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A mostrar mensagens de outubro, 2009

O Novembro que aí vem

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Está a acabar de ser dobada a meada de Outubro. Com as suas penas e as suas alegrias, com os seus cansaços e com os seus dons, com projectos realizados, outros que não viram o seu dia e outros que transitam para este mês... e assim termina mais um mês deste nosso ano de 2009. Aí vem Novembro. Ainda só se deixa sentir pela mudança da hora e pelo cheiro de castanhas assadas. O tempo ainda não nos diz que estamos no meio do Outono... Para os católicos é um mês recheado de santos, ou não começasse logo, no dia um, com a celebração deles todos. Dia seguinte, dia de finados. Bonita palavra esta... os que chegaram ao fim... Irei a Fátima ao funeral de um frade que hoje morreu com 78 anos. Dia três, dia de São Martinho, não o das castanhas mas o de Lima, dominicano, exemplo de humildade e de entrega aos irmãos. Dia quatro, dia de São Carlos Borromeu; quase dominicano, contemporâneo e amigo de Bartolomeu dos Mártires, homem das grandes conquistas do Concílio de Trento. No dia seis temos, pela p

Ter o Senhor em casa

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A minha casa não é uma casa comum. E a minha família não é uma família comum. A minha casa chama-se convento e a minha família comunidade. Hoje celebrámos, uns com mais alegria do que outros (eu celebrei com muita alegria), o quarto aniversário da dedicação da igreja do convento onde moro. É um edifício simples, que merece a atenção de arquitectos e amantes da arte. Vêm grupos, de cá e de fora, para ver esta igreja. Mas vêm-na sob o ponto de vista da estética: é bonita, é simples, apela ao transcendente, sente-se a paz; é o que vão dizendo quando por cá passam. Mas esta igreja é mais que o betão, é mais que os vinte e um metros de altura, é mais do que a luz que nela entra, é mais do que os bancos engraçados, mais do que a porta de cobre e do que a cruz moderna. Pelo menos para mim. Esta igreja é um espaço de encontro e de reunião que serve duas comunidades: a dos frades que nela rezam ou sozinhos ou em grupo e a comunidade de todos os que se juntam às nossas celebrações. Não são duas

Entre abóboras, couves e nabos

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Quem me visse hoje de manhã diria que era um lavrador; ou se soubessem que era frade, diriam que era trapista. Uma manhã passada numa quinta a acartar abóboras e a apanhar nabos, grelos, lombardos, cenouras e couves. Bendito seja Deus. Na quinta do Ramalhão, propriedade das Irmãs Dominicanas de Santa Catarina de Sena, com a Prioresa a ajudar (na verdade ela é que cortava as hortaliças!), no dia em que fazia anos! Terra abençoada. Tudo o que ali se semear ou plantar tem sucesso! Que bonita manhã de Outono: uma quinta com o nevoeiro fresco de Sintra, um lavrador a arrancar cenouras, outro a cortar canas, terras lavradas, as laranjeiras a darem cor aos seus frutos, as ameixoeiras a quererem florir, a combinação entre o castanho e o verde, a água que corre em várias fontes... Que riqueza e que beleza! Para as Irmãs que, generosamente, nos dão estes frutos da terra e do trabalho humano e para mim que ainda posso sair uma manhã para poder desfrutar da beleza da terra trabalhada. Depois de ca

Uma nova estante

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Há uma anedota entre ambientes religiosos sobre o que é um frade/monge de um convento/mosteiro mostra em primeiro lugar a um visitante: o beneditino leva-o à igreja, o franciscano leva-o à cozinha e o dominicano leva-o à biblioteca. Dominicanos e livros têm tudo a ver. Normalmente (modéstia à parte) as nossas bibliotecas são boas, e não dispensa de que cada frade tenha a sua própria biblioteca, de acordo com os seus gostos, interesses e sensibilidades. Hoje, depois de uma reunião da equipa de bibliotecários do convento, decidi fazer também um ajuste aos livros que tenho no meu quarto. E esta é a nova estante no meu quarto. Dedicada exclusivamente à literatura profana. Livros oferecidos, herdados ou comprados, esta estante começa pelos portugueses Aquilino Ribeiro (pensei que tinha o primeiro livro que li dele, era ainda miúdo, mas não tenho!), Eça (com o crime do Padre Amaro), Torga (continua a faltar-me o primeiro volume do Diário), Saramago (Tenho alguns, conseguirão contar uns oito,

