Mensagens

A mostrar mensagens de 2010

O novo arco-íris (homilia)

Imagem
Esta manhã, quando saí de casa para fazer umas compras para a Comunidade, ao descer as escadas, vi um céu escuro e o arco-íris a sustentá-lo. Um arco-íris forte e completo. Quando vejo um arco-íris lembro-me sempre do episódio onde ele aparece pela primeira vez na Bíblia – depois do dilúvio – e o significado que Deus lhe dá: um sinal de aliança entre Deus e os humanos. Curiosamente este é o mesmo significado para as três religiões monoteístas (judeus, cristãos e muçulmanos). Pode parecer fora de contexto esta minha alusão ao arco-íris desta manhã, mas creio que não é de todo descabida. Porque as leituras que escutámos nesta nossa celebração falam dos mesmos temas presentes na simbologia do arco-íris: revelação, aliança, fidelidade… Este tempo de Natal é um tempo de luz. Uma luz que brilhou no meio da noite, uma luz que é contemplada pelos pastores e adorada pelos Magos. Uma luz que se revela no nosso mundo e na nossa história. Por isso este tempo é também um tempo de revelação. Com Jes

Balanço anual

Imagem
Entre o fim-do-ano e o ano-novo, empresas e lojas fazem o seu balanço. A Igreja também o fez nas suas instâncias próprias. O Papa, no passado dia 20, fez o balanço institucional: o pesadelo, que não foi pesadelo, foi mesmo realidade, do abuso de menores por parte de padres católicos, o bom êxito do Sínodo dos Bispos para o Médio Oriente, as viagens e a beatificação do cardeal Newman, foram os temas principais do discurso do Papa. Dias mais tarde, foi a vez do Porta-Voz do Vaticano fazer também ele o balanço da actividade do Papa, dizendo que foi o melhor ano do pontificado: as «intervenções exemplares» do Papa em relação à pedofilia com a atitude de "prontidão em ouvir, compreender, participar no sofrimento", as cinco viagens internacionais, uma das quais a Portugal, uma exortação apostólica (Verbum Domini) e o best-seller da entrevista concedida ao jornalista Peter Seewald (Luz do mundo) foi o que mais se destacou em 2010. Também a Agencia Fides fez o seu balanço. Este organ

A morte dos inocentes

Imagem
Que Herodes não era flor que se cheirasse sabia-o toda a Judeia. Não vamos aqui desconsiderá-lo até porque ficou o com cognome de "o Grande". Mas era cruel. E, de certa maneira, um rei imposto pelo Império Romano, o que não agradava nada ao povo judeu. O seu grande problema, com o qual convivia diariamente, era o da legitimidade: não era da descendência de David. Por isso sentia o sabor amargo de não ser reconhecido pelo povo. E, às tantas, isto tornou-se uma obsessão; para que o seu reinado não fosse questionado nem sequer retirado do posto, mandou queimar alguns arquivos genealógicos onde estavam as linhagens mais nobres dos judeus. por isso o medo era mútuo: de um lado o povo tinha medo de Herodes porque estava em nome do Império Romano e, por outro, Herodes tinha medo do povo e por isso mandou construir uma fortaleza, em Massá, para fugir caso aparecesse alguém da descendência de David, a linhagem real. O reconhecimento de grandeza vinha-lhe das grandes construções que fe
Imagem
Aproxima-se a hora do silêncio e da contemplação. A noite brilha como o dia, a alegria é espiritual, para não acordar o Menino. Também vou depressa ao presépio. Que nada me prenda, nem família nem amigos, nem presentes nem canções. Quero ir ao presépio. Não quero deixar de ver e adorar Aquele que aquece o meu coração e dá sentido à minha vida. A si que passou por aqui desejo-lhe um Santo Natal e desafio-o a ir comigo à gruta. Venha ou vá lá. Encontraremos outros como nós a contemplar a grandeza do Amor de Deus.

