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A mostrar mensagens de 2016

Bom e Feliz Ano Novo

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Nossa Senhora com o Menino Jesus a dar os primeiros passos. Termina 2016 com as suas alegrias e tristezas, angústias e esperanças. Um ano difícil, mas com a esperança de assumir as dificuldades como desafios e nunca como derrotas. E, como em tudo na vida, o novo ano que já provoca dores de parto, herda o que ficou por fazer, mas abre-se à novidade. Uma novidade cheia de luz, alegria e paz. Peço hoje a Deus a abertura do coração para acolher a novidade do novo ano. Se Deus estiver nele, grandes progressos faremos, na conquista pessoal e no acolhimento do outro. Bom ano de 2017!

Presépio incompleto

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Falta alguém no presépio. Conto as figuras, da pequena ovelha ao Menino Jesus Sete, oito, nove, até onze E incluo a estrela com a sua luz. Falta alguém no presépio. O Menino nasceu, foi visitado e adorado, Trouxeram prendas e calor, E grandes arcas de amor. Falta alguém no presépio. No luar da noite fico a pensar no Menino que nasceu, Faz frio lá fora, a neve vem mansa. Entretanto lembrei-me: quem falta sou eu.

As esperas por dizer

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Começa hoje, de forma simbólica, a novena do Natal. Semana maior, para uns (erradamente, porque a semana maior é a semana Santa), semana do Ó, por causa das antífonas, que até vieram a dar uma história engraçada na liturgia. No antigo calendário, no dia 18 de Dezembro celebrava-se a memória de nossa Senhora da Expectação. Tem outros títulos, como a Senhora da Encarnação, do parto (começam também as Missas do parto)... mas o primeiro título era o oficial. Da expectação. Que significa? Nossa Senhora da espera ou das esperas. Simbolicamente, quer-se celebrar os últimos dias da gravidez de Nossa Senhora, uma alegria ainda incontida, como as esperas e as alegrias de quem vai ser mãe. Na véspera, dia 17, começavam liturgicamente uma série de antífonas, que se chamam do Ó, por começarem por esta interjeição. No ano passado tive a possibilidade de deixar neste blogue uma pequena meditação para cada dia. E foi das pessoas ouvirem os monges a cantar estas antífonas que nasceu a invocação de N

Dar lugar a Deus

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Inaugurou-se, hoje, no Vaticano o presépio e acenderam-se as luzes da grande árvore de Natal. Eu, porque estava em outros afazeres, cheguei meio minuto antes de apagarem as luzes. O Papa não esteve na cerimónia mas recebeu esta manhã os que estiveram envolvidos quer na construção do presépio quer no enfeite da árvore. E, com palavras simples, agradeceu e disse isto, que acho que todos nós deveríamos ter presente nas nossas casas: " O presépio e a árvore transmitem uma mensagem de esperança e de amor, e ajudam-nos a criar o clima natalício favorável para viver com fé o mistério do nascimento do Redentor, que veio ao mundo com simplicidade e mansidão. Deixemo-nos atrair, com a alegria das crianças, diante do presépio, porque lá compreende-se a bondade de Deus e contempla-se a sua misericórdia que se fez carne humana para enternecer o nosso olhar. " Nada de transcendente mas não deixa de ser uma bela reflexão a caminho do Natal.

P. Congar e a liturgia

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Não sei se há algum estudo académico ou literário sobre esta faceta do P. Congar. Um frade incontornável na Igreja do século XX e também na Ordem, mesmo se sofreu alguma coisa antes do Concílio, fosse por pressão do Vaticano (Pio XII) fosse por parte da Ordem, que o queriam silenciar. Uma coisa é certa: o P. Congar mostrou aos que se achavam na verdade que poderiam estar a ser injustos para com a Verdade. De tal modo que o Concílio lhe dará razão e o Papa João Paulo II fá-lo-á cardeal, já doente, no fim da sua vida. Voltando ao tema. Não sei se há algum estudo sobre a relação do P. Congar com a liturgia. Mas, nestes dias de trabalho, em que me coube juntamente com o secretário fazer uma "informatização" do conteúdo dos arquivo da Comissão, encontrei, por acaso, uma carta do P. Congar ao então Mestre da Ordem fr. Vicente de Couesnongle sobre a aprovação do primeiro livro litúrgico da Ordem, aprovado depois do Cocílio. Trata-se de um pedido que o Mestre da Ordem fez a

