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A mostrar mensagens de 2012

Dia Mundial da Paz para 2013

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Uma antiga tradição litúrgica da Igreja, propõe que na noite de Natal se cante o anúncio do Natal do Senhor. Depois de enumerar as várias datas dos vários calendários e de fazer as contas desde a criação do mundo, diz o texto que, quando Jesus nasceu, "todo o mundo estava em paz". A paz de que fala este texto era uma paz institucional, a paz do império. Vale a pena ler o recente livro do Papa sobre a infância de Jesus, no terceiro capítulo (p. 68), em que o papa fala da paz Augusti (paz de Augusto) e a paz de Cristo (pax Christi). E de fato, a palavra é a mesma, mas sabemos que têm origens diferentes. A paz do mundo é a que construímos aqui na terra, com pactos, apelos à não-violência e ao respeito pela dignidade humana e tolerância religiosa. Mas a paz de Jesus é uma outra paz. Não é incompatível com a de Jesus mas tem, para nós, uma origem diferente. A paz de Jesus vem do céu, vem de Deus. No evangelho são os anjos que anunciam a paz na terra. Dizem que o céu e a terra

Fim de ano - o meu programa

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Este é o segundo ano que passo da mesma maneira este último dia do ano. Aliás, tem vindo sempre a reajustar-se. A maia antiga celebração tem oito anos: começa às 19 horas, com a celebração da Missa, numa comunidade das Irmãs Missionárias Dominicanas do Rosário. A celebração é aberta às pessoas que vivem por ali, todos os anos as mesmas, faltando uma ou vindo outra que no ano anterior não pôde vir. Como dizem as Irmãs, "Já é uma tradição o nosso 31 de Dezembro". Depois da celebração, jantar com as Irmãs. Confesso que é dos jantares que mais gosto: simples, tranquilo e alegre. Este ano, como mudou a superiora mudou também a ementa: do peixe passou-se à carne. Trocamos informações, jantamos, não falta o espumante e um bocadinho de anis "para ajudar à digestão", dizem as Irmãs. No final do jantar entrego-lhes o Santo Protector. São as primeiras a receber. Amanhã, na Missa das 12h entregarei a quem vier à Missa. Terminado o jantar regresso ao convento. Se está bom

A família de Jesus

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A partir do momento em que Jesus diz aos pais "Porque me procuráveis? Não sabíeis que Eu deveria ocupar-me das coisas de meu Pai?", somos nós a nova família de Jesus. Não são os laços de sangue que nos ligam mas o próprio Deus. Jesus não devaloriza a estrutura tradicional das famílias mas realça que o Pai é mais que os pais. Não deixa de ser submisso aos pais, mas não esquece e faz lembrar a todos que veio para fazer a vontade do Pai. Jesus não despreza a sua família. Precisou dela. Não como lugar de conveniência mas como espaço de fé e conhecimento de Deus. Foi no seio desta humilde família que Ele cresceu em estatura, sabedoria e graça, não só diante de Deus mas também diante dos homens.

Boas Festas!

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    " Bendito o Senhor nosso Deus, que visitou e redimiu o seu povo " (Lc 1, 68)

Data a não esquecer

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Estou no Ramalhão a pregar o retiro mensal às Irmãs Dominicanas de Santa Catarina. A mensagem vai ser rápida. Só para assinalar o aniversário da aprovação da Ordem Dominicana há 796 anos. Naquele dia 22 de Dezembro, em São João de Latrão, o Papa Honório III assina a bula de aprovação escrevendo e pedindo que a Ordem seja de nome e de facto dos Pregadores. São Domingos vê assim reconhecido o seu desejo, inspirado por Deus, de fundar uma Ordem em que o Evangelho da Graça é anunciado em todo o mundo. Rezem por nós, para que nos identifiquemos cada vez mais com este carisma, e que a caminho dos 800 anos saibamos actualizar o desejo profundo de São Domingos da salvação das almas. (Imagem: P. Bresson, a Aprovação da Ordem Dominicana)

Senhor, olhai por nós

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Senhor, olhai o pobre e a lágrima da solidão. Senhor, olhai o grão sofrido à espera do Sol. A criação espera o Verbo de Deus. Que ao nosso desejo, enfim, se abram os céus! Senhor, o pão nos falta e à vida razões de viver. Senhor, à mesa do festim faltam os convivas. Que a força da Cruz seja arrimo dos dias. Que a tua presença em nós atice o amor! Senhor, a morte em nós cavou mil enxadas de abismo! Senhor, o mal curvou a vida ao peso do horror. Que a Cruz se incline e erga a todos do chão. Que desça o olhar àquele que o medo matou! Senhor, o frio é muito e a morte dos dias sem fim! Senhor, olhai quem espera o sol e a luz da manhã. Que a tua paz nos unja as mãos e as dores. Que ao fogo do sopro renasça um mundo que morre! Senhor, que o vosso Reino venha! (texto: fr. José Augusto Mourão, op; imagem: Felix Vallatton, Isaías)

