importantes para aquele tempo, no que diz respeito ao conhecimento do Reino e hoje, para o nosso tempo, percebermos as circunstâncias passadas. Vou escrever os resultados sendo que, o que está entre parêntesis, são comentários meus. O pároco da altura, P. Manuel Luís de Carvalho, respondeu a este inquérito, do qual podemos saber algumas curiosidades desta freguesia do século X, religiosas e geográficas, que, ao que se vê, nunca foi uma freguesia grande. O dito pároco identifica Feirão como freguesia de Santa Luzia, que é da província da Beira Alta, bispado, termo e comarca da cidade de Lamego. A freguesia pertencia ao Rei D. José I, o Reformador. Tinh

Uma manhã de tréguas

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Quiseram a chuva e o frio dar uma manhã de tréguas nesta serra de Montemuro. O dia acordou com o ceu limpo e um sol fulgurante. As pessoas agradecem por causa do milho que não precisava de chuva nestes dias. Esta manhã de segunda-feira foi como um sábado-aleluia depois de uma sexta-feira de trevas: os pássaros cantam, os rios fazem correr ligeira a água por entre as pedras, o sol, além de aquecer derrete a geada que a noite formou, o gado pode pastar à vontade a erva fresca e eu pude fazer a minha primeira caminhada a pé. Mas, agora sim pode-se dizer, foi sol de pouca dura. Começam a juntar-se as nuvens, como se estivessem ciumentas, para  voltar a tapar tudo. Nada a que não se esteja habituado... é o que faz viver acima dos mil metros de altitude...

Um sonho que se torna realidade

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Quando as coisas correm bem não temos por que ter medo. Há muitos anos que a Igreja do convento de São Domingos sonhava com um órgão de tubos que desse mais qualidade e dignidade à liturgia. Depois de muitos anos é chegado o momento de avançar. Fez-se hoje a compra do órgão de tubos que servirá a comunidade do convento de São Domingos de Lisboa. Não é um super-órgão mas o suficiente para suportar a música litúrgica, e não só, do Convento. Pessoalmente estou muito feliz porque era também um sonho meu. Está comprado e começaram a embalá-lo, porque vem da Holanda. Depois é só voltar a montar na igreja do convento, benzê-lo e inaugurá-lo. Darei notícias. Para já fica um vídeo par se ter ideia do que será. Espero que gostem.

Um ano depois...

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Um ano depois , chego a Feirão para uns dias de descanso. O conceito de férias não se adequa porque não deixo de ser padre nem de cumprir as minhas obrigações. Mas sim, mudar de ares e, sobretudo, mudar de uma grande cidade para uma pequena aldeia da serra de Montemuro, já me dá descanso. Fui recebido com frio (9 graus), nuvens em castelo (com umas muito cinzentas que deitavam a sua chuva) e arco-iris (plural)!, coisa que não me lembro ter visto alguma vez no Penedo Gordo. Bendita natureza e bendita recepção. Depois de arrumadas as coisas, ida à Igreja para cumprimentar e agradecer: Que seja um tempo tranquilo. Depois, montar o escritório. Sim, trabalho muito em férias porque “armazeno” uma quantas coisas que em Lisboa não consigo fazer por falta de tempo e de tranquilidade, para as fazer aqui. Cinco grandes trabalhos que trago comigo e espero terminá-los aqui. Trouxe também três livros: A Ética de Aristóteles, o Estímulo de Pastores, de Bartolomeu dos Mártires, e o livro sobre a

Entre os nascidos de mulher

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"Entre os nascidos de mulher não houve ninguém tão grande como João Baptista". É assim que Jesus fala de João Baptista. E falo eu, hoje, por ser o dia em que se faz memória do seu martírio. Jesus tinha grande estima por João Baptista. Uma estima que, naturalmente nasceu da sua relação familiar - seriam segundos primos - mas sobretudo porque ambos se envolveram na mesma causa: o Reino de Deus. João Baptista preparou os corações para acolher o Reino de Deus e o seu Messias e Jesus veio inaugurá-lo como Rei e Messias deste Reino de Deus que nasce nos nossos corações e se contagia a quantos, de coração sincero o acolhem. Vidas diferentes, uma mesma causa. João assume uma atitude de penitência e vai para o deserto, junto às margens do Jordão, para convidar a quantos dele se aproximam a mudar de vida e valores, de acordo com a sua pregação. Jesus está nas cidades e aldeias dizendo às pessoas que o Reino já chegou. Ao contrário do Baptista, Jesus não jejua nem faz penitência.