Uma das sete colinas

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Tal como Lisboa, Roma também tem as suas sete colinas. Uma delas, a que está mais a sul, é a do Aventino, onde está o convento de Santa Sabina, onde estou nestes dias. Este bairro, que desde a Antiguidade foi sempre considerado dos mais "ricos", sempre foi um bairro calmo, em que o movimento se faz praticamente para ir ver a vista da cúpula de São Pedro. No vale do Aventino está o famoso Circo Máximo e, do outro lado, outra colina, onde está uma outra nobre colina, a do Palatino. Voltando a esta colina, ela tem quatro basílicas: a de Santo Anselmo, a mais recente e onde está o grande centro de estudos em liturgia, a de Santo Aleixo (San Alessio), cuja história é comovente mas que não cabe neste espaço, a de Santa Sabina, uma cristã romana cuja basílica se construiu sobre a sua casa, e Santa Prisca, ou Priscila, uma cristã que, segundo a tradição foi baptizada por São Pedro, e de quem São Paulo fala em várias das suas cartas. Era uma veneranda cristã que recebia a Igreja na

As esperas

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Um ditado diz que quem espera sempre alcança mas um outro não ilude: quem espera desespera. E aqui estou eu, no aeroporto de Lisboa, à espera de um avião que me levará a Roma mas que já vai partir com atraso. O aviso chegou ao meu telemóvel tinha eu acabado de sair de casa. O ambiente é calmo, apesar de tudo isto parecer um centro comercial. A música de fundo demasiado mexida para estas horas da manhã, as lojas de marca vazias, as do galo de Barcelos, que agora se tornou o ícone de Portugal, vão tendo algumas pessoas à procura de vinho do Porto ou de pastéis de nata... E movimento. Pessoas para trás e para a frente, com malas e sacos, casacos, e até um senhor com um grande guarda-chuva. Na minha mala de mão vai só o portátil e uma pasta com documentos de trabalho. Mais uma vez os trabalhos de Roma, da comissão litúrgica a que presido. Aqui estou eu, sentado numa cadeira de espera, tentando não desesperar e querendo Roma alcançar. 

É já amanhã

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Três encontros

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Pelo que de diferente foi este dia de sábado, aqui deixo uma partilha de três encontros com pessoas e contextos diferentes mas enriquecedores: 1. Hoje, dia 19 de Novembro, é dia importante para as Irmãs Dominicanas Missionárias do Rosário. Hoje celebram a vida do seu fundador: Monsenhor Rámon Zubieta. Creio que mesmo entre nós, dominicanos, pouco se sabe deste admirável frade dominicano, que foi missionário primeiro nas Filipinas e depois no Peru, foi bispo de uma região que abarcava a região de Urubamba, com muita selva por descobrir e evangelizar. E foi fundador, juntamente com a já beata Ascensão Nicol. Fui de manhã celebrar com elas e, na homilia, fiz um zoom destas três vertentes de Mons. Zubieta: Dominicano, Missionário e Bispo. Ao olhar para este Homem de Deus vemos que já no século XIX se vivia o que agora é programa da Amoris Laetitia e de outras dioceses: o sonho missionário de chegar a todos. Mons. Zubieta abriu o caminho deste sonho, envolvendo-se muito na vida das pes

Recebestes de graça, dai de graça

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Com alegria recebi o último livro de homilias para o Ano A. É um fim de um ciclo, foram três anos a escrever e rever textos e concordâncias, numa tentativa de melhor acolher e pôr em prática a Palavra de Deus que a liturgia nos oferece. Também com alegria que a primeira apresentação se fará já, de hoje a oito dia, em Lamego! Grande acolhimento me têm feito e que só posso agradecer. Igualmente com alegria decidi oferecer o lucro dos meus direitos para a Ajuda de Berço, uma pequena migalha para ajudar a construir uma nova casa para acolher crianças abandonadas com doenças com cuidados continuados e paliativos . Aqui fica o convite para quem possa lá ir.

