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A mostrar mensagens de agosto, 2013

Duas regras cristãs

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No evangelho deste domingo encontramos Jesus, uma vez mais, sentado à mesa. Uma vez mais porque Jesus aproveitava o convívio dos que o convidavam para falar, escutar, curar e ensinar. Neste evangelho Jesus dá-nos duas regras para a nossa vida cristã, a partir da mesa onde nos sentamos. A primeira é o sentido da humildade. O cristão deve rejeitar qualquer atitude de protagonismo, de primeiro lugar, do "dar nas vistas" não por causa da vergonha que hipoteticamente poderia passar mas porque, como se ouvia no domingo passado, há últimos que serão dos primeiros. O segundo ensinamento é o sermos desinteressados nas nossas relações: "convida quem não possa retribuir-te". Ser cristão é superar o egoísmo, o cálculo e o interesse e viver a sério os valores do Evangelho. E pedir a Deus que nos ajude a caminhar na humildade. Bom domingo!

Último sol de Feirão

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Cheguei a Lisboa. Hoje de manhã, antes de sair, tirei esta fotografia ao nascer do sol em Feirão. Em Junho e Julho ele nasce mesmo por detrás do Penedo Gordo; agora que os dias começam a decrescer, ele nasce mais de lado. A aldeia ainda vivia a penumbra da noite e, por cima do rio, a névoa típica destes dias.  Adeus Feirão e, se não for antes, até para o ano, se Deus quiser.

Uma manta para recordação

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Lembram-se da “reportagem” que fiz no ano passado sobre um tear de Cotelo, com data de 1831? Foi no dia 23 de Agosto. Se lá forem hão-de reparar que ela estava a fazer uma coberta. Pois este ano a tecedeira, D. Clarinda, fez-me a grata surpresa de ma oferecer! Como cabe na cama de cá, vai cá ficar. Por causa do tear ser pequeno as cobertas são feitas em duas partes e depois unidas. Estão a terminar as férias deste ano. Embora a grande parte das pessoas com quem estive não passem por este blogue, aqui deixo o meu agradecimento pela estima, consideração e amizade que me têm e eu também lhes tenho a elas. Cada vez me sinto mais ligado às berças. Não é só questão de terra. É questão de feitio e identidade. Talvez para o ano haja mais.

O sonho de Luther King

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Acabada a Missa das oito e depois do pequeno almoço, subo ao primeiro andar, à sala que serve para trabalhar, ouvir música e estar normalmente em silêncio. Quase todos os dias aqui venho para escrever, ver mails e trabalhar. Oiço, normalmente, a Antena 2, que muito me tem surpreendido nos últimos dias, uma verdadeira descoberta, das 9 às 10 onde se assinalam as efemérides, quando as há. Enquanto estou a escrever este post oiço um Gospel, para assinalar os cinquenta anos do famoso e grandioso discurso de Martin Luther King. Ouvia-se em português e, depois, o original. Procurei-o e encontrei. Aqui o deixo para, também eu, humildemente, assinalar o homem e o discurso mundialmente conhecido como "Eu tive um sonho", desejando também que os sonhos de liberdade, justiça e fraternidade entre os povos se realizem em cada ser humano. Hoje, como há cinquenta anos, devemos ter a consciência de que somos nós que construímos o mundo em que vivemos, quando defendemos os direitos de cada

