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A mostrar mensagens de abril, 2017

Emaús

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O caminho da tristeza Torna-se mais longo e sem rumo. Os olhos, embargados e sem luz, Os pés, pesados e cansados A cabeça curvada e confusa Impedem os dois companheiros De ver Jesus. Ele caminha com eles Abre-lhes as Escrituras e o coração Lentamente tudo muda E tudo faz sentido Ao partir do pão. Regressam à cidade Com uma alegria incontida. É verdade, está vivo, E nós somos testemunhas Que a morte foi vencida. O caminho da vida É o caminho de Emaús. Quem o percorre sozinho Não encontra destino nem meta. Mas uma coisa é certa Nesse caminho anda Jesus.

Indecisão

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Passei o dia com a vontade de escrever mas não atinei com o assunto: sobre a intolerância de alguns diante da tolerância de ponto ou sobre Santa Cataria de Sena que hoje se comemorou. Mas não me decidi. Sobre a tolerância de ponto a minha opinião não iria certamente trazer qualquer benefício nem prejuízo a ninguém e sobre Santa Catarina, depois de ler episódios e orações dela, acabei por não me decidir por nenhuma. Durante a tarde outros assuntos me surgiram para escrever: um poema de Daniel Faria, o artigo do P. Anselmo Borges sobre Fátima (bastante interessante, até) ou um comentário ao artigo sem sal do Professor João César das Neves, também sobre Fátima. O autor parece o Quixote a defender Nossa Senhora e Fátima e os Pastorinhos, querendo corrigir as afirmações que D. Carlos Azevedo e o P. Anselmo Borges fizeram nos dias passados. Li o artigo, ia caindo na tentação de publicar um pequeno comentário - ainda o escrevi - somente com esta frase: aqui está um mais papista que o Papa.

Vidas contemplativas

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Tenho vivido dias pouco contemplativos mas ligados a pessoas contemplativas. Vidas que me têm impressionado por aquilo que, de certa maneira, poderia ter sido também a minha vida mas que hoje reconheço que não foi a vontade de Deus. Na terça-feira depois da Páscoa o noviciado foi a Évora, com o principal objectivo de visitar a Cartuxa. Para mim a quarta ou quinta visita, sendo que as últimas já não são de curiosidade mas sim de admiração pela vida simples e austera, aparentemente vazia mas sem dúvida homens cheios de Deus. A visita foi de certa maneira rápida, uma vez que coincidiu com o passeio pascal da comunidade. Passámos nas partes principais da Cartuxa: igreja, capela da comunidade, claustro, cela, biblioteca e cemitério. As perguntas iam surgindo naturalemente, ao mesmo tempo que se tiravam algumas fotografias. Ao meio dia rezámos as Ave-Marias (na Cartuxa o Regina Caeli só se reza depois de Laudes), ao mesmo tempo que os sinos tocavam. Aliás, na cartuxa superabunda o silên

Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito

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Última palavra de Cristo na Cruz antes entregar a sua vida. Não sabemos se foi propositado ou não mas, quer a primeira quer a última palavra de Cristo foram orações ao Pai. Nas duas chama a Deus de Pai, como sempre Jesus chamou e nos ensinou a chamar. Também duas das frases são citações de salmos; Jesus personaliza o salmo 31, que é um salmo indicado para as horas de tribulação. Este grito de Jesus ao Pai, é uma entrega a Deus da sua vida: Jesus, no fim da sua vida e nós, em cada dia, numa entrega de confiança e de amor. Este grito é também o grito dos que, no meio do desespero, se entregam a Deus, as suas horas e dores, as suas angustias e os seus desesperos. Jesus dá-nos uma última lição antes de morrer: unidos ao Pai os vales tenebrosos da vida passam-se na calma e na confiança.

