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A mostrar mensagens de março, 2011

Desbatizar

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Este meu post vem na sequência da notícia que o Expresso trouxe neste sábado sobre o tema do "desbatizamento". Uma triste notícia não tanto pelo tema - é bom que se saiba que há pessoas que são batizadas e que não se identificam com a religião na qual foram batizadas - mas pela superficialidade e até alguma falta de respeito para com quem é batizado. Mas a isso já estou (os cristãos já estamos) habituado. Por isso este meu post é um comentário a estas duas páginas sobre um tema que acaba por não ser tema porque, como iremos ver, ninguém se pode desbatizar, como também ninguém pode apagar o nome da certidão de nascimento ou o nome da escola onde se andou. Mas isso será mais adiante. Antes de mais, dizer que ninguém se pode desbatizar e que o que se deveria dizer é que se pode fazer uma declaração formal de que se abandona a Igreja Católica (equivalente ao termo apóstata, repúdio total da fé cristã, cân. 751, que para os que se crêem "desbatizados" é título de glória

A cigarra e a formiga ou o adiantar trabalho

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Tenho andado como a formiga da fábula de Esopo: a adiantar trabalho. Ela recolhia durante o verão para ter durante o inverno; eu aproveito estes dias para preparar o que aí vem de trabalho: conferências, retiros, encontros, meditações. Algumas coisas têm de sair da minha lavra, enquanto outras tenho que as procurar. E nem sequer olho para as cigarras. Elas que toquem e cantem. Eu é que não posso; tenho que produzir (por curiosidade, a adaptação "cristã" da Walt Disney da fábula é bem mais interessante. Enquanto que na fábula de Esopo a formiga diz: Já que cantaste agora dança, nesta versão cristianizada as formigas recolhem a cigarra no seu abrigo, alimentam-na e depois a Rainha pede-lhe para tocar para elas!). Mas foi numa das buscas que andava a fazer sobre temas religiosos que encontrei um depoimento da deputada-reformada Odete Santos. E espantou-me pelo que que diz de Cristo: " Lembro-me do Cristo, à minha cabeceira. O Cristo morre por dó, silenciosamente: com a cabe

17 anos

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O convento onde vivo faz hoje 17 anos. É uma data simbólica: a primeira missa que se rezou neste convento. Mas no princípio era o caos. Os frades chegavam aos poucos, nada era o que era: a capela conheceu quatro sítios até termos a igreja. A sala, transformada em capela provisória, era a sala do "Centro Cultural Dominicano" que não se chegou a construir; o Hall passou a capela e a sala do Capítulo era biblioteca, que até então estava num corredor do piso dois do convento. Foi assim que conheci o convento, quatro anos mais tarde (em 1994 trabalhava eu para o Instituto de Apoio à Criança, a recibos verdes, com miúdos da rua, em chelas, zona J e arredores). Falarei da comunidade daqueles tempos (fio-me numas fotocópias herdadas com o historial do convento). Esta comunidade antes de vir para este convento, vivia na Rua Conselheiro Barjona de Freitas, num prédio, em dois andares. Chamava-se "Comunidade João XXIII". E foi, então, em Março de 1994 que se deu o êxodo: os pr

Ordens da Primavera

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Chegou a Primavera. Este ano com o céu azul e o sol forte. Estão 18 graus. Embora há já alguns dias que se vinha notando a mudança, a partir de hoje começa o recomeço. É hora de despertar. As núvens que se afastem para que o sol comece a aquecer, a chuva que venha mais mansinha, os que hibernam acordem, a neve que comece a derreter, as árvores espreguicem os seus ramos e concedam-nos o milagre dos frutos, as plantas façam despontar as suas flores, com as suas cores vivas e os seus cheiros perfumados. E nós, seres humanos, não fiquemos só a ver as mutações da natureza. Aproveitemos a força da Primavera e recomecemos também nós uma vida nova; a Páscoa está aí e o universo já se começou a preparar.

São José, marido e pai

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A figura de São José é um bocado secundária na Igreja. Ao contrário das festas de Nossa Senhor, são José conta apenas com duas festas ‘directas’ e uma indirecta. As festas ‘directas’ são as do dia 19 de Março e 1 de Maio (S. José operário), e a indirecta é a da sagrada família. Isto a nível oficial. No entanto, sabemos que a devoção a São José, embora tardia, esteve sempre presente na piedade popular. Já no século V, no âmbito da Sagrada família, já se fala da missão importante de São José estando ao serviço de Maria e de Jesus; ele é um homem justo, o casto esposo de Maria, o pai de Jesus, exemplo de uma vida de fé e de trabalho… Depois, na Idade Média aparece, numa perspectiva mais popular como patrono dos carpinteiros; no século XIII Santa Margarida de Cortona reza diariamente 200 pai-nossos em honra de São José e depois no século XV começa a divulgar-se e a escrever ‘vidas de São José’ como São Vicente Ferrer, e a famosa Suma dos dons de São José também de um dominicano Isidoro de

