Santo Inácio de Antioquia
A Igreja celebra hoje o martírio de Santo Inácio de Antioquia.
E pelas cartas que escreveu, sobretudo a do Oficio de leituras, que nos é oferecida hoje na Liturgia das Horas, gostava de falar da relação que ele faz entre o martírio e a Eucaristia.
Todos sabemos que o mártir é aquele que dá testemunho. A palavra mártir não significa aquele que sofre mas sim aquele que testemunha. E, para nós, cristãos, o mártir é aquele que testemunhou até ao fim, o que se entregou até ao limite, por amor a Cristo e ao seu Evangelho.
Santo Inácio escreve as suas cartas a caminho de Roma, a caminho do seu martírio. Um dos fortes apelos é à unidade dos cristãos. É uma constante. E, para Santo Inácio, esta união é realizada de modo perfeito pela e na celebração da Eucaristia. Na carta aos Filadélfios, exorta-os a tomar parte numa só Eucaristia, porque também é só uma a carne de Jesus Cristo, um cálice para a união com o Seu sangue, e um altar, com o bispo que é o garante da unidade eclesial.
A Eucaristia garante, portanto, o dom da unidade, entre os irmãos e com Deus.
Mas para Santo Inácio, a Eucaristia é também a força para superar todas as dificuldades da vida. Como ele diz, “a Eucaristia é remédio de imortalidade, antídoto contra a morte, e vida em Jesus Cristo para sempre”. Ou então, na carta aos Romanos: “Não me satisfazem os alimentos corruptíveis nem os prazeres deste mundo. Quero o pão de Deus, que é a carne de Jesus Cristo e por bebida quero o seu Sangue que é a caridade incorruptível”.
Mas há uma identificação profunda entre o martírio de Santo Inácio com o de Jesus Cristo. A não-violência. Não é novidade de Santo Inácio. Já no Novo testamento vemos como o martírio de Estêvão é muito semelhante ao de Cristo. Santo Inácio de Antioquia tem consciência dessa identificação. Não há qualquer reacção violenta nas suas palavras: “deixai-me ser comida para as feras, pelas quais me é possível encontrar Deus. Sou trigo de Deus e devo ser moído pelos dentes das feras, para me transformar em pão limpo de Cristo. Procuro Aquele que morreu por nós. Deixai-me ser imitador da paixão do meu Deus”.
Dar testemunho de Cristo é, então, tomar parte da sua paixão, da sua entrega. E com o seu martírio torna-se semelhante a Cristo na sua entrega por nós.
É este um dos motivos que leva a que, no ritual da dedicação das igreja, esteja previsto que, debaixo do altar se coloquem relíquias dos mártires. É um rito antigo na Igreja, do século IV. Santo Ambrósio na dedicação da basílica de Milão, explica este rito dizendo que “é oportuno que as vítimas triunfantes tomem lugar onde Cristo se oferece a si mesmo: sobre o altar, aquele que se ofereceu por todos, sob o altar, aqueles que foram por ele resgatados com a sua paixão”. É esta a relação do cristão com a Eucaristia: assim como Cristo entregou a sua vida por nós assim o cristão, os mártires são chamados a entregar a sua vida por Cristo. Eles são a resposta à pergunta que Jesus fez aos filhos de Zebedeu: “Podeis beber o cálice que Eu estou para beber?”
A celebração dos mártires, deve ser para nós, cristãos, um estímulo a que a nossa vida encontre na Eucaristia que celebramos a fonte que mata a sede e o cume do nosso trabalho e do nosso apostolado.
E, por intercessão de Santo Inácio de Antioquia, peçamos ao Senhor que o pão e o vinho que partimos nos liguem a Deus, nos liguem uns aos outros e nos tornem sensíveis às dores e às dificuldades dos que sofrem.