Domingo de Missas

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Ontem foi o meu último domingo deste ano nestas terras altas da Serra de Montemuro. E foi um domingo de Missas. Quase pareceu um domingo em Lisboa: Missa em Feirão e em Cotelo e, à tarde, concelebrei no Mezio na Missa das bodas de prata do P. Diogo, Pároco de Gosende, aonde pertence Cotelo e, porque ele estava na festa, vim fazer o terceiro dia da novena em honra de Nossa Senhora do Fojo, cuja festa será no próximo domingo. Continuam a ser dias feios por causa do fogo. Ontem, quando vinha do Fojo para Feirão, ainda fui, com o meu tio, apagar um fogo que alguém tinha acabado e atear. Por sorte passámos e conseguimos apagá-lo com umas giestas. Mas o ar torna-se quase irrespirável. A mim cansa-me, talvez pela falta de oxigenação do corpo. Hoje o dia está mais fresco e já não há quase nada para arder a não ser as aldeias, Que Deus e São Lourenço nos livrem. Olhamos à volta e vemos tudo destruído, preto, sem vontade de olhar. A partir de hoje é contagem decrescente. Últimos dias, despe

Matanças

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Este post é só para assinalar uma matança de porco onde estive, no sábado ao fim do dia. Foi um primo meu que o matou (era porca), para consumo interno. Já tinha visto há uns três anos a morte de um cordeiro e muito me lembrei do livro de Isaías a respeito de Jesus: era como o cordeiro levado ao matadouro. A matança de sábado lembrou-me o provérbio que diz: se queres ver o teu corpo mata um porco. E o meu primo lá me foi explicando as várias fases da morte e, ao desmanchá-lo os vários órgãos. Ontem experimentei a carne: boas costeletas! E fico-me por aqui. Não tirei fotografias, claro está. Mas sabia da existência desta pintura, de Frabritius Barent. Foi assim que ficou, tal e qual, de sábado para domingo.

Salvamo-nos com Deus

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  Uma das preocupações dos crentes prende-se com a salvação: Senhor, são muitos os que se salvam?, ouvimos no evangelho de hoje. E Jesus ensina-nos que a salvação depende muito mais de nós que de Deus. Não podemos viver nesta vida atravessando portas largas e pensando que Deus, no fim, perdoa tudo. De Deus depende só a misericórdia e o perdão. Da nossa parte está o esforço por praticar a justiça e a equidade, a caridade, a paz e o perdão. Essa é a porta estreita que abre para a largueza do amor de Deus. Bom domingo!

A preocupação de uma pastora

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Venho de fazer o funeral da senhora Natália, de Cotelo. Morreu na quinta-feira, ao final do dia. A senhora Natália era pastora. Vinha do monte. E trazia a preocupação de não ter onde levar as ovelhas e as cabras por causa dos fogos. Encontrou um senhor, e era a conversa e a preocupação que trazia. As ovelhas vinham á frente e esperavam pela dona, à porta da loja, mas ela, ao chegar, disse que não se estava a sentir bem. Sentou-se numa pedra e ficou-se. As mortes repentinas assustam muita gente. Aqui no norte, à noite, quando se reza, ou de dia, quando se fala da morte, frequentemente se diz: Nosso Senhor nos dê uma horinha de arrependimento á hora da nossa morte. Uns dizem que é uma morte santa, outros que não. Na missa exequial, rezou-se o salmo 23: O Senhor é meu pastor nada me faltará. Na homilia falei da sua preocupação de pastora em relação com as suas ovelhas. Como esta mulher deveria perceber tão bem as palavras do salmo e de Jesus quando diz: Eu sou o bom pastor. As amig

Rescaldo

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O dia de ontem foi desolador. Dia de fogo que circundou Feirão, tendo ficado pouco por arder. Ao almoço, quando nos sentámos para almoçar, tocou o sino a fogo. A última vez que o tinha ouvido tinha sido há muitos anos, era eu pequeno. E quando se toca o sino a fogo, para congregar o povo para acudir, é porque há casas ameaçadas. O sol parecia lua, por causa do fumo que saía das piornas e géstias (aqui não se diz giestas). E lá fui eu com o meu tio para acudir ao fogo. Um carro dos bombeiros atascado, várias corporações no terreno, e nós, com baldes, vassoiros, enxadas, cutelos, a ver como podíamos travar tão altas chamas que sobrevinham já sobre as casas. E assim andámos três horas, a tentar dominá-lo. Olhando à nossa volta tudo preto, chisnado, sem aparência de beleza. Ficaram as pedras e o resto reduzido a cinzas. Muitos campos foram também queimados, não se aproveitando o milho, as batatas, feijões. Uma das senhoras dizia-me: andámos nós um ano, senhor padre, a tentar granjear

