Homilia da Anunciação do Senhor (Missa em memória do fr. Carlos Furtado)

A festa que hoje celebramos, estaria mais enquadrada num ambiente de Advento do que em tempo de Quaresma. Isto porque esta festa está intimamente ligada ao dia de Natal. A primeira coisa que este dia nos diz é que, de hoje a 9 meses será dia de Natal.
Esta é uma festa alegre. É um anúncio alegre, uma boa-notícia, um evangelho. Aquilo que os profetas anunciaram cumpre-se agora, de uma maneira real; a Palavra torna-se mesmo carne porque veio habitar no meio de nós, ao nascer do seio de Maria.
O Anjo e Maria representam, neste episódio da anunciação, a união das duas realidades do nosso mundo: a humana e a divina. Gabriel, da parte de Deus, traz a mensagem salvadora; Maria, da parte da humanidade, acolhe a mensagem ao dizer sim, numa obediência livre, dialogada, numa abertura total à vontade e aos desígnios de Deus para connosco.
O sim de Maria é um fiat: faça-se em mim a tua vontade. Este é outro aspeto desta festa que nos pode ajudar na nossa vida: a Deus devemos dizer sim, porque quando dizemos sim a Deus configuramo-nos com a sua vontade e colocamo-nos ao seu serviço.
Finalmente, e talvez mais importante que o anúncio do anjo ou que o sim de Maria, é o que acontece na História da humanidade: um Deus que vem até nós (Emanuel) e um Deus que nos salva (Jesus).
Aquele Deus amigo que o livro do Génesis descrevia que passeava no jardim do paraíso pela brisa da tarde à procura de Adão e Eva, é o mesmo Deus amigo que não nos abandona, mas, ao contrário, nos procura para nos dar vida e vida em abundância.
Coincide esta festa com a memória do nosso fr. Carlos. Cada um tem as suas memórias dele e, talvez, o que mais nos une a ele é a amizade e a fraternidade.
Um homem de boas notícias. Viveu a sua vida sempre com os mais novos, mesmo os que agora somos mais velhos, sempre com um sorriso, sempre com uma palavra amiga, sempre com abraços apertados.
Nos funerais costumo dizer que a melhor maneira de ter alguém querido presente nas nossas vidas é continuar a sua vida e a sua obra. E isto é o que peço ao Senhor nesta nossa Eucaristia: que saibamos continuar na nossa vida e nos nossos apostolados, aquilo que destacou o fr. Carlos como cristão e como frade dominicano: dizer sim a Deus, acolher quem se aproxima de nós, seja ele quem for e espalhar pelo mundo a alegria de Deus.

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