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A mostrar mensagens de agosto, 2014

As amoras e o seu doce

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Por estes dias as amoras dignaram-se amadurecer. Os de cá dizem que ainda é cedo para as apanhar mas a verdade é que as de silvão são grandes e doces. Com tanta abundância a família decidiu dedicar-se a fazer doce de amora silvestre para levar. Ontem foi dia de as apanhar. Uma equipa de 5, liderada pela minha mãe, que conhece os lugares dos silvões, fomos apanhá-las. Quase cinco quilos! Com a apanha das amoras vieram as histórias do passado, algumas delas mais caricatas e assim se passou o princípio da tarde. E começou-se a fazer. Em pequenas quantidades cada vez vamos fabricando o doce de amora, sem corantes nem conservantes. Basta paciência para ir lavar as amoras à fonte, onde a água é mais fresca, e depois a paciência de do sumo sair doce. A dividir por todos não custa a ninguém. Aqui fica a foto da primeira levada de doce de amora.

Visitas de Lisboa

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Ontem tive a alegria, eu, Feirão e Cotelo, de recebermos amigos de Lisboa. Vieram propositadamente para conhecer estas terras que tanto me prendem. Vieram, estiveram na Missa de Feirão, foram apanhar amoras, foram ver a vista desde a capela de São Cristóvão, e almoçaram em Cotelo. Almoçaram eles e almoçámos nós, também. Da parte da tarde, visita a Cotelo, ida a Caldas de Aregos e despedidas. Para Feirão e Cotelo foi um acontecimento: quem seriam? Amigos ou familia do senhor padre? As pessoas daqui gostam de saber estas coisas... Agradeço-lhes a visita e que se repita. (fotografia: vista de Feirão a partir do marco geodésico)

Linha do Douro

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Ontem foi dia de passeio, em família, da estação da Ermida até ao Porto. Claro que o percurso mais bonito é o da Ermida até ao Pocinho mas tivemos que fazer escolhas e decidiu-se por ir ao Porto, estreia para alguns. Talvez pra o ano fique a outra parte, com direito a pic-nic. O que mais demorou no passeio foram as viagens, lentas e desconfortáveis. E o passeio foi o passeio dos pobres: comboio até Campanhã e depois São Bento; almoço por lá e descida à Ribeira que, sim senhor, é bonita de se ver e desfrutar. Apesar de ser suspeito, não tenho dúvidas que dos concelhos de Viseu, Resende é o mais bem plantado. O Douro, limpo, calmo e deslumbrante, dão uma beleza rara a estas terras rudes, de montanhas e giestas. Em relação á linha do Douro, falo dos comboios, claro está, é uma pena  a negligência de quem de direito. Como é que se pode promover uma região, como a do Douro, com estações tão mal cuidadas, comboios a cair de podres e sujos, muitas vezes com atrasos (o nosso foi com um

Um lanche e uma receita

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A tia Irene e o tio Domingos, de Feirão, convidam-me todos os anos a ir um dia merendar com eles. Por aqui diz-se que é para "sociar", que deve querer dizer socializar. E eu aceito com gosto. Mas há uns anos atrás marcou-se sobre a hora e a tia Irene, que tinha pouco pão em casa, fez umas fritas. Que saborosas! Perguntei-lhe como é que se faziam e a receita, disse ela, era a coisa mais simples de fazer: uns ovos, um "tchis" de farinha, sal e água. Depois é só fritar. Disse-me ainda que era o que se fazia para a merenda das vessadas, porque se faziam rápido e alimentavam. Tentei fazer estas fritas algumas vezes mas nunca me ficaram bem. Pensei eu que assim a olho a coisa nunca iria sair bem. Ontem lá foi o dia de merendar. E, entre outras coisas, lá estavam as fritas, gostosas como sempre. Lá gabei as fritas e lamentei-me de as minhas não saírem tão bem. "Então, senhor padre, disse-me ela, não se vai hoje daqui embora sem as ver fazer". E lá fizemos as f