A paixão do Senhor

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Ao ler a Tua Paixão, Senhor, eu te peço: Que me livres do farisaísmo cego e insensível Que tantas vezes trai e mói Que contradiz e argumenta sem argumentos Que vive da aparência e do agradar aos outros. Ao ler a Tua paixão, Senhor, eu te peço: Que me faças compreender o gesto acolhedor Da Tal pessoa que o Evangelho não nomeia Mas que ficou guardado na memória da fé. O gesto solidário do Cireneu, que cansado e talvez até contrariado foi revelador de proximidade na dor; O gesto de misericórdia de José de Arimateia, Que cedeu o seu próprio túmulo para que o teu corpo Pudesse ter a dignidade que o sofrimento e a injustiça tiraram. Ao ler a tua Paixão, Senhor, eu te peço: Que me faças seguir o teu exemplo de humildade Que tantas vezes passa pelo silêncio: Silêncio diante da traição de um amigo Silêncio diante da incompreensão, em que qualquer palavra Gera ainda mais violência Silêncio diante dos ultrajes e das mentiras que afogam e matam Ao ler a tua Paixão, Senh

Tudo está consumado

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Sexta palavra de Cristo na cruz. Não se trata de uma rendição ou de um deixar de querer viver. O tudo está consumado que sai da boca de Jesus é o anúncio de que tudo se completou e até ao fim da vontade de Deus e da salvação do homem. Tudo está consumado. Jesus, cansado, não de viver mas sim de sofrer, entrega ao Pai toda a humanidade por quem deu a vida. No entanto, a obra de Deus continua a precisar de homens e mulheres que prolonguem a consumação do mundo. Homens e mulheres que ajudem outros a perceber o sentido da vida e das coisas. Homens e mulheres que pensem as questões existenciais da vida e os modos de agir. Cabe agora, a cada um de nós, continuar a obra de salvação iniciada por Deus, consumada na Cruz por Jesus, entregue a cada um de nós na busca do sentido da vida e do amor.

Via Sacra

O meu amigo António Saiote ofereceu ao Convento um quadro com as estações da Via Sacra. O meu confrade, fr. José Manuel fotografou e fez este vídeo que partilho, desejando uma Boa Páscoa, meditando em todo o amor de Cristo por nós.

Tenho sede

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Quinta palavra de Cristo na Cruz. Não tem nenhum sentido espiritual, mas sim o que um homem cansado e agonizante sente depois de tantos tormentos: sede. Nos Evangelhos não é primeira vez que Jesus sente sede. Quando entra em Sicar e se senta à beira do poço, na hora mais quente do dia, Jesus também pede à Samaritana que lhe dê de beber. A sede, uma das primeiras necessidades humanas, tem na Bíblia uma outra dimensão mais espiritual: a sede de Deus, a sede de Jesus. Mas Jesus também tem sede de nós. Deseja-nos, quer-nos, ama-nos. A humanidade deseja Deus, mesmo que por vezes o negue e lhe vire costas. Este grito/pedido de Jesus de Cristo na Cruz, não é só dele mas de todos os crucificados da história e do mundo que, continuam hoje a gritar que têm sede: sede de pão, sede de água, de roupa e de casa; de dignidade e trabalho justo, de reconhecimento e de atenção. A sede é grande neste muito, a material e a espiritual. Mas assim como do rochedo do Antigo Testamento brotou água,

Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?

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Quarta palavra de Jesus na cruz. Desta vez uma oração, o salmo 21, que Marcos só cita mas que talvez Jesus terá rezado pelo menos uma parte dele. Por um lado, algumas pessoas dizem que Jesus, na cruz, sentiu o abandono de Deus; mas não terá sido isso, terá sido a oração de confiança dirigida Aquele em quem Jesus entrega a sua vida. Mas sim, na boca de muita gente esta palavra de Cristo, é mesmo uma palavra de abandono em Deus. Uma cama de hospital, uma doença incurável e progressiva, um desespero, torturas, mortes injustas... Quem reza sente a presença de Deus. Mesmo se há abandono de saúde ou de pessoas. E Deus responde ao grito: Eu não te abandono,meu filho. Ainda que uma mãe se esqueça do filho que traz no seu seio eu nunca te abandonarei.

