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Anno histórico: Frei Luís de Granada

No mesmo dia, ano de 1588, com oitenta e três de idade, e quarenta e sete de assistência em Portugal, faleceu santamente na Cidade de Lisboa o Venerável Padre Fr. Luiz de Granada, natural da Cidade do mesmo nome, da Sagrada Ordem dos Pregadores. Foi Mestre de Filosofia e Teologia Especulativa, Polémica, Moral, e Ascética, Varão Apostólico, Mestre universal do Espírito, Visitador e Provincial da Província de S. Domingos de Portugal, eleito de comum consenso pela mesma Província; na qual, e neste Reino, era venerado com afectos de nacional, e venerações de Santo. Foi Confessor de El Rei Dom João III, da Rainha Dona Catarina, e do Cardeal Infante Dom Henrique, e sem o seu parecer não resolviam os negócios graves. Rejeitou com grande constância e resolução o Bispado de Viseu, o Arcebispado de Braga, e a púrpura Cardinalícia, oferecida por Sixto V e se dedicou todo ao serviço de Deus e do próximo, no Púlpito, no Confessionário, nas Missões, e nos piíssimos, e utilíssimos livros, com que il

Natal 2018

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Naquele tempo, os pastores, pobres, foram os primeiros a encontrar o Menino no presépio de Belém. Hoje, somos nós convidados a ir aos presépios da nossa cidade, levar a luz e o calor de Jesus. Será Natal cada vez que o fizermos. Boas festas!

Caminhos de Advento IV

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Estamos a dois dias do Natal. Estamos a terminar um tempo que a Igreja nos ofereceu para preparar, ao longo de quatro semanas, este grande mistério do Deus connosco. Isaías encheu-nos de esperança ao profetizar sobre o Messias; João Baptista despertou-nos para a necessidade de nos esvaziarmos para podermos acolher Deus; São José – embora não tenha aparecido na liturgia dominical – ensinou-nos o silêncio operante: não questionar mas ajudar Deus a cumprir o seu projecto de salvação para a humanidade. Hoje aparece-nos a figura de Maria, a Mulher admirável, a toda Santa, como lhe chama o mundo oriental, que nos diz que acreditar em Deus é o princípio da bem-aventurança, da felicidade. E assim temos um presépio invulgar, em que ainda não aparecem os animais nem os pastores ou reis – só aparecerão depois do acontecimento – mas por estas figuras que nos colocam expectantes e vigilantes. As leituras deste último domingo do Advento, assim como as desta semana, narram-nos os acontecimentos

Anno histórico: Madre Isabel de Jesus

Neste dia, ano de 1611, faleceu no Venerável Mosteiro do Sacramento de Lisboa, da Ordem de São Domingos, a Madre Isabel de Jesus, primeira Prioresa do mesmo Mosteiro, a qual com grande espírito e exemplo dirigiu, e sublimou as súbditas ao mais alto da perfeição, que ainda persevera, e se admira naquelas Religiosas até o presente. Desde menina foi muito devota, e penitente; Teve dom de lágrimas e de Profecia, com que prognosticou a sua morte. (Anno Histórico, Vol. III, par. I, p. 501)

Caminhos de Advento III

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A liturgia deste terceiro domingo do Advento dá-nos mais um ingrediente para a espiritualidade do Advento: a alegria. Neste dia encontramos dois motivos para a alegria: a primeira é porque estamos a meio do Advento. A segunda leitura falava-nos disso: alegrai-vos porque o Senhor está próximo. O segundo motivo é mais interior, profundo, a alegria fruto da presença de Deus em nós e da nova vida em Deus. E, para este segundo motivo temos a primeira leitura e o evangelho que nos apoiam e convidam a viver a alegria. De facto, os evangelhos nunca têm um olhar pessimista sobre o ser humano. Convidam-nos sempre à alegria. Não à euforia mas à alegria serena. Em especial o evangelho de Lucas, o Evangelista para este novo ano que começámos há três semanas. À medida que vamos lendo o seu Evangelho, vamos passando de alegria em alegria, desde a alegria do anúncio do nascimento de Jesus à alegria da Ressurreição. À luz das leituras que escutámos, coloca-se hoje uma questão: como recuperar

