Traditionis custodes - Guardas da Tradição

O Papa Francisco aboliu hoje, salvo raríssimas excepções, a celebração da Missa no rito anterior ao Concílio Vaticano II, comummente chamada Missa tridentina ou pré-conciliar. Esta decisão do Papa merece o apoio de todos os que sentimos a frescura da renovação da estrutura eclesial, tão importante e necessária, para que a Igreja possa recuperar não só a credibilidade mas a sua cada vez maior proximidade a Jesus Cristo e ao seu Evangelho.
E qual é a não-razão que levou o Papa a revogar todos os documentos e autorizações que João Paulo II e Bento XVI tinham concedido? É mesmo só uma: pensar que este movimento está de tal modo a crescer que é preciso travá-lo. Não foi, portanto, este o motivo.

Os verdadeiros motivos mostrou-os o Papa na carta muito fraterna e consciente que enviou a todos os Bispos. O abuso destes movimentos que celebravam no rito antigo, promovendo-o como o verdadeiro rito da Igreja, a unidade da Igreja, sempre tão visível na celebração da Eucaristia e o caminho que a Igreja fez no Concílio Vaticano II e que muitos dos fiéis e pastores, ao celebrar desta maneira, mesmo indirectamente, colocavam em questão. Também o modo como se deturpou e desvirtuou o sentido que os Papas João Paulo II e Bento XVI deram a esta possibilidade levou a que se tivesse de tomar alguma decisão.

Este acto do Papa não é uma mania nem uma "perseguição" aos movimentos conservadores da Igreja (se alguma catalogação tem de haver). O Papa respaldou a sua decisão no que os Bispos lhe comunicaram num alargado inquérito realizado no ano passado sobre esta questão. E como os ditados têm sempre muita verdade sintetizada, também aqui se pode usar um ditado religioso: "De Roma vem o que a Roma vai", ou seja, de Roma veio a resposta às preocupações que chegaram a Roma.

A partir de agora fica tudo nas mãos dos Bispos para cumprirem o que foi estabelecido hoje pelo Papa, tendo em conta dois princípios: Missas celebradas no Rito extraordinário só durante o tempo necessário para que as pessoas se possam adaptar ao novo Rito e acabar com a proliferação de novas paróquias adeptas deste Rito. Deixa de ser permitido celebrar nas paróquias e as poucas excepções não serão deixadas ao livre arbítrio do Bispo da diocese mas tendo em conta o que o Papa estabeleceu. O Papa faz bem em recordar que a Missa não é um capricho do padre que a celebra mas tem de estar sempre ao serviço do Povo de Deus. E a partir de agora, as poucas que ainda restarem, terão de ter as leituras obrigatoriamente na língua vernácula. Apesar de os dois documentos (o Motu Proprio e a Carta aos Bispos) não estarem traduzidos em Português valem a pena ser lidos. Deixo aqui os links (Motu Proprio, Carta aos Bispos).

Esperemos que o amor à Igreja e a obediência sempre tão exaltados por estes grupos continue vivo para, sem grandes alaridos, acatarem esta decisão. Será um grande sinal de comunhão e de unidade na Igreja de Cristo. Porque, afinal, a Igreja e Papa são assistidos pelo Espírito Santo.

(P.S.: Não posso deixar de evocar aqui a figura do Cardeal D. José Policarpo que sofreu por tentar travar estas celebrações no Patriarcado de Lisboa. Até queixa dele fizeram a Roma e impediram-no de impedir as Missas no Rito Extraordinário. Hoje teria tido o apoio de Roma.)


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