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O calvário do mundo

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Sexta-feira, dia de trabalho no hospital. Que hoje me pareceu uma verdadeira Via-Sacra: as estações são os quartos onde estão os Cristos deitados na sua cruz que é a cama com cireneus - os médicos e todos os que cuidam deles - e até a pouca companhia como Jesus na cruz. Um verdadeiro calvário. Não me entendam como se dissesse que o hospital é um lugar terrível ou até evitável. Não, a cama de um hospital é um calvário, no que traz de sofrimento, de aceitação ou revolta, de esperança e de confiança em Deus, se nele crêem. Três estações marcaram este dia (estação quer dizer paragem). Um doente que recebe uma notícia não muito feliz, que também não era nada que não estivesse já no horizonte. Este doente, depois da visita do médico e já comigo diz-me: clinicamente não há tratamento eficaz, estou com Deus, quero preparar-me espiritualmente para ter forças. E comungou. Aqui temos um Cristo que hoje transmitiu assim a sua entrega, que não é muito diferente da de Cristo na Cruz: "Pai, nas ...

A chamada "doença terminal" - parte 4

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3. Dignidade e humanização da morte A proporcionalidade dos tratamentos, antes discutida, é no entanto apenas uma das respostas alternativas ao problema da eutanásia e do afinco terapêutico na doença terminal. A sua verdadeira evolução consiste, provavelmente, numa cultura diversa que nos leve a descobrir o sentido de viver e de morrer, que torne a morte ‘digna’ do homem e que nos capacite ‘acompanhar’ o moribundo a tal acontecimento último. É necessário redescobrir também, no nosso tempo, a atenção ao momento e ao significado da morte. O seu momento não pode apanhar-nos de surpresa. Talvez hoje sorrimos diante dos textos ascéticos dos séculos passados como a Preparação para a morte de S. Afonso de Ligório mas não nos deveria escapar o sentido mais profundo de tais atitudes. Toda a vida deveria ser uma longa preparação para a morte. Como diz uma frase atribuída a Leonardo da Vinci “como um dia bem passado no leito de dormir, assim uma vida bem vivida no leito de morrer”. Não se pode...

A chamada "doença terminal" - parte 3

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2. Negar a morte para negar a doença: a obstinação terapêutica Os tratamentos “inúteis” No tema da eutanásia é inevitável abordar a obstinação terapêutica, dado que constitui, pelo menos no plano dialéctico, a contraposição mais imediata. De facto pensa-se que a recusa de praticar a eutanásia nos doentes terminais constitui, de facto, uma obstinação terapêutica, isto é, é inútil submeter o doente remédios que apenas lhe prolongam o sofrimento. Na realidade nem toda a intervenção que prolongue a existência de um doente terminal configura com uma inútil obstinação terapêutica. Podemos definir isto como a insistência no recurso a defesas médico-cirúrgicas não incidentes na medida significativa sobre o natural e irreversível percurso da doença nem sobre uma melhor qualidade de vida do paciente. Ainda que um pouco comprida e articulada, a definição que propomos delimita bastante bem o âmbito da obstinação terapêutica e sobretudo evita extensões indevidas a actos que certamente não constitu...

A chamada "doença terminal" - parte 2

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1. Suprimir o doente para suprimir a doença: eutanásia Natureza da eutanásia Entre as respostas éticas relativas ao doente terminal, a mais problemática diz respeito à eutanásia, termo ambíguo enquanto sobrepõe o plano descritivo (isto é, da raiz grega, o conceito de “boa morte”, en Tanathós) com o plano valorativo (isto é, a supressão piedosa do doente). Antes de mais, então, procuremos definir exactamente os termos do problema. “Por ‘eutanásia’ podemos entender toda a acção ou omissão completa para suprimir a vida de, um doente com o fim de lhe evitar sofrimentos físicos ou psíquicos”. Logo, a eutanásia não consiste só no completar uma acção directamente finalizada a suprimir um indivíduo, mas também no omitir uma acção que poderia salvá-lo. No plano ético, em substância, não existe diferença entre uma morte directa e fazer deliberadamente que o indivíduo morra; como não existe diferença entre o eliminar um homem afogando-o no mar ou deixar que se afogue. Ninguém pode justificar-se ...

A chamada "doença terminal" - parte 1

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Ontem, quando cheguei do hospital, na mesa que tenho à entrada do meu quarto, alguém deixou um artigo de um Professor de Teologia Moral, traduzido pelo Dr. João Costa Jorge, sobre "A doença terminal como problema bioético". Li e gostei. Parece-me esclarecedor porque muito se diz e muito se quer enganar sobre estas questões ligadas ao final da vida. Converti o artigo em suporte digital e aqui fica, para quem o quiser ler e até comentar. Os sub-títulos são: 1 : Suprimir o doente para suprimir a doença: eutanásia; 2: Negar a morte para negar a doença: a obstinação terapêutica; 3: dignidade e humanização da morte. Por ser extenso vou dividi-lo em quatro partes, sendo esta primeira a introdução. O artigo vai acompanhado de pinturas de Thomas Cole (séc. XIX), que pintou quatro quadros aos quais deu o tema geral: " A viagem da vida " e depois, cada quadro com uma idade humana: infância , juventude , adultez e velhice . Sim, porque não são só os mais velhos que viajam......