Anno histórico: D. Fr. Gaspar dos Reis

Dom Fr. Gaspar dos Reis, Português, da sagrada Ordem dos Pregadores, foi ornado de muitas letras e virtudes: sendo proposto ao Sumo Pontífice Paulo IV pelo Cardeal Infante Dom Henrique, primeiro Arcebispo de Évora, para seu Bispo Coadjutor, o Pontífice lhe mandou as Bulas com o titulo de Bispo de Tripoli, escrevendo ao Cardeal Infante, que num sujeito tão benemérito, melhor assentava um Arcebispado do Rei no, do que um Bispado in partibus : Pelo que o Cardeal Infante o fez Governador com geral Plenipotência do mesmo Arcebispado de Évora, que administrou com muito zelo e acerto. Faleceu neste dia, ano de 1577. Jaz no Convento de São Domingos de Évora. (Anno Histórico, vol. III, par. III, p. 495)

Anno histórico: Dá-se princípio em Lisboa à Ordem Terceira de São Domingos

Neste dia, ano de 1716, se deu princípio em Lisboa à Terceira Ordem de São Domingos, instituída pelo mesmo Santo na era de 1220, sendo director dela o Padre Frei Manoel Guilherme, de quem falámos em outra parte, e da sua mão receberam logo o escapulário da mesma Ordem todos os Ministros e Oficiais do Tribunal do Santo Oficio, muitos Grandes, Cavaleiros, e Senhoras da Corte, e um grande número de pessoas de ambos os sexos. (Anno Histórico, vol. III, par. V, p. 470)

Caminhos de Advento II

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Talvez este tempo do Advento seja o tempo mais profundo do ano litúrgico porque, se repararmos bem, a caminhada do Advento resume a toda a nossa existência cristã. De facto, a nossa vida é um Advento, é uma espera de um encontro, do nosso encontro definitivo com Deus. E, na liturgia, durante o tempo do Advento, vão-nos surgindo figuras e temas que nos ajudam não só a preparar o Natal, a recordação da maior intervenção de Deus na História, mas também a vinda actual de Jesus, uma vinda presente, quotidiana e preparamos ainda a sua vinda futura, a escatológica quando Cristo vier no final dos tempos reunir-nos no seu amor. Neste segundo domingo aparece-nos a figura austera de João Baptista. É chamado de Percursor, ou seja aquele que vem preparar o Natal, o caminho para que passe o Messias. A palavra ‘Advento’ é anterior ao cristianismo. Aliás, ela vem do mundo pagão. Como sabemos ela significa ‘vinda’. Chamava-se Advento à preparação da vinda do Imperador a uma cidade importante. Po

Pedro Claverie e Companheiros, Mártires da Argélia

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É hoje beatificado um grupo de 19 mártires da Argélia, encabeçados pelo bispo dominicano Pierre Claverie. Além deste dominicano, contam-se também seis religiosas e a comunidade trapista que o filme "Dos deuses e dos homens" veio imortalizar. Todos amigos de Deus e das pessoas, sem distinção de religião. Hoje são para nós um modelo, certamente, mas também uma chamada de atenção para a perseguição religiosa que ainda nos nossos tempos acontece e, tantas vezes, pela calada. Deixo aqui um extrato da homilia de Pierre Claverie, pronunciada no dia da tomada de posse da sua diocese de Orán, a 9 de Outubro de 1981: Irmãos e amigos. Todos nós somos nómadas. Muitos de vocês são-no por causa do vosso trabalho, outros por causa das circunstâncias que vos forçou a se desenraizarem; mas, espiritualmente, todos somos nómadas. A fé é o movimento em direcção a Deus: ela responde ao apelo irresistível do seu amor e nos leva a sair de nós mesmos para amar como Deus mostrou que am

Caminhos de Advento I

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Começamos hoje, na Igreja e em Igreja, um tempo novo e um ano novo. É o tempo do Advento que tem como principal objectivo a preparação da festa do Natal que iremos celebrar no próximo dia 25 de Dezembro. Mas o Advento tem uma tríplice comemoração: em primeiro lugar este o acontecimento histórico de há mais de dois mil anos, que vem narrado nos Evangelhos e do qual Jeremias profetizou; depois uma segunda vinda, que nós esperamos e que acontecerá no fim da História. A segunda leitura e o Evangelho relacionam-se com esta segunda vinda de Cristo. Mas há uma vinda intermédia, que acontece em cada dia e em cada tempo. E é nesta vinda intermédia e para esta vinda intermédia que nós nos preparamos cada ano. Celebrar no presente o que aconteceu no passado e esperando a segunda vinda de Cristo. E não nos podemos ficar na candura do presépio nem no temor do julgamento final. Devemos, sim, viver na alegria e na esperança esta encarnação, diria quase diária. Este tempo intermédio em que poderí