Sexta-feira da Quaresma

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Em todas as sextas-feiras do ano, a oração de Laudes começa com o salmo 50, conhecido como Miserere (Tem piedade). É um salmo penitencial, pesado, em que se pede a Deus misericórdia, o perdão dos pecados, um coração puro, uma renovação interior e uma vida nova na alegria da salvação... Na quaresma este salmo reveste-se de maior acentuação, como se fosse um grito da alma, aflita, necessitada do perdão de Deus. Sexta-feira, dia da semana em que lembramos a morte de Jesus. Unimo-nos a Ele, que assumiu o peso dos pecados do mundo e que os cravou na cruz, libertando-nos assim do peso da consciência que ao longo da História vai reconhecendo a maldade praticada com Deus e com o seu irmão. Hoje a cruz está plantada no calvário do mundo. Olhamos as imagens que nos chegam, as notícias que lemos nos jornais, as situações políticas e económicas esgotadas e olhamos também para a Cruz. E compreender que na cruz de Cristo, hoje, estão outros crucificados: os que sofrem. Por isso, também hoje é necess

As Quartas da Quaresma

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O Convento onde vivo teve a ideia de promover, em cada quarta-feira da Quaresma, um final de tarde/princípio de noite, dedicado à celebração, oração e silêncio. Começa às 19.15h, com o jantar e termina pelas 22h, com a oração de Completas. Infelizmente não posso desfrutar destas quartas-feiras porque a sua preparação recai sobre mim. Tenho pena mas não me importo. Prever tudo o que vai acontecer, desde as inscrições das pessoas que querem tomar uma refeição ligeira em silêncio, escolher a música que se vai ouvir durante a refeição (hoje será música coral ortodoxa), preparar os textos de apoio à meditação, as fotocópias dos salmos das Vésperas e das Completas, o pôr a mesa, coisa que os pais mandam fazer aos filhos, supervisionar a refeição... tudo isto entendo como serviço. E faço-o em silêncio, com a ajuda de uma empregada. Há muitos anos atrás, confessei-me a um padre do pecado de me distrair nas missas por causa dos cânticos que tinha que cantar... que preferia não estar tão envolvi

O Jejum e o peixe

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O Evangelho desta sexta-feira fala do jejum. O jejum que é uma prática recorrente na Bíblia. A prescrição do Antigo Testamento começou por regular um só dia: no dia da Festa da Expiação. Depois do exílio também se instituíram mais quatro dias, relacionados com calamidades nacionais. Mas, depois, havia os jejuns particulares. Por exemplo, os fariseus no tempo de Jesus, jejuavam duas vezes por semana, à segunda e à quinta-feira. E é esta prática que Jesus vai corrigir quando, no capítulo seis do Evangelho de Mateus, diz que o jejum é para ser praticado no segredo e não diante dos outros. No Evangelho de hoje é feita uma pergunta a Jesus sobre o jejum: Porque é que os seus discípulos não praticam o jejum? E Jesus responde que não se pode jejuar em dias festivos: "Porventura podem os convidados para as núpcias estar tristes, enquanto o esposo está com eles?". Parece que Jesus queria relativizar o jejum, ou que com ele presente não faz sentido jejuar... Mas então é legitimo pergun

Aqueles de quem não gostamos tanto

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Às vezes, nas Missas das Crianças, uso uma oração Eucarística do Missal em que, numa das orações, se pede pelos nossos amigos " e também por aqueles de quem não gostamos tanto ". Não é uma realidade infantil. Todos fazemos a experiência do desamor: há pessoas que não gostam de nós mas há também pessoas de quem nós não gostamos tanto. E é um problema. E o desprezo ou a indiferença não é solução. Mesmo que pensemos que sim, o cristão é sempre chamado ao amor e nunca ao desprezo. Há um texto muito bonito de Santa Teresa do Menino Jesus sobre este tema. Também ela viveu este drama, e talvez pior que as nossas realidades, ela tinha dificuldades de relação com uma das Irmãs do Mosteiro onde viviam. Ela conta a situação e que fez para tentar mudar: " Há na Comunidade uma Irmã que tem o condão de me desagradar em todas as coisas: as suas maneiras, as suas palavras, o seu carácter, pareciam-me muito desagradáveis. Apesar de tudo, é uma santa religiosa, que deve ser muito agradáve

Para quê a Quaresma?

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Hoje começa a Quaresma. E é bom que caminhemos em sintonia com toda a Igreja. Este é um tempo de interioridade, de reflexão, de olharmos para dentro da nossa vida e fixarmo-nos no essencial. É um tempo que nos prepara para Páscoa. De facto, só assim teria sentido. Nós, cristãos, nestes dias, não jejuamos em vão, não rezamos em vão e não praticamos a esmola em vão. Não entendemos estas práticas como privações ou penitências. O jejum, a esmola e a oração são meios de união a Deus, de deixarmos o supérfluo e concentrarmo-nos no essencial. Por isso, nesta Quaresma, mais jejum. Além do jejum prescrito, questionável, jejuemos nos maus pensamentos, nas más palavras e nas más acções. Nesta Quaresma, mais oração. Além das orações mais rituais e habituais, falemos com Deus ou de Deus, não numa oração egoísta mas numa oração de comunhão. Rezar com os que crêem e pelos que não crêem, com os que sabem e pelos que têm mais dificuldade. Nesta quaresma, mais esmola. Aprender que o excesso não produz,