Como cantar a graça?

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Neste dia em que cumpro 41 anos de idade, faço minhas as belas palavras poéticas do hino que cantámos esta manhã na oração de Laudes. Palavras do meu saudoso confrade fr. José Augusto Mourão e que tão bem me souberam logo de manhã: Um dia novo nos acorda, oferta surpreendente: Senhor, em tuas mãos entregamos dia novo, promessa nova. Maravilhados estamos das obras que criaste; Senhor, por oferenda apenas temos a certeza do teu amor. O gosto é grande de viver em Ti e nos irmãos; Senhor, não temos outras iguarias senão fome do teu amor. Como cantar a graça como cantar o dia; Senhor, se não bater o coração na esperança do Reino a vir. Um dia novo nos visita, um dia que criaste; Senhor, que o Filho em nós leve a fim a vitória da Cruz.

Os ícones de Deus

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Amigos, sois o ícone de Deus, o Seu manifesto, a Sua imagem, a Sua visão. A função do ícone é deixar vislumbrar Aquele que é intangível, provocar o desejo de O conhecer, transfigurar o real e colocar-lhe no meio a surpreendente luz do totalmente Outro. Amigos, sois o ícone de Deus, vós o desenhais com a carne e o sangue, com o suor e as hesitações, com as palavras e os gestos, com as recusas e as revoltas, com o amor e os beijos, com o carinho. Sem fingimentos nem mentiras, sois o ícone de Deus. Não vos apresseis! Precisa-se uma vida inteira para o pintar, tão minucioso é o cuidado que requer. Para o conseguir, é preciso contemplar muitas vezes o Modelo, até que na vossa face transpareça o Seu Rosto. (Ch. Singer)

No prelo

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Acabo de entregar as provas finais do terceiro e último livro de homilias referentes ao Ano A. O atraso foi muito devido ao incêndio e aos trabalhos que me tem dado de acompanhamento das obras. Mas o importante é que, agora, é só corrigir as gralhas e colocar na máquina. O título será: "Recebestes de graça, dai de graça", com o prefácio do meu Mestre da Ordem, que teve a amabilidade de mo fazer, com os lucros a reverter para a nova casa da Ajuda de Berço. Ainda não há data de apresentação porque depende agora da impressão do livro mas ficará a cargo do meu confrade e amigo fr. José Manuel Fernandes. Assim se acaba uma trilogia de homilias e uma pausa na edição. (Apesar de esta fotografia não estar relacionada com o texto decidi colocá-la porque estava guardada para um post que gostaria de ter escrito sobre a festa do acolhimento das crianças do primeiro ano de catequese nos Maristas. Todos no coração de Jesus!).

O futuro da religião

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Fui, na sexta-feira passada, a um jantar-debate, sobre o futuro da religião. Fui como convidado para que, junto ao Professor Miguel Real, pensássemos e debatêssemos sobre esta preocupação. Como foi pedido a ele e a mim que fizéssemos uma pequena apresentação para depois abrir o debate, e como eu a levei escrita, partilho-a agora neste post: O nos traz hoje aqui é a reflexão sobre o tema do futuro da religião. Mesmo sem ser uma questão, quando falamos em futuro ele torna-se uma questão. E este futuro pode ser visto e analisado de vários pontos de vista, consoante o interesse que a questão possa levantar. Há muita literatura séria e ficcionada sobre o futuro das religiões, também ela analisada de uma determinado perspectiva (por exemplo, esta questão na Europa coloca-se por causa do “medo da islamização”). Não sou visionário nem quero ser futurista no sentido de supor como será o mundo daqui a cinquenta ou a cem anos. Como crente a minha reflexão iria mais no sentido de me