Dobrado o Cabo das Tormentas

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Está o Capítulo Geral a chegar ao seu fim. Depois de uma tensa e cansativa semana de aprovação de textos (7 comissões) chegámos ao fim. Esta noite já foi de descontracção. Depois do jantar todos os capitulares foram ao "r efugium pecatorum " (bar) para poder estar mais tranquilos e, de certa maneira, festejar. Estes dias foram interessantes do ponto de vista sociológico. Se estivermos atentos vemos como algumas províncias são mais sensíveis a uns temas, capitulares que têm pontos de vista diferentes, votações mais seguras que outras... assim é a democracia e a cultura. Menos mal que soubemos - creio eu - perceber que não estávamos a legislar para os outros mas que era para nós mesmos e tendo em conta outras realidades que não as nossas. Amanhã é dia de fechar juridicamente o Capítulo com os pequenos pontos que faltam aprovar, assinar as Actas e sair deste lugar para o Convento onde vamos dormir para, no domingo, clausurarmos o Capítulo com a Missa final onde 23 estudante

Democracia à moda antiga

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Aristóteles, na sua Ética a Nicómaco (livro 8), ao falar da amizade, fala também das formas de governo de das suas degenerações. Que a monarquia degenera em tirania, a aristocracia em oligarquia e a timocracia (governo da maioria) degenera em democracia. E, remata dizendo que a democracia acaba por ser a perversão menos má das formas de governo (Aristóteles vai desenvolver esta ideia na sua Política mas não deixa de surpreender que apareça no livro da amizade). Vários foram repetindo esta ideia, quando diziam que todas as formas de governo são más mas a democracia acaba por ser a menos má. Churchill é um deles é Saramago também o dizia. A Ordem dominicana a que pertenço é, por inspiração, natureza e tradição, verdadeiramente democrática. Diz-se que no século XIII, houve três frades dominicanos que determinaram a sua força e continuidade: São Domingos deu-lhe o carisma, São Tomás deu-lhe a teologia e Humberto de Romans organizou-a. Por um lado está correcto, e já volto a Humberto

Um banho espiritual

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O Secretário deste Capítulo é muito previdente e tenta que aproveitemos ao máximo o Capítulo, com a possibilidade de conhecermos também os arredores de Bien Hoa. Ontem à tarde, convidados pelo bispo desta diocese, fomos celebrar com ele, à Catedral, juntamente com muitos cristãos que habitualmente lá celebram a sua fé. A igreja construída em forma de cruz latina, estava cheia, e, como acontece em quase todas as missas, os dois anexos estavam igualmente cheios. Ao entrar na Catedral fomos recebido com uma banda que tocou o hino do Vaticano! E depois a Missa foi celebrada de uma forma muito bonita, com a força das crianças e adolescentes que se tinham instalado nos braços laterais da igreja. Aprumados, atentos, respondiam e cantavam com uma voz firme e alegre. Um encanto vê-los. Repetidamente se lembra que a história do cristianismo se escreveu com o sangue dos mártires. E é o que vamos sentido quando vemos uma igreja ou um grupo de cristãos de uma fraternidade dominicana. As bases