Mulher, eis o teu filho... Filho, eis a tua mãe

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Terceira palavra de Cristo na Cruz, exclusiva de São João. Numa visão mais afectiva e devota poderia pensar-se que Maria seria uma preocupação para Jesus e, antes de morrer, entregava a sua mãe a João e João a sua mãe para que um guardasse o outro. De facto, ainda hoje em Éfeso, cidade onde se diz ter morrido São João, existe uma casa visitável, em que se diz que foi onde Nossa Senhora viveu os seus últimos anos, na companhia de São João. Mas a leitura interpretativa é bem mais teológica que afectiva. Maria é agora não só a mãe de Jesus mas a Mãe do Messias; por isso, esta entrega é simbólica de uma outra entrega, da Igreja a cada um de nós, simbolizado no discípulo amado, mas de nós a Maria, à Igreja, a Esposa, a Mãe. Junto à cruz começa uma nova maternidade: sem deixar de ser mãe de Jesus passa a ser, também, mãe da Igreja. Hoje, quero também entregar um rapaz aos cuidados de Maria. Irá precisar deles. E vou rezar por ele, para que encontre sempre na Igreja uma Mãe.

Hoje estarás comigo no paraíso

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A segunda frase de Cristo na Cruz, é uma resposta a um pedido de um dos que foram crucificado com Jesus. A tradição atribuiu-lhe o nome de Dimas. Mais que uma palavra de conforto ou de ânimo é uma palavra de salvação: Hoje estarás comigo no paraíso . Esta atitude de Jesus, outra não seria de esperar, mostra-nos que é sempre tempo e ocasião de voltarmos para Deus. Dimas, que não deve ter tido muitos encontros com Jesus, ao vê-lo crucificado, tudo suportando em silêncio e oração a Deus, pede para ser admitido no Reino de Deus. A resposta de Jesus a este ladrão é a aplicação prática do que Jesus havia dito às multidões: há mais alegria no céu por um só pecador que se arrepende do que por noventa e nove justos que não precisam de arrependimento. O P. António Vieira, num sermão que pregou sobre esta frase termina com esta oração: Rei dos reis e Senhor dos senhores, que morrestes entre ladrões para pagar o furto do primeiro ladrão, e o primeiro a quem prometestes o Paraíso foi outro l

Em domingo de Ramos

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" Hossana... Bendito o que vem o nome do Senhor (Mt 21, 9), diziam as crianças. Cantemos com elas e celebremos hoje a festa, não de maneira pomposa, mas divina; não só levando nas mãos os ramos de palmeira, mas também na alma, e branqueando-a mais que a neve. O rei dos anjos não vem em carros e com exército, mas montado num pobre jumentinho, para te ensinar a ti que não deves querer ser levado em cavalos e jumentos sem entendimento. Portanto, cultivemos a humildade com Cristo em nós, para subir com ele; cantemos hinos com os anjos, glorifiquemo-lo com as crianças, gritemos com a multidão, exultemos com Lázaro em Betânia, ressuscitemos das obras mortas, com os habitantes de Sião cantemos em coro, clamemos com os cegos a quem ele deu a vista; louvemos com as crianças e com os velhos, preguemos com os seus discípulos e, a exemplo das crianças, estendamos ramos de oliveira no caminho da vida." (São Cirilo de Alexandria, Homilia 4, pronunciada no concílio de Éfeso)

Pai, perdoa-lhes que não sabem o que fazem

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(No tempo da Semana Santa há uma tradição da pregação sobre as sete palavras de Cristo na Cruz. Hoje faço uma pequena reflexão sobre a primeira frase de Cristo na Cruz.) " Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem " (Lucas 23, 34). Depois de grandes precipitações e injustiças, condenação e violência, depois de crucificado Jesus reza ao Pai. Não por ele mas por aqueles que, não atingindo o alcance da maldade cometida, não sabiam o que estavam a fazer. E não sabiam mesmo. Por um lado não sabiam que estavam a matar o autor da vida e, por outro, não sabiam que aquela desgraça nos trazia a Salvação. A primeira palavra de Jesus é uma oração de perdão. Aquele que tinha explicado a Pedro que o perdão teria de ser infinito, como infinito é o amor, aquele que solenemente dizia às multidões para amar os inimigos e rezar por aqueles que nos odeiam é o mesmo que agora, em atitude reconciliadora, pede perdão a Deus por eles. Grandes palavras e grande exemplo o de Cristo na Cru