Quase Natal

Depois de termos celebrado ontem o Domingo " Gaudete " (da Alegria), entramos hoje, dia 17, na segunda parte do Tempo do Advento. A liturgia densifica-se nas suas celebrações: as orações da Igreja falam-nos já da proximidade do Natal, começam também hoje as antífonas do O, em que cada dia cantamos na hora de Vésperas um atributo messiânico, pedindo-lhe que venha ao nosso mundo com as suas graças e os seus dons. As leituras da Missa também nos falam da vinda de Deus ao nosso mundo: normalmente a primeira leitura fala-nos da promessa do Messias e, no Evangelho, os acontecimentos antecedentes à Natividade de Cristo. Hoje, escuta-se no Evangelho a Genealogia de Jesus Cristo, na versão de São Mateus. O desenrolar dos nomes desde Abraão até Jesus - 42 gerações - fazem-nos perceber a humanidade de Cristo, Deus e Homem verdadeiro, que se entronca nas nossas vidas para lhes dar um novo sentido. Ele pertence à nossa história, e a nossa história sem Jesus não é tão feliz. Na litúrg

O orvalho leve da graça

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Venha o orvalho leve da graça desça sobre a terra a ternura; venha a mão que cura e protege dar à vida luz e calor. No deserto um grito ecoa: Dai a Deus a praça maior. Pastor de Israel que conheces as pastagens altas da dor; Fogo que incendeias a noite e os caminhos brancos do pão. Orvalho do céu, ó nuvem, desce sobre nós: Vem, Senhor. O deserto avança a secura mina o coração e a alegria; nem fogo nem pedra nós temos onde repousar do caminho. Somos terra exposta ao vento, grãos de areia, irmãos, da esperança. (fr. José Augusto Mourão, op)

Vem à terra dos homens

Vem à terra dos homens, Deus da Luz! Vem, que Te esperamos de coração exausto, em vigília de esperança, branca e fria. Vem não tardes! e abre as portas que estiverem cerradas. Entra na penumbra de nossas casas inundando-as com a frescura da tua brisa. Traz o sol novo da tua promessa e perdure o teu clarão irresistível a iluminar as dobras do nosso coração, a alisar as resistências da nossa vontade. Que invocando-te neste tempo róseo, seja o teu advento a bênção renovada, a aliança e o banquete, o ouro e a prata e o mel perfumado dos pobres, o leite dos que possuem saúde frágil, a boa notícia de última hora dos mais tardos. Vem habitar e transformar o nosso tempo de consumos e desvarios, Deus, que em Jesus Te revelaste, Pai, que no Filho reconhecemos e adoramos. (Eugénio Beirão)

Regresso a casa

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Acabaram hoje os trabalhos em Roma. Apesar de ser dia santo ainda tivemos de trabalhar esta manhã. Para trás ficam duas semanas em Itália, uma delas na Cidade Eterna, sempre com novidades. Tirei a tarde para fazer as despedidas. Ir a São Pedro (o Papa não estava, tinha ido à Praça de Espanha render a sua homenagem à Imaculada Conceição). Tinha pensado fazer umas compras mas sem sucesso: no Vaticano tudo fechado. Quando ia já a sair, e a passar diante de um dos portões de acesso ao Vaticano, mandaram-me parar: o Papa estava a regressar. Aproveitei e fiquei para o ver. O pouco tempo que fiquei à espera deu para pensar em algumas coisas sobre o papado, uma delas prática: sempre que o Papa sai faz-se uma procissão de policias, motos, carros e segurança tremenda. Um helicóptero a sobrevoar indica onde é que o Papa está. Nisto, enquanto esperava, um miúdo que estava ao meu lado, ao ver aproximar-se um táxi perguntou à mãe: Mamã, o Papa vem de táxi? Gargalhada geral. O Papa vir de táxi...

