Longos dias tiveram dez anos


Não, não vou falar do Livro da Augustina (Longos dias têm cem anos). Só lhe aproveito o título para falar destes meus dez últimos anos como dominicano. Sim porque hoje é dia redondo.

3 de Outubro de 1999, 16h, igreja de Nossa Senhora do Rosário. Quatro noviços fazem a sua profissão simples (primeiros votos). Prometem obediência, como no tempo de São Domingos. De lá para cá, muita estrada percorrida, às vezes com curvas, outras vezes rectas que parecem não ter fim, paisagens diversas, com novidade ou aborrecidas, dias longos ou breves, para nós, porque o relógio não adianta nem atrasa, dias que pareceram noites de inverno e noites que brilharam como dia de verão. Tempo também de algumas perdas. De quatro restamos dois. Estes dois que ficaram, andaram sempre juntos nas datas. Desde a tomada de hábito até à ordenação. Parecem dois carris. Sempre um à frente do outro, porque a idade dá direito a precedência e sempre ao lado um do outro porque o caminho é o mesmo. E apesar dos vários apostolados, diferentes, por certo, lá nos vai acolhendo o mesmo tecto e a mesma mesa. Um terminou há dias uma missão; o outro começa hoje uma nova missão. E assim vão passando os dias, os meses e os anos, como o fio de lã na mão da dobadeira. Longos dias têm dez anos. Há dez anos nenhum de nós sabia que faria o que fez, de bem e de mal, e que hoje está a fazer o que faz. Cobrir necessidades, aproveitar talentos, depositar esperança e confiança... Hoje sabemos o que fizemos mas não sabemos o que faremos. Mas lá vamos, aceitando desafios e tentando não ficar mal na fotografia. Longos dias terão dez anos.

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