O furor do Concílio
ATENÇÃO: POST PROVAVELMENTE POLÉMICO. SE FOR SENSÍVEL NÃO O LEIA!
Este ano muito se vai falar do Concílio Vaticano Segundo. Serão as comemorações dos cinquenta anos sobre a sua abertura. Não sei se todos os católicos sabem o que foi o Concílio. A minha avó, coitada, não sabia o que era. Uma vez, estava já eu no Convento, ao visitá-la, estava ela indignada com o Vaticano. E dizia-me: isto a Igreja também se põe a jeito. Com tanta pobreza que há no mundo já andam a falar de um Vaticano Segundo. Não lhes chega já o que têm?
Pensava que se ia construir um outro Vaticano. Podemos dizer que era uma iletrada, que o era, mas não sei se hoje, se perguntarmos a pessoas mais religiosamente letradas, saberão o que foi. Eu não sei o que foi. Ainda não tinha nascido. Sei de ouvir contar, que aconteceram mudanças significativas, de alguns que estavam por lá e de outros que o aplicaram na realidade das suas comunidades.
Quem, há cinquenta anos atrás tinha a minha idade está hoje com, pelo menos oitenta anos. E, nas conferências que têm havido sobre o Concílio, a média de idade não desce muito mais; estará entre os cinquenta e os oitenta. E o que me dá pena é que não se pense nos cristãos que nasceram no pós-Concílio. Os que não assistiram, os que sempre tiveram a Missa em Português e os que nunca ouviram uma Missa com canto gregoriano. Não me admira que haja agora um certo fascínio pelo ritualismo, pela Missa de antigamente... (eu próprio tenho prometida uma Missa no antigo rito dominicano para o próximo Junho, para saber como era). Não são revivalismos nem querer voltar atrás. Também estranho que, algumas vezes, os católicos que viveram o Concílio, ataquem quem defenda ideias diferentes das deles... Afinal onde está a tolerância, o diálogo e a diversidade que o Concílio falou?
Há tempos, o The Tablet (um semanário católico internacional) trazia na capa o Papa João XXIII a abrir uma janela e o Papa João Paulo II a fechá-la. Era uma imagem provocante sobre o Concílio a dizer que um Papa tinha aberto uma janela para arejar a Igreja e outro que a estava a fechar. Mas houve mais três Papas após o Concílio: Paulo VI, que ficou numa situação de compromisso porque, depois, na aplicação prática do Concílio, sobretudo nas questões morais, deixou a desejar; João Paulo I não teve tempo para pensar no Concílio, apesar de ter escolhido um nome estratégico (João por causa do João XXIII e Paulo por causa do seu predecessor), e o atual Papa, que esteve no Concílio como perito, de quem agora se diz que naquele tempo era progressista e agora conservador.
E eu pergunto: Onde ficaram os católicos do Concílio? Trancados no labirinto da história do Concílio e que as questões que se colocam ficam na ordenação das mulheres, no ecumenismo, numa ou outra questão moral ou sempre a dizer que é preciso mais um Concílio? E os que nascemos depois do Concílio? Onde estamos? Desinteressados do tema, noutra praia, porque os velhos temas não nos movem de tal modo que nos disponhamos a ir a qualquer conferência. Embora custe a admitir, somos como aqueles alunos do terceiro ciclo ou do secundário que nas aulas de esclarecimento de dúvidas, não colocam questões porque, simplesmente, não estudaram.
Ora, eu estou de acordo com o comentário da minha avó: Não nos chega o Concílio de há cinquenta anos? Para quê mais um? Porque há um trabalho a fazer de introdução e atualização ao Concílio sem ser preciso mais um Concílio. Esse trabalho tem de nascer das bases e não de Roma. Aliás, seria bom que o próximo Concílio não fosse em Roma nem em Itália (irritam-me os conferencistas que falam do Concílio Vaticano terceiro; mudem de cidade, um Concílio de Londres ou de Bruxelas, sei lá bem). Cada paróquia, cada diocese, com a ajuda dos que viveram naquele tempo, não para nos virem contar as histórias do Concílio ou criticar a Igreja que não evolui ou que não se abre às novas realidades, mas para nos ajudarem a ler, perceber e depois atualizar o Concílio na nossa vida e contextualizá-lo na Igreja. Afinal, não somos todos membros da Igreja?