São Domingos esteve aqui

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Publicaram há uns anos, aqui em Santa Sabina, um roteiro dos " Milagres de São Domingos em Roma ". É, de fato, um roteiro e, como São Domingos não fez muitos milagres, fácil de percorrer. Das outras vezes que cá estive visitei os vários sítios onde esteve São Domingos. Mas faltava-me um: Santa Maria in Tempulo. Talvez dos primeiros sítios dominicanos. Um mosteiro de monjas que São Domingos transformou em dominicanas. Ou seja, num dos encontros de São Domingos com o Papa Honório III, este encarregou-o de reformar os mosteiros de Roma, promovendo a vida regular e de observância. No tal roteiro pode ler-se a pequena introdução a este lugar: " São Domingos esteve aqui . Desde 1218 a 1221 São Domingos visitou muitas vezes este mosteiro. A narração que iremos ler (depois da introdução aparecem os respetivos relatos) informa-nos abundantemente das relações deste mosteiro com a atividade de São Domingos. O aspeto maravilhoso ou milagroso da trasladação da imagem da Virgem par

Missões e missionários

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Andava a adiar este post. Não o texto mas o conteúdo. Há uns meses recebemos em Lisboa, no nosso convento, dois irmãos, um de Espanha e outro da Venezuela, que irão em Janeiro para Timor. Depois de 500 anos, os dominicanos voltam a este jovem país. Eles são da Província do Rosário, uma província da Ordem exclusivamente missionária. Tenho-me interessado por Timor e tenho pena que não haja um português que os possa acompanhar, pelo menos por um pequeno período de tempo. Paciência. Aqui em Santa Sabina voltaram a falar-me do assunto. Falei com um frade e uma irmã que estiveram recentemente em Timor, falámos do país, do seu (pouco) desenvolvimento, da presença dos e das dominicanas em Timor e vi muitas fotografias. Ontem fui almoçar ao convento da Província do Rosário, que está ubicado na mais importante e cara rua de Roma: Via dei Condotti. Não pensem que os frades se sentem mais importantes e sejam mais ricos que os outros. Aliás, quem passa na luxuosa rua nem se dá conta que há lá um

Cristo vem sempre depois

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Ontem a falha de internet no convento e a muita chuva que caiu sobre Roma desanimou-me na escrita sobre Florença. Com o tanto que vi e o que ficou para ver (na realidade só ficou por ver o museu de São Marcos e a igreja de São Lourenço), deu-me Deus a alegria de também estar onde pouca gente costuma entrar. Como ter a possibilidade de ter visto esta pintura, da qual tirei fotografia, de um Cristo tão diferente dos Cristos de Fra Angélico. Pensei que seria das suas primeiras obras. O frade que me fez a visita explicou: O Fra Angelico gostava de saber para onde eram os quadros: se eram para frades eram mais simples (só o essencial), se era para igrejas ou lugares públicos, pintava com mais pormenores. Esta motivação não era porque não gostasse de pintar para os frades mas, continuou, porque os frades não precisavam de tanta catequese. De Florença fica-me na memória a vida humilde e reformadora de homens como Fra Angélico ou Savonarola, ali entregue à morte, ou ainda de Santo Antonino,

Dia de visitas

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(Crónica do dia 1 de Dezembro. Os problemas informtáticos impediram-me de colocar o texto online no próprio dia) Hoje passei o dia praticamente fora de casa. A comunidade de Santa Sabina esteve de retiro neste dia. Fiz tudo o que tinha projetado. Comecei por visitar as catacumbas de Santa Priscila. Para mim, mais emocionantes que as de São Calisto. Menos gente, menos confusão, mais calma na visita de algumas centenas de metros dos muitos quilómetros de caminho e lugares de sepultura. A senhora dizia cerca de 4º mil cristãos estiveram lá sepultados. Durante a visita, feita em inglês, enquanto a senhora fazia o seu discurso, eu ia pensando na força e na teologia da iconografia funerária. Certamente está estudada mas, acreditar na vida depois da morte e recapitular a vida de cada um à luz de Cristo, deve ser das mais belas experiências cristãs. Impressiona ver aquelas imagens que só vemos na net ou nos livros: o bom pastor, a adoração dos magos, os três jovens no meio das chamas,

Advento 2012

Advento. Tempo de esperas e recomeços. Entre as velas do caminho e as musicas em tons menores despertamos da noite ou saímos de um nevoeiro para Entrarmos no mistério que se revela a quem traz aquecido o coração. Advento. Tempo de levantar as cabeças vigiar e orar como nos pede o Mestre. E nao olhar para o umbigo para o desassossego dos problemas, de cabeça curvada, a cismar no que nostraz dispersão. Advento. Tempo de ouvir o segredo de Deus de se deixar queimar pelo seu fogo iluminar pela sua luz ou encher pela sua presença. E entrar na gruta onde Deus se fez um de nós inocente, puro, todo dado, para a nossa salvação. Vem, senhor Jesus.