Recenseamento

Imagem
“ Por aqueles dias, saiu um édito da parte de César Augusto para ser recenseada toda a terra. Este recenseamento foi o primeiro que se fez, sendo Quirino governador da Síria. Todos iam recensear-se, cada qual à sua própria cidade. Também José, deixando a cidade de Nazaré, na Galileia, subiu até à Judeia, à cidade de David, chamada Belém, por ser da casa e linhagem de David, a fim de se recensear com Maria, sua esposa, que se encontrava grávida .” Lucas 2, 1-5 É o único quadro que conheço sobre este episódio do recenseamento de Belém, narrado no princípio do capítulo dois do Evangelho de Lucas, que aparece como introdução ao nascimento de Jesus. Além disso, já o vi na minha ida a Bruxelas. Bruegel tem esta arte de, a partir de um acontecimento, relatar também o seu contexto. Bruegel não é directo. Ao olhar para este quadro a nossas atenções vão para um grupo de gente que está perto da casa dos recenseamentos: pagam o imposto e fazem o recenseamento. Mas não é aí que estão José e Maria.

A caminho dos 800

Imagem
O dia 22 de Dezembro de 2016 será um dia muito importante para os Dominicanos: os que forem vivos celebrarão, creio que com muita alegria, os 800 anos da aprovação da Ordem dos Pregadores, por Onório III em 1216. Este ano, a caminho destes oitocentos anos, celebramos o 794º aniversário. O que significa esta data? Significa, antes de mais, uma oficialização, querida por São Domingos, para levar o Evangelho da graça aos sítios onde ele ou não era conhecido ou estava deturpado. Pela salvação das almas, pelos pecadores, rezava e chorava muitas vezes São Domingos. Mas é também, como em qualquer instituição, dia de reflexão sobre o sentido da nossa existência. Uma Ordem que nunca teve uma reforma, nunca se dividiu, sempre em expansão, mesmo que poucos, uma Ordem que quis estar no meio da Igreja (in medio Ecclesia), como se diz de São Domingos. No meio da Igreja, não como protagonista, não como exaltação; no meio da Igreja como escolha, para a servir, no meio das preocupações dos que a formam

São Domingos de Silos

Imagem
Hoje a Igreja não celebrou São Domingos de Silos. Digo não celebrou porque nesta novena do Natal não se devem celebrar a memória dos santos... só por isso. E se eu falo hoje dele aqui é pela relação que existiu entre este São Domingos e o 'meu' São Domingos. Para não ser confuso entre o de Silos e o de Caleruega. Este ano estive de novo neste dois lugares. Estas duas terras distam de 19 km entre si. No entanto, Silos é muito conhecida pelo seu mosteiro beneditino e pela música gregoriana que há uns anos se gravou em cd. Mas que relação há entre estes dois Santos? Directamente nenhuma. São Domingos de Silos morreu em 1073 e São Domingos de Gusmão, fundador dos Dominicanos, nasceu em 117o... Mas há um episódio da vida de São Domingos, ou melhor, da sua mãe, que faz não só a ligação entre estes dois homens como pode o segundo chamar-se Domingos por causa do primeiro. Sem mais delongas conto a história: Joana de Aza, mãe de São Domingos, o dos Dominicanos, antes de engravidar, teve

