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A mostrar mensagens de junho, 2012

São Pedro, São Paulo e São Domingos

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Neste dia da solenidade dos Apóstolos Pedro e Paulo, gostaria de referir a sua ligação a São Domingos. Não foram contemporâneos, mas São Domingos funda a sua vida, o seu apostolado, a sua Ordem, na vida dos Apóstolos. Aqui deixo um excerto de uma Legenda de São Domingos , escrita por Constantino de Orvieto, dominicano da segunda geração, que escreveu este livro, de uso litúrgico, pelos anos 1246-1247: " Quando o homem de Deus, Domingos, estava certa ocasião em Roma a orar diante de Deus na basílica de São Pedro pela conservação e dilatação da Ordem, que através dele a mão do Senhor difundia, manifestou-se o poder do Senhor sobre ele e, de repente, numa visão, viu dirigirem-se a si os gloriosos príncipes Pedro e Paulo, parecendo-lhe que o primeiro, Pedro, lhe entregava um bastão e Paulo um livro e lhe diziam: Vai, prega, pois foste escolhido por Deus para este ministério. E imediatamente, num instante, pareceu-lhe ver os seus filhos espalhados por todo o mundo, indo dois a dois

Dias de descanso

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Estão a acabar os meus dias de descanso. Foram quatro, o que já não é mau. Não os entendo como férias porque têm regra desde a hora do levantar á hora de deitar. Graças a Deus os telefonemas foram poucos e as urgências nenhumas, o que permitiu entregar-me a passeios à beira-mar, leituras e escrituras. Com muito silêncio, que cada vez mais gosto, e que transformam estes dias num perfeito retiro. Trouxe alguns artigos que estavam na estante à espera de leitura. Tudo de temática dominicana: fraternidades leigas, as intuições de São Domingos ao fundar a Ordem dos Pregadores, um comentário sobre a regra de Santo Agostinho e um artigo brilhante sobre vida comum e estudo que só o título já dá uma ideia do assunto: “Procurar a verdade na doçura da comunidade”. É uma frase de Santo Alberto Magno. Espero, em breve, falar deste artigo. Mas trouxe um livro para ler. Não de temática dominicana mas escrito por um grande dominicano, Albert Nolan. Falo primeiro do autor e depois do(s) livro(s

Oito anos de padre...

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Já lá vão oito anos desde a minha ordenação de padre. Dar graças a Deus e pedir-lhe perdão são duas atitudes que hoje tenho no meu coração. Um dia, numa celebração com o Sr. Patriarca, enquanto esperávamos – estávamos poucos padres e tinham-me pedido para orientar a celebração – o pároco começou a tecer-me elogios (sempre exagerados), ao que o Sr. Patriarca respondeu: também tem de fazer alguma coisinha pelo reino de Deus, não? Boa resposta e bom desafio. É isso que tenho como horizonte de padre e de dominicano, sentindo-me sempre mais um dominicano que é padre do que um padre que é dominicano: fazer alguma coisinha pelo Reino de Deus. Mas o feitio não é fácil. Daí pedir perdão. Oito anos. O número oito, na bíblia, é um número forte. Lembra sempre regeneração, Ressurreição, abundância, início de uma nova ordem, a repetição do primeiro dia, eternidade… Venha ele. E que a minha vida e o meu ministério correspondam a esta novidade resgatada do passado mas, sobretudo, que ela

Um búzio

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Um búzio. Recordação de uma caminhada na praia, de um dia que se previa escaldante, entre vozes de crianças que gritam a água fria que lhes molha o corpo. Assim como de um museu se traz um postal, de um jardim uma flor e de uma cidade um emblema, do mar, porque não o podemos trazer comigo, trago um búzio, que me lembra as marés, o areal, a vida pensada à beira-mar. Um búzio. Pequeno, no meio de conchas que o mar vomitou, vem inteiro mas sem inquilino. Destroços de uma guerra com um peixe maior, ou com a morte natural, que também nos dá luta, e chega às profundezas do mar, só ficou a carapaça, incapaz de contar quem lhe fez mal. Um búzio. Lembra-me as voltas da vida e as voltas que a vida dá. Enquanto passeio, distraído com a vida e concentrado com o mar, Mecânicamente me agacho para apanhar um búzio que me dá que pensar.