Bartolomé de las Casas - uma figura inspiradora

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Não há dúvida nenhuma que ao longo de oitocentos anos de vida da Ordem Dominicana muitas luzes brilharam e algumas trevas escureceram a nossa história. Isto acontece desde o particular da nossa vida até à dimensão mais universal que pode ser uma instituição ou até o próprio mundo. Como cidadãos deste mundo podemos gloriar-nos de ter chegado à lua mas também nos entristecemos de termos consentido guerras e situações de injustiça. Neste Capítulo Geral a figura de frei Bartolomé de las Casas aparece como um modelo de pregação para os nossos dias. Um modelo e um desafio. Este dominicano nasceu em Sevilha em 1484. Entrou na Ordem e fez os seus estudos no Convento de San Esteban, em Salamanca, naquela época o maior centro de estudos da Ordem e até para toda a Igreja. Aí conseguiu uma formação sólida nas áreas da filosofia, teologia e direito. Este jovem dominicano, formatado com uma mentalidade de colonizador, é enviado para o Novo Mundo, concretamente para a ilha La Española (actual

Um Mundo, uma Família, uma Missão - 2

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Há mais de oitocentos anos, sensível à fome e à sede que as pessoas tinham pela Palavra de Deus, São Domingos mostrou um desejo espiritual muito forte em estabelecer a Ordem vivendo uma vida de pobreza levando a cabo a missão de pregar e imitar o que exemplos dos discípulos. Ao morrer, São Domingos recomendou aos seus irmãos que não chorassem. Deixaria este mundo para dar mais frutos para os seus irmãos. A sua recomendação é a maravilhosa e a viva esperança que ajuda a fortalecer hoje em dia a existência e o desenvolvimento da nossa Ordem. O grande desejo de São Domingos é inspirar a outros na Igreja ao longo dos séculos. Estes são os que amam e partilham a missão de proclamar a boa nova ao mundo. Viver o carisma da pregação é por em marcha nos caminhos que vão aos lugares onde somos enviados. Os nossos pais na Ordem chegaram às pessoas que não tinham recebido a lua do Evangelho, às fronteiras e regiões de missão, e o Vietnam era um desses lugares. Há trezentos anos os missionári

Um mundo, uma Família, uma Missão - 1

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Foi com este tema que fomos hoje recebidos num convento de irmãs Dominicanas a cerca de 70 quilómetros do sítio onde estamos. O motivo da ida foi o encontro com a Família Dominicana desta região, ou seja, frades, monjas, irmãs de várias Congregações e leigos. Saímos cedo porque pelas 9 horas começaria o encontro com três partes: um espectáculo alusivo ao tema, e Eucaristia com um bispo vietnamita, dominicano, e depois um almoço, preparado pelas várias congregações, com as várias especialidades. Fomos recebidos com tambores, que é uma coisa habitual no Vietname em grandes recepções. Depois encaminharam-nos para o salão, onde assistimos a uma performance absolutamente maravilhosa. Posso dizer que, desde que estou na Ordem, nunca vi um espectáculo desta categoria, com a intervenção de mais de 200 pessoas e foi uma irmã que deu corpo e alma a tudo isto. Som, imagem, representação, música... criativo e emocionante. Depois de mais de uma hora de espectáculo, tempo para nos prepararmos

Uma pausa merecida

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O Capítulo Geral chegou a meio. Em quinze dias conseguimos aperceber-nos do estado da Ordem, quer pelos vários relatórios que nos foram chegando quer também, e sobretudo, pelos relatórios do Mestre da Ordem e do Sindico (ecónomo) da Ordem. Também elegemos o novo Mestre da Ordem, menos pesado que o de há nove anos atrás, quando estive no Capítulo de Roma. Houve, a meu ver, eficácia no método e abertura de intenção. Também começámos os trabalhos de comissões que têm por finalidade dar cumprimento às duas missões dos capitulares: eleger o Mestre da Ordem e definir. Na realidade, ocupámos todo o dia de ontem e a manhã de hoje (sábado) em assembleia plenária para ouvir os trabalhos das várias comissões e podermos manifestar-nos sobre os temas que acharmos convenientes. Não há propriamente discussões, mas sim contribuições e pontos de vista que agora as comissões terão de tratar e integrar para chegarmos à redacção final dos textos que serão aprovados, número por número, por voto electr

Os estudantes II (elogio merecido)