Expedição à nascente do rio Balsemão

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A palavra expedição pode parecer exagerada para o que aqui vou narrar mas, para o leitor ter uma ideia, andaram-se mais de três horas por estradas, caminhos e trilhos para tentar chegar às origens do rio Balsemão, que nasce na serra de Montemuro, no monte do Rossão, passa em Lamego para ir desaguar um pouco mais á frente, no rio Varosa. Fomos cinco os aventureiros, guiados pelo João Paulo, que já tem registo neste blogue. Não fosse o agradável da conversa, da companhia e das vistas, e teria sido uma desilusão. Porque onde deveria nascer o rio não há água! Aliás, se o rio tem água é porque, entre Campo Benfeito e Cotelo, outras levadas de água lhe dão corpo. Partimos de Cotelo e levávamos connosco um mapa topográfico, com três ramificações. Ao longo do caminho, quase sempre sem água ou com águas paradas, e com um misterioso tubo que, para não sermos maus, dizíamos que alguém teria aproveitado o caminho do rio para levar água à sua lameira, lá fomos subindo a serra, azangando (palav

Brisa suave e água fresca

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Os dias quentes também chegam a Feirão. Dias quentes e fogo. No domingo, as chamas queimaram o Penedo Gordo. Agora, está tudo negro, como se fosse uma fotografia a preto-e-branco. Mas, nas primeiras horas da manhã e ao fim da tarde, vem a brisa suave que faz bem ao trabalho e ao descanso. É o que faz ser Feirão uma aldeia numa montanha plantada. Já cá está pouca gente. Cada vez mais as pessoas vêm menos tempo, já não é como era, e já foi o tempo de tirar o mês todo de férias. Já me começam a perguntar quando é que me vou embora, alguns vão dizendo, quem nos dera cá o senhor padre todo o ano, ao que eu respondo, fartavam-se depressa. Um amigo, de Lisboa, mandou-me um sms a perguntar se ainda sabia o caminho para Lisboa… Entretanto a minha mãe juntou-se à família. A casa está mais cheia e com tudo o que de bom e mau traz consigo: somos mais, mais barulho, mais passeios e saídas, menos tempo para trabalhar, para estar em silêncio ou a ouvir música, como uma cantata de Bach que agor

Sofrer pelo Evangelho

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No início do cristianismo, a vida de Jesus e a sua mensagem não foram bem acolhidas por todos. O próprio Jesus foi condenado á morte pela rejeição das suas obras e das suas palavras. Ao longo da vida, também o cristão, se leva a vida e a mensagem de Jesus a sério, sente contrariedades, divisões e rejeição. Excepto se alinhar com a “cultura do morno”, que pode significar o não se implicar a sério nas coisas de Deus ou ser um cristão “camaleónico”: vai falando e agindo de acordo com as pessoas com quem está. Usando a imagem de Jesus no evangelho: há o fogo da palavra de Deus para incendiar o mundo. Estaremos nós dispostos a sofrer por Jesus e pelo Evangelho? Bom domingo!