Preparação de adultos para os sacramentos da iniciação cristã

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De Assis para o mundo

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Hoje o meu coração "instala-se" em Assis, onde estive em Novembro do ano passado. Mas propriamente fora do centro da vila, naquele pequeno convento onde se diz que São Francisco escreveu o hino das criaturas. Assis tornou-se o altar da paz. Sim, São Francisco, que tanto pediu a Deus que fizesse dele um instrumento da sua paz, conseguiu contagiar a Igreja com este sentimento universal e necessário para a harmonia do mundo. A paz, dom que vem de Deus, que cada ser humano deve pedir a Deus e promover à sua volta. Aquela pequena Assis continua hoje a ser lugar de encontro, de fraternidade, de promoção da paz e do bem. Também eu, hoje, me sento ao lado de Francisco de Assis, naquele ermo, e contemplo o Criador através das criaturas: o irmão sol e a irmã brisa, a irmã água e a mãe terra... hoje toda a criação se compromete em ser sinal de paz e harmonia para que os nossos corações se unam ao bater da Natureza e ao coração de Deus.

Uma pausa

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Ontem publiquei uma pequena mensagem sobre o que aconteceu a esta comunidade do Convento de São Domingos. Faço agora uma pausa para escrever um pouco o que se passou e o estado da questão. No domingo, depois do almoços dos poucos frades que estavam no convento, desencadeou-se um incêndio na sacristia da igreja. Poucos minutos depois chamavam-se os bombeiros. E nesses poucos minutos ardeu a sacristia na totalidade com o seu recheio e também o oratório que tínhamos e ainda a mezzanine do 2º andar que servia de adoração dos estudantes dominicanos. Tudo ardeu: velas, cálices, toalhas, paramentos... tudo. De pé ficaram as ripas de madeira, totalmente carbonizadas, e a cruz que ontem publiquei. Vieram os bombeiros, apagaram o fogo e fizeram o rescaldo. Eu estava em Fátima, ao mesmo tempo com os peregrinos a pé da João 13 e com os noviços e estudantes, na Peregrinação do Rosário, quando recebi a chamada. A sensação de impotência, de nada poder fazer, quer pela distância quer pelo indomáv

Renascer das cinzas

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Desolação. Assim ficou o oratório e a sacristia do convento. Mas a cruz não caiu e a esperança renasce. 

João 13 vai a Fátima

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Programada e preparada, começou hoje a primeira peregrinação a pé dos voluntários da João 13. Cerca de 30 pessoas, grande parte delas voluntárias na João 13. Partiram hoje pelas 8h e a primeira etapa é até Vila Franca. No guião que se preparou escrevi um pequeno texto que aqui partilho: Queridos amigos e agora peregrinos a pé em direcção a Fátima, a Associação João 13 é, de nome e de facto, uma associação de voluntários. Não está voltada para si própria mas em função das pessoas mais carenciadas da nossa cidade de Lisboa, em especial as pessoas sem-abrigo. No próximo dia 6 de Outubro faz um ano que começámos apesar de, infelizmente, termos de ter suspendido. Mas Deus é Pai e é Grande. Certamente teremos em breve a confirmação de um novo espaço onde poderemos retomar a nossa presença no coração da cidade para servir quem vem ao nosso encontro. Mas, como dizia, vamos a pé a caminho de Fátima. Esta é uma actividade da João 13 que envolve os voluntários não tanto na área da for

20 anos depois

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E assim foi 20 anos depois. Tomada de hábito no convento de São Domingos, em Lisboa. Oito noviços, um mestre e um sub-mestre. A celebração foi simples mas bonita e profunda. Um ano para que eles emperimentem a nossa vida e nós apreciemos a sua maneira de viver a nossa. Queira Deus consumar o bem que hoje aqui se começou.

Ei-los que chegam

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Três dias depois do previsto, eis que chegam os noviços de Angola e o de Portugal. Serão 8 que no próximo domingo irão começar o noviciado no convento de Lisboa. Muda a minha vida e a deles e muda também a vida do Convento. De 14 passamos a 22, com tudo o que implica de gestão conventual e humana. Até a mesa das refeições muda. Era uma mais compacta que agora se transformou em U para cabermos todos na mesma mesa. Rezem por nós para que o que aqui hoje começa Deus leve a bom termo e que todos saibamos ser fiéis ao espírito de São Domingos, nosso Fundador e nosso Pai.