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Todos os dias desperto às cinco da manhã com cerca de 60 estudantes dominicanos do Vietnam a cantar as Laudes e a celebrar a Missa. É assim porque são eles os que garantem o funcionamento do Capítulo. Têm que rezar antes de nós porque enquanto rezamos já estão a fazer funcionar o Capítulo. Vemo-los por todos os lados, com uma jaqueta branca e preta, tipo uniforme, com o escudo do Capítulo. Estão, como digo, em todos os detalhes do Capítulo e garantem tudo o que é preciso, sempre com um sorriso nos lábios, num esforço incansável em responder aos nossos pedidos e em falar nas nossas línguas ou, pelo menos, fazerem-se entender. Estão no acolhimento, a preparar a liturgia, no secretariado, a lavar a nossa roupa!, a preparar refeições... com humildade e, repito, alegria. São homens de serviço alegre e nada tímidos (embora tenhamos de ser nós a começar a conversa). E fazem isto porque o lugar onde estamos, um seminário diocesano, ofereceu o lugar mas sem nada, ou seja, só com o espaço

Em comissões

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Terminada a eleição do Mestre da Ordem, continuam os trabalhos das várias comissões que agora irão reflectir e decidir o futuro da Ordem nos próximos anos. Os capitulares e convidados distribuíram-se de acordo com as suas preferências, tendo e conta também o idioma (inglês, francês e espanhol, que são as línguas oficiais da Ordem). As comissões são 7: Desafios e renovação da vida fraterna, Sinergia entre vida e missão: desafios à pregação, Vocações, irmãos cooperadores e formação, solidariedade e colaboração, Governo e Família Dominicana, Estudos e instituições sob jurisdição do Mestre da Ordem e Constituições. E mim, como creio já ter dito, coube-me (escolhi) a segunda que fala dos desafios entre vida comum e missão. Confesso que aprendo mais que o que digo mas gosto de ouvir os irmãos e os debates. Esta é também a comissão mais desafiante do Capítulo porque se enraíza na questão fundamental que nunca poderá estar fora do nosso alcance: quem somos? A resposta é óbvia: pregadores.

O timoneiro

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Hoje, domingo, foi dia de passeio no Capítulo Geral. Ontem, depois da eleição do Mestre da Ordem tivemos tarde livre (não por esse motivo mas por prudência não fosse não se eleger o Mestre da parte da manhã e termos de continuar pela tarde) onde muitos aproveitaram para sair à rua, apesar dos muitos avisos de cuidado com o trânsito. E é um facto. As motas são aos milhares por todos os sentidos e não param... temos de ser nós a parar senão ouvimos um apito que nos põe no sítio. E aproveitei a companhia de um irmão espanhol para ir ver a catedral e um templo budista. Mas, como digo, hoje foi dia de passeio. Como bons cristãos, não trabalhamos aos domingos. E depois da missa foi-nos oferecido um pequeno almoço reforçado (todos os dias o é) mas com o famoso Pho, que é um caldo com carne, rebentos de soja e outros legumes como coentro ou aipo ou coisa do género. Já tinha perguntado a um dos estudantes quando iríamos provar e hoje, mal cheguei ao refeitório, chamou-me e disse: Father, t

E o Mestre da Ordem é... Fr. Gerard Timoner

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O dia começou à mesma hora mas com sentimentos diferentes. É um dia de responsabilidade. Preparado com a oração hoje é dia de deixar que o Espírito faça o seu caminho ou, se quisermos, deixarmos de lado as nossas preferências pessoais e olhar mais ao bem comum. Por isso, logo de manhã fomos rezar as Laudes, hoje na língua francesa. Depois do pequeno-almoço cada um teve um tempo livre para se preparar para o acto que vai marcar o dia. Antes da Missa, já a subir para a capela, encontrei o Mestre da Ordem cessante, frei Bruno Cadoré, a quem abracei e agradeci tudo o que fez pela Ordem e pelos irmãos. E, então, às 9 horas reunimo-nos na capela para celebrarmos a Missa do Espírito Santo. Esta segunda Missa é mesmo para pedir ao Espírito Santo luz e discernimento para a eleição. Foi presidida pelo antigo mestre da Ordem fr. Timothy Radcliffe, que apesar dos anos continua com a mesma frescura e profundidade. Como dizemos algumas vezes dele: um homem em quem reconhecemos a graça da preg