Tomada de hábito

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Ontem, devido ao adiantado da hora a que cheguei a casa e ao cansaço de um dia de Domingo, não consegui vir colocar este post. Porque ontem, dia 25 de Outubro, fez 11 anos que tomei o hábito da Ordem Dominicana. O hábito não é, no seu primeiro sentido, um sinal de pertença. É, antes de mais, um convite a mudar de vida. O Beato Jordão de Saxónia, sucessor de São Domingos no governo da Ordem, tomou hábito numa quarta-feira de cinzas. Diz ele: " Tendo chegado os três juntos ao Convento de Santiago, quando os irmãos cantavam Immutemur habitu (mudemos as nossas vestes pela cinza e o cilício...), de surpresa, mas oportunamente, fomo-nos colocar no meio deles e, despojando-nos rapidamente do homem velho, vestimos ali o novo, para que, o que eles cantavam, fosse em nós uma realidade ". Actualmente as coisas, na Ordem, não são feitas de surpresa. E por isso a minha tomada de hábito, como a de todos os outros frades, foi programada. Acontece no início do noviciado. Logo nos primeiros

Funeral

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Venho de fazer um funeral. Foi um confrade que me pediu. Não é um momento fácil nem para a família mas também não o é para o padre. Tenho pena que não haja uma fé mais forte na ressurreição. E que a Igreja, e as igrejas, não valorizem mais este momento da nossa existência. Talvez porque apanhamos muitos católicos daqueles a que chamamos "não-praticantes", e então é tudo apressado, corrido, e com falta de gosto. Mete-se a urna numa cave sem janelas nem arejamento (chamemos-lhe, por respeito à cave, capela mortuária...) o defunto virado para o altar, flores à volta, muitas ou poucas conforme o dinheiro e a popularidade que se tenha, com duas lâmpadas eléctricas a ladear o altar (já se perdeu a sensibilidade para a beleza de uma vela a arder...), cadeiras de plástico, e aqui temos montado o velório. Depois do velório vem a missa de "corpo presente", obrigatória (faz parte do serviço), mesmo que quase nunca tenha ido à missa. Entra o padre e há movimentações na sala: gr

Outono

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Outubro e Outono. Duas palavras irmãs. Apesar do Outono começar em Setembro, só neste mês, e este ano já no seu final, é que o começamos a sentir. Começam as chuvas, as folhas caducas desprendem-se das árvores, baixam as temperaturas, mais roupa na cama e no corpo, para mim mais nostalgia, mais música clássica (chuva na rua e música no quarto, as quatro estações de Vivaldi, fazem uma boa harmonia), é aonde me levam os sentimentos destes dias cinzentos fazendo os possíveis para que cinzenta não seja a vida, que frio não tenha a alma e que o sol aqueça o coração. Outono rima com sossego, com leitura, com ocupação. Rima com acordar à mesma hora mas, porque é Outono é também mais escuro. Não rima com frio mas rima com ritmo, talvez o mesmo com que a chuva cai (ainda é uma chuva mansa) , o mesmo ritmo de um compasso calmo e fugaz, que sai de um violino ou de um oboé. Outono rima com vida. Esta é uma estação da natureza e da vida. Lembra o efémero, que tudo muda, que tudo passa, mas que aind

Caim e Saramago

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Não se fala de outra coisa. E curiosamente não se fala tanto do livro que Saramago escreveu mas sim do que ele disse. E são coisas diferentes. Eu até diria que são quase duas pessoas diferentes. E também não estranho nem o que ele disse nem a temática escolhida. Que se diz ateu e anti-religioso é de todos conhecido; que escolha um tema bíblico também não é a primeira vez que o faz. Mas desta vez o que disse foi demais. Porque insultou todas as religiões (judaísmo, cristianismo e islamismo), e, consequentemente, todos os crentes, mesmo que não sejam praticantes. Seria de esperar, de uma pessoa culta e que até recebeu um nobel, que tivesse um mínimo de respeito por quem tem fé e que não achincalhasse livros que para quem tem fé são sagrados, pessoas que para quem tem fé merecem respeito, e, sobretudo, tendo em conta uma certa tradição cristã, que não é só religiosa, que respeitasse a gente do país ao qual pertence, mesmo que barafuste e ameace que deixará de ser português. E ainda só est