Roma revisitada

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Vim a Roma. Mais uma reunião da comissão litúrgica, esta com menos dias porque todos andamos ocupados. Mas deu para ter uma tarde livre. E aproveito para visitar as igrejas que mais me dizem e que quero aqui registar. Igreja de Santa Maria Sopra Minerva . Uma Igreja dominicana em todos os sentidos. Pinturas de Fra Angelico (de tal maneira surpreendentes que Michaelangelo depois de as admirar disse: este homem viu o céu). Os seus anjos e os seus azuis inconfundíveis, a delicadeza das formas e a harmonia estética fazem daquela igreja uma joia de Roma. Fra Angelico está lá sepultado e Santa Catarina de Sena também. Grande Dominicana, esta, que sem saber escrever tão mulher e mística foi. Fui rezar-lhes para lhes pedir inspiração para as coisas que digo e faço. Por curiosidade, o nosso Cardeal Marto é o Cardeal desta igreja e ontem esteve cá a tomar posse dela. De lá, nuns não sei quantos mil passos que o telemóvel contou, basílica de São Pedro . Gosto de celebrar lá mas é raro ac

A última carta

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 Não queria deixar passar e4ste dia 24 de Novembro sem fazer referência a um grupo de mártires (127), quase todos da Família Dominicana, que durante mais de 100 anos foram perseguidos e executados por ódio à fé. Um deles, bispo, Valentín Berrio-Ochoa, morre com apenas 34 anos, decapitado, por ter fé cristã e por a anunciar. Neste dia nós, dominicanos, lemos a última carta que São Valentín escreveu à sua mãe. Mostra a ternura de um filho e a força de um bispo. Aqui a deixo, como partilha. Querida mãezinha do meu coração: Recebi uma carta sua no princípio deste ano. Que alegria ver a letra da minha mãe! O meu coração ficou muito contente quando soube que estava uma velhinha vivaça e que ainda fiava com prazer. Com gosto soube que todos os dias vai à Missa e que reza por todos a Jesus amado. Pergunta-me, minha mãe, pelo meu modo de viver e que comidas como… Querida mãezinha, eu vivo muito bem, como um senhor Bispo, e não me falta nada de comer. Aqui não há pão. Se tiver uma f

Teresa de Saldanha e João 13

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Na passada semana, dia 13 de Novembro, as Irmãs Dominicanas de Santa Catarina de Sena comemoraram os 150 anos da primeira Comunidade da Congregação. Esta comemoração terminou no NAL+ São Vicente, gerida pela Associação João 13, que nasceu, também ela num convento dominicano: Há 150 anos no nº 5 da Calçada do Cascão e, agora, no nº 39, a João 13 continua ali a fazer o bem. O Presidente da Câmara foi convidado para o evento e visitou também o NAL+. A Agência Ecclesia fez uma pequena reportagem que aqui deixo, para ver (a que nos diz respeito termina no minuto 4.53). Da minha parte um obrigado às Irmãs, por unirem os mais pobres a este acontecimento e a todos os que, na João 13, fazem o bem ao próximo, que é, em cada rosto, o próprio Jesus.

Dia mundial dos pobres: todos os dias!

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Ontem, um pouco por todo o mundo se celebrou com os pobres o dia mundial dos pobres. Muitas iniciativas individuais e também institucionais. Este dia nasceu de uma proposta do Papa Francisco, que quer que contagie o mundo. Por isso, mesmo que o mundo o não celebre, nós, cristãos, devemos celebrá-lo e agradecer a possibilidade de os pobres nos ajudarem no bom testemunho da prática da caridade. Dar, partilhar, acolher e escutar são verbos e atitudes que vão entrando no dicionário cristão, imitando o mandamento e o exemplo de Cristo. Como ontem disse o Papa e bem: Os pobres não são a moda de um pontificado mas sim uma tomada de consciência de que eles são a opção preferencial de Deus e também da Igreja. É um dia de acção de Graças. O Papa Francisco celebrou-o no Vaticano, com cerca de três mil pobres: Missa e almoço. Destaco aqui um parágrafo da sua homilia, muito apropriado e muito desafiante: " Jesus ouviu o grito de Pedro. Peçamos a graça de ouvir o grito de quem vive em