Um Papa que marca golos

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Aqui em Feirão, vêm-se os noticiários. Faz parte, haja alguma ligação com o mundo. O de hoje abriu com uma notícia “esperançadora”: o pib, mergulhado nas profundezas do abismo, parece que deu sinais de vida. O partido do governo veio logo congratular-se com este movimento; a oposição diz que é uma boa notícia mas cuidado, não esqueçamos que para traz foi muito mau; o partido que faz pendant com o governo, sempre a dar uma no cravo e outra na ferradura, não se sabe o que o futuro nos traz e gosta do poleiro governativo, mesmo que seja dividido, faz uma festa contida: É uma boa notícia mas… Os comentadores, mais razoáveis, pedem calma e cuidado, não se deitem foguetes antes da festa porque ainda a Missa vai a Santos. Uma outra notícia, bem mais simpática foi a da audiência do Papa a duas equipas de futebol. Usando a linguagem desportiva, que o Papa Francisco gosta e usa, apesar do ar enjoado de alguma comitiva, o Papa marcou mais um golo. Ontem, no discurso que pronunciou a duas equ

A Fraga Cimeira

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Ardeu ontem, em Cotelo, a Fraga Cimeira. Tem este nome o monte mais alto e emblemático de Cotelo. Visitei-o na segunda-feira, véspera do incêndio. Pela primeira vez saí da povoação e fui para os montes, acompanhado por dois rapazes, que conhecem bem os montes de Cotelo. Apesar de falar mais de Feirão, também pertenço a Cotelo. Como me dizem as pessoas de lá, o senhor padre ainda é daqui. É um facto. Ali nasceu o meu pai, aí fui, embora poucas vezes, talvez demasiado poucas, concluo agora, visitar os meus avós, tios e primos paternos, sempre com alguma resistência, porque em Feirão é que tínhamos casa e os amigos da nossa idade. Mas como vamos crescendo e a nossa visão das coisas crescendo também, agora sou muito mais de Cotelo. Desde os mais velhos, que me viram desde pequeno, com o meu pai, que passava pelo povo, falava a toda a gente e parava na casa dos tios para lhes pedir as “benções”, até aos mais novos, conquistados, talvez, pela proximidade e naturalidade que tenho com ele

Assinalar Miguel Torga

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Às 9 horas, depois da Missa e do pequeno almoço, liguei a rádio, na Antena 2, minha companhia de trabalho nestes dias de férias. Mal aparece o som, o locutor fala de Miguel Torga. Aniversário de nascimento. Passam poemas - o da estrela de papel dito várias vezes por pessoas diferentes - músicas calmas e reflexões tiradas do seu Diário. Também eu, humildemente, presto a minha homenagem ao grande Miguel Torga. faço-do, deixando o que ele escreveu no dia de anos de 1967: " Comecei mal e tarde. Enquanto outros partiram do saber, eu parti do sofrimento. Nenhuma porta se me abriu sem eu a arrombar. Lutei contra a pobreza, lutei contra a ignorância, lutei contra a idade, lutei contra os homens, lutei contra Deus, lutei contra mim. Uma infância rolada, de bola à mercê dos pontapés do mundo, uma juventude esfalfada, de estafeta atrasado na maratona da cultura, uma maturidade crispada, de indesejável na pátria. A criança desaninhada e perplexa nas encruzilhadas do destino, o rapaz a te

Sermão e Missa cantada

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Muitas coisas teria a contar do dia de hoje. Mas venho cansado. Já as escrevei aqui num papel. Pode ser que a disposição e o tempo possam vir a recuperar alguma história. Apesar disso, não posso deixar de aqui contar o dia de hoje, de um verdadeiro pároco de aldeia. Celebrei Missa às 10 horas em Cotelo e, de lá, fui a Covas do rio, pertencente já a São Pedo do Sul, “fazer” uma festa em honra de Nossa Senhora de Fátima. Caminhos para lá chegar aparte – na verdade sobe-se muito para descer ainda mais, de tal forma que vemos à nossa volta montanhas e montanhas – fui bem recebido e correu tudo muito bem. A aldeia é pequena, tudo muda em relação a Feirão, que hoje fez também a sua festa. Muda a vegetação, a temperatura (parecia um forno!), até o tipo de casas, construídas em xisto. A Missa foi às 15h, seguida de procissão e sempre acompanhada pela banda, que sempre me emociona. Tudo se faz, com mais ou menos calor, haja boa vontade. E, a esta hora, tenho ainda de ir ao fim da festa, qu