Lágrimas e romãs

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Não. As romãs não fazem chorar. Lágrimas e romãs foi o que me deram no final da missa da tarde. O António trouxe-me umas romãs, óptimas, biológicas, que vão dar para fazer um licor, que espero que me saia bem. Pelo menos os bagos já estão a macerar. As lágrimas, essas, vieram inesperadas do Pedro, que no final da missa, veio falar comigo. Foi um momento emocionante para os dois. Ao António agradeço as romãs; ao Pedro agradeço o ter vindo falar comigo. Não dissemos muitas coisas. Tentei dar-lhe força mas, se calhar não consegui. Pedro, não sei se vens aqui mas hoje rezo por ti e pela tua família. Pelo teu pai que partiu e agora está junto de Deus. Pela tua mãe e pelo teu irmão, que só conheço de vista, da missa das seis. Por ti, para que tenhas força e que, nestes dias de dor e de ausência, sintas a presença de Deus e a do teu pai que agora está em paz, no melhor sítio que é o coração de Deus. Que a tua fé se fortaleça com o que ouves e com o que rezas e que Jesus seja a força da tua vi

O Domingo

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Para nós, padres, o Domingo é o dia de mais trabalho. Porque estamos ao serviço dos outros, temos esta missão da presidência da Eucaristia. Há padres que celebram muitas missas ao Domingo; ou porque não têm colaboradores ou porque há escassez de mão-de-obra (entenda-se falta de padres) e têm que se desdobrar para que os católicos não fiquem, neste dia, sem missa. Considero-me um padre aliviado neste campo. Normalmente celebro duas missas ao Domingo: uma ao meio-dia aqui no convento e outra às seis da tarde, numa paróquia da cidade. Mas o Domingo é mais do que a Missa. Se bem que a Missa seja o momento principal deste dia, aqui no convento é um dia muito agradável. Sempre os mesmos rituais que vão passando por várias mãos. Acordamos um pouco mais tarde que nos dias de semana, rezamos as Laudes, tomamos o pequeno-almoço e depois, os que ficamos em casa, fazemos várias tarefas: uns lavam a loiça outros começam a preparar o almoço e outros ainda põem a mesa. Depois da missa conventual sent

Um livro novo

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Hoje tem sido um dia calmo. De silêncio. Os frades mais novos foram de passeio, alguns estão em Fátima, ficámos cá poucos. Depois do almoço fui a uma livraria inspirar-me para uma prenda que vou oferecer daqui a pouco a uma amiga minha que faz hoje anos. Não estava nada inspirado mas, de repente, encontrei um livro muito interessante e de grande interioridade. " Saber esperar " é uma colectânea de pensamentos de um frade trapista do início do século passado, frei Maria Rafael Báron (1911-1937), canonizado no passado domingo, homem de existência breve, devido a uma grave doença que ele nunca encarou como uma desgraça mas como um deixar-se levar por Cristo, fazendo a sua vontade e sofrendo com ele e por ele. Como acontece algumas vezes, comprei dois: um para ela, outro para mim. E o meu já o utilizei. Vou falar deste místico amanhã, na missa, a propósito do sofrimento. Partilho convosco um dos 1010 pensamentos que este livro tem: " Não te preocupe nem o choro nem o riso. Q

Um ritual

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Não é hábito nem costume, é simplesmente um ritual. Vontade de sair de casa, percorrer cerca de cinco quilómetros, de pé ligeiro, pelos arredores da sua casa. E lá vai ele, todos os dias, menos quando não pode, fazer a sua caminhada, pelas ruas do bairro. E enquanto vai andando, vai vendo o recolher da cidade, autocarros mais vazios, táxis que voam, pessoas que passam, umas ainda a chegar do trabalho, outras que, como ele, também fazem a sua caminhada. Enquanto vai, de ténis calçados, rua acima, rua abaixo, lá vai passando as contas do rosário, entarameladas com o que lhe vai passando na cabeça. E vê as plantas do prédio, sente aquela frescura, só naquela sítio, frescura já tão rara na cidade, que lhe faz lembrar aquele fresco da serra; ainda ouve os grilos, naquele descampado que, não tarda, se vai transformar em mais uma torre de betão. Passear por Lisboa à noite. Sempre ao mesmo ritmo, sempre as mesmas ruas, sempre o mesmo ruído, sempre a mesma luz, quase sempre à mesma hora. Caminh