Deus é um bom gestor

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Nas últimas semanas tenho pensado muito nas voltas que a vida dá e de como Deus também dá as voltas que nós nem pensamos que sejam a sua vontade. Para muitos nada é mais que coincidências, para outros também ocasiões que se proporcionam mas, para mim é isso mesmo: as voltas que Deus tem de dar para que a sua vontade se cumpra em nós e através de nós. A Bíblia dá-me razão, ou eu apoio-me nela: Quando Deus pede a Samuel para ir a casa de Jessé para ungir um dos seus filhos, Samuel fica convencido que o mais velho seria o escolhido; mas Deus diz-lhe: o homem olha à aparência mas Deus olha o coração. Lendo a Bíblia e lendo a nossa vida numa perspectiva de fé, notamos claramente as voltas que Deus dá – sem ninguém entender e às vezes até com apreensão – para que as coisas aconteçam no tempo e ocasião certa e não quando nós queremos. A Bíblia ensina-me que os obstáculos da vida são oportunidades de conquista que Deus nos dá, se não nos deixarmos prender pelo medo e pela angústia. Nós,

Anno histórico: Frei António de Sousa

Frei António de Sousa, da Sagrada Ordem dos Pregadores, natural de Lisboa de ilustríssima geração, neto de Martim Afonso de Sousa, Governador da Índia, de quem acima falámos; foi Varão muito pio e douto, Mestre em Teologia, Deputado da Inquisição de Lisboa, e do Conselho geral. Imprimiu um livro de Aforismos dos Inquisidores; mais outro de Casos, mais outro sobre a Constituição do Papa Paulo V contra os solicitantes, e sobre outros Decretos Pontifícios; mais hum Sermão do Auto da Fé do ano de 1624. Morreu em Lisboa neste dia , ano de 1632. (Anno Histórico, vol. III, par. II, p. 336)

Chorar pelos defuntos?

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Escreveu assim São Cipriano, nos finais do século III sobre os mortos: Também a mim, ainda que seja o menor de todos, quantas vezes me foi revelado, quantas e tão claras vezes me foi ordenado pela bondade de Deus que clamasse sem cessar, que pregasse em público, que não se deveria chorar pelos nossos irmãos já libertos deste mundo e chamados pelo Senhor, sabendo que não os perdemos mas apenas no precedem; que, como viajantes, como navegantes, vão adiante dos que ficamos para trás. Podemos ter saudades deles, mas não chorá-los ne vestir-nos de luto, porque eles já se vestiram de branco; que não se devem dar motivos aos gentios de que eles nos censurem, e com razão, de que vivendo eles com Deus os choremos nós como perdidos e aniquilados; assim não damos provas com verdadeiros sentimentos, do que pregamos com palavras. Somos prevaricadores da nossa fé e da nossa esperança se parecer como fingido e simulado o que andamos a afirmar. De nada serve mostrar pela boca a virtude e desacred

Em cima desse penedo

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Há 32 dois anos que não vinha a Feirão aos Santos. O meu avô morreu em 1980 e a minha avó vinha todos os anos, religiosamente, limpar e compor a campa do meu avô. Até que, num ano, vim com ela. As memórias são algumas: frio e chuva, uma casa inóspita (ainda em construção e sem aquecimento), o cemitério cheio de flores e, à noite, com velas, tal como o acabo de ver. Teria eu dez anos e terá sido, muito provavelmente em 1985. Tantos anos depois, o ritual repete-se nesta tarde: as pessoas vão ao cemitério compor as campas e acender as velas. Amanhã, a Missa dos Santos e a ida ao cemitério e, na sexta, para quem pode, a Missa dos Defuntos. Aqui a ideia da morte está muito presente. Não se pode dizer que há um culto dos mortos mas é, sobretudo memória e gratidão dos que nos precederam na vida e na fé. Também eu, hoje, fui aos dois cemitérios acender as minhas velas. Pelos meus avós. E rezar por todos. Lembrei-me durante o dia de hoje de uma cantiga que a minha mãe nos cantava em

