Santa Catarina de Sena
Em jeito de partilha, aqui fica o que disse hoje às Irmãs sobre Santa Catarina de Sena:
Falar de Santa Catarina parece fácil mas não é. Falar da sua vida sim, é fácil, até porque ela está bem documentada, mas sobre o que ela viveu, que nós podemos vislumbrar quer pelas suas cartas quer pela sua mística, torna-se, pelo menos para mim, difícil.
Quando preparei esta homilia pensei: fazia-nos falta, neste nosso tempo, uma mulher como Catarina de Sena. Porque não foi uma mulher de convento. Ou, então, se quisermos, soube fazer da sua vida e do seu convento uma casa de pregação, intervindo em todas as áreas da sociedade, desde os presos, passando por monjas e padres, até o próprio Papa e aos políticos. Temos uma mulher de Deus interessada nas coisas dos homens. Uma mulher que procurou conhecer a presença de Deus nela e dela em Deus, através da contemplação da “doce primeira Verdade”.
Temos, na curta vida de Catarina – viveu apenas 33 anos – dois momentos: um, primeiro de vida de austera penitência, quer em sua casa quer na sua cela da Ordem Terceira de São Domingos na qual entrou, baseada na oração, penitências e jejuns até que, aos 23 tem uma visão de Cristo, o seu Esposo, que lhe diz: “Não vais viver mais como antes vivias. A salvação de muitas almas assim o requer. A partir de agora deixarás a tua cela e andarás pelos povos salvando almas. Eu estarei sempre contigo; levar-te-ei e trazer-te-ei; ensinarás a minha doutrina tanto aos grandes como aos pequenos; aos sacerdotes e aos religiosos, da mesma maneira que aos simples fiéis. Dar-te-ei uma sabedoria e um falar ao qual ninguém poderá resistir; levar-te-ei à presença dos Pontífices, dos governantes da Igreja e dos povos para que confundam a soberba dos grandes”. E aqui começa o segundo momento da vida de Santa Catarina. Percebe que mais importante que a cela do seu convento é a cela interior do coração como ela irá mais tarde ensinar a um monge muito atarefado: constrói uma cela na mente da qual nunca possas sair, a cela interior do teu coração. E ela explica que cela é esta a cela do coração: “Esta cela é um quarto íntimo que o homem leva consigo por toda a parte. Nela se adquirem as virtudes perfeitas e reais, especialmente a humildade e a ardente caridade”.
Desta vida pública de Santa Catarina gostava de destacar duas dimensões: a primeira é a de Catarina de Sena como mulher de Igreja. Catarina quer a união da Igreja, que então estava desunida pelo cisma do ocidente. Das suas cartas – mais de 300 – ditadas por Catarina que não sabia ler, algumas são endereçadas ao Papa, o “doce Cristo na terra”, em que lhe pede para voltar a Roma, que era sinal de iria pegar no rebanho desunido. Além do Papa, Catarina escreve a monjas, padres, religiosos também, sempre exortando-os ao conhecimento de Deus e aos meios de alcançarem a sua santificação.
A segunda dimensão é a de Catarina, mulher da política. Escreve também aos políticos pedindo-lhes aquilo que ela mais precisa: a paz. Numa das suas cartas, dirigidas a um político, Catarina vai dizer que governar é perseverar na justiça: “quem não pratica a justiça a partir de si mesmo jamais conseguirá aplicá-la aos outros”. Numa outra carta irá dizer que a justiça nasce do amor: “A justiça é uma bela virtude, que realiza a paz entre o homem e o seu Criador, entre cidadão e cidadão. A justiça brota da fonte do amor, brota da perfeita união que se alicerça em Deus e no homem”.
Celebramos Santa Catarina de Sena, Doutora da Igreja e Co-Padroeira da Europa. Percebemos bem porquê: penetrou nos mistérios de Deus e iluminou o mundo, sobretudo a Europa com a luz de Cristo.
Já no fim da sua vida, Catarina, dita a sua última carta endereçada a fr. raimundo de Cápua, seu confessor e director espiritual. Nessa carta deixa-lhe alguna conselhos que podem ajudar-nos também a nós, pedindo, desde já, a sua intercessão: