Uma carta de esperança
Recebemos, há dias, uma carta do nosso Mestre da Ordem, frei Gerard Timoner, com uma simples mas profunda reflexão sobre este drama do coronavírus. Aqui a deixo, porque partilhar é também um modo de comunicar.
O Senhor é a minha luz e salvação: a quem hei-de temer?
O Senhor é protector da minha vida: de quem hei-de ter
medo?
No dia da desgraça, Ele me esconderá na sua tenda,
ocultar-me-á no recôndito do seu santuário.
Salmo 27, 1.5
Queridos irmãos e irmãs da Família Dominicana
Como sabem, depois da China, a Itália sofre
severamente com o covid-19. Alguns membros da Família Dominicana no norte do
país contraíram o vírus. Vamos continuar a rezar por todos os doentes, por quem
cuida deles, pelos que fazem todos os possíveis para encontrar maneiras de
superar a pandemia e os seus efeitos adversos.
Juntamente com os irmãos e irmãs de Santa Sabina,
desejo oferecer palavras de solidariedade como gesto da nossa proximidade neste
momento em que o bem comum requer "distanciamento social". A nossa
missão é construir comunhão e, no
entanto, neste momento de crise, parece que nos rendemos ao isolamento. Por paradoxal que pareça,
manter a distância entre nós significa que realmente nos preocupamos uns com os
outros porque queremos travar a transmissão do novo coronavírus que já tirou a
vida de muitas pessoas e colocou em perigo a vida de muitas outras em todo o
mundo. Mantemo-nos distantes não porque vemos o nosso irmão ou irmã como um
portador potencial do vírus, ou porque tenhamos medo de ficar doentes; mas
porque queremos ajudar a quebrar a cadeia
de transmissão viral. Quando o sistema de saúde está sobrecarregado, como
aconteceu no norte da Itália, os responsáveis da saúde serão forçados a tomar
decisões éticas difíceis – deve-se dar prioridade a um paciente mais novo e,
portanto, com uma maior esperança de vida em vez de outra que é mais velha? Esperamos
e rezamos para evitar que isso aconteça noutros lugares, fazendo todo o
possível para evitar um aumento da transmissão do vírus. Aqui na Itália, como noutros
países, é doloroso para nós não celebramos publicamente a Eucaristia, o sacramento da comunhão, num momento em
que as pessoas mais dele precisam por causa do isolamento. E ainda temos que suportar este sofrimento no espírito
de solidariedade humana e comunhão, porque “se um membro sofre, todos os
membros sofrem com ele " (1 Cor. 12:26).
Neste tempo de quarentena in quaresima, somos convidados a parar e reflectir sobre
a proximidade de Deus para connosco. Quando o culto público ao para o bem-estar
dos fiéis percebemos a importância da comunhão espiritual. Nestes lugares, é
como se as pessoas experimentassem um prolongado “Sábado Santo” quando a Igreja
“se abstém da celebração da Eucaristia” meditando sobre a paixão do Senhor e
aguardando a sua ressurreição (Paschale
Solemnitatis, 73-75). De modo experimental, lembramos a fome da eucaristia dos
nossos irmãos e irmãs em áreas remotas que só podiam participar na missa uma ou
duas vezes por ano. Agora, mais do que nunca, precisamos de encontrar maneiras para
romper o isolamento, pregar o Evangelho de amor e comunhão, mesmo no “continente
digital” (ACG Biên Hòa 2019, 135-138). Precisamos lembrar às pessoas que Jesus
permanece próximo nós até quando estamos com fome do Pão da Vida.
Deixem-me lembrar-lhes o que já sabemos no
profundo dos nossos corações. Se queremos difundir o evangelho, devemos estar com
as pessoas, estar perto delas! Devemos atravessar as fronteiras linguísticas,
culturais e até ideológicas para espalhar a palavra de Deus. Por outro lado, se
queremos parar a propagação de algo mau como o coronavírus, devemos manter a
distância, devemos abster-nos do encontro pessoal, porque qualquer encontro
próximo tem o potencial de propagar o contágio.
A pandemia actual mostra claramente que, para
que alguma coisa circule são necessárias a proximidade e o encontro pessoal. Quando
esta crise acabar, não esqueçamos a lição: Se queremos que o evangelho circule
no nosso mundo secularizado, são necessárias a mesma proximidade e o encontro
pessoal. Espero e rezo para que os nosso centros de estudos, paróquias e outros
centros apostólicos continuem a ser como um “aeroporto”, ou seja, um centro
onde as pessoas aprofundem o seu conhecimento e a sua fé para que eles também
possam “contagiar infectar" positivamente a todos com a alegria contaminante
do Evangelho.
Continuamos a rezar pelos doentes e por
aqueles que cuidam deles. Mesmo na nossa solidão, Deus está perto de nós, e
nunca estamos sozinhos porque todos pertencemos ao corpo de Cristo.
O vosso irmão,
Gerard, op
Gerard, op