Anno histórico: Trasladação do corpo da Princesa Santa Joana

No mesmo dia, ano de 1711 foram trasladadas para novo e magnífico Mausoléu, mandado fazer por El Rei Dom Pedro II, as Relíquias do corpo da Princesa Santa Joana, filha dos Reis Dom Afonso V. e D. Isabel, sepultada no Mosteiro de Jesus, da Ordem de São Domingos, da Vila de Aveiro. El Rei Dom João V nosso Senhor mandou fazer esta trasladação pelo Bispo de Coimbra Dom António de Vasconcelos; o qual assistido do seu Cabido, do Senado da Câmara, do Provincial, e de mais alguns Religiosos de São Domingos, e da Comunidade das Religiosas do mesmo Mosteiro, abriu o cofre das Relíquias, que estava no Coro, e depois de as reconhecer pelas mesmas, que examinara e atestara o Bispo de Coimbra, Dom João de Mello, quando deu informação delas à Sé Apostólica, as incensou de joelhos o Bispo Conde Dom António, e deu a cabeça da Santa a beijar a todas as pessoas, que se achavam presentes; as quase formadas em Procissão: com tochas acesas, cantando as Religiosas Hinos e Salmos, e pegando no caixão as prim

O final da tarde em Feirão... no Outono

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Cada época é diferente nas nossas vidas e nos vários lugares. Feirão, como não poderia deixar de ser, também tem os seus ritmos, sempre de acordo com o sol (apesar dos relógios). O final da tarde em Feirão começa um pouco antes das 18h, quando se toca o sino para o terço. Nestes meses de Outubro o terço é rezado e prolongado com meditações e leituras (Outubro, o mês do Rosário, Novembro, o mês das almas). Entretanto, vai a sombra do sol subindo pelo Penedo Gordo e, o escurecer transforma a atmosfera: na igreja o terço, no firmamento a lua, que sobe timidamente, os pássaros que se fazem ouvir e os animais, cada vez menos, que chegam do monte, ouvindo-se as campainhas e os guizos a avisar o retorno. Um pouco antes das 19h - porque estou cá - subo eu ao sino para anunciar que vai haver Missa: as 7 rituais badaladas. No fim da Missa, volta a tocar o sino para o rezo das Trindades, fechar-se a igreja e cada qual ir para sua casa tratar da ceia, nunca excluindo o caldo que aquece o corp

Finalmente Feirão!

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Fim de dia em Feirão. Directamente de Campo Maior, onde fui casar um casal de amigos. De lá, atravessando montes e vales, saltando pelas montanhas, cheguei ao meu berço. Feirão está calmo e já frio. Recebido com um forte aguaceiro, aqui estou eu, no serão da aldeia onde só se ouvem as campainhas dos animais e o latir de um cão, se passa alguém. Mas tudo é calma nesta pequena aldeia da serra de Montemuro. Por aqui me vou ficar, uns dias, para aproveitar para descansar, ler e trabalhar um pouco, porque em férias trabalho o que não consigo trabalhar em Lisboa e que pede concentração e tempo. Assim Deus me ajude. Feirão vai ser aqui falado e recordado porque em Feirão a minha memória do passado fica muito presente. Para já, aproveitar o frio de que tinha saudades. E uma fotografia do lugar do casamento de hoje.

Uma bonita oração

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Por vezes as pessoas queixam-se que as orações da Missa são muito elaboradas ou até que nem se consegue perceber o que se está a pedir. Uma vez, numa conferência sobre o Concílio Vaticano II, um bispo dizia que as orações da Missa eram belas no latim mas que não chegavam ao coração das pessoas. Há um quê de verdade nestas afirmações. Algumas orações presidenciais são de difícil entendimento, como, por exemplo, pedir a Deus "o que nem sequer ousamos pedir". Mas hoje tocou-me uma oração, rezada depois da comunhão, no dia em que se celebra Santo Inácio de Antioquia. A oração reza assim: " Fortalecei-nos e renovai-nos, Senhor, com o pão celeste que recebemos neste sacramento, ao celebrarmos o martírio de Santo Inácio, para que, pelo nome e pelas obras, sejamos verdadeiramente cristãos ". Porquê esta oração neste dia? Santo Inácio de Antioquia faz parte da segunda geração de cristãos. A tradição diz que a comunidade de Antioquia foi fundada por São Pedro. Quando foi

Ó Jesus, fica connosco

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Nas músicas que acompanham o meu trabalho sedentário, ouço uma melodia muito antiga, que em português se canta a Nossa Senhora. Mas o original canta-o na Quaresma, num pedido insistente a Jesus de estar connosco. Interrompo o trabalho para aqui deixar as quadras, que no original francês rimam e que nesta pobre e apressada tradução só consegue transmitir a ideia de oração: 1. Quando amanhece sobre a terra / Nós vemos-te já acordado Tudo renasce com a luz / Fica connosco, ó Jesus! 2. Se às vezes no nosso caminho / nos ameaça o desgosto Na noite da nossa dúvida / Caminha connosco, ó Jesus! 3. Tu procuras os miseráveis / O teu amor está em todos os lugares Vens sentar-te à nossa mesa / Vigia connosco, ó Jesus! 4. Se a tua cruz nos parece dura / Se as nossas mãos são frágeis Que a tua glória nos tranquilize / Sofre connosco, ó Jesus! 5. Para além do teu Calvário / Tu paras e falas connosco Na alegria, junto do teu Pai / Acolhe-nos, ó Jesus!