Ter o coração em Deus

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  Os primeiros cristãos não tinham medo da morte. Para eles, segundo a promessa de Jesus, era o encontro com o Pai, na vida eterna. Os tempos mudaram e afastámos a morte para bem longe: não falamos dela, ao mesmo tempo que, quando há ameaças de morte, nos sentimos amedrontados e dizemos que a vida é injusta e não queremos morrer. No evangelho deste domingo, Jesus prepara-nos para a vida eterna que passa necessariamente pela porta da morte. E diz-nos simples e claramente que o céu é consequência do que andamos a fazer neste mundo. Daí a atitude de vigilância com a nossa vida, contrariando o carpe diem, slogan equivalente ao modo de pensar efémero das nossas sociedades: comamos e bebamos que é o que levamos desta vida. A vida eterna dependerá sempre de onde está enraizado o nosso coração: estará realmente em Deus? Bom domingo!

O meu dia de São Domingos

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  Só não escrevi ontem sobre São Domingos porque muita coisa foi publicada neste blogue. Foi um dia cansativo, confesso, mas cheio. A missa habitual das oito da manhã na capela de Santa Eufémia. Foi assim porque à tarde, à hora da sesta como antigamente, comecei o tríduo de preparação para festa de Santa Luzia, que acontecerá no próximo domingo. Só depois do tríduo fui para Lamego, celebrar a festa de São Domingos. Quando estou cá por cima e me é possível, vou celebrar com as Monjas, de cujo mosteiro sou visitador. A igreja do mosteiro cheia, o que significa que as irmãs são queridas e estimadas pelas pessoas. Estavam também a comunidade das irmãs dominicanas de Santa Catarina de Sena de Castro Daire. Presidiu o Sr. Bispo de Lamego, D. António Couto, que pregou sobre São Domingos. E, para mim, bem. Da importância de falar de Deus e com Deus. Que muitas vezes falamos de Deus mas não falamos com Deus. Que São Domingos soube conjugar a Palavra, Oração e Fraternidade. E que num tempo

Dia de São Domingos - Completas

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"Durante o dia, no trato com os Irmãos e companheiros, ninguém era mais afável e alegre. Durante as horas da noite, ninguém mais assíduo nas vigílias e nas variadas orações. Reservava o dia ao próximo e a noite a Deus, pois sabia que o Senhor mandava de dia a sua graça e de noite o seu louvor. De dia, chorava, sobretudo, durante a celebração quotidiana da Missa, e de noite, quando se entregava, mais do que ninguém, às suas incansáveis vigílias." (Beato Jordão de Saxónia, Mestre da Ordem, sucessor de São Domingos)

Dia de São Domingos - Vésperas

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  "Ó luz da Igreja, doutor da verdade, rosa de paciência, marfim de pureza, de graça alcançaste a água da sabedoria: pregador da graça, une-nos aos santos." (Antífona de vésperas do ofício de São Domingos)

Dia de São Domingos - Hora intermédia

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  “Pai Santo, Vós bem sabeis, foi de todo o coração que fiz a Vossa vontade; aqueles que me deste eu os guardei e conservei. A Vós os recomendo: conservai-os e guardai-os.” (São Domingos, uma das últimas frases antes de morrer)

Dia de São Domingos - Laudes

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  " Tende caridade, guardai a humildade, não abdiqueis da pobreza voluntária. " (São Domingos, uma das últimas frases antes de morrer)

Dia de São Domingos - Vigília da noite

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" Tinha tão arreigado costume de passar a noite nas igrejas, que nunca ou raramente dispunha de uma cama para descansar. Passava as noites em vigília e oração, quando lhe permitia a fragilidade do corpo. E quando vinha o cansaço e o entorpecimento do espírito, Domingos era obrigado a ceder ao sono, e então repousava um pouco, diante do altar ou noutro lugar, reclinando a cabeça sobre uma pedra, como o patriarca Jacob, para, novamente, voltar fervoroso à oração. " (Beato Jordão de Saxónia, Mestre da Ordem, sucessor de São Domingos)