O terceiro anúncio

Imagem
Ao sexto mês, o Anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a uma Virgem desposada com um homem chamado José, da descendência de David. O nome da Virgem era Maria. Tendo entrado onde ela estava, disse o Anjo: «Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo». Ela ficou perturbada com estas palavras e pensava que saudação seria aquela. Disse-lhe o Anjo: «Não temas, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Conceberás e darás à luz um Filho, a quem porás o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-Se-á Filho do Altíssimo. O Senhor Deus Lhe dará o trono de seu pai David; reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim». Maria disse ao Anjo: «Como será isto, se eu não conheço homem?» O Anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Por isso o Santo que vai nascer será chamado Filho de Deus. E a tua parenta Isabel concebeu também um filho na sua velhice e este é o sexto mês daquela
Imagem
Nos dias de Herodes, rei da Judeia, vivia um sacerdote chamado Zacarias, da classe de Abias, cuja esposa era descendente de Aarão e se chamava Isabel. Eram ambos justos aos olhos de Deus e cumpriam irrepreensivelmente todos os mandamentos e leis do Senhor. Não tinham filhos, porque Isabel era estéril e os dois eram de idade avançada. Quando Zacarias exercia as funções sacerdotais diante de Deus, no turno da sua classe, coube-lhe em sorte, segundo o costume sacerdotal, entrar no Santuário do Senhor para oferecer o incenso. Toda a assembleia do povo, durante a oblação do incenso, estava cá fora em oração. Apareceu-lhe então o Anjo do Senhor, de pé, à direita do altar do incenso. Ao vê-lo, Zacarias ficou perturbado e encheu-se de temor. Mas o Anjo disse lhe: «Não temas, Zacarias, porque a tua súplica foi atendida. Isabel, tua esposa, dar-te-á um filho, ao qual porás o nome de João. Será para ti motivo de grande alegria e muitos hão-de alegrar-se com o seu nascimento, porque será grande ao
Imagem
O nascimento de Jesus deu-se do seguinte modo: Maria, sua Mãe, noiva de José, antes de terem vivido em comum, encontrara-se grávida por virtude do Espírito Santo. Mas José, seu esposo, que era justo e não queria difamá-la, resolveu repudiá-la em segredo. Tinha ele assim pensado, quando lhe apareceu num sonho o Anjo do Senhor, que lhe disse: «José, filho de David, não temas receber Maria, tua esposa, pois o que nela se gerou é fruto do Espírito Santo. Ela dará à luz um Filho e tu pôr-Lhe-ás o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados». Tudo isto aconteceu para se cumprir o que o Senhor anunciara por meio do Profeta, que diz: «A Virgem conceberá e dará à luz um Filho, que será chamado ‘Emanuel’, que quer dizer ‘Deus connosco’». Quando despertou do sono, José fez como o Anjo do Senhor lhe ordenara e recebeu sua esposa. Mt 1, 18-25 São Mateus e São Lucas têm versões diferentes sobre os acontecimentos do nascimento de Jesus. Por exemplo, as genealogias e as anunciações: em L

A segunda etapa

Imagem
Começou hoje a segunda etapa do Advento: de 17 a 24 de Dezembro a começamos na contagem decrescente para a celebração do acontecimento histórico de há dois mil e dois anos (digo 2010 não por rigor histórico mas por conveniência prática). Tudo muda nas celebrações das Missas e dos ofícios: antífonas próprias - a partir de hoje cantam-se as "Antífonas do Ó", e até os Evangelhos narram de uma forma mais 'histórica' os dias antes do nascimento de Jesus. Hoje escutou-se a genealogia de Jesus, na versão de São Mateus. É logo o princípio do Evangelho, Mateus terá achado importante fazer uma genealogia de Jesus para o ligar a pessoas importantes como David, Jessé e Abraão. Era importante para Mateus afirmar a ascendência davídica de Jesus e explicar o seu nascimento em Belém - afinal David foi o grande Rei de Israel, nascido também ele em Belém - e era importante inscrever Jesus na linhagem de Abraão, nosso pai na fé e colocado na génese do judaísmo. Afinal tudo tem o seu por

Dos homens e dos deuses

Imagem
O poema de José Régio "cântico negro" termina assim: " Não sei por onde vou / sei que não vou por aí ". Foi a minha conclusão depois de ver, ontem, o filme "dos deuses e dos homens". Concluí assim porque há situações, na nossa vida, naquela comunidade, que são difíceis, que não se vêm claras. No entanto, também temos a claridade para ver que, apesar de não vermos caminhos, há caminhos que não queremos percorrer. Em tempos de perseguição, no meio de uma guerra civil, coloca-se a pergunta difícil, ficar ou sair. Tudo pesa na decisão: fugir para quê, se Deus nos quer aqui, para quê ficar, se Deus não quer que procuremos o martírio... pontos de vista diferentes, medos, certezas, indecisões... e o filme, cheio de ternura e compaixão, mostra-nos uma comunidade que ali está, no meio de muçulmanos, a quem faz o bem seja a curar seja a escrever por quem não sabe. Um trabalho discreto mas próximo. E com o seu ritmo bem marcado pelo sino que vai dizendo que os monges

Natal moderno

Imagem
De repente, toda a gente começa a receber um mail com um vídeo de como poderia ter sido o nascimento de Jesus nos dias de hoje. Eu, nos últimos dias, mais de um por dia. De tal modo que aqui deixo o vídeo que, apesar de tudo, como se lê no fim " os tempos mudam mas o sentimento continua o mesmo ". Já agora, aqui fica também o presépio que ontem, no final da Missa, os alunos do 2º ciclo do Externato Marista de Lisboa ofereceram ao convento, com o compromisso de o aumentar no próximo ano. E, com estas coisas e outras que vamos vivendo, vamo-nos acercando daquela pequena gruta, que se tornou o lugar mais importante de Belém.