Tractatus II

Com o entusiasmo da primeira parte esqueci-me de continuar a escrever sobre o tractatus. Ele continua pela tarde, já não no mesmo registo mas numa atitude mais espiritual. Desta vez houve lugar para uma conferência e depois um tempo de adoração com possibilidade de confissões. Este tempo foi especial, não só porque termina um bloco de preparação um tanto humano (perceber quem será o candidato ideal) mas também pela atmosfera espiritual que os nossos irmãos vietnamitas conseguiram transmitir com as suas melodias simples mas muito harmónicas. Já depois do jantar os irmãos têm tempo livre. Uns falam com os outros, outros passeiam e outros vão descansar. Em Portugal ainda é dia mas aqui já é noite. Se Deus quiser, quando Portugal acordar já saberemos quem foi o irmão eleito no Vietnam. Hen Gap Lai !

Tratactus

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Tratactus é uma palavra latina que significa à letra “investigação”. Nós, dominicanos, usamos esta palavra para a conversa que podemos ter antes da eleição de um superior. No caso do Mestre da Ordem é obrigatório e, como já disse, passa por várias fases. Hoje foi a última delas. Depois de termos celebrado a Missa em Vietnamita (uma liturgia de excelência em que os 84 estudantes participaram com as suas músicas e tons tão característicos) e do pequeno almoço, procedemos, então, ao tratactus. Primeiro aviso: não se deve falar de nada do que se passa no tratactus nem com as pessoas que não fazem parte do Capítulo nem através dos meios sociais (explicitaram o Facebook, Twitter, Instagram e por aí fora). Por isso, não poderei falar do que se falou mas posso falar do que se passa, que é simples. Há uma lista final de candidatos e pergunta-se à Assembleia se algum Capitular quer acrescentar algum nome. Essa proposta deve ter o suporte de mais irmãos. Depois escutamos cada um dos que poderã

Comissões e grupos linguísticos

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Hoje tivemos a primeira reunião de comissões. A que me coube foi a de sinergia entre vida e missão: desafios e renovação da pregação. Fui eu que escolhi embora já me tenham dito que deveria estar noutras comissões. Mas foi a que escolhi e foi para mim um desafio entrar em temas não tão trabalhados por mim. Nesta primeira reunião começámos a identificar os temas para incluir nos documentos de trabalho. No fundo trata-se de “partir pedra” e tentar pormo-nos de acordo, o que nem sempre se consegue à primeira. Mas o caminho faz-se caminhando. Além desta comissão houve também já um primeiro encontro de grupos linguísticos para falarmos do perfil e de nomes para possíveis Mestres da Ordem. Este processo repete-se depois num outro grupo, regional, do modo como a Ordem está organizada. O meu grupo linguístico é o espanhol e o regional Europa-Sul, que envolve Portugal, Espanha, Itália e Malta. A dinâmica da escolha do mestre da Ordem deve ser democrática e transparente. Por princípio não

O primeiro dia

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O Capítulo começou oficialmente está manhã, com a Missa do Espírito Santo. Ontem à tarde foi o tempo de integração, com espaço para agradecimentos e primeiras regras de funcionamento. No seu discurso de boas vindas o Prior Provincial do Vietnam, emocionado, lembrava o pedido feito há dois anos ao governo para que este Capítulo fosse possível. E concretizou-se.  Mas, como disse, o Capítulo começou esta manhã, com a Missa do Espírito Santo, presidida pelo Mestre da Ordem. Esta Missa é a primeira em que invocamos o Espírito Santo  de Deus para os trabalhos capitulares. Depois da missa e do pequeno almoç,o foi a vez do Mestre da Ordem cessante apresentar o seu relatório sobre o estado da Ordem. Um documento de 34 páginas e quase duas horas de apresentação. Em termos gerais os números    são sempre uma referência. E os nossos números são os seguintes: 36 províncias, 7 vice-províncias (em crescimento para se tornarem províncias) e 19 vicariatos provinciais (estruturas dependentes de