Anno histórico: Madre Soror Maria do Sacramento

No mesmo dia, ano de 1659, faleceu preciosamente no Mosteiro do Sacramento de Lisboa, da Ordem de São Domingos, a Madre Soror Maria do Sacramento, no século Dona Maria de Mendonça, Condessa de Vimioso, Marquesa de Aguiar, filha de Dom Cristóvão de Moura, Marques de Castelo Rodrigo e de sua mulher Dona Margarida Coutinho Corte Real, casou com Dom Afonso Coutinho, Conde de Vimioso, depois Marquês de Aguiar. Em idade de sessenta anos se viu viúva e entrou logo Religiosa naquele reformadíssimo Mosteiro, onde já tinha duas filhas, levando consigo três criadas para Freiras. Não lhe foi novo o estado religioso, porque nos de donzela e casada viveu sempre muito devota e religiosamente, com grande exemplo, penitência, edificação e do mesmo modo fazia viver a toda a sua família, de sorte que o seu palácio parecia um reformado Mosteiro. Quando entrou no do Sacramento, era sua filha, Soror Margarida da Cruz, Mestra de noviças, e o foi de sua mãe, vindo por este modo a ser mãe de sua mesma mãe e e

Na simplicidade

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Há percursos e ocasiões na vida que nos pedem simplicidade e essa simplicidade torna sublime os mesmos percursos e ocasiões. Foi o caso dos últimos dias em que fui com a João 13 a pé a Fátima. Fátima porque sim e a pé porque sim também. Há simplicidade em tudo. Desde a simplicidade das vidas à simplicidade das conversas, passando também pela simplicidade das orações e celebrações. Este ano descobrimos um pequeno campo, limpo e murado, com uma grande pedra no meio onde celebrámos Missa num dos dias e onde quisemos voltar para a Eucaristia de domingo. A simplicidade de tudo, a começar pelo lugar aprazível e acolhedor que, para mim, foi mais eloquente que a maior das catedrais ou mosteiros. A simplicidade dos cânticos e das orações, das leituras e das alfaias. Tudo simples, tudo belo, tudo marcante. E sentir a presença de Deus numa sombra, num sorriso ou numa lágrima, a força da fé que nos faz caminhar juntos, rezar juntos, e comungar na fé o corpo e o sangue de Cristo. Tenho ouvido no

Anno Histórico: Frei Duarte de Travassos

O Venerável padre frei Duarte de Travassos, da Ordem dos Pregadores, natural de Lisboa, passou à Índia e na ilha de Timor, com as suas pregações e exemplos converteu inumeráveis almas ao conhecimento do verdadeiro Deus. Neste dia, ano de 1660, pregando contra a falsidade dos ídolos, no mesmo acto lhe cortaram a cabeça por ordem do Rei daquela terra. (Anno Histórico, volume III, 2 de Outubro, par. II, p. 124)

O que Maria jovem diz hoje aos jovens

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Estive este fim-de-semana na Peregrinação do Rosário e da Família Dominicana. Há 14 anos que não o fazia em pleno. O tema deste ano foi "Maria, jovem, e os jovens com Maria". Foi muito interessante e belo tudo o que se passou nestes dias e, sobretudo, os testemunhos dos jovens e do "jovem" D. Gilberto Canavarro, bispo emérito de Setúbal que, presidiu à peregrinação. Ontem fiz uma pequena conferência com o tema deste post: o que é que Maria, jovem, diz hoje aos jovens. Aqui a deixo para quem tenha interesse em a ler: A vida de Maria quer na vida de Jesus quer na vida da Igreja é inspiradora, como modelo a imitar e mãe a quem rezar. Aquela pequena frase que o Papa Francisco aqui disse em Fátima, é das mais belas não por ser extraordinária, mas por ser simples e tudo o que é simples é belo: Temos mãe! Gostava, nesta manhã, de vos lançar alguns apelos, a partir de Maria, certamente, mas tendo em conta os momentos fortes que a Igreja e o mundo estão a viver.