Dia de São Domingos - Lucernário

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" Em Domingos vi um homem tão fiel cumpridor das regras apostólicas, que não duvido estar agora associado à mesma glória dos Apóstolos. " (Papa Gregório IX)

Ao fim de dez anos

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Não me faltariam nem tempo nem temas para escrever. Numa aldeia em que quase nada acontece e os dias passam iguais, tudo pode ser motivo de interpretação e de escrita. Mas não quero ser pesado. Hoje deixo só a referência a um livro que me fizeram chegar: O Missal da Ordem dos Pregadores em português. Veio pelos correios, com a eficácia do dia seguinte e da promessa do carteiro: O senhor padre não se aflija que correio que aqui chegue em seu nome vem na hora. Disse-me isto porque só vêm cá dia sim, dia não, excepto correio azul. Simpático. Um trabalho iniciado por mim, no ano 2003, só agora, 10 anos depois, vê finalmente a sua versão mais digna possível. Já não se trata de fotocópias encadernadas a argolas mas uma edição de altar, com a qualidade que a Missa merece. Não é uma versão oficial mas sim ad interim , ou seja, para uso interno. Mas este é o meio caminho, ou dois terços dele. Em Novembro, se Deus quiser, farei entregar na Congregação para o Culto Divino e dos Sacramentos

O Jesus histórico e teológico

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Há uns dias escrevi aqui de uma revista que me ofereceram sobre a figura histórica de Jesus Cristo e que traria para Feirão para ler cá. Está lida. As visões estritamente históricas de Jesus não me fascinam. Seria muito redutor e falacioso encontrar e falar só de Jesus de nazaré. Redutor porque, da sua vida, o que menos importa são os dados biográficos e falacioso porque, afinal, onde mais se sabe sobre Jesus é no Novo Testamento, em que a teologia impera sobre a história. De tal modo que, nalguns casos, é preciso forçar um acontecimento ou um lugar por causa da mensagem que se quer transmitir (por exemplo, o recenseamento que é, em São Lucas, o motivo que faz Maria e José terem que se deslocar a Belém. Hoje sabe-se que este recenseamento aconteceu alguns anos antes de Jesus nascer). Mas esta revista, apesar de ser uma mistura entre história e geografia (GEOHistoire), é muito equilibrada e vê-se que os pressupostos teológicos estão lá. E assim já gosto. Uma abordagem geográfica,

As segadas e as malhas

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Vi, ontem, em Cotelo, uma malha. Não se confunda o sentido original do verbo malhar, que significa debulhar com um malho (ou mangual, como se diz por aqui) os cereais. Daqui derivou um outro sentido, metafórico, que é dar pancada a alguém (levas uma malha, dou-te uma malha). É do primeiro sentido que falo e, ao ver a malha numa propriedade veio-me à memória da minha não tão curta idade, que já conheci três modos de malhar. O primeiro, que só recordo mesmo na memória de infância e só vi uma vez, é o mais tradicional: fazia-se a segada (corte das espigas nos campos) e faziam-se molhos. Depois, com esses molhos fazia-se uma meda com as espigas para dentro para que os pássaros não as viessem comer ou a possível chuva estragar. Estando a segada feita um carro de vacas trazia os molhos. Desfazia-se a meda e voltava-se a fazê-la já na aldeia, nas eiras, que as mulheres iam preparando para a malha. A preparação da eira não era do modo mais higiénico, hoje a ASAE suspendia qualquer tenta