De volta a Roma

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Regressei ao ponto de partida: Roma. É como diz o ditado: todos os caminhos vão dar a Roma. Para trás ficou Nápoles. E de Nápoles ficam as saudades da comida caseira/conventual, ou seja, a que aparece e não a que se escolhe. A cidade é bonita mas até chegar à beleza de Nápoles tem que dar muitas voltas. E não se decidem a tomar medidas eficazes para combater o lixo. Dá má impressão a quem está de visita. Mas sim, regressei. Como sempre, Videre Petrum: ver a Pedro. Não a quem Pedro é mas ao que Pedro significa. O papa estragou-me os planos para amanhã. Queria estar na abertura do Advento, nas Vésperas presididas por ele, mas não há entradas disponíveis para o povo: tudo reservado. Paciência. Por aqui se comprova que se pode vir a Roma e não ver o para. Vai sendo o meu caso. Parecia que hoje, em Roma, nada dava certo: não tinha entradas para amanhã, não se podia visitar toda a basílica de São Pedro por causa de amanhã… acabei por fazer uma coisa que desde a primeira vez estava p

O Vesúvio e o dilúvio

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Cá estou eu em Nápoles. Na verdade, fora de Nápoles. O grande convento de Madona Dell‘Arco fica já fora da cidade, e até, juridicamente, a outra diocese. Dois dias para visitar a cidade. E o que se aprende quando se é conduzido por gente destas regiões. Ontem levaram-me a ver o centro da cidade: Il duomo, a igreja do convento de San Domenico Maggiore, e mais outras igrejas importantes. E passear por umas ruas estreitas em que o comércio é quase exclusivamente dedicado ao presépio. Pois é, parece que aqui em Nápoles os presépios são muito importantes. Quase uma ofensa não saber isto. Lá me redimi, mostrei muita importância a esta tradição. E, de facto, nas ruas quase não se consegue andar com o movimento e as bancas com as peças para o presépio. Na Catedral montaram um com o cardeal de joelhos a adorar o Menino; nas ruas vêm-se á venda figuras públicas em terracota, inclusivamente o papa. Tradições. Este convento é um grande convento. Atualmente não poderia receber nenhum Capítul

Um dia de viagens

Duas viagens logo no primeiro dia: Lisboa - Roma e depois Roma Nápoles. Apesar de esta primeira semana não estar muito bem definida, a ideia é viajar. Visitar conventos. Embora não se trate de um passeio, acaba por ser e, para mim, com novidade, porque, de Itália, só conheço mesmo Roma. A viagem para Roma foi ótima. Um amigo meu, piloto, deu indicação ao colega que eu ia no voo dele. A mim mandou-me um sms a dizer que me apresentasse ao comandante. Assim fiz. Convidou-me a visitar a cabine de controlo, que aceitei e agradeci. Fui para a aterragem. E é uma outra visão da coisa. Eu que sempre temo e tremo nas descolagens e aterragens, dali, vendo bem onde se vai aterrar e sentindo tudo controlado, nem se dá conta. Fico-lhes verdadeiramente agradecido pela gentileza que toda a tripulação teve para comigo. Chegado a Roma, ir ao convento deixar a mala e trazer uma mais pequena para estes dias. Acabei por não estar com ninguém porque tinha ainda uma outra viagem, de comboio, para Nápo

Roma, lá vou eu

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Mais uma ida a Roma. E por mais tempo. Há seis anos, na minha primeira ida a Roma, por esta altura, mandaram-me deitar uma moeda na Fontana de Trevi para poder um dia voltar. Ou a moeda foi de dois euros ou a atirei com muita fé, o que é certo é que agora, pelo menos duas vezes por ano, lá vou visitar a Cidade Eterna. A mim as viagens custam-me sempre. O fazer as malas, pensar em tudo o que é preciso levar... É um stress. Ainda não fui e já tenho vontade de regressar. Mas tem que ser e o que tem que ser tem muita força. Vou à reunião da Comissão Litúrgica da Ordem. Regresso em breve. Até lá, sempre que possa, tenha tempo e net, vou passando por aqui para deixar alguns textos. " Viajar, num sentido profundo, é morrer. É deixar de ser manjerico à janela do seu quarto e desfazer-se em espanto, em desilusão, em saudade, em cansaço, em movimento, pelo mundo além ". (Miguel Torga)