Festa de São João Batista - Martirológio

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Dia 24 de Junho, oitavo dia antes das Calendas de Julho. Solenidade do Nascimento de são João Batista, percursor do Senhor: já no seio de sua mãe, cheia do Espírito Santo, exultou de alegria ao sentir a chegada da humana salvação; o seu nascimento foi profecia de Cristo Senhor; nele refulgiu a graça. de tal modo que o Senhor disse a seu respeito que nenhum dos nascidos de mulher era maior que João Batista. (imagem: Domenico Ghirlandaio, Zacarias escrevendo o nome do seu filho, séc. XV)

Portugal nas meias finais

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( Confesso que me tinha prometido não falar sobre o tema euro 2012. No entanto, depois de ter recebido um mail com esta fotografia, decidi não continuar calado. Se é fervoroso patriótico, apoia o euro mais que tudoe tem o CR7 como ídolo, então não leia este texto. ) Portugal está nas meias finais. Que o diga esta imagem. Pessoas que estão mais próximas de mim estranham o meu refilar contra o euro (o do desporto). Que pareço nem ser Português. Sim, não pareço. Nem europeu. Por mim nem havia europeu. Em tempos de crise andarmos a esbanjar dinheiro em circo, parece-me mais descontrolado que o tirar feriados ou dinheiro do bolso de quem trabalha. Mas claro, não tenho razão. Porque o Estado não patrocina a seleção. Temos ministro do desporto mas não financiamos desportos. A mim custa-me acreditar que o Estado não dá nem um cêntimo para o euro, mas não tenho conhecimento do processo das coisas. Os jornais (excluo os do desporto) dedicam, pelo menos, 10 páginas diárias ao tema (ontem co

Juntar as pontas

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Acaba de terminar, aqui no Convento, o almoço dos que, ao longo deste ano pastoral (letivo), se prepararam para receber o sacramento do Crisma. Todos adultos, trouxeram a família e a comida para partilharmos a alegria e o alimento. Almoçámos 50 pessoas, incluindo crianças que dão uma grande alegria ao Convento. Para mim, como prior deste Convento, uma das maiores alegrias que tenho é abrir as portas aos nossos amigos. Usando a imagem de uma das parábolas que se escuta nas Missas de hoje, considero que o convento deve ser, à sua medida, como aquela árvore onde as aves encontram sítios para se abrigarem e as pessoas uma sombra para descansar. No final do almoço, sessão solene, com muitas palmas e discursos, na entrega dos diplomas. E agradecer. Também o fiz. E, agora, rezo por eles, a quem a semente do Evangelho foi semeada, esperando agora que Deus a faça crescer e dar fruto. Daqui vou para a Missa do Campo Grande. Depois da Missa, reunião de avaliação com as várias equipas litúr

D. Albino Cleto: um grande (amigo) bispo

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Foi com tristeza que abri um mail, esta manhã, que me anunciava a morte do bispo D. Albino Cleto. Diz-se que para uma pessoa ser boa ou tem que morrer ou mudar de terra. É um dito que só se aplica para os maus. D. Albino, foi um grande bispo. Grande e bom. A primeira vez que lhe falei foi em 1984 (tinha eu 9 anos!), quando foi pela primeira vez, como bispo auxiliar de Lisboa, a Marvila, crismar (naquele tempo dizia-se fazer a visita pastoral). No final da Missa o pároco apresentou a minha família (avó com filhos e eu, neto) ao D. Albino, como uma família que estava a atravessar um mau bocado (o meu avô tinha morrido e a minha avó, sozinha, com 8 filhos em casa). Lembro-me do D. Albino me dar um calduço e dizer-me: vê lá, não dês muito trabalho à tua avó! Depois, cada ano, lá vinha ele, e eu a crescer, e falávamos sempre, coisas de circunstância, claro está. O D. Albino tinha sido vice-reitor do Seminário de Almada. Por isso, ia lá frequentes vezes, à segunda-feira, almoçar com os

Noite de Santo António

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Venho da noite de Santo António. Pus-me a caminho dos bairros antigos da Cidade: Mouraria, São Vicente e Alfama. Há muitos anos que não fazia esta volta. Tanta gente! Terminei a volta na Avenida. Ainda as marchas estavam a desfilar. A de Marvila - coincidência - ia entrar em cena. Como sempre, a mais bonita! Por muitos feriados que o Governo nos tire e também algum dinheiro, a alegria não nos tira. Viva o Santo António!