Arte

Imagem
Prometi ao Francisco, ao Miguel e à Catarina que iria colocar estes desenhos no meu blogue (os desenhos estão por esta ordem). Vieram dar-mos no final da Missa. Já aqui escrevi da minha falta de jeito nos desenhos. Quando vejo crianças a desenhar e a pintar, penso no que lhes estará a passar pela cabeça e no potencial que têm para pôr em desenho o que sentem. Quando a Catarina desenhou o "Castelo de Jesus", o que lhe estaria a passar pela cabeça? Que Jesus é rei e tem um castelo? Ou, como Santa Teresa de Ávila, pensava no Castelo interior? Será que a torre que o Miguel desenhou, com os nomes de Jesus, foi inspirado nas de Gaudì? E o homem de braços abertos, com um anjos e a escada, pintados pelo Francisco? Será que era a luta de Jacob com o Anjo? Certamente que não. Eles ainda não têm idade para perceber estas coisas. No entanto, quando digitalizei estes desenhos, foi onde me levaram. Quando nos despedimos o Francisco ainda me quis dizer mais uma coisa. Que quando dorme pensa

Advento e Natal

Imagem
Na Igreja amanhã será dia de ano novo. Acabámos hoje o Tempo Comum e ao final da tarde, um pouco por todo o mundo, começamos a celebrar um novo tempo - o Advento - e um novo ano. Para mim o Advento é o tempo mais bonito e com mais espiritualidade. Conjuga-se o inverno e o frio, ao mesmo tempo que começam os preparativos para o Natal. Na Igreja escutamos as profecias de Isaías sobre o Messias, repete-se o refrão "Vem, Senhor Jesus" (Maranatha), muitos dos cânticos são entoados em tom menor o que dão uma doçura às letras algo melancólicas que nos falam da vinda de um Messias e, com ele, a promessa de um mundo melhor. O mundo prepara-se para celebrar o Natal. Mas, que Natal? O da azáfama da compras, o da ilusão das luzes, o da cegueira diante dos que passam fome? Que paradoxo... Jesus nasce pobre e nós vivemos na riqueza. Nasceu num lugar esquecido e nós passeamo-nos nos colombos e nos vascos da gama. Jesus vem mostrar-nos o real da nossa vida e nós preferimos olhar para as mont

A propósito de uma conferência

Imagem
Depois de uns dias a organizar ideias, comecei hoje a escrever uma conferência que farei quinta-feira, em Fátima, no âmbito das Jornadas da Pastoral da Saúde. Irei falar, numa mesa redonda, sobre abordagens práticas práticas para uma espiritualidade saudável, no ponto de vista de um capelão. Vê-se muita coisa nos hospitais. E nem sempre a pastoral dos doentes é feita da melhor maneira. E eu, confesso, não tenho muita experiência. De modo que me ajudou a parar e pensar sobre o que faço e como posso melhorar. Uma das abordagens é a dimensão sacramental. Digo que num hospital se podem celebrar todos os sacramentos. E pensei: todos não. A Ordenação não pode ser. Mas lembrei-me de ter ouvido a história de um padre que foi ordenado num hospital e que morreu depois de ter celebrado a sua primeira missa. Procurei e encontrei a história que aqui resumo. Trata-se de um alemão, Karls Leisner, dirigente de um movimento juvenil católico que, tendo optado pelo sacerdócio foi ordenado diácono em 1939

