Deus é um bom gestor

Nas últimas semanas tenho pensado muito nas voltas que a vida dá e de como Deus também dá as voltas que nós nem pensamos que sejam a sua vontade. Para muitos nada é mais que coincidências, para outros também ocasiões que se proporcionam mas, para mim é isso mesmo: as voltas que Deus tem de dar para que a sua vontade se cumpra em nós e através de nós.
A Bíblia dá-me razão, ou eu apoio-me nela: Quando Deus pede a Samuel para ir a casa de Jessé para ungir um dos seus filhos, Samuel fica convencido que o mais velho seria o escolhido; mas Deus diz-lhe: o homem olha à aparência mas Deus olha o coração. Lendo a Bíblia e lendo a nossa vida numa perspectiva de fé, notamos claramente as voltas que Deus dá – sem ninguém entender e às vezes até com apreensão – para que as coisas aconteçam no tempo e ocasião certa e não quando nós queremos.
A Bíblia ensina-me que os obstáculos da vida são oportunidades de conquista que Deus nos dá, se não nos deixarmos prender pelo medo e pela angústia. Nós, humanos, somos apressados, só vemos o imediato e, pior ainda, o nosso imediato. Deus, que tudo vê, tem horizontes largos, tem um projecto mais completo e universal que a nossa estreiteza e proveito. E é preciso confiar, não desistir nem andar distraído para perceber o que é que Deus quer e como é que Ele quer. Se, por um lado, temos de fazer a nossa parte, por outro lado temos que aceitar que Aquele que tudo governa, sabe e gere, o faz melhor que nós. Da nossa parte, fazer o bem, agindo com prudência e confiança.
Vários acontecimentos me têm confirmado o que agora escrevo. Graças ao bom Deus, todos os projectos destinados ao bem, se os entregamos nas mãos dele e os agarramos com as nossas, por muitas tribulações e dificuldades que apareçam, não serão frustrados. E mesmo que não tivessem o fim que nós pensássemos ou desejássemos, mais à frente iremos ver como Deus geriu o problema.
O mesmo se aplica à nossa vida. Deus tem projectos sobre nós que nós nem sonhamos. E Deus também nos usa para chegar onde Ele quer. Somos os mediadores dos projectos de Deus. Que honra, responsabilidade e felicidade!
(Um exemplo concreto do que escrevi aconteceu ontem na Calçada do Cascão. Há 150 Madre Teresa de Saldanha fundava a sua Congregação, no nº 5 da dita Calçada, com a abertura da primeira comunidade de irmãs. Eram duas, com ela que ainda não era religiosa, três. Ali foi lançado um grão de trigo que germinou. Uma das preocupações desta primeira comunidade foi um grupo de raparigas que trabalhavam no nº 39, numa fábrica de botões. As raparigas eram "sub" em tudo: sub-nutridas, sub-instruídas, sub-valorizadas... e exploradas (trabalhavam 14 horas por dia e as mais novas tinham 12 anos!). Aquela primeira comunidade agarrou naquelas raparigas e, depois do trabalho delas, alimentavam-nas, vestiam-nas e educavam-nas. A comunidade mudou de lugar e a fábrica fechou. Há um ano atrás, sem saber deste historial, a Associação João 13 começou o seu voluntariado no nº 39 da Calçada do Cascão, gerindo um NAL (Núcleo de Apoio Local), acolhendo pessoas sem-abrigo e carenciadas da zona de Santa Apolónia e São Vicente. Ontem, 15 anos depois, e depois de descerrar a lápide comemorativa dos 150 anos da fundação da Congregação, as Irmãs ofereceram o jantar às pessoas que acolhemos no NAL, no nº 39 da Calçada do Cascão, onde há 150 anos funcionava uma fábrica de botões. Coincidências? Não. Gestão de Deus.
Numa das paredes do refeitório fica marcada a antiga presença das Irmãs dominicanas que continua com a nossa, também tão dominicana. Uma imagem de Teresa de Saldanha, uma frase dela: "Para a caridade não há distâncias nem distinções, e se muito tivéssemos, tudo seria pouco para dar" e a memória actualizada: Madre Teresa de Saldanha, há 150 anos, passou por aqui fazendo o bem (1868-2018).

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