Jardim fechado

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Ontem depositámos no claustro do Convento as cinzas de dois irmãos que faleceram. Foi, para mim uma bela ideia trazer para o claustro - lugar de reflexão e de contemplação, de comunhão entre a natureza, a humanidade e Deus -  aqueles que nos precederam e foram nossos irmãos na partilha da fé e do carisma dominicano. Não deve parecer estranho. De fato, as atas de canonização de São Domingos, narram que ele quis ser sepultado no coro, entre os irmãos. No depoimento de fr. Ventura de Bolonha, lê-se: “ Ouviu (são Domingos) que o monge que naquela ocasião era reitor da igreja de Santa Maria do Monte dissera que se Frei Domingos ali morresse não permitiria que dali o levassem, mas sepultá-lo-ia naquela igreja. E como a testemunha contasse isto a Frei Domingos, este respondeu: Não quero de algum modo ser sepultado senão debaixo dos pés dos meus irmãos. Levai-me para fora, para eu morrer no caminho, a fim de me poderdes sepultar na nossa igreja ”. Amanhã haverá uma celebração de Vésperas,

Ensina-me, Senhor

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Ensina-me, Senhor, o caminho da pobreza, estreito e árduo da vida mas único a trilhar. Ensina-me a morrer para a aflição do ter, a morrer para o orgulho e para o olhar alto, a perceber que o silêncio é ouro e, afinal, as palavras, não passam de poeira levantada pelo vento de um dia quente. Educa-me no gesto desprendido, na frescura da humildade, e no sorriso da gratuidade. Mostra-me, Senhor, o caminho da virtude, a ver a vida como dom a vivê-la com simplicidade a dá-la sem medida para te poder ter como única e verdadeira riqueza. Ensina-me, Senhor, o caminho da pobreza.

Dia de São Marcelino Champagnat - Homilia

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Queridos amigos, Festejamos, neste dia, a festa de São Marcelino Champagnat. E juntamos a esta celebração duas outras festas: a dos finalistas - os que chegaram ao fim do 12º ano e deixam o nosso externato - e a festa da vida, para os alunos do 8º ano. Para nós, cristãos, a vida não tem fim. As coisas não têm fim. Reparem: depois do 12º ano, vem a universidade e depois o trabalho... E mesmo a morte, para nós, cristãos, não a vemos como um fim, mas como uma continuidade: depois desta vida teremos uma outra, a vida eterna. É por isso que, no dia da morte de São Marcelino, nós fazemos festa e çelebramos esta festa da vida. Aliás, as leituras da Missa, falaram-nos de dois grandes temas ligados à vida: a água do rio, sinal de vida, e as crianças, que são também um sinal de esperança e de vida. Quando os vossos pais olham para vocês, quando nós, mais velhos, olhamos para os mais novos, mesmo não sabendo o futuro de cada um, pressentimos que terão um futuro cheio de esperança e de vi

O que me faltava ver

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Hoje não se trabalha. Assim quis o Senhor, assim devem obedecer os cristãos. Por isso, a nossa Comissão teve dia livre. Cada um fez o que quis e como quis. Eu aproveitei o dia para ver alguns sítios onde ainda nunca tinha estado e rever outros, como as basílicas de São João de Latrão e de Santa Maria Maior. Aqui deixo algumas impressões sobre o que hoje visitei. 1. Catacumbas de São Calisto. Há muito tempo que planeava esta visita sem nunca ter conseguido. Por isso, depois da Missa Comunitária, ás 8 da manhã, apanhei o autocarro que me levou à bela Via Ápia, a antiga, claro está. Ali estão três das sessenta catacumbas que Roma tem. Mas da Via Ápia são as mais conhecidas. Não vou aqui falar da história das catacumbas - hoje em dia a Internet consegue fazê-lo de uma forma correta - mas só dizer que me impressionou profundamente. A visita foi demasiado rápida. São os padres salesianos que tomam conta das Catacumbas e têm o esquema de tal maneira montado que as perguntas só se podem

Fim da primeira parte

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Terminou, hoje, a primeira parte do trabalho da Comissão. Até aqui foi prestação de contas. Eu poucas prestei. Numa comissão onde todos têm doutoramentos, especialidades e experiências em liturgia, eu quase não abro a boca. Mas aprendo muito. Esta manhã, por exemplo, falámos de um documento publicado pela Congregação do Culto Divino e dos Sacramentos sobre a questão da tradução e dapatação do Rito Romano. O documento chama-se Liturgiam Authenticam , sem tradução em português; as alternativas são o latim e o inglês, ou então, algum artigo que resuma o texto. É um texto bastante armadilhado, que brinca ao dá-e-tira. Ou seja, Roma deixa que as Conferências episcopais traduzam e adaptem os textos mas... Roma é quem tem a última palavra e, muitas vezes, manda dizer que não é uma boa tradução ou adaptação. Não falei sobre este assunto na reunião, mas sim à mesa, porque o meu ponto de vista é até mais eclesial que litúrgico: o que é que estas Congregações Romanas fizeram da colegialidade