A moralidade do preservativo

Imagem
Ao enviar um sms a um amigo sobre a notícia do dia: " Bento XVI torna-se o primeiro Papa a admitir o uso do preservativo " (Público) a resposta foi: " A surpresa vem de onde menos se espera... " De facto, ninguém esperava que este Papa, conhecido pelo seu conservadorismo, dissesse numa entrevista que o preservativo, apesar de não ser solução real e moral, pode ser o primeiro passo no caminho de outra sociedade mais humana. Isto foi sempre o que defendi (não quero aqui mostrar que o Papa me copiou a ideia ou que descobri a pólvora antes dos outros), longe de julgar o que quer que fosse e quem quer que fosse mas segundo uma certa lógica: se a Igreja defende o valor da vida desde a sua concepção não pode aceitar anti-conceptivos. E não pode aceitar o preservativo como contraceptivo. No entanto, faltava ver a outra dimensão que o preservativo adquiriu. É que, em certas circunstâncias ele funciona como 'medicamento', ou seja, preventivo na propagação de doenças,

As cidades das sete colinas e o poderio

Imagem
As duas cidades com sete colinas - Lisboa e Roma - têm hoje encontros mundiais. Em Lisboa a Cimeira da NATO, os poderosos deste mundo com os seus séquitos (o do Obama é de cerca de mil pessoas!!!) vêm falar sobre terrorismo, proliferação de armas de destruição maciça e reforçar a aliança transatlântica . Em Roma o Papa reúne-se com os Cardeais - esperam-se cerca de 150 purpurados (sem séquitos ) - para reflectir problemas internos como o da liberdade religiosa, abusos sexuais cometidos por eclesiásticos e a recepção de eclesiásticos anglicanos na Igreja Católica. Esta cimeira eclesiástica terminará com a criação de mais 24 cardeais. Dei comigo a pensar no sofrimento que eu teria se fosse uma pessoa destacada. Já não digo Papa nem Presidente dos Estados Unidos. Mas já viram o que é, por exemplo em Lisboa: fazer parar céus e terra, afastar as manifestações e as críticas que bem merecem, alterar a vida de uma cidade, andar com não-sei-quantos guarda-costas porque umas pessoas que se

Esta geração

Imagem
As minhas saídas matinais, às terças-feiras, para ir celebrar Missa a um colégio, fazem-me ver o look da malta nova. E aqui, malta nova entenda-se pelos rapazes e raparigas do secundário e universitários (no meu percurso passo por uma universidade pública). E o que é que vemos? Gente desalinhada que vive no seu mundo como se vivesse dentro de uma bola de sabão. Não é uma crítica às pessoas em si - nunca meti conversa com ninguém - mas à aparência (sabendo que as aparências muitas vezes iludem). Mas o que é que vejo? As calças ao fundo do rabo - que soube há pouco que vem dos skaters que, nas curvas do corpo, quando andam de skate , as calças desciam... (uma versão mais edificante que a que corre na net ...) - uns ténis grossos, ultra almofadados e meios rotos, cabelos desgrenhados, alguns com bonés e, como que a sair-lhes do umbigo, uns fones que deve ser para os iludir do mundo. E o problema é que parece que já nasceram com eles! Alguns, por delicadeza ou por directrizes familiar

Mais uma sobrinha

Imagem
O fim deste dia veio com uma feliz notícia: nasceu a minha segunda sobrinha! Leonor, nome há muito decidido, correu tudo bem, com 3.265kg (é uma pergunta que sempre se faz quando alguém nasce e eu nunca sei se é muito se é pouco... mas para quem nasceu há pouco mais de uma hora é razoável). Curiosamente nasce entre o meu aniversário e o do meu irmão (por poucas horas não nascia no mesmo dia...). E porque todos os dias têm o seu santo, o santo que lhe calha é Santo Estanislau Koska, Jesuíta do Séc. XVI. A santa do seu nome é Santa Leonor que, embora francesa, casou com Henrique III de Inglaterra, tornando-se ela rainha do mesmo país. Tudo isto no séc. XIII. Quero neste dia dar as boas-vindas a esta bebé. E dar graças a Deus pelo grande dom da Vida que nos vai concedendo. Afinal a vida é a sucessão dos dias e dos tempos: uns nascem, outros morrem, todos envelhecemos. (esta é uma pintura de Santa Leonor. Não sei nada mais que isto...)