Pôr do sol da saudade

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E assim terminam as férias Feirão 2016. A nostalgia do passado e as saudades do futuro são sentimentos que me invadem. Memórias, conversas, paisagens, pessoas, preencheram estes 20 dias de mais ou menos descanso. Amanhã será um novo dia.

A minha água

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Em Cotelo vou frequentemente a casa de uns amigos que ainda são família. Têm uma casa já um pouco afastada do resto da aldeia, junto a uma terra que em heranças ficou para o meu pai e, com a sua morte, para mim e para o meu irmão. É uma grande lameira, que é dividida com um tio meu, por ser grande e boa não podia ficar só para um. Estes meus amigos têm uma fonte, que nasce entre pedras num subterrâneo e depois é canalizada para uma saída, ainda debaixo de terra. A fotografia dá para perceber a saída. De vez em quando vou lá buscar água por ser natural, fresca e saborosa. No sábado lá fui eu à fonte e o dono da casa disse-me de cima: Ó senhor padre Filipe, olhe que a água ainda é sua. Pode beber à vontade. Estava a meter-se comigo, obviamente, mas achei graça. E continuou: esta água pertencia ao seu avô e ao meu pai e era dividida aos dias. Os três primeiros era para o meu pai e os outros três para o seu avô. E ao domingo alternada. Que contente fiquei. Afinal tenho água! E da boa.

O pão do Barreiro

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Aqui em Feirão, e não só, o padeiro vem a casa. Não só o padeiro. Antigamente (ainda me lembro) vinha o sardinheiro, vinha o galinheiro, vinha o merceeiro, em dias certos e com toques próprios, desde a buzina às músicas que os identificavam. Um serviço que se pode considerar social, no sentido em que apoia estas pessoas e aldeias isoladas, sem grandes hipóteses de carros ou boleias para irem a uma vila ou cidade. Padeiros há três que passam por aqui. Por tradição da nossa casa, nós compramos pão ao padeiro do Barreiro. A minha mãe, talvez por trauma, tem "imposto" este pão. E digo talvez por trauma porque muitas vezes foi ela ao Barreiro (a cinco ou seis quilómetros de Feirão) buscar pão para a Tia Maria Piedade, que depois o vendia aqui. Seria interessante deixar por escrito a história da vida dela, que viveu e morreu com fama de santidade. Não era natural de Feirão mas veio ainda nova para cá, com a mãe, não se sabe de onde (pelo menos ainda não descobri). Mulher de

Registos paroquiais

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Há mais ou menos dez anos que, nestas férias, me dedico a analisar os registos paroquiais. Até ao ano passado consegui esboçar uma árvore genealógica sobre a parte da família de Feirão (materna). Subindo de geração em geração consegui chegar à nona geração (eu pertenço estou à segunda). No ano passado comecei a parte de Cotelo (paterna) mas este ano é que tem sido mais consistente este trabalho de procura e pesquisa nos livros paroquiais de Gosende. Já me apercebi que não vou conseguir subir muito para além da sexta geração, pois é nesta que os meus antepassados se instalaram nesta freguesia. Ao que consta, um trisavô, que era almocreve por aqui se encantou com a que viria a ser sua mulher ou, como se crê mais real, encontrou aqui bons pastos para se fixar. No meio de um livro de registos encontrei umas folhas azuis, de papel almaço, com data de 1812 e acrescentos de 1815, que são como uma "cábula" para que se saiba o que é que se tem de dar à Igreja em certas ocasiões.