Dominus flevit - o terror da guerra e das lágrimas de quem sofre

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Se esta imagem o arrepia e comove é bom sinal. É sinal que ainda tem sentimentos e que a violência não leva a lado nenhum. Se as lágrimas lhe vieram aos olhos ou correrem pela cara, não pense que é caso único. Também o Senhor chorou sobre Jerusalém. E não desvie o rosto. Estas crianças mortas há dois dias merecem a nossa compaixão. Hoje, quem for à Missa, ou leia o evangelho do dia vai deparar-se com esta passagem, que eu tiro da bíblia dos capuchinhos por ser mais fiel à tradução do que a tradução litúrgica: " Quando se aproximou, ao ver a cidade (de Jerusalém), Jesus chorou sobre ela e disse: «Se neste dia também tu tivesses conhecido o que te pode trazer a paz! Mas agora isto está oculto aos teus olhos. Virão dias para ti, em que os teus inimigos te hão-de cercar de trincheiras, te sitiarão e te apertarão de todos os lados; hão-de esmagar-te contra o solo, assim como aos teus filhos que estiverem dentro de ti, e não deixarão em ti pedra sobre pedra, por não teres reconhecid

Onde é que está o Natal?

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Esta tarde comecei a escrever um texto para este blogue. O título era feroz: O enjoo do Natal - efeitos do consumismo. Escrevi, escrevi, a cascar na sociedade laica que se aproveita do Menino Jesus e do seu nascimento para que comprem e ajudem à crise... É inconcebível que a "religião" de consumo nos arraste, aos que celebramos o Natal depois do dia 25, a ter que levar com árvores de Natal, luzinhas e enfeites a partir de 10 de Novembro! Mas, como digo, escrevi e continuei até que decidi apagar tudo. Não valia a pena estar a bater na mesma tecla. Até que, no final de uma Missa que celebrei no final da tarde, um senhor se despediu de mim, olhando para o relório, para o quadradinho da data e me disse: "Obrigado, senhor padre, prazer em conhecê-lo e bom Natal. Sim, com esta história do consumismo já podemos a estas alturas dizer bom Natal". E lembrei-me do que tinha escrito e apagado... Não vou reproduzir, até porque, foi com convicção que apaguei o que escrevi. M

Entre a greve e o ficar calado

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Estive o dia todo a pensar se escreveria sobre a greve que hoje aconteceu por toda a Europa. No Hospital perguntaram-me se eu não fazia greve. Respondi que não. Que o meu sindicado não tinha feito convocatória. Apesar de ser uma resposta verdadeira era meio a brincar. E não fui às manifestações. Nem à da CGTP (tenho uma vaga ideia de ter ido a uma única, pelos finais dos anos 70, às cavalitas do meu pai, e de ter sido engraçada) nem à dos estivadores. Há quem faça greve e quem a não faça, pessoas que a defendem e que a atacam (o Primeiro Ministro elogiou quem foi trabalhar e, tanto ele e o seu séquito, como o Presidente da Republica, não fizeram greve, este último até prestou declarações, imagine-se, a dizer que hoje trabalhava). Ora, as greves só querem dizer uma coisa: que as coisas não estão bem. E fazer greve é melhor que fazer birra ou assobiarpara o lado. E, mesmo para aqueles que dizem que as greves não adiantam nada (concordo em parte), o certo é que é um direito que os

Em dia de São Martinho

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Não pode passar o dia 11 de Novembro se que se fale em São Martinho. Cada vez mais longe dos tempos em que se matava o porco e provava o vinho, só nos ficam as castanhas e o frio e, em alguns anos, o sol de inverno, conhecido como o verão de São Martinho. A vida de São Martinho, muitas vezes resumida ao episódio do seu encontro com o pobre, é um exemplo a imitar. Nos antigos livros dos santos estava escrito na vida de São Martinho que ele foi o primeira santo não-mártir, ou seja, foi santo pela sua vida e não por ter sido morto por causa de Cristo. Na Idade Média era celebrado com a mesma dignidade dos Apóstolos, pela sua grande tarefa do anúncio da Evangelho nas terras da Gália. Estamos, portanto, diante de um homem que passou a vida fazendo o bem. Ainda catecúmeno (um catecúmeno é um adulto que se está a preparar para o batismo), percebeu que ser cristão implica o próximo. Por isso, ao ver aquele pobre, nu e com frio, não hesitou em cortar metade da sua longa capa, para minora