A segunda oportunidade

Imagem
" A compaixão é que nos torna verdadeiramente humanos e impede que nos transformemos em pedra " (Anatole France). Entre a Lei e a Norma. A cabeça e o coração. Duas maneiras de agir. Se a decisão passa só pela cabeça, somos inflexíveis; se passa só pelo coração, somos moles; se passam pelos dois lados podemos ser racionalmente compassivos. Não entendo compaixão como "pena de" embora, por vezes, seja a pena que nos leve à compaixão. Forte tensão entre a segunda oportunidade e a oportunidade sempre. Onde se situar? Terá limites a compaixão? Será insensível, cega, surda? Será excessiva pemissividade? Comparo dois quadros: o da mulher de Lot que, por desobedecer a uma ordem dos anjos, foi transformada numa estátua de sal e o do filho pródigo, o pai que dá a mão ao filho que errou. Oportunidades são responsabilidades, escreveu Alfred Montapert. Dar uma nova oportunidade é renovar a responsabilidade. Mesmo que seja ilusão e que nada mude, vai mudando o nosso coração. (Guer

A Sagrada Família

Imagem
Ele é conhecido como o Arquitecto de Deus e a sua grande obra a Bíblia de pedra. Falo, é claro, de Antóni Gaudí e da sua Sagrada Família. É hoje dedicada pelo Papa. Esta deve ser das viagens mais interessantes para um Papa tão interessado pela cultura e pela arte. O que era para ser uma reprodução da igreja do Loreto tornou-se uma igreja - a partir de hoje basílica e catedral - emblemática não só para a Espanha mas para toda a Europa. Uma obra que já percorreu três séculos. Que à primeira vista parece uma daquelas construções de areia que fazíamos na praia, com os píncaros das torres que quase tocam o céu. Fachadas cheias de fé, e de doutrina, colunas que parecem árvores de pedra com os seus animais esculpidos e as imagens, apesar da dureza da pedra, mostram-nos a doçura e os sentimentos dos passos da vida de Jesus. Mas, para mim, o mais bonito da Sagrada Família está no interior. Se por fora temos esculpido o Evangelho e os temas da fé, dentro temos esculpido o livro do Apocalipse, qu

Os anos são degraus

Imagem
Os anos são degraus, a Vida a escada. Longa ou curta, só Deus pode medi-la. E a Porta, a grande Porta desejada, só Deus pode fechá-la, pode abri-la. São vários os degraus; alguns sombrios, outros ao sol, na plena luz dos astros, com asas de anjos, harpas celestiais. Alguns, quilhas e mastros nas mãos dos vendavais. Mas tudo são degraus; tudo é fugir à humana condição. Degrau após degrau, tudo é lenta ascensão. Senhor, como é possível a descrença, imaginar, sequer, que ao fim da Estrada, se encontre após esta ansiedade imensa uma porta fechada e mais nada? Fernanda de Castro, in "Asa do Espaço"

O bom-dia

Imagem
O Bom-dia nos Colégios maristas é uma instituição. Todos os dias, todos os alunos começam o dia por fazer um pequeno período de reflexão sobre um pensamento que vem indicado na agenda marista. Esta manhã estive no Colégio, onde fui falar a uma turma. Iam começar o bom-dia e eu, como um aluno, sentei-me numa cadeira e participei antes de lhes falar. A frase era de Bob Marley: " Vocês riem-se de mim porque sou diferente, e eu rio-me de vocês porque são todos iguais ". Coincidentemente foi um aluno "diferente", que apresentou hoje a reflexão. Depois de uma partilha abundante sobre o que é ser diferente e o dever do respeito pelo outro, e pela sua diferença, surge uma pergunta directa: e vocês? Já se sentiram discriminados? Uma rapariga disse que sim, por ser gordinha; depois um rapaz por ser magricelas, um outro porque não gostava de jogar à bola, e o que apresentava o bom-dia, também, por ser magro e por ser de cor diferente. Não acho a frase do Bob Marley espectacula

