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A mostrar mensagens de junho, 2016

Frei Luís de França (1936-2016)

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Faleceu, ontem, um frade que, não pertencendo à comunidade de Lisboa, esteve sempre a ela muito ligado. Frei Luís de França, muito conhecido e falado por alturas do 25 de Abril, a Antena 2 disse hoje, até, um dos padres mais importantes da Revolução. Frade dominicano, esteve na origem e acompanhamento deste convento de Lisboa. Foi aqui prior e meu padre-mestre quando era estudante. Presidente da OIKOS, quando chegou a idade da reforma decidiu ir para Angola onde, dizia ele, ainda podia ser útil. Lá, esteve ligado à formação dos postulantes dominicanos, e com uma forte e importante presença na universidade católica de Luanda onde desempenhou vários cargos como, por exemplo, professor de ética. Homem informado e de grande clarividência, quer a nível social quer a nível eclesial. Um cancro começou a lavrar no seu corpo há pouco mais de um ano... sempre com grande esperança, foi tentando travar a evolução da doença, até ao fim. Como líamos ontem, numa celebração que fizemos à noite, p

As mãos no arado

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Gosto, especialmente, da primeira leitura e do Evangelho que hoje vamos escutar na Eucaristia. Faz-me ir à infância, ao mês de Julho, quando começavam as minhas férias em Feirão. Como não tínhamos terra nem gado, a diversão era ajudar quem trabalhava. Por isso, estas imagens da charrua e da lavra são-me familiares e gratas. Mas, para além das imagens, está a mensagem. Relatos de chamamento e de vocação, de resposta e de dúvidas. Seguir Jesus será sempre pôr as mãos no arado para lavrar a vinha do Senhor, sem olhar para trás (sem se arrepender), com o que isso significa de perdas e ganhos. Seguir Jesus nunca é um risco: é sempre uma vitória. Basta deixar para trás o passado e viver o presente com esperança e alegria. Em véspera de aniversário de ordenação, o meu pensamento vai também para aqueles que, como Elias, deitaram a capa sobre mim e fizeram a sua parte. São alguns que recordo com saudade e agradeço a dedicação que por mim tiveram. Agora sou eu quem tem de deitar a capa... á

Do sonho à realidade

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Há uns anos trás, no fim de uma celebração de São Domingos, num mosteiro de Monjas, uma Irmã desabafava: que pena não haver nada do nosso Pai em português. Vim para casa - estava em Feirão - e, ao rezar vésperas, dei-me conta do hino que, ao contrário da grande maioria dos hinos da Liturgia, não era uma quadra mas sim uma sextilha... É difícil arranjar uma melodia para uma sextilha. Mas ficou a pena da Irmã. Até que um belo dia, de manhã, acordei com uma melodia na cabeça... e fazia sentido o correr da melodia e peguei no telemóvel para a gravar. Ficou gravada e, mais tarde, quando fui confrontar com o hino, caía que nem uma luva. Estava arranjada a melodia par ao hino. Bem, foram-se passando os anos e a melodia estava na minha cabeça, no áudio do telemóvel e ainda numa folha, pelo menos o tom e o correr da música. Deixei de ir a Feirão no mês de Agosto e a melodia nunca foi cantada. Quando estávamos nos preparativos do CD sobre São Domingos, que noticiei na semana passada, demo

Gravações

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Começaram hoje, na igreja dos Ingleses, à Estrela, as gravações de mais um projecto dominicano, integrado no oitavo centenário da confirmação da Ordem Dominicano. Trata-se de um CD com o ofício de São Domingos. O autor é um frei falecido há dois anos, o fr. José João. Fui eu quem lhe pedi para o fazer e deve ter sido das últimas coisas que fez. Aceitou musicar mas queria as letras certas, bem traduzidas. Pedi a um frade que o fizesse e, com texto fixado, avançou-se para a música. O fr. José João, homem de valor mas talvez nem sempre valorizado por nós, tinha um grande amor à Liturgia e à Música Sacra.Sempre Irmão cooperador, foi pregador desta forma tão bonita