No mapa tudo é perto

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Foi esta a sensação que deu uma viagem de 16 horas de Lisboa ao Vietnam, com escala no Dubai. Apesar do conforto do avião e das muitas distracções que dispõe, o desconforto de estar sempre sentado, sem grandes espaços para movimentações, fica-se na cadeira grande parte do tempo. Mas, como dizia um dos freis, imagina quem vem de mais longe… Chegámos pelas 20 horas do Vietnam (sempre sete a mais que a de Portugal), e fomos bem recebidos pelos estudantes dominicanos daqui (cerca de 80!). O sorriso e a boa educação que os caracteriza confirma-se nos gestos de acolhimento e atenção para connosco. Uma breve passagem pela Curia provincial onde pudemos comer qualquer coisa antes de prosseguir viagem, agora de minibus, por auto-estrada, cerca de uma hora e meia. E pelas 23.20 chegámos ao tão esperado Seminário de São José, em Bien-Hoa. Com capacidade para 450 pessoas, é ocupado pelos seminaristas desta região (esgotado!) mas como estão de férias podemos nós ocupar este seminário. O amb

Vietnam 2019

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A mala está fechada e falta pouco para mais uma viagem por causa dos Dominicanos: Capítulo Geral electivo, este ano no Vietnam. Ali a Ordem cresce e é um sinal de presença e proximidade com a Ordem que, apesar das dificuldades, continua a ser presença de Jesus e proclamadora da Justiça e da Paz. À semelhança de 2010, em que também fui ao Capítulo Geral de Roma, também ele electivo, vou tentar passar por aqui para escrever as minhas crónicas e impressões do que se vai falando. São experiências únicas, e lembra-me muito os inícios da Ordem em que, todos os anos, os frades se reuniam para decidir o presente e o futuro da Ordem. La vou eu, rumo ao Vietnam, já com saudades do convento, das pessoas e obras que deixo. Até breve.

Twitter

Sei pouco de informática mas creio que o Twitter nasceu depois dos blogues e surgiu, segundo creio, para que se pudessem partilhar fortes emoções em poucas palavras. Saramago era contra os 140 caracteres da nova rede social, dando a entender que era degradante descer do texto ao monossílabo, podendo até  terminar no grunhido. Há anos criei também eu o Twitter, para poder escrever poucas coisas em poucas palavras, não com medo da decadência nem de chegar ao grunhido. Há uns meses apareceu um pedido de actualização do Twitter que me fez reactivá-lo. E por lá tenho andado, que tempo me vai faltando, e essa sim é a grande decadência do ser humano, não ter tempo para parar e escrever mais que 140 caracteres. Se quiserem passar por lá, que agora por lá ando, é só procurar @freifilipeop.

Giesta brava que perfumas a vida

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Hoje foi quinta feira, chamada da espiga. Foram uns vendedores, talvez pouco cristãos - quem sou eu para avaliar - que mo disseram quando passei por eles manhã cedo e me perguntaram se eu não queria um raminho da espiga. E fiquei contente de ver ainda os ramos da espiga com malmequeres e papoilas, as flores bravas, simples mas bonitas, que há dois mil anos aos discípulos e hoje a mim, me recordaram a alegria da Ascenção. Sim, há quarenta dias celebrámos a Páscoa e, de acordo com os evangelhos, quarenta dias depois da ressurreição Jesus subiu aos céus. Nos cânticos dominicanos deste tempo pascal, inspirados na extraordinária musicalidade do dominicano André Gouzes, muitos deles traduzidos e adaptados pelo nosso frei José Augusto Mourão, usam-se também imagens da natureza livre para falar de Cristo e dos seus mistérios: umas vezes louvamo-lo como " alecrim que perfuma a vida " ou ainda como " giesta brava que perfuma a vida ". E passei o dia a pensar na alegria-t