Mulher bíblica

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" Uma mulher de valor, quem a poderá encontrar? O seu preço é muito superior ao das pérolas. O coração do marido nela confia e jamais lhe falta coisa alguma. Ela proporciona-lhe o bem e nunca o mal, em todos os dias da sua vida. Ela procura lã e linho e trabalha de boa vontade com as suas mãos. É semelhante ao navio do mercador, que traz os seus víveres de longe. Levanta-se, ainda de noite, distribui o alimento pelos da sua casa e as tarefas pelas suas servas. Ela pensa num campo e adquire-o, planta uma vinha com o ganho das suas mãos. Cinge fortemente os seus rins, e os seus braços têm sempre força. Ela sente que o seu negócio pros­pera, a sua lâmpada não se apaga du­rante a noite. A sua mão pega na roca, e os seus dedos fazem girar o fuso. Estende os braços ao infeliz, e abre a mão ao indigente. Não teme a neve para os seus familiares, porque todos eles têm roupa a dobrar. Faz para si belas cobertas, e os seus vestidos são de linho e púrpura. Seu marido é considerado nas por

Amoras

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"Já nada é o que era". Por aqui, na fonte ou no fim de Missa, que enquanto cá estou é às oito da manhã, ouve-se esta frase ou parecida a esta a respeito de tudo o que muda e não nos conformamos. Usa-se mais com o tempo, que ora está sol ora começa a chuva, mas também com outras realidades. As amoras são outra. No outro dia vinha de apanhar umas amoras para as minhas sobrinhas que estavam a chegar a Feirão para uns dias de férias. Já é uma tradição da nossa família: apanhar amoras para os mais pequenos. A minha sobrinha mais nova provou logo duas e parece ter gostado. Mas, andava eu a ver onde encontrar amoras e, como já nada é o que era, em pleno Agosto, as amoras ainda não estão no ponto. Já se deixam comer mas ainda precisam de sol para serem agradáveis. E já nada é o que era porque, era eu miúdo e, com outros miúdos e miúdas que cá passavamos férias, em Julho, já andávamos à procura das amoras e quase nem as deixavamos amadurecer. Agora não. O fogo do ano passado queimo

Até quando?

Férias em Feirão ou em Cotelo prestam-se a conversas formais e ás vezes nem tanto. Conhecemos as pessoas, vemo-las mais tristes e perguntamos porquê, perguntamos como vai a vida, outras pedem algum conselho ou indicação, outros aindafazem perguntas sobre as coisas de Deus e da religião. No outro dia perguntavam-me se as "Trindades" era a mesma coisa que as "Avé-marias". Lá expliquei que sim, que se pode chamar da mesma maneira, embora Trindades seja o mais bonito e adqueado. E na sequência deste "esclarecimento" dizia-me quem me perguntou que Feirão é das poucas fregusias portuguesas em que o sino ainda é tocado manualmente. De facto, para se tocar o sino em Feirão tem que se subir á torre e ter força para fazer dobrar o sino. Sinos, que são dois. E não é só tocar o sino para as Missas de Domingo oudias santos ou para casamentos ou funerais. Em concreto é mesmo tocar o sino a Trindades, ou seja, de manhã (este ano tem sido pelas 5.30h) e á noite (sempre d

Primeira feira de gado em Cotelo

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Divulgada e patrocinada, estreou-se hoje, na Veiga de Cotelo, a primeira feira de gado no dia 15 de Agosto. Durante o Verão há várias feiras de gado, quase todas elas com luta de bois no final. E neste dia feriado não havia. Por isso, lá se "inventou" esta feira, que de venda de gado deve ter sido pobre mas que foi rija na luta de bois. A ancestralidade destas feiras de gado fazem delas a tradição. Também eu, depois de duas celebrações de Missa e de um casamento em Lamego, me juntei a Cotelo para estar no final da feira e assistir às lutas. Aqui deixo uma fotografia da última luta do dia. Como registo.