São João de Latrão e os Dominicanos

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Hoje, todas as igrejas do mundo se unem à igreja-mãe no aniversário da sua dedicação. Esta igreja-mãe não é a basílica de São Pedro. É a de São João de Latrão. Essa é que é a mais importante de todo o mundo e daí lhe vem o título de " mãe de todas as igrejas da cidade e do mundo ". Por isso nos alegramos com esta basílica, catedral de Roma, onde o Papa tem a sua Cátedra e onde vai algumas vezes, em grandes celebrações diocesanas como a Missa crismal de quinta-feira Santa, ou no dia do Corpo de Deus. Nós, dominicanos, temos uma grande ligação afectiva com esta basílica. A vida de São Domingos passa também por São João de Latrão. Por um lado, porque no século XIII os Papas vivam lá e, por isso, para São Domingos, ao querer aprovar a sua Ordem, tinha que lá ir. Por outro lado, perto de São João de Latrão fica o convento de São Sixto, convento das monjas dominicanas por ele fundado, onde São Domingos ia frequentemente e, segundo os relatos da sua vida, fez alguns milagres.

A morte como regresso a casa

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A Ordem Dominicana comemora hoje os seus membros falecidos. De fato, ao longo do ano lembramo-nos deles várias vezes. Nas nossas Constituições diz-se mesmo: “ Os irmãos guardem uma fiel recordação dos seus predecessores na família de S. Domingos, que os ajudam «com o exemplo da sua vida, a companhia da sua amizade e com a sua intercessão». Prestem atenção às suas obras e à sua doutrina e dêem-nas a conhecer. E não faltem os sufrágios pelos irmãos defuntos ”. Das muitas celebrações que havia na tradição para com os defuntos, desde o De profundis ao menos uma vez ao dia às missas de sufrágios, comemoramos atualmente três aniversários mais gerais, que provêm do século XIII: no dia 8 de Fevereiro lembramos os pais e mães dos irmãos e irmãs da Ordem, 5 de Setembro os amigos e benfeitores da Ordem e 8 de Novembro, que hoje calha, todos os defuntos da Ordem. Se os lembramos é exatamente para percebermos que eles não foram irrelevantes, banais, na Ordem. As leituras que ouvimos dizem

Todos os santos num só dia

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Nós, dominicanos, celebramos hoje uma festa particular: a festa de todos os Santos da Ordem. Não se trata de uma festa à parte da que celebrámos no passado dia 1. É mais que isso. Por ser uma festa "interna", esta comemoração tem tons específicos que fortalecem a nossa espiritualidade. Antes de mais, são santos e santas que se santificaram nesta Ordem Dominicana e que, ao mesmo tempo a santificam. A origem é a mesma: Jesus Cristo; o modo é específico: o espírito de São Domingos. Frades, Monjas, Irmãs e Leigos que são da nossa família e que hoje lembramos de um modo especial desde o mais conhecido até ao mais discreto. Todos eles, porque agradaram a Deus e aos irmãos, estão agora junto de Deus a interceder por nós. Depois, esta festa diz-nos ainda outra coisa: entre os santos não existem uns mais santos que outros. Mesmo que as nossas devoções e preferências se inclinem para um ou outro, e até mesmo que a própria Igreja os tenha catalogado como santos, beatos ou veneráv

Claridade

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De minha vida não sei senão que sou feliz. Lá o que fui ou fiz antes de ser o que sou, ai!, tudo me passou: só sei que sou feliz. E que me importa a cor das águas que passaram? Estas águas me bastam que vão correndo agora. Fosse o que fosse, a minha passada vida incerta (feliz ou desgraçada), foi uma porta aberta pra esta vida clara. Por isso eu a bendigo, a minha vida ida. Talvez as rosas nela tivessem bem mais cor, o Sol mais Luz e Amor, e música mais bela a viração, então; mais verde fosse o Mar... - Mas que vale o que foi, se, quanto vejo ou provo, tem tudo um gosto novo?... Se nada cansa ou dói?... Se as rosas, para mim, nasceram mesmo agora, e as aves e o Mar?... Se o Sol aconteceu ao mesmo tempo que eu olhei à minha roda e vi o meu presente a ser-me a vida toda?... (Poema de Sebastião da Gama)

A morte chega cedo

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A morte chega cedo, Pois breve é toda vida O instante é o arremedo De uma coisa perdida. O amor foi começado, O ideal não acabou, E quem tenha alcançado Não sabe o que alcançou. E tudo isto a morte Risca por não estar certo No caderno da sorte Que Deus deixou aberto. (Fernando Pessoa) (Imagem: Arnold Böcklin, a ilha da morte, 1880)