São Vicente de Paulo: uma inspiração

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A Igreja faz hoje memória de São Vicente de Paulo. Padre do século XVII, destaca-se na Igreja e no mundo pelo empenho na formação dos padres e na sua proximidade com os pobres. A sua vida, o evangelho vivido e actualizado no seu tempo, o seu zelo e a sua caridade continuam hoje a ser contagiantes em muitos lugares do mundo. São Vicente não teve problemas em dizer, naquele século XVII que "Se dez vezes formos ao encontro dos pobres, dez vezes encontraremos a Deus", ou "não sei quem é mais carente: se o pobre que pede pão ou o rico que pede amor", mas sobretudo o conselho de que entre ir rezar ou ir ajudar um pobre, esta segunda coisa é mais importante: "Não se trata der deixar a Deus, se é por amor de Deus que deixamos a oração: servir um pobre é também servir a Deus". De há muito tempo que me inspira este dia e este santo. Ser padre, estar ligado à formação nos dominicanos e estar presente numa Associação inteiramente dedicada aos pobres. Só me fa

Minuto positivo

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Apesar dos cansaços e das canseiras, acordar em cada dia é um milagre que devemos agradecer aos céus. Pensar nos que morreram durante a noite, nos que estão presos a uma cama ou a um espaço, nos que acordam sem trabalho, comida ou esperança, é para mim um desafio de viver um dia cheio de trabalho, procurando construir um mundo melhor. Por isso, se há uns anos atrás acordava ao som da rádio e, muitas vezes com notícias, deixei de o fazer. Acordar e ouvir as desgraças do mundo era desanimador. Troquei pelas melodias sonsas do telemóvel. Em crescendo para ir acordando, mas calando logo o aparelho porque a música, ao fim de 20 segundos, repete-se. Graças a Deus, são raras as vezes em que a musiqueta me acorda. Mas a tecnologia avança. As aplicações são como os enxames de abelhas que nos rondam, sempre a querer mandar notificações. E voltamos ao mesmo. Mal acordamos, já temos uma notificação de um jornal a dizer que fulano foi morto a tiro, que sicrano foi queimado vivo, que em tal sítio

Tu és Pedro

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Uma pequena paragem aqui para um ou dois parágrafos sobre uma conversa que acabo de ter, também ela pequena e rápida. Disse-me um padre que a grande crise na Igreja passou a ser a dos ultra-conservadores que querem acabar com o Papa. É, de facto, lamentável e triste que os que prometem fidelidade ao Magistério do Papa venham agora achar-se acima dele e deliberar sobre se ele está certo ou está errado. E não menos triste e lamentável é assistir ao silêncio na nossa Conferência Episcopal em não ter ainda  mostrado fidelidade e apoio ao Papa, como o têm feito outras Conferências. Os senhores bispos que me desculpem mas já se estão a atrasar. Ninguém se devia esquecer e os conservadores deviam lembrar a frase de Santo Ambrósio que tanto usaram nos tempos de João Paulo II ou de Bento XVI: Ubi Petrus ibi Ecclesia (Onde está Pedro aí está a Igreja). O ditado serve para todos os Papas e não só para os da nossa cor. O Cardeal Secretário de Estado disse que o Papa, apesar da amargura, está

Anno histórico: Frei Estêvão de São Paio

Frei Estêvão de São Paio, da Ordem dos Pregadores, natural da vila de Guimarães, por legítima parcialidade de pretensão do Senhor Dom António à Coroa de Portugal, foi preso em Lisboa em um forte cárcere do qual fugiu com outros Religiosos também presos do mesmo hábito, e se passou à cidade de Tolouse, onde tomou o grau de Doutor em Teologia e a leu com aplauso daquela Universidade. Era muito perito na língua latina, e nela traduziu da portuguesa as vidas de São Frei Gil, de São Gonçalo de Amarante, de São Pedro Gonçalves, do Beato fr. Lourenço Mendes. De fr. Paio, primeiro prior do convento de Coimbra, de fr. Pedro, porteiro do convento de Évora e de outros varões insígnes em dignidades, letras e virtudes da sua Religião. Escreveu mais na mesma língua latina um tratado sobre o juramento e confirmação, que fez El Rei Dom Afonso Henriques da celestial visão, que teve no campo de Ourique. Tudo impresso em Paris. Os anos de 1586 e 1600. No de 1598, ouvindo dizer em Toulouse que aparecera

