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Entre o palco e o altar... e fora dele

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Ah, e o que é que o frei acha da história do palco do Papa? Uma pouca vergonha. De uma ponta a outra. O palco acaba por ser só um pequeno pormenor do plano de alguns deslumbrados, que não sabendo quem são, nem dando a cara (e não há muito por onde fugir), vão sacudindo a água do seu capote. Agora que a casa caiu já ninguém acha piada a nada e até se diz que as jornadas deviam ser fora de Lisboa. Ainda assim é de louvar o Carlos Moedas pelo seu estoicismo: abandonado por todos (e de certeza que todos lhe foram dando palmadinhas nas costas) dá o corpo às balas, custe o que isso custar quer a ele quer aos munícipes. E, obviamente, não pode dizer tudo o que se passou, pelos compromissos… para que outros não fiquem mal, fica ele mal, mas não é normal terem até invocado exigências do Vaticano e o Vaticano vir demarcar-se de toda esta confusão. Neste despilfarro (palavra espanhola que em português poderia significar desperdício), como noutros que a nossa história recente pode comprovar, há

Testemunho, Papa Francisco, Papa Paulo VI e Evangelho

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Na Missa vespertina de hoje, ao contrário do que tinha programado, a homilia foi para a importância do testemunho cristão. Acabei por falar do importantíssimo documento escrito por Paulo VI, a Evangelii Nuntiandi , documento muito actual. O próprio Papa Francisco, neste vídeo que aqui coloco, diz isto mesmo. De modo que, na homilia, falei da importância de ler não só este documento, bem como um outro, escrito por Paulo VI, na área social, Populorum Progressio . Podem encontrar-se estes documentos no site do Vaticano. Aqui quero só deixar o parágrafo da Evangelii Nuntiandi , que nos fala da importância do testemunho discreto mas essencial do cristão (católico). É o nº 2, que diz assim: 21. " E esta Boa Nova há de ser proclamada, antes de mais, pelo testemunho. Suponhamos um cristão ou punhado de cristãos que, no seio da comunidade humana em que vivem, manifestam a sua capacidade de compreensão e de acolhimento, a sua comunhão de vida e de destino com os demais, a sua solidariedade

Porque caminho?

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As experiências de caminhar são para mim das mais profundas. Não só pela necessidade de andar nem pelos benefícios ambientais, que já por si seriam bons motivos, mas pela experiência de pisar o chão, de poder sentir e olhar a paisagem que me rodeia, de conversar, se vou acompanhado, e de rezar, se vou sozinho. Caminhar leva-me sempre mais longe, mesmo se não vou tão depressa.  Muitas vezes o meu caminhar tem também um trajecto interior. Os caminhos interiores levam-nos bem mais longe que os números de passos que o telemóvel me indica os os quilómetros expostos nas placas. Quantas decisões tomei a caminhar, quantas pessoas e conversas lembrei enquanto andava, quantas turbulências acalmei no meu interior quer falando com alguém que partilha os meus passos quer falando e andando às voltas comigo próprio. As caminhadas interiores são para mim, não poucas vezes, uma boa terapia.  Caminhar em grupo tem outras nuances. E muitas vezes revelamo-nos enquanto caminhamos. Lembro-me do que o Papa

Arroz de pato ou pato com arroz?

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Escapa à estrutura deste blogue uma entrada sobre gastronomia. Ainda por cima com um tema do qual não sou especialista, mas que tenho vindo a pensar nele: o famoso arroz de pato. Tal e como o conhecemos não o conheci eu na minha infância. Aliás, não me lembro sequer de ver a minha mãe ou a minha avó (as minhas referências na culinária) de o terem feito até vir a moda das camadas de arroz com o pato no meio. O que sim era da minha infância era o pato com arroz. Não era feito em casa: a minha mãe mandava-nos ir buscá-lo ao restaurante “O Cancela”, prato das quintas-feiras. E aquele almoço era um verdadeiro manjar. Levávamos o tacho e a cozinheira colocava no fundo um arroz de forno, solto (e sem haver o famigerado arroz vaporizado), feito com os miúdos do pato e em cima as partes do pato, trinchadas, com pele crocante e cheio de sabor. E na casa dos meus pais era o que se comia com alguma frequência. Fechou o restaurante e acabou-se o pato com arroz lá em casa. Há uns anos, mais ou menos

Projectos inacabados

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Ao olhar para o passado da minha vida vejo que ela tem tido muitos projectos inacabados. Se, por um lado, me orgulho de alguns projectos que pus em marcha e que, sempre que possível, os levei a bom termo ou entreguei a outros para que o continuassem, há outros, mais pequenos, que me dariam imenso prazer conclui-los mas que, por desleixo, desmotivação ou outro mecanismo sub-consciente, uns ainda começaram mas outros, infelizmente, só ficaram mesmo no desejo. Como o de escrever sobre pessoas admiráveis que passaram pela minha vida e que gostaria de não me esquecer delas. As memórias do meu avô paterno, por exemplo, da D. Maria José, leitora e ministra da comunhão em Marvila, a D. Secunda, zeladora incansável também em Marvila, e alguns frades, dos quais tenho memória mais viva. Mas uma dessas pessoas é a tia Maria Piedade, de Feirão, que tanto influenciou na minha piedade popular de Feirão, de quem sinto obrigação hoje de escrever. Era como uma profetiza, sempre a chamar o povo à oração

Prefiro o paraíso - São Filipe de Neri

 Neste dia, há 4 anos, escrevi aqui a minha admiração por São Filipe de Neri. Admiração sempre crescente, à medida que os anos passam. Não posso ter a ousadia de dizer que me identifico com ele porque só mesmo o nome nos une. A santidade e a simplicidade de São Filipe de Neri deixam-me perplexo e a anos de luz deste homem de oração, de caridade e de muito humor. Mas, como diz o Papa Francisco, e bem, " há testemunhos que são úteis para nos estimular e motivar, mas não para procurarmos copiá-los, porque isso poderia até afastar-nos do caminho, único e específico, que o Senhor predispôs para nós ". Prefiro o paraíso, ensinava ele às crianças abandonadas e rebeldes. O caminho do mal não nos leva ao paraíso e para o alcançar temos mesmo de fazer opções, preferências. Não sabemos muito da vida de São Filipe de Neri mas, no filme que se fez sobre ele, há um momento muito impactante: Há uns boatos sobre o mau uso de dinheiros entregues à igreja de São Filipe que ele usava para os po

O cristianismo é mais que uma religião

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José Saramago (1922-2010), numa entrevista-diálogo com José Tolentino Mendonça, publicada pelo jornal Expresso em 25/10/2009, a propósito do seu livro “Caim”, diz a certa altura: “ Eu sou aquele que diz que, embora seja ateu, estou empapado de valores cristãos ”. Não era a primeira vez que José Saramago usava este tipo de expressões. Numa outra entrevista, Saramago expõe de uma maneira mais clara o seu pensamento sobre uma “mentalidade cristã”. Nas suas palavras: “ Eu, às vezes, digo que, no plano da mentalidade, sou um cristão, e não posso ser outra coisa. Quando Pessoa diz ‘não ter Deus já é ter Deus’ ele está a pôr a questão ao contrário porque ninguém começou por não ter Deus. Todos começamos por ter Deus e conservamo-nos assim ”. É, então, inegável – e não só por Saramago o ter dito – que a nossa cultura e mentalidade ocidental é (ainda) profundamente cristã. Negar isto seria como negar que tivemos avós ou tios. Reparemos em alguns exemplos práticos: férias de Natal…, férias da Pá