Ossos de Santo

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Huesos de Santo é o que se come por estes dias em Sevilha. São doces, com formas de ossos, como por exemplo as nossas tíbias, que se comem para festejar o dia de todos os santos. Vendem-se em quase todas as pastelarias, embora os mais conhecidos sejam os da Campana, com montra alusiva e tudo, ou os do Corte Inglés, que tem sempre de tudo. Hoje, aqui no convento, os ditos huesos foram regados com vinho do Porto, que trouxemos de Portugal. Quando venho a Sevilha, e tenho tempo livre, dou sempre as minhas (mesmas) voltas: ir à catedral, à missa canonical, em latim, com os ofícios e órgão. Depois passear pelas mesmas ruas, as de sempre, parando aqui e ali, entrando numa loja ou numa igreja, recordar o que não consigo esquecer. E estar no convento. Sentir-me em casa, à vontade, falando dos assuntos da mesa, hoje ao jantar de um filme/documentário que se estreou aqui no Convento: lo conocido por conocer. Um filme de promoção vocacional, que nasceu da ideia dos frades mais novos, de gr

Sevilha, mais uma vez

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Estou de partida para Sevilha. Mais uma vez. Sevilha não me cansa. É sempre com prazer e alegria que regresso à cidade das maravilhas onde vivi um ano, no meu noviciado. Vou a acompanhar o P. Provincial, que tem lá uma reunião de provinciais. Pela minha parte, aproveitarei para revisitar os sítios que mais gosto. No dia de todos os Santos, estaremos na celebração da tomada de hábito dos quatro noviços das províncias de Espanha. Parto num dia importante para o convento e, emocionalmente, para mim: o sétimo aniversário da dedicação da igreja do Convento. Emocionante pelo que se construiu como beleza arquitetónica e pelo que se constrói pela beleza da comunidade que aqui se tem vindo a formar e também pelo número redondo: sete anos. Na bíblia, o número sete é o número da perfeição. É dia de dar graças a Deus por esta sua casa onde a Igreja se reúne para partilhar a sua fé, escutar a sua palavra e celebrar os seus sacramentos. Se puder escrevo desde Sevilha. Orate pro me.

Lágrimas de Nossa Senhora

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A paróquia de Marvila inaugurou, há poucos meses, no seu centro paroquial, um jardim bíblico. Visitei-o há um mês, com surpresa pelo bonito que está e bem cuidado, graças à D. Elvira, que é quem se ocupa dele. Editou-se também um pequeno opúsculo com a indicação das várias árvores e plantas. A Dona Elvira fez-me, na altura, uma visita guiada pelas videiras, trigo, palmeiras, oliveiras e roseiras, figueiras com bons figos, que depois são vendidos e o resultado da vesnda reverte para as obras da igreja. E mostrou-me um pequeno arbusto que tem por nome "lágrimas de Nossa Senhora". São umas bagas cinzentas das quais se podem fazer terços. E ela fá-los. Sem qualquer lucro, vende-os a seis euros e o dinheiro reverte igualmente para as obras da igreja. Pedi-lhe um na altura mas ela disse-me que me oferecia, mas já com as novas bagas, que se poderiam colher em meados de Outubro. Ontem chegou-me às mãos. Um terço feito com lágrimas de Nossa Senhora. A primeira vez que passar estas

A oração Colecta da Missa

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A primeira oração das Missas tem o título de Colecta. Chama-se assim porque é a oração do presidente da celebração que recolhe as orações dos que estão a celebrar a Missa. No Missal vem a indicação de que entre o Oremos e a oração propriamente dita deve haver um momento de silêncio para que cada um, no seu coração, faça a sua oração a Deus. Depois, então, o presidente faz a colecta das orações com a oração que vem indicada no Missal. A oração colecta deste 30ª semana do Tempo Comum pede a Deus que nos aumente a fé, a esperança e a caridade porque para merecermos alcançar o que Ele nos promete, devemos amar o que nos manda. É uma oração pequena, mas que pede humildemente a Deus aquilo que só Ele nos pode dar: a fé, a esperança e a caridade. Nesta semana, como já escrevi, preguei um retiro sobre a Fé. Não me fiquei só na fé porque precisamos também da Esperança e da Caridade para que a nossa fé seja, perfeitamente dom e virtude. Ontem fui pregar uma recoleção (dia de retir