Epitáfio

Imagem
Hoje é dia de Requiem . De os ouvir, de rezar pelos mortos, acompanhar as orações com um outro gesto, acender uma vela, ir a um cemitério, passear, colocar uma flor ou entrar numa uma igreja e ouvir uma missa pelos defuntos. É dia do branco, do roxo ou do preto, para quem manifesta os sentimentos com cores. É dia do Memento homo . É dia de lembrar os que morreram e lembrar que também nós morreremos e que um dia este dia será também nosso. É dia de ver a vida como uma tenda ou como uma passagem; Desta vida como uma não-vida porque a verdadeira será eterna. É dia de renunciar ao efémero de olhar os cedros, altos e esguios, de ler poemas como quem lê epitáfios, e parar no que mais lhe toque como, por exemplo, este: " A morte é uma flor que só abre uma vez. Mas quando abre, nada se abre com ela. Abre sempre que quer, e fora de estação. E vem, grande mariposa, adornando caules ondulantes. Deixa-me ser o caule forte da sua alegria " (Paul Celan). (A viagem da vida - juventude, Thom

O pão por Deus

Imagem
O que ia escrever hoje neste post está, afinal, escrito no do ano passado: das minhas recordações deste dia, em Feirão. Este dia, para mim, é dos mais bonitos. Aquilo que no Credo se diz sobre a comunhão dos santos é o que sinto: nós cá na terra a louvar a Deus com os que estão já junto dele. Aqui, no convento, dá-se o "pão por Deus", um pormenor que conheço das regiões do Norte. Cada região, aldeia e até casa tem o seu ritual e a sua receita; antes, dava-se pão para que se rezasse pelas almas; hoje dão-se pequenas broas para que a tradição não se acabe. Na Missa da tarde um baptizado. Que dia mais bonito que este para se baptizar alguém? Hoje o mundo recolhe em silêncio. Acabou a festa das bruxas, que de cristã não tem nada. Esta noite é a noite de rezar pelos que morreram. Não só pelos nossos mas por todos. E de acender uma vela - eu acendi uma ontem na minha varanda e lá continua acesa, em memória dos que já passaram a barreira que limitava o acesso a Deus. Festa dos Santo

Cinco anos

Imagem
Hoje a igreja do Convento onde vivo celebra o quinto aniversário. Os que assiduamente cá vêm dizem: Já cinco anos? Sim, já cinco anos. E eu também os celebro. Há cinco anos que me entregaram a pastoral da igreja do Convento. Muita gente diz que é uma referência não só para a diocese de Lisboa como para todo o país. Digo-o em relação à arquitectura, obviamente. Antes de mais pela singularidade de ser uma igreja conventual, o que distingue e identifica. E a grande diferença entre uma igreja paroquial e a conventual está no objectivo: uma igreja paroquial deve adptar-se à realidade do território da paróquia enquanto que, na igreja conventual, o que acontece é a identificação das pessoas com a realidade conventual. A própria arquitectura na concepção da igreja do convento vai mais num estilo comunitário do que individual. Alguns pormenores: não tem uma pia baptismal. Porquê? Porque não é uma igreja paroquial. Não tem um lugar específico para confissões: em qualquer lado da igreja, num simp

Os embates da vida

Imagem
Entender a vida como uma planície, verde, cheia de beleza, sem mais nada, é uma ilusão. Uma paisagem bonita é aquela em que a combinação de volumes, cores e odores é quase perfeita. E assim é a nossa vida. Talvez no meio da montanha não tenha tanta piada como vê-la ao longe ou do seu cume o horizonte dos nosso olhar. Sendo a nossa vida uma paisagem, que será a planície ou a montanha? Cicatrizes dos embates da vida. Ontem, duas conversas amargas. Duas grandes montanhas (por vezes esquecemo-nos que a beleza de uma montanha foi o resultado de um violento embate da terra) numa paisagem tão plana e tão calma. Uma mãe, num estúpido acidente - daquelas situações em que se diz à hora errada no sítio errado - perde um dos filhos. No hospital, entre lágrimas, vai desfiando as suas dores e angústias, como quem vai passando as contas de um rosário. Diz-me que teve a honra de o ver nascer e de o ver morrer. Diz que lhe custa não ter o filho, não o ver. Diz que ainda não descobriu o outro modo de pr

Homilia do XXX Domingo do Tempo Comum (24 de Outubro)