Vivo sem viver em mim

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Aqui fica o mais belo poema de Santa Teresa (pelo menos para mim e, em especial, as estrofes 3 e 4). No final do poema fica um vídeo com este poema cantado em espanhol, língua em que foi escrito e que gostei pela calma e doçura da voz.: Vivo sem viver em mim, E tão alta vida espero, Que morro porque não morro. Vivo já fora de mim, Desde que morro d’Amor Porque vivo no Senhor Que me escolheu para Si; Quando o coração Lhe dei Com terno amor lhe gravei: Que morro porque não morro. Esta divina prisão Do grande amor em que vivo, Fez a Deus ser meu cativo, e livre o meu coração; E causa em mim tal paixão Ser eu de Deus a prisão, Que morro porque não morro. Ai que longa é esta vida! Que duros estes desterros! Este cárcere, estes ferros Onde a alma está metida. Só de esperar a saída Me causa dor tão sentida, Que morro porque não morro. Ai, que vida tão amarga Por não gozar o Senhor! Pois sendo doce o amor, Não o é, a espera larga; Tira-me, ó Deus, este fardo Tão pesado e tão amargo, Que morro

Ávila

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Para mim é uma das cidades mais bonitas de Espanha. E hoje, dia de Santa Teresa de Ávila, é para lá que vai o meu pensamento. Recordo aquela mulher, forte, sábia, que não aceitou a mediocridade da vida conventual, que construiu o seu castelo interior, para depois reformar a sua Ordem. Entregou a sua vida a Deus, com Ele se entreteve nas suas visões e arrebates místicos. Para ela só Deus bastava. Para ela Deus estava no meio das panelas. Ela que soube conjugar a grandeza e a humildade; quanto mais humilde maior se tornava. Ela que encontrou um menino na escada do mosteiro e que lhe perguntou quem era: " Teresa de Jesus , respondeu a santa. E vós, quem sois ?" Resposta do Menino: " Eu sou o Jesus de Teresa ". Devotíssima de São José, o seu ecónomo, a quem recorria nas dificuldades e que sempre era por ele atendida e, por isso, pediu que todos os Carmelos fossem a este pai providente dedicados. Recordo os meus dias felizes em Ávila. Nunca sozinho, umas vezes com neve,

Sublimação

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" O poder é solitário e triste... e talvez por isso anda tão arredado que não consigo falar-lhe ". Disse que escreveu isto a brincar... Mas não é brincadeira. Talvez porque me vai conhecendo e já vê para além da aparência. É preciso coragem para sublimar a solidão e a tristeza. É o que às vezes me falta.

Listas e conversas

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Por aqui só agora começa o ano. Após a eleição e mudanças de alguns frades para outras comunidades, só ontem se fixou o número de frades que vamos viver neste convento: seremos quinze frades e um postulante. Ontem chegou o último frade. Português que vem da Índia. Li diante da comunidade a carta de assignação. Nela pede-se ao prior que o receba como legitimamente assignado e que o trate com caridade. Ele, espontâneamente respondeu: com caridade e com correcção. Somos tão pequeninos e tão frágeis para cumprir este grande mandamento da caridade. À noite, reunião do Capítulo (assembleia dos frades) para se eleger o subprior e os conselheiros. Processo lento que deve ser escrupulosamente seguido para validar as eleições. Admiro o espírito democrático da Ordem: elegemos os nossos superiores, damos consentimento para instituir certos cargos, elegemos quem queremos que nos represente, normalmente requere-se uma maioria absoluta... isto não tem nada a ver com a Liberdade de há trinta anos. Par

Pare, escute e olhe

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Ser padre é mais do que falar e do que rezar missas. Há um ministério, para mim cada vez frequente e necessário, que é o do acolhimento e da escuta cristã. Respondi a dois mails pendentes para marcar encontros, para que possam desabafar comigo problemas, angústias, esperanças, projectos e alegrias também. Embora sejam sempre diálogo, a minha parte é, sobretudo, a de escutar. O que não encaro como passividade. É útil para as pessoas poderem ter alguém, do foro espiritual, com algum tempo para as escutar. É útil para mim poder dispor desse tempo para me aperceber que o tear da vida vai tecendo histórias concretas, às vezes difíceis, e com grande diversidade de cores e padrões. Recebo quem me procura no convento: vou buscá-las à porta e despeço-me delas na rua. Vêm ao meu encontro e eu ao encontro delas; e juntos tentamos encontrar Deus.