Oiro que o Senhor nos manda

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Feirão acordou hoje com uma chuva miudinha. Entre o nevoeiro e a chuva que molha. Podia-se chamar ‘morrinha’ ou chuva ‘molha tolos’, porque, como se diz e bem, só um tolo é que abre um chapéu-de-chuva e só um tolo se deixa molhar. O que é certo é que à hora da Missa, sempre às 8 horas, o nevoeiro cobria Feirão e a tal chuva miudinha caía. No fim de Missa, no adro, depois dos bons dias e de algumas despedidas – já mais alguns regressam a Lisboa – conversando com a tia Irene, dizia ela que esta chuvinha “era oiro que Nosso Senhor nos manda”. Expressão bonita. Os campos andam secos, sem água para regar porque as águas do povo, nestes meses de verão não se podem abrir para o caso de se dar alguma emergência. Por isso é oiro que Nosso Senhor nos manda. Ao mesmo tempo, como se tivessem combinado, os agricultores dedicam estes dias a ir apanhar lenha e a cortá-la. Na casa ao lado da nossa, tem-se acordado com o cantar do carro de vacas e das campainhas de quem o transporta. Arrecadar no

Que futuro?

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Dias mais calmos e frescos se vivem em Feirão. Poucos são os que ainda estão em férias, não mais de 20 pessoas, creio eu. A vida corre calma, com os trabalhos de quem trabalha e o descanso de quem descansa. Já Cotelo está mais povoado, seja de residentes seja de quem está de férias. Olhando para alguns anos atrás, em que as pessoas vinham para cá do um ao trinta e um de Agosto, tudo agora é diferente, deixa a pensar e dá que falar, como a conversa que tive esta tarde no café de Cotelo com um senhor de Feirão: que não há futuro para estas terras. E dizia eu que, daqui a dez anos, Feirão está muito mais reduzido e talvez sejam menos de 50 pessoas. Os mais velhos vão envelhecendo e desaparecendo, os mais novos que vivem cá – que são poucos – não conseguirão manter uma estrutura de aldeia, onde nem sequer café ou mercearia tem. E os filhos e netos, por Lisboa, Porto ou Marinha Grande, que vão vindo cá por causa dos mais velhos, acabarão por deixar de vir. Uma morte lenta ou paliativa, s

Sem manipulações

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Uma amiga mandou-me esta foto com uma rua com o meu nome! Mas, claro, não sou eu. Tem a sua piada. Sobretudo ter-se lembrado de mim em Avis! Obrigado.

Sons e paisagens

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A história da cultura tradicional portuguesa não poderá ser feita sem ter em contas as várias recolhas que, ao longo do século XX e XXI se foram fazendo por este Portugal fora, em grande parte levado a cabo por Michel Giacometti pelos anos 70, no conhecido programa “um povo que canta”. Há três anos surgiu uma nova edição deste programa, com o acrescento do “ainda canta”. Não saberemos se daqui a 10 anos ainda teremos o povo a cantar e o que andará a cantar. Cantares ao desafio nas feiras, desgarradas nas tabernas, algum folclore agora mais visual que expressão de sentimentos, são resquícios do popular, em nada comparável ao pimba que grassa nestas festas de aldeia. Nas curtas viagens entre Feirão e Cotelo, oiço Isabel Silvestre, no seu recente álbum “Cânticos da terra e da vida”. A voz, os tons e os temas assemelham-se às paisagens da serra de Montemuro que nos envolve. Há um tom comum nestas serras inconfundíveis. Que não se aprende nem se ensina. Sai genuinamente, como a á

Como criança ao colo da mãe

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Por fim, Feirão! É como voltar ao colo da mãe.

Diários

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Comecei há dias a ler mais um Diário. Desta feita, o do P. Congar, dominicano, entre os anos 1946-1956. Gosto de ler diários e também de os escrever. Ao longo da vida várias tentativas, somadas à ideia inocente que todos os dias se deveria escrever alguma coisa... Já dominicano, tentei uma vez mais recomeçar um diário. Também sem sucesso, mas nesta fase já a ter consciência da perversidade dos diários. Se, por um lado, até se pode ter a necessidade de escrever, por outro esconde-se o que se escreve. Mas há sempre um fundo nublado que nos garantirá que, um dia, os diários serão lidos, mesmo sem nossa autorização. Tirando os casos de excepção de escritores que foram pagos para os escrever, grande parte dos diários são palavras escondidas com desejo de um dia serem reveladas. Creio que já aqui escrevi sobre este assunto, e mais que assunto uma inquietação e que aqui citei, também Miguel Torga, também ele escritor de Diários, em que, às tantas, ele chega a esta mesma conclusão: se não q