Um dia de férias

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“Passa o tempo e com ele as nossas vidas”, diz o poema e tem razão. Em Feirão passa o tempo e com ele a vida do presente e a do passado. A vida de férias continua a ser, para mim, de trabalho: duas missas diárias e um trabalho grande que tenho de preparar para entregar proximamente na Congregação do Culto e Disciplina dos Sacramentos. Mas há tempo para tudo. Hoje, por exemplo, foi dia de almoçar com o Bispo da Diocese. Na passada sexta-feira, dia de São Domingos desafiei-o a vir almoçar hoje a Castro Daire com as Irmãs Dominicanas e o pároco amigo, P. Caria. Aceitou e lá fomos. O almoço foi simples, como se requeria, mas fraterno e animado. E cantado, que a Ir. Cistina, com os seus 96 anos, continua a dar ânimo à comunidade. Cantou-nos umas rimas, que eu não decorei, com pena, sobretudo a da sacristã, que muito nos fez rir. Regresso a lamego, para deixar o Sr. Bispo e comprar hóstias para a Missa (hoje descobri que também as fazem na Casa do Gaiato mas que só vendem a gente de confi

Festa de Feirão

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Estão a terminar as festas de Feirão. Grandiosas, como se lê no cartaz publicitário. O que mais me encanta em Feirão, nestes dias, é o passado. E, no dia da festa, a procissão que se faz no final da Missa. Mais que encantar é a emoção, das que me embargam os olhos quando, olhando para as pessoas, e colocando uma película que transformasse as cores em tons de cinza, quase se poderia dizer que era uma repetição de há trinta ou quarenta anos atrás. Porque tudo acontece como há mais de trinta anos. Se perguntamos aos mais antigos a resposta repete-se: “foi sempre assim” ou “desde sempre assim foi”. O que agora são quatro dias de festa eram antes dois, e isso é que não foi sempre assim. No antigamente o religioso dominava a festa: tríduo e confissões, com padres de fora. Os bailes ficavam reduzidos a dois. Era eu miúdo e moço, e lembro-me de haver baile numa das eiras do povo. De quando em vez, durante o baile, tinha de se regar a eira por causa do pó. Hoje, em Feirão, é diferente: con

Dia de São Domingos

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Que São Domingos, nosso Pai e Pregador da Graça nos dê a graça da pregação, cheia de Verdade, Compaixão, Misericórdia e Alegria. São Domingos, rogai por nós.

De cá ou de lá

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Cada vez que venho de férias sinto mais forte a divisão que há em mim sobre as questões de pertença. Ontem, quando estava a entrar no café de Cotelo, a conversa era esta: Já cá está o padre de Feirão. O que estava em frente respondeu: padre de Feirão nada. Ele é metade de lá e metade de cá. E eu continuei: nem de Feirão nem daqui. A ser, sou de Lisboa. Ora, se há uns anos era notório e sabido que eu pendia muito mais para Feirão, hoje a coisa não é assim tão simples. De facto, tenho tido o esforço de ser metade de lá e metade de cá. Que significa ir quase todos os dias a Cotelo, seja por missa, seja por visita a pessoas e família ou seja só para ir ao café. No ano passado correu um diz-que-disse que eu andava à procura de casa em Cotelo. Lá vinham algumas pessoas a dizer: Se o senhor padre Filipe vai para Cotelo deixa-nos para trás e não pode ser; não se esqueça que é de cá. E lá dizia eu: Para isso acontecer era preciso haver terreno e dinheiro para construir. Até lá… Acho

O começo das férias

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“ Feliz a margem que sabe a fonte ” é o final de uma estrofe de um hino que cantamos no convento nas memórias dos santos. E, sim, os santos foram aquelas margens que sabiam e queriam que Deus fosse a sua fonte. Mas esta frase aplica-se a eles e a muitas circunstâncias da nossa vida. Hoje aplico-a à minha chegada a Feirão. É um regressar às origens, quase como voltar a um lugar de referência na nossa vida, como se o Tejo, ao chegar a Lisboa quisesse voltar a subir o seu leito para ver a sua fonte. Vir a Feirão é isso mesmo: voltar ao colo que nos viu crescer, respirar aquele ar tão frio e fresco, o ar de sempre, beber nas fontes que incansavelmente continuam a refrescar as nossas sedes, falar às pessoas, cada ano um ano mais velhas, como é próprio dos que só se vêem de ano a ano. Todos iguais mais mais velhos. Vir a Feirão – e por acréscimo a Cotelo –, as berças como costumo chamar, é desligar do mundo corrente, das velocidades e agendas cheias, e entrar no remanso dos dias, com