Santa Catarina de Sena


Hoje, toda a Igreja celebra a festa de Santa Catarina de Sena. Nós, Dominicanos, de maneira especial. Catarina foi uma Terceira Dominicana, do século XIV, Virgem, Doutora da Igreja e co-Padroeira da Europa. Celebrei duas Missas. A primeira com as Irmãs Dominicanas de Santa de Sena, que vivem no Hospital de Sant'Ana, na Parede. Uma pequena comunidade com uma presença de 100 anos no hospital, junto dos doentes, como Santa Catarina, aos 23 anos que se dedicou a tratar dos doentes e dos moribundos. Além de ser dia da sua Padroeira, uma irmã celebrava as suas bodas de ouro de consagração. A segunda foi no Convento, porque hoje parte um dos nossos irmãos para fazer o caminho francês de Santiago de Compostela, que lhe demorará um mês.
Em jeito de partilha, aqui fica o que disse hoje às Irmãs sobre Santa Catarina de Sena:

Falar de Santa Catarina parece fácil mas não é. Falar da sua vida sim, é fácil, até porque ela está bem documentada, mas sobre o que ela viveu, que nós podemos vislumbrar quer pelas suas cartas quer pela sua mística, torna-se, pelo menos para mim, difícil.
Quando preparei esta homilia pensei: fazia-nos falta, neste nosso tempo, uma mulher como Catarina de Sena. Porque não foi uma mulher de convento. Ou, então, se quisermos, soube fazer da sua vida e do seu convento uma casa de pregação, intervindo em todas as áreas da sociedade, desde os presos, passando por monjas e padres, até o próprio Papa e aos políticos. Temos uma mulher de Deus interessada nas coisas dos homens. Uma mulher que procurou conhecer a presença de Deus nela e dela em Deus, através da contemplação da “doce primeira Verdade”.
Temos, na curta vida de Catarina – viveu apenas 33 anos – dois momentos: um, primeiro de vida de austera penitência, quer em sua casa quer na sua cela da Ordem Terceira de São Domingos na qual entrou, baseada na oração, penitências e jejuns até que, aos 23 tem uma visão de Cristo, o seu Esposo, que lhe diz: “Não vais viver mais como antes vivias. A salvação de muitas almas assim o requer. A partir de agora deixarás a tua cela e andarás pelos povos salvando almas. Eu estarei sempre contigo; levar-te-ei e trazer-te-ei; ensinarás a minha doutrina tanto aos grandes como aos pequenos; aos sacerdotes e aos religiosos, da mesma maneira que aos simples fiéis. Dar-te-ei uma sabedoria e um falar ao qual ninguém poderá resistir; levar-te-ei à presença dos Pontífices, dos governantes da Igreja e dos povos para que confundam a soberba dos grandes”. E aqui começa o segundo momento da vida de Santa Catarina. Percebe que mais importante que a cela do seu convento é a cela interior do coração como ela irá mais tarde ensinar a um monge muito atarefado: constrói uma cela na mente da qual nunca possas sair, a cela interior do teu coração. E ela explica que cela é esta a cela do coração: “Esta cela é um quarto íntimo que o homem leva consigo por toda a parte. Nela se adquirem as virtudes perfeitas e reais, especialmente a humildade e a ardente caridade”.
Desta vida pública de Santa Catarina gostava de destacar duas dimensões: a primeira é a de Catarina de Sena como mulher de Igreja. Catarina quer a união da Igreja, que então estava desunida pelo cisma do ocidente. Das suas cartas – mais de 300 – ditadas por Catarina que não sabia ler, algumas são endereçadas ao Papa, o “doce Cristo na terra”, em que lhe pede para voltar a Roma, que era sinal de iria pegar no rebanho desunido. Além do Papa, Catarina escreve a monjas, padres, religiosos também, sempre exortando-os ao conhecimento de Deus e aos meios de alcançarem a sua santificação.
A segunda dimensão é a de Catarina, mulher da política. Escreve também aos políticos pedindo-lhes aquilo que ela mais precisa: a paz. Numa das suas cartas, dirigidas a um político, Catarina vai dizer que governar é perseverar na justiça: “quem não pratica a justiça a partir de si mesmo jamais conseguirá aplicá-la aos outros”. Numa outra carta irá dizer que a justiça nasce do amor: “A justiça é uma bela virtude, que realiza a paz entre o homem e o seu Criador, entre cidadão e cidadão. A justiça brota da fonte do amor, brota da perfeita união que se alicerça em Deus e no homem”.
Celebramos Santa Catarina de Sena, Doutora da Igreja e Co-Padroeira da Europa. Percebemos bem porquê: penetrou nos mistérios de Deus e iluminou o mundo, sobretudo a Europa com a luz de Cristo.
Já no fim da sua vida, Catarina, dita a sua última carta endereçada a fr. raimundo de Cápua, seu confessor e director espiritual. Nessa carta deixa-lhe alguna conselhos que podem ajudar-nos também a nós, pedindo, desde já, a sua intercessão:
Pensai que Deus quer renovar a vossa vida. Eliminando todo sentimento humano, dedicai-vos inteiramente à pequena barca da Igreja. Pouco tempo ficareis na cela conventual, mas quero que leveis convosco e useis a cela do coração. Vós o sabeis: enquanto estivermos dentro dela, os inimigos não nos atingirão, e toda a vossa actividade estará orientada e ordenada segundo Deus. Peço-vos também que amadureçais o vosso coração com santa e verdadeira prudência. Que vossa vida seja de exemplo para os leigos, não vos conformando com os costumes do mundo. Renovem-se e refloresçam a humildade perfeita, a generosidade para com os pobres e a pobreza, que sempre cultivastes. Em qualquer função ou cargo que Deus vos coloque, não diminuais o esforço. Mas aprofundai-vos no vale da humildade, alegrando-vos com os sofrimentos. Procurai na cruz a sede das almas, dedicai-vos a uma oração humilde, fiel e contínua, fazei vigílias, celebrai a missa diariamente, sendo possível. Fugi das conversas levianas e ociosas; sede e mostrai-vos maduro no falar, em tudo".

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