Santa Mónica

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Hoje a Igreja faz memória de Santa Mónica, mãe de Santo Agostinho, que amanhã se celebrará. Desde cedo que ganhei afeição por esta mulher de Deus, conhecida na história da sua vida e na liturgia pelas lágrimas derramadas pelo seu filho Agostinho. Por um lado porque a minha paróquia de origem é de Santo Agostinho e, porque a minha avó, além de gostar do nome, dizia que se tivesse tido mais alguma filha a chamaria de Mónica. Nenhum dos filhos a honrou com o nome, bem sabendo que gostos são gostos e Mónica não faz parte dos nomes da moda. Mas foi sempre para mim um dia de alegria e consolação. Lembro-me da minha mãe e das mães e mulheres que pacientemente suportam contrariedades e, em silêncio rezam pelos seus filhos. As lágrimas de Mónica não foram em vão, foram oração. Não foram desespero nem revolta, foram esperança e confiança naquele que consola e enxuga as lágrimas dos que choram. As lágrimas de Mónica foram esmola colocada no cofre das ofertas, foram oblação de incenso no al

Pedir perdão

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Lemos no Evangelho um ensinamento de Jesus sobre o perdão: "Se o teu irmão, por sete vezes pecar contra ti e sete vezes vier ter contigo e disser: Estou arrependido, perdoa-lhe." Hoje o Papa, na Irlanda, ao iniciar o acto penitencial da Missa, pegou numa folha que estava fora do Missal e, em espanhol, pediu mais uma vez perdão pelos vários abusos que ao longo dos anos, religiosos e religiosas acometeram contra menores. Ao mesmo tempo, um ex-núncio dos Estados Unidos da América fazia sair uma longa carta em que pede ao Papa Francisco que se demita do ofício de chefe da Igreja Católica porque sabendo das coisas não fez nada. Poucas pessoas como Francisco sentem vergonha, tristeza e pedem perdão como ele o tem feito. Mas todos sabemos que violência gera violência e Jesus ensinou-nos que o perdão é o travão para os males do mundo e da Igreja. Hoje o Papa pediu desculpa a Deus e às pessoas porque a Igreja (na qual ele se inclui e o ex-núncio também) não agiu correctamen

Anno histórico: Dona Beatriz da Silva

Dona Beatriz da Silva, filha dos mesmos pais do Baeato Amadeu, de quem falamos a dez deste. A Rainha Dona Isabel, nossa portuguesa, mulher de El Rei Dom João II, de Castela a quis levar consigo, Roque a amava com muitas verás, por lhe ser muito chegada em sangue e muito mais pelas virtudes e prendas que nela resplandeciam. A sua formosura, muito apesar da sua modéstia, ocasionou alguns encontros e ruídos entre os grandes daquela Corte donde nasceu que a Rainha com precipitada resolução a mandou meter em um apertado e escuro cárcere. Nele consagrou a Deus a sua pureza, fazendo voto de perpétua castidade e no mesmo ponto foi visitada da Rainha dos Anjos, vestida de azul e branco, cores que depois usou a Ordem da Conceição, fundada pela mesma Dona Beatriz. Serenada a cólera da rainha a mandou restituir à sua liberdade, mas a venturosa Donzela lhe pediu para se retirar (como fez) ao Convento de São Domingos o Real, na cidade de Toledo, onde viveu muitos anos em contínuos e fervorosos exer

Anno histórico: Frei André de São Tomás e Frei Manuel Guilherme

O Venerável Padre Frei André de São Tomás da Ordem de São Domingos, foi Lente de Primeira de Teologia da Universidade de Coimbra, e Varão tão excelso em letras e virtudes, que dele se afirma, fora igual discípulo do Doutor Angélico na doutrina e na inocência; um verdadeiro Israelita na pureza e um segundo Baptista na austeridade. Prognosticou o dia da sua morte, que teve neste dia, pelos anos de 1644, na qual confirmou a grande opinião que se tinha da sua santidade. (Anno Histórico, volume II, 16 de Agosto, par. III, p. 529) Frei Manuel Guilherme, da Ordem de São Domingos, foi natural de Lisboa, onde leu muitos anos Teologia moral, qualificador do Santo Ofício, Examinador do Padroado Real e das três Ordens militares e um dos mais famosos Pregadores da Corte e grande benfeitor da sua Religião, que lhe deve a grande e excelente Biblioteca do Convento de São Domingos de Lisboa e outras mais obras, e a República literária, os quatro tomos do Agiológio Dominicano, que compreende todo o