Conversas de sacristia

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Aqui no Norte, as sacristias são tudo menos lugar de recolhimento. Além de pequenas – obedecem ao princípio antigo de ser o lugar de guardar as coisas e de o padre se “vestir” – são sempre lugar de marcações de Missa, recados, combinações e de conversa. Hoje foi a minha primeira missa dominical em Feirão. No domingo passado celebrei noutra paróquia, perto do rio Douro. No fim da Missa, alguns dos anciãos do povo (homens experientes e educados apesar de lavradores) vieram falar-me. Conversa que pode ser de circunstância, mas que são de verdadeiro interesse, pelo menos entre os interlocutores. Senhor padre Filipe, mais um ano e cada vez mais novo, o tio Manuel é que está rijo, a idade não lhe passa pelas costas, sim, caminho já para os oitenta e cinco, e não passa pelas costas mas pelos dentes, que já poucos tenho. O tio Domingos, aqui, é que está bom. Sim, o Domingos bebe boa pinga, anda bem cuidado. Conversa para lá e para cá, entre dois anciãos e este que escreve estas linhas que

Que valorizamos nos outros?

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Grande ensinamento nos dá o Evangelho deste domingo: “a vida de uma pessoa não depende da abundância dos seus bens!”. Todos sabemos que, no fundo, é assim, mas nem todos vivemos o nosso dia-a-dia com este princípio. Numa cultura que promove o imediato, a aquisição à tecnologia de ponta e roupas de marca, rapidamente olhamos mais ao que a pessoa tem do que ao que a pessoa é. Ora, Jesus vem dizer-nos que entrar nesta espiral do “ter” leva ao vazio da avareza e perdemos um dos valores mais belos do Evangelho: a partilha. Uma conversão de valores – os nossos pelos de Jesus – faz-nos ser verdadeiros e honestos nas nossas relações. Bom domingo!

Sábado de manhã

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Sábado de manhã. Feirão mergulhou no silêncio. É dia de feira na Ouvida. Quem pode e quer vai Os outros por cá ficamos Que fazer? É a vida. A missa já se rezou. Olá bom dia, adeus, até logo, se Deus quiser, palavras trocadas no adro na igreja não são precisas mais se os dias correm iguais e nós somos sempre os mesmos, assim pensamos, engano redondo, porque os mesmos é que nunca somos. E, agora, só os pássaros andam na rua. Pelo menos na minha, rua cimeira, que neste caso é do jardim. A vida da aldeia já não é por aqui tem vida, noutros tempos sim. Sábado de manhã. As nuvens passam à frente do sol E ele brinca ao esconde-aparece jogo forçado porque afinal não se mexe e está a ser enganado. Sábado de manhã, dia de lazer. Vejam bem que até eu, por não ter que fazer, me pus aqui a escrever, para ter com que me entreter. Coisas que sem pensar e estando eu a brincar, acabaram algumas por rimar. (fotografia: flores pequenas que se encontram no meio da

Cronoterapia (terapia do tempo)

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Diz o livro do Eclesiastes que há um tempo para tudo e tudo tem o seu tempo. Também para calar e para falar. Nas minhas caminhadas, nestes primeiros dias, paro várias vezes para falar com as pessoas. Atrás do bom dia, senhor padre Filipe, vem sempre uma história. Muitas vezes as histórias vividas, do passado ou do presente. De um passado duro porque difícil, e de um presente calcado pela idade e pelas dificuldades que traz. Perguntamos como vai a vida e a resposta é “vai como Deus quer”; se se fala de doenças termina-se com o “temos de aceitar o que Deus nos manda e, ele na cruz, sofreu bem mais que nós”; se o tema é a morte de alguém vai o desabafo de que “não somos deste mundo e andamos aqui enquanto Deus quiser”; se perguntamos a idade vem o desfiar das penas e trabalhos da vida, o marido e os filhos e termina-se com o “e tudo se criou, senhor padre”. Longe da neurastenia do Qohelet, possível autor do livro do Eclesiastes, estes finais de conversa são, de certa maneira, o final