Pensava que se ia construir um outro Vaticano. Podemos dizer que era uma iletrada, que o era, mas não sei se hoje, se perguntarmos a pessoas mais religiosamente letradas, saberão o que foi. Eu não sei o que foi. Ainda não tinha nascido. Sei de ouvir contar, que aconteceram mudanças significativas, de alguns que estavam por lá e de outros que o aplicaram na realidade das suas comunidades.
Quem, há cinquenta anos atrás tinha a minha idade está hoje com, pelo menos oitenta anos. E, nas conferências que têm havido sobre o Concílio, a média de idade não desce muito mais; estará entre os cinquenta e os oitenta. E o que me dá pena é que não se pense nos cristãos que nasceram no pós-Concílio. Os que não assistiram, os que sempre tiveram a Missa em Português e os que nunca ouviram uma Missa com canto gregoriano. Não me admira que haja agora um certo fascínio pelo ritualismo, pela Missa de antigamente... (eu próprio tenho prometida uma Missa no antigo rito dominicano para o próximo Junho, para saber como era). Não são revivalismos nem querer voltar atrás. Também estranho que, algumas vezes, os católicos que viveram o Concílio, ataquem quem defenda ideias diferentes das deles... Afinal onde está a tolerância, o diálogo e a diversidade que o Concílio falou?
Há tempos, o The Tablet (um semanário católico internacional) trazia na capa o Papa João XXIII a abrir uma janela e o Papa João Paulo II a fechá-la. Era uma imagem provocante sobre o Concílio a dizer que um Papa tinha aberto uma janela para arejar a Igreja e outro que a estava a fechar. Mas houve mais três Papas após o Concílio: Paulo VI, que ficou numa situação de compromisso porque, depois, na aplicação prática do Concílio, sobretudo nas questões morais, deixou a desejar; João Paulo I não teve tempo para pensar no Concílio, apesar de ter escolhido um nome estratégico (João por causa do João XXIII e Paulo por causa do seu predecessor), e o atual Papa, que esteve no Concílio como perito, de quem agora se diz que naquele tempo era progressista e agora conservador.
E eu pergunto: Onde ficaram os católicos do Concílio? Trancados no labirinto da história do Concílio e que as questões que se colocam ficam na ordenação das mulheres, no ecumenismo, numa ou outra questão moral ou sempre a dizer que é preciso mais um Concílio? E os que nascemos depois do Concílio? Onde estamos? Desinteressados do tema, noutra praia, porque os velhos temas não nos movem de tal modo que nos disponhamos a ir a qualquer conferência. Embora custe a admitir, somos como aqueles alunos do terceiro ciclo ou do secundário que nas aulas de esclarecimento de dúvidas, não colocam questões porque, simplesmente, não estudaram.
Ora, eu estou de acordo com o comentário da minha avó: Não nos chega o Concílio de há cinquenta anos? Para quê mais um? Porque há um trabalho a fazer de introdução e atualização ao Concílio sem ser preciso mais um Concílio. Esse trabalho tem de nascer das bases e não de Roma. Aliás, seria bom que o próximo Concílio não fosse em Roma nem em Itália (irritam-me os conferencistas que falam do Concílio Vaticano terceiro; mudem de cidade, um Concílio de Londres ou de Bruxelas, sei lá bem). Cada paróquia, cada diocese, com a ajuda dos que viveram naquele tempo, não para nos virem contar as histórias do Concílio ou criticar a Igreja que não evolui ou que não se abre às novas realidades, mas para nos ajudarem a ler, perceber e depois atualizar o Concílio na nossa vida e contextualizá-lo na Igreja. Afinal, não somos todos membros da Igreja?
(fotografia do anel que o Papa Paulo VI ofereceu aos Bispos do Concílio, para que trocassem os anéis cravados de pedras preciosas por um mais simples, como sinal de humildade e pobreza)