Imagem
A parábola contada hoje no Evangelho que, acabámos de escutar, pode ser entendida como uma provocação. Provocação para os ouvintes de Jesus, provocação para as primeiras comunidades cristãs e hoje provocação a cada um de nós. E é uma grande provocação que se pode desfragmentar em várias provocações. A primeira provocação é a dos actores da parábola. Um fariseu e um publicano. Um fariseu que fazia da aparência a sua vida, que tinha que ser reconhecido pela comunidade porque era exemplar e um publicano que era excluído pela comunidade pelo seu trabalho: era tido como um ladrão, como um explorador, dava-se com os inimigos do povo. Outra provocação é a do tipo de oração que estes dois homens fazem: ambas sinceras. O fariseu assume uma atitude normal do seu modo de rezar: está de pé. A sua oração é sem hipocrisia: é um homem recto, observa a lei – ainda que só na sua exterioridade –, evita os pecados, não rouba nem é injusto como o publicano que estava também a rezar. Ele até faz mais que o

Os Valinhos

Imagem
Acabou hoje o retiro. Consegui ter uma tarde livre em Fátima. Tem sido raro, nos últimos dias, ir a Fátima e ter tempo livre, só para mim. Como o retiro acabou depois do almoço e só vinha para Lisboa depois do jantar aproveitei para caminhar. Três horas. Para fazer um recorrido nos arredores do Santuário: Via-Sacra dos Valinhos, Calvário Húngaro, Loca do Cabeço, Aljustrel, Fátima (igreja paroquial e cemitério) e regresso a casa pela "Estrada principal de Fátima". Para mim a Via-Sacra dos Valinhos continua a ser o melhor de Fátima. Lembro-me que, quando era pequeno, era devoção obrigatória da peregrinação da paróquia de Marvila. Muitos autocarros, megafone... uma solenidade; o prior presidia, os leitores liam, os cantores cantavam os cânticos antigos que agora já se não usam, as pessoas muito piedosas e nós, os mais pequenos, sempre uma estação à frente, olhávamos para o quadro e deixávamos no altarzinho de cada estação umas florinhas apanhadas à beira do caminho. Hoje, adulto

Este meu dia

Imagem
Estou em Fátima. Cheguei ao fim da tarde para vir pregar um retiro. O tema será a oração. Da oração de Jesus à nossa oração. Mas o dia de hoje foi muito engraçado. A manhã foi, logicamente, a preparar as últimas coisas: impressão do texto, mala, livros, etc. etc. Mas a hora do almoço foi no Externato de São José, no Restelo. Este ano que retomo o acompanhamento deste Colégio, pediram-me que fosse uma vez por mês, à hora do almoço, sem motivo. Dir-se-ia, "pastoral da presença". Cheguei ao meio-dia, fui para o refeitório, onde estavam os do 1º e 2º ano a almoçar. Novidade no refeitório, olá eu sou o Gonçalo, e tu quem és? Eu sou o Filipe, e ficaram as apresentações feitas. Lá os animei a comer rápido, com a promessa que, depois do almoço ia brincar com eles ao toca-e-foge. Numa outra mesa estavam quatro de castigo, vá-se lá saber o porquê - nem eles sabiam bem - aliviar um bocado o drama, houve um que até chorou e diz-lhe um colega: chorar não te tira do castigo, mas é sinal de

Os nossos "Natanaeis"

Imagem
Faz daqui a poucos dias quatro anos que fui a Bruxelas ao ICNE (Congresso Internacional da Nova Evangelização). Fui a convite do Prior do Convento que queria presença "jovem" para a animação desse Congresso. O mais interessante eram as conferências que, cada manhã, aconteciam na grande basílica do Sacré-Coeur. Houve uma do nosso dominicano Timothy Radcliffe. A conferência era sobre o anunciar a Boa Nova aos habitantes das grandes cidades da Europa. Na altura não nos tínhamos de preocupar com tirar notas porque, no último dia, era-nos dado um livro com todas as conferências. Trouxe o livro, emprestei-o e o que é certo é que me desapareceu. No sábado passado, estando no Campo Grande à espera da hora de um casamento, enquanto 'espreitava' a biblioteca do P. João Resina (diz-me o que lês e dir-te-ei quem és), encontrei o livro! Não era o meu, claro está, mas era o mesmo livro. Tirei fotocópias da tal conferência que ontem acabei de ler. E mais uma vez se conclui que Timot