Discurso do Papa Francisco aos Dominicanos

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No dia 4 de Agosto o Papa Francisco recebeu, no Vaticano, os Padres Provinciais que estiveram reunidos em Capítulo Gera. Fez-lhes um pequeno discurso que aqui deixo, para lembrar a memória litúrgica de São Domingos: "Queridos irmãos e irmãs: Hoje poderíamos descrever este dia como “um jesuíta entre frades”: de manhã convosco e à tarde com os franciscanos: entre frades. Dou-vos as boas-vindas e agradeço a saudação que frei Bruno Cadoré, Mestre Geral da Ordem, me dirigiu em nome próprio e de todos os presentes, já a terminar o Capítulo geral, em Bolonha, onde desejaram reavivar as vossas raízes junto ao sepulcro do santo Fundador. Este ano tem um significado especial para a vossa família religiosa ao cumprirem-se oito séculos desde que o papa Honório III confirmou a Ordem dos Pregadores. Por ocasião do Jubileu que celebram por este motivo, uno-me a vós pelos abundantes dons recebidos durante este tempo. Além disso quero exprimir a minha gratidão à Ordem pela sua signifi

São Sixto II e companheiros, mártires

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Apesar de ser domingo, por ser dia 7, a Igreja lembra hoje um grande Papa, São Sixto II que, juntamente com outros cristãos deram testemunho do amor por Cristo, derramando o seu sangue. Estamos a falar dos primeiros séculos cristãos, à volta do ano 257.  Os cristãos eram perseguidos por causa da sua fé. Mas, como já tinha dito Tertuliano, "o sangue dos mártires é semente de cristãos", ou seja, a perseguição e o martírio faziam com que mais aderissem a Jesus Cristo. Por isso, as casas dos cristãos já eram pequenas para celebrarem a Eucaristia. Daí terem de ir celebrar para as célebres "catacumbas", que, ao contrário do que alguns dizem, não eram os lugares onde eles vivam mas sim, onde se reuniam  para a celebração da Eucaristia. Uma dessas catacumbas de Roma encontra-se na Via Ápia, onde este nosso Papa, juntamente com outros cristãos, foram apanhados durante a celebração da Eucaristia. Celebrava o papa juntamente com os sete diáconos de Roma. O Papa foi logo d

A idade do homem

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Andando eu ontem à procura de umas citações, encontrei na "Carta a um refém", de Antoine de Saint-Exupéry, esta pequena mas interessantíssima reflexão sobre a idade do homem. Eis como a descreve: " É incrível, a idade de um homem! Resume a sua vida inteira. Essa maturidade, que é dele, foi-se construindo lentamente. Foi-se construindo à força de tantos obstáculos vencidos, de tantas doenças curadas, de tantas mágoas abrandadas, de tantos desesperos superados, de tantos riscos cuja maioria escapou à sua consciência. Foi-se construindo através de tantos desejos, de tantas esperanças, de tantas saudades, de tantos olvidos, de tanto amor. Representa uma bela carga de experiências e de memórias. A idade de um homem! Apesar das armadilhas, das contrariedades, das rotinas, continuámos a avançar aos solavancos, como uma boa carroça. E agora, graças a uma convergência obstinada de felizes circunstâncias, aqui estamos. Chegamos aos trinta e sete anos. E a boa carroça, se Deus q

Um casamento... e um baptizado

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Teoricamente já devia estar de férias. Não as consegui tirar por motivos vário que não vêm aqui ao caso. Mas, independentemente de ter ido de férias ou não, hoje teria que estar em Lisboa. Em Maio o Tiago, fotógrafo das celebrações dos Maristas, e que conheço há pelo menos 11 anos, no final de uma celebração veio convidar-me para o casar e baptizar o filho. Sim, em vez de pedir digo convidar. Senti-me honrado. Durante 11 anos ele e outros fotógrafos passaram pelas celebrações, sem eu ter dado grande importância... afinal alguma coisa ficou. E eu fiquei contente pelo convite. Em Maio disse-lhe que estaria de férias mas que viria para o casamento e baptizado do filho. Foi hoje, na igreja de Miraflores. A igreja é recente, pouco mais de um ano, bonita, apesar da péssima acústica. Dedicada à Santíssima Trindade, com muita luz, e também o vitral azul faz-nos entrar no mistério. A celebração foi simples, e encontrei todos os outros fotógrafos com a respectiva parentela. Alegria e emoção.