Reunião da Equipa de casais

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Ontem foi a primeira reunião "a sério" da minha equipa de casais. Não vou como casal, não tenho par, mas como assistente de uma equipa de 6 casais, que se reúne uma vez por mês para estar juntos, rezar, partilhar e reflectir. Este ano decidimos ir aos fundamentos das Equipas de Nossa Senhora, que é um movimento de espiritualidade católica para casais. A reunião de ontem foi à volta do tema da " Equipa, comunidade cristã ". Saber que somos humanos mas é Deus quem nos reúne, sabermos que aquele espaço é um ponto de chegada e de partida, que fortalece a nossa fé e o nosso testemunho. Falámos de um texto do século VI, de Santa Doroteia de Gaza, que falou assim da nossa relação com Deus e com os outros e que se aplica não só a equipas de casais: " Suponde um círculo com um centro. Imaginai que esse círculo é o mundo e o centro é Deus. E os raios, os diferentes caminhos ou maneiras de viver dos homens. Quando os homens, desejando aproximarem-se de Deus, caminham par

Mensagem 100

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Eleito prior na segunda-feira, confirmado hoje pelo Provincial, e também hoje, diante de duas testemunhas aceitei o cargo. Já se começa a saber. Chegam os 'parabéns'. Releio o que as Constituições dizem sobre o prior conventual: " O prior, não se considerando feliz por dominar com poder mas por servir com caridade: promova a vida fraterna regular e apostólica, proveja às necessidades dos irmãos, esforce-se por que os irmãos cumpram os seus deveres ". Será que é para dar parabéns? A quem passar por aqui e ler estas linhas só peço uma coisa: Orate pro me !

Regina Sacratissimi Rosarii, ora pro nobis

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Rainha do Sacratíssimo Rosário, rogai por nós. Não sei se, quando foram a Fátima, repararam que, no arco principal da Basílica, perto do altar, está gravada esta invocação. Porque Nossa Senhora, em Outubro revelou aos pastorinhos (a Lúcia) o que queria e quem era: "Quero dizer-te que façam aqui uma capela em Minha honra, que sou a Senhora do Rosário, que continuem sempre a rezar o terço todos os dias. A guerra vai acabar e os militares voltarão em breve para suas casas". Mas não é daqui que vem a tradicional associação do mês de Outubro ser o mês do Rosário. Vem do século XVI, mais precisamente d0 ano de 1571. O papa São Pio V, dominicano, vence uma batalha no Lepanto e atribui essa vitória a Nossa Senhora do Rosário e institui a sua festa no dia da vitória, que hoje calha. Esta invocação desde sempre esteve ligada a São Domingos. Uma tradição oral e artística (não histórica) do século XV, diz que Nossa Senhora, no ano de 1208, apareceu a São Domingos e deu-lhe o rosário. É d

São Bruno

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Hoje é dia de São Bruno. Tenho-lhe muita devoção e invejo os seus monges. Quem me conhece deve rir-se com o que vou dizer mas, apesar de não ser cartuxo, sempre que visito uma Cartuxa ou passo por alguma imagem de São Bruno, fico com pena de Deus não me ter dado tão nobre vocação. Porque é no silêncio que Deus se revela, é no silêncio que Deus nos visita, é no silêncio que nós nos visitamos e conhecemos mais profundamente, é no silêncio que ouvimos a voz rumorosa de Deus que nos enche e sacia, é no silêncio que melhor rezamos, é no silêncio que somos autênticos. O silêncio destes homens, imposto por regra mas acolhido por vocação, é diferente dos nossos silêncios: os nossos são, às vezes, sinal de angústia, de debilidade, de medo, de orgulho, até de ódio pode ser. O silêncio cristão é um silêncio positivo: de humildade, de contemplação, de alegria e de amor. Defendo a Cartuxa contra aqueles que dizem que são pessoas 'inúteis' ou que fariam melhor trabalho pelo reino de Deus se