Um dia que podia ter passado despercebido

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Hoje é um dia importante da minha vida espiritual e dominicana: faz hoje 14 anos que tomei hábito, no convento de São Tomás de Sevilha. Não me lembrava da data. Mas, uma amiga, bem cedo me lembrou. Enviou-me um email com o título "Um dia especial na vida do fr. Filipe". Confesso que o abri com curiosidade não tendo associado o mail à efeméride. Fiquei contente com o mail e com o lembrete. Já lá vão 14 anos. Este dia, que iria certamente passar despercebido aqui em Fátima, e até para mim, acabou por  ser um dia comemorado. Pela minha parte, antecipei a oferta e um santinho de São Domingos que ia entregar no fim do retiro. Mas as minhas queridas Noelistas trataram de arranjar um bolo comemorativo. Depois do jantar lá me fizeram esta surpresa, bem como a oferta de paramentos para os dominicanos que, em Janeiro próximo, irão para Timor. Elas são queridas não só pelo bolo mas pelos detalhes, pela dedicação, pela bondade, pela simpatia, pela alegria e pela naturalidade e dis

De novo em Fátima

Cheguei esta tarde a Fátima. Venho pregar um retiro de três dias às minhas queridas Noelistas. Se não é já o quarto ano é, de certeza, o terceiro. As instalações fazem-me lembrar os tempos idos do Seminário de Penafirme. Não é queixa nem crítica nem nostalgia. É só sensação. O tema do retiro foi encomendado: "O ano da fé". Uma vez pediram a um padre que fosse pregar um retiro a uma comunidade. Que ele lhes falasse da fé, que a superiora achava que as irmãs andavam fracas de fé. O pregador passou os dez dias de retiro e ler-lhes o Catecismo! Eu não vou ser tão radical mas vou fugir da tentação de falar da fé teórica. Há perguntas que nos temos de fazer: Que seria da fé sem a esperança e a caridade? Que seria da fé sem obras? Como caminhar à luz da fé? Que exemplos de fé podemos ver na História dos crentes? Vai ser por aqui que me vou mover. Assim Deus me ajude, como diz Sao Tomás de Aquino, na sua oraçã o ao Espirito Santo, a obter a salvação das almas e a minha própria s

Noites sem nome

Noites sem nome, do tempo desligadas, Solidão mais pura do que o fogo e a água, Silêncio altíssimo e brilhante. As imagens vivem e vão cantando libertadas E no secreto murmurar de cada instante Colhi a absolvição de toda a mágoa. (Sophia de Mello Breyner Andresen)

Santo Inácio de Antioquia

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A Igreja celebra hoje o martírio de Santo Inácio de Antioquia. E pelas cartas que escreveu, sobretudo a do Oficio de leituras, que nos é oferecida hoje na Liturgia das Horas, gostava de falar da relação que ele faz entre o martírio e a Eucaristia. Todos sabemos que o mártir é aquele que dá testemunho. A palavra mártir não significa aquele que sofre mas sim aquele que testemunha. E, para nós, cristãos, o mártir é aquele que testemunhou até ao fim, o que se entregou até ao limite, por amor a Cristo e ao seu Evangelho. Santo Inácio escreve as suas cartas a caminho de Roma, a caminho do seu martírio. Um dos fortes apelos é à unidade dos cristãos. É uma constante. E, para Santo Inácio, esta união é realizada de modo perfeito pela e na celebração da Eucaristia. Na carta aos Filadélfios, exorta-os a tomar parte numa só Eucaristia, porque também é só uma a carne de Jesus Cristo, um cálice para a união com o Seu sangue, e um altar, com o bispo que é o garante da unidade eclesial. A E

Aonde os caminhos nos levam

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Já em Lisboa, a curar-me de duas grandes bolhas que me acompanharam ao longo dos meus cinco dias de caminhada a pé para Fátima. Teria sido mais interessante fazer uma pequena crónica em cada dia. Mas, ainda assim, deixo aqui algumas notas sobre estes dias a pé.   1. No primeiro dia fiz 27 km. Lisboa-Vila Franca de Xira. De mala às costas, comecei na estação do Oriente, percorrendo o primeiro dia, as indicações do "Caminho do Tejo". Ir acompanhando o Tejo, na medida do possível, dá-nos a frescura e tranquilidade próprias de uma manhã. À minha frente um frade franciscano conventual, anónimo como eu, lá vai também trilhando o mesmo caminho. O Tejo, o trilho do rio Trancão são ambientes para rezar Laudes e o Rosário. No fim da caminhada tempo para descansar as pernas e ver as amigas bolhas. No final da tarde, Vésperas, em união com a Igreja.     No dia seguinte, segundo troço: Vila Franca de Xira-Cartaxo. São 32 km. Os pés doem, as bolhas fazem-se notar, mesmo co