O milagre de Maio

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O Maio despontou cheio de força e calor. O milagre vai acontecendo com as flores que se abrem e os frutos que gestam. Tenho a alegria de ver crescer as folhas das figueiras com as promessas de frutos doces e agradáveis, tenho a alegria de sentir as fragâncias das flores da laranjeira e do limoeiro, tenho a felicidade de ver a mutação das flores das cerdeiras em pequenas promessas de carnudos frutos. Tenho saudades das minhas giestas em flor, que imagino estarem agora exuberantes nos montes e vales da serra de Montemuro e dos meus silvados, também eles floridos, que me prometem doces amoras no Verão. E as maias que, irreverentes, crescem nestes ainda descampados do Alto dos moinhos. É a Páscoa da Natureza que se une à Páscoa da vida e à Páscoa de Jesus. Toda a criação canta o mesmo hino nos seus próprios sentidos e tons: Tudo o que vive e respira louve o Senhor.

Seja eu como tu, meu Jesus

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Senhor, saiba eu neste dia acompanhar-te no calvário de tantos irmãos e irmãs que sofrem tantas dores e abandonos. Seja eu como aquela Maria que te lavou os pés com as suas lágrimas e os perfumou com um caro perfume, quando deixo que o perfume das minhas acções exale na vida dos outros. Seja eu como aquele Simão, de Sirene, que te ajudou a levar a cruz, quando penso menos nas minhas fadigas e cansaços e amparo os que a cruz quer levar ao chão. Seja eu como aquelas mulheres de Jerusalém, ao chorarem por ti, quando também eu choro as dores e sofrimentos dos mais pobres. Seja eu como José de Arimateia, que te sepultou no seu sepulcro, quando saio do meu egoísmo e partilho com os outros o que tenho e o que sou. Seja eu como tu, meu Jesus, que deste a vida por mim, quando eu perceber que é dando que se recebe, que quando sou humilde me exaltas e quando morro para mim tu me ressuscitas. Sei, Senhor, que estarás em agonia até ao fim do mundo, por isso te peço: até ao fim da minha vid

Acompanhar Jesus

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" Senhor, nosso Soberano, / cuja glória reina em toda a terra! / Mostra-nos pela tua Paixão, / que Tu, o verdadeiro Filho de Deus, / por todos os tempos, / mesmo nos tempos de maior humilhação, / sempre foste glorificado! " Foi assim que  J. S. Bach quis começar a sua Paixão segundo São João. Numa oração dirigida a Jesus, reconhece que tudo o que se vai ouvir não é uma história trágica mas sim glória de Deus manifestada no amor da Cruz, toda ela glória e luz. E assim começa esta semana da Paixão, em que somos convidados a ouvir e a viver a morte de Cristo, que passa pela Cruz mas que termina na Luz da Páscoa. A melhor Páscoa será se entrarmos com Jesus em Jerusalém, se nos sentarmos à mesa com ele na Última Ceia, se permanecermos junto à Cruz, se em silêncio também nós respeitarmos o sábado do túmulo e se no dia de Páscoa renascermos do lado aberto que ele nos mostra como sinais do Ressuacitado.

Ser paciente - Jean Vannier

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Nós não somos senhores da nossa sensibilidade, das nossas atracções, das nossas repulsas, que vêm dessas profundezas do nosso ser que controlamos mais ou menos bem. Tudo o que podemos fazer é esforçarmo-nos para não seguir essas tendências, que fazem barreiras nas relações com os outros. Temos que esperar que o Espírito Santo nos venha perdoar, purificar, podar os ramos tortos do nosso ser. A nossa sensibilidade foi constituída de mil medos e egoísmos desde a nossa infância; como também é constituída pelos gestos de amor e pelo dom de Deus. É uma mistura de trevas e de luz. E não é num dia que esta sensibilidade será endireitada. É esforço que exigirá mil purificações e perdões, força de vontade diária e, sobretudo, a graça do Espírito Santo renovando-nos por dentro. Transformar pouco a pouco a nossa sensibilidade, para poder começar a amar realmente o inimigo, é um trabalho exigente. Temos que ser pacientes com a nossa sensibilidade e os nossos medos, temos que ser misericordioso