Outonos

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Dia da República. Já vai nos 99 anos. No entanto, para mim, pouco ou nada me disse este dia, além do feriado que gozei. Mas foi um dia em que as horas pareceram não passar. Um sol tímido, depois chuva, tempo estranho, na incerteza de um outono que ainda não se mostrou a sério mas também sentimos que já não é verão. Entreter o dia, esvaziar o pensamento, viver com calma. Neurastenia? Não. Stress? Também não. Dias menos quentes e com menos luz que, às vezes, influenciam os humores. Dia repartido entre a cozinha e o quarto. Na cozinha a preparar o almoço e o jantar para todos. No quarto as mesmas rotinas, algumas sem sentido. Porém, hoje, talvez para que o outono interior não se instalasse, repeti este mantra que Santa Teresa de Ávila rezava em dias de mais nevoeiro, como eu hoje o senti: Nada te perturbe, Nada de espante, Tudo passa, Deus não muda, A paciência tudo alcança. Quem a Deus tem, Nada lhe falta, Só Deus basta. O dia chegou ao fim. Lá fora continua o tempo estranho. Cá dentro v

Um santo universal

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Hoje, dia 4, celebra-se a festa do grande São Francisco de Assis . Talvez pelo seu estilo de vida, ou pela sua simplicidade, este santo é um santo universal. Reparem que o Papa João Paulo II reuniu-se várias vezes, em Assim, com membros de outras confissões religiosas para que houvesse paz. Padroeiro dos homens e dos animais (hoje é também o dia dos animais), do ecumenismo e da ecologia, São Francisco está bem e fica bem em qualquer lugar. São Francisco, tal como São Domingos, são também homens do seu tempo. Numa época de opulência da Igreja, em que os bispos eram senhores feudais, e os cânones eclesiásticos pouco se tinham em conta, aparece este homem que inaugura um novo modo de estar na Igreja. Pela vida comum, conventos nas cidades e viver a pobreza de Jesus Cristo, ensinada no Evangelho, é assim que começam, depois também com São Domingos, as chamadas Ordens Mendicantes. No século XIII havia um refrão conhecido sobre as intenções de fundações dos grandes fundadores: “ Bernardus va

Longos dias tiveram dez anos

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Não, não vou falar do Livro da Augustina (Longos dias têm cem anos). Só lhe aproveito o título para falar destes meus dez últimos anos como dominicano. Sim porque hoje é dia redondo. 3 de Outubro de 1999, 16h, igreja de Nossa Senhora do Rosário. Quatro noviços fazem a sua profissão simples (primeiros votos). Prometem obediência, como no tempo de São Domingos. De lá para cá, muita estrada percorrida, às vezes com curvas, outras vezes rectas que parecem não ter fim, paisagens diversas, com novidade ou aborrecidas, dias longos ou breves, para nós, porque o relógio não adianta nem atrasa, dias que pareceram noites de inverno e noites que brilharam como dia de verão. Tempo também de algumas perdas. De quatro restamos dois. Estes dois que ficaram, andaram sempre juntos nas datas. Desde a tomada de hábito até à ordenação. Parecem dois carris. Sempre um à frente do outro, porque a idade dá direito a precedência e sempre ao lado um do outro porque o caminho é o mesmo. E apesar dos vários aposto

Grande mês, este mês

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Entramos no mês de Outubro. No Borda d'Água, sim, aquele almanaque tão português, que já conta com 80 anos, encontramos, para este mês, entre outras coisas, os trabalhos que se devem fazer nos campos, como por exemplo, iniciar as sementeiras de cereais e de leguminosas, nas hortas, entre outras coisas, começam a semear-se as ervilhas, favas e agriões e no jardim começar a preparação dos canteiros para as sementeiras da época. E encontramos ainda alguns provérbios referentes a este mês, como por exemplo este: " Em Outubro sê prudente: guarda pão, guarda semente ". Mas, para o orbe cristão, este é um dos meses mais ricos em termos de celebrações de santos. Ontem à noite fui folhear o meu livro das horas e olhem quanta riqueza: antes de mais, este mês é, ao mesmo tempo, o mês do Rosário e o mês das Missões . Começamos logo no primeiro dia , que hoje calha, com a festa de Santa Teresinha do Menino Jesus, padroeira das Missões; amanhã, dia 2 , vamos celebrar umas das festas m