Unidos à cruz

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Hoje a minha cruz é preta. Preta de luto, preta de tristeza, preta de solidariedade para com o padre que foi hoje degolado. Não por ser padre mas por ser cristão. O alvo é só um: a cruz de Cristo e quantos a seguirem. Como disse o bispo daquela diocese: oração e amor. Quanto a nós... unidos à cruz.

É a pronúncia do norte

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Cada vez mais estimo quem não se envergonha da pronúncia do Norte. A que mais gosto é a das beiras, em que os vês são bês as vacas bacas , ou ouro oiro e os esses carregados. Frases cheias de arcaísmos, com sentido certo e oportuno. É a pronuncia do  Norte. Quando falo com alguém que me apreça ser das serras de Montemuro ou da Gralheira vou perguntando e quase sempre acerto. Uma senhora velhinha e viúva que em Benfica foi à Missa num dia de fim de ano, ao despedir-me dela, pelas faces rosadas, pelo xaile metido pela cabeça e o boa noite sr. padre, fez-me perguntar-lhe de onde era: da serra, senhor padre, respondeu. E eu acrescentei: e olhe que deve ser das minhas serras. De onde é e de onde não é, a senhora vivia a menos de sete quilómetros de Feirão. Tinha vindo a Lisboa para passar o Natal com a filha e os netos porque lá pra cima faz agora um frio grande, justificou. Na semana passada vieram cá uns técnicos ao convento fazer uma manutenção e o caso deu-se ao contrário. Um

Aquele por quem o meu coração ama

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Celebrou hoje a Igreja, pela primeira vez, Santa Maria Madalena, com grau litúrgico de festa. Pode parecer uma coisa banal, como alterar o grau de uma festa na missa que, na prática, só lhe acrescenta o Glória. Mas, para além a efeméride - hoje pela primeira vez - é o reconhecimento do papel desta mulher na vida de Jesus, e das mulheres na vida da Igreja. O título deste post é tirado da primeira leitura que hoje se leu, do cântico dos cânticos. E gosto sempre de sublinhar isto: na Igreja, só duas vezes no ano lemos uma passagem do livro dos Cânticos dos cânticos, que é sempre esta: no dia de hoje e nas vésperas do Natal. E, por quatro vezes, a esposa pergunta por aquele que o seu coração ama. Sem dúvida que Maria Madalena amou muito a Jesus. Não um amor erótico nem platónico, um amor não-correspondido ou desmedido, mas num amor puro, de dedicação e entrega. Por isso não é de estranhar que ela esteja ali, agarrada à cruz, que o tenha procurado no sepulcro e, por isso, se tenha torn

Dias de Capítulo Geral

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Começou no dia 16, em Bolonha, mais um Capítulo Geral da Ordem dos Pregadores, a que pertenço. Na nossa Ordem os Capítulos Gerais acontecem de três em três anos, em cada ano com pessoas diferentes. No Capítulo deste ano estão os provinciais da Ordem, uma vez que o anterior foi de definidores (frades eleitos pelas províncias) e o próximo será electivo (com os provinciais e os definidores). É assim a nossa maneira democrática de governo. O Capítulo deste ano tem a feliz coincidência de ser celebrado quer no Ano da Misericórdia quer no Ano do nosso Jubileu. Este ano, no dia 22 de Dezembro, completamos 800 anos de existência (oficial)! O Papa Francisco juntou-se ao Capítulo e às nossas celebrações. No próximo dia 4 irá receber os Capitulares e, no passado dia 15, enviou pela Secretaria de Estado do Vaticano um Telegrama ao Mestre da Ordem, que aqui deixo, numa tradução livre (apressada): " Por ocasião do Capítulo Geral dos Priores Provinciais da Ordem dos Pregadores que terá lug