As segundas intenções

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Problemas na Líbia. O Prémio Nobel da Paz admite enviar tropas para resolver as questões e, certamente, retirar do poder Kaddafi . O mesmo que até há um mês atrás era recebido com pompa e circunstância onde quer que fosse. Basta ir ao Google, no departamento de imagens e escrever, por exemplo, Kaddafi e Obama e ver as fotografias com os sorrisos que pensávamos serem verdadeiros. Mas agora mudaram os sorrisos. Só não sei se as intenções de Obama são por causa dos direitos humanos (gente que foge e gente que morre) ou por causa do petróleo que está a criar problemas na economia mundial. Quais serão as suas verdadeiras intenções?

Da janela do meu quarto

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O mosteiro das Dominicanas, como já se sabe, fica por detrás dos Remédios. Quem olha da baixa da cidade pensa que depois do escadório que leva até à igreja do Santuário, não há mais nada. Mas sim. E esta é a vista do “depois-dos-remédios”. Da janela do meu quarto, ou melhor, da janela do quarto onde estou vê-se a torre da igreja da Senhora dos Remédios, vê-se Santa Marta de Penaguião e toda a serra do Marão onde se plantou a cidade de Vila Real. Vê-se ainda, à direita, embora a fotografia não mostre, a capela de São Domingos de Fontelo, também com uma vista esplêndida sobre Lamego, Régua e a Serra do Marão. Ora, se tudo isto está metido nas serras altas, como é que não havia de fazer frio nesta altura?

Segundo passo

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De Aveiro para Lamego. O retiro "correu bem", expressão tão neutra e tão vaga, mas as Irmãs gostaram e isso é o que importa. Ao almoço, as Irmãs "doentes" desceram ao refeitório para fazerem um pouco de recreio connosco. Foi um momento muito agradável, apesar da surdez de uma, da cegueira de outra e dos noventa anos de outra ainda. E agora estou em Lamego, com outras Irmãs, as monjas dominicanas, em visita "oficial". Rápida mas oficial. Na mesinha de cabeceira tenho as constituições delas para dar uma vista de olhos. O dia de amanhã vai ser de escuta: receber cada irmã, conhecer, ouvir, perguntar... Uma grande diferença de clima: aqui atrás dos remédios (para não dizer atrás do Sol posto) está frio. Muito frio. O que me vale é ter aqui um aquecedorzinho para onde desloquei a mesa para poder ler e escrever com algum calor. Quem tem capa sempre escapa. Eu não trouxe a minha do hábito, mas ainda assim, escapei com esta fonte de calor. Como ontem não vim escre

Presença dominicana em Aveiro

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Estou a meio do retiro. Estão cerca de vinte Irmãs Dominicanas. Esta casa de Aveiro é uma casa especial. Está num bairro moderno de Aveiro, ao pé da universidade, inserida nos prédios que aqui se construíram. É o número um da rua. São quatro pisos, com um grande terraço, onde se pode ter uma vista panorâmica da cidade. Esta casa começou por ser uma residência para universitárias. Estava bem localizada, os pais ficavam sossegados porque estavam em casa das Irmãs, e também havia alguma pastoral. Entretanto, com a tributação ao Estado por parte das obras sociais da Igreja Católica, não puderam continuar. E esta casa foi convertida em casa de acolhimento às Irmãs que passam por aqui e também a grupos, e também uma casa de repouso/enfermaria para as Irmãs doentes ou de muita idade. Aqui vive-se a compaixão. Não é pena mas sim compaixão. A capacidade de entrega e doação de Irmãs que cuidam destas que estão acamadas, que sofrem de Alzheimer, que têm muita idade, que não vêem por causa dos dia

fora do mundo e do tempo

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Não sei quem sou nem o que faço aqui. Tudo me é estranho: o sítio, os outros, até eu sou estranha a mim própria. Todas vestidas como eu, mandam-me para aqui para rezar, para ali para comer, para acolá para me deitar. Como se eu soubesse o que isso é. Sigo o instinto: para rezar desço um andar, para comer vou para a sala do fundo, para um quarto a meio do corredor que é onde me deito. Só me lembro do antigamente: umas canções em latim, dos poucos nomes das pessoas de quem me lembro, está tudo morto e fico confusa: aquele parece que é o frei Domingos mas afinal disse-me que se chamava Filipe, aquela ali parecia-me a irmã Maria e afinal ela também diz que é outra! Não sei se a confusão é minha ou se são eles que estão a brincar comigo. E sinto-me baralhada. E para não me baralhar ainda mais calo-me e vejo. Isso sim, olhos abertos a tentar perceber o que é que está para aqui a fazer tanta gente, tantas freiras que me conhecem e que eu conheço com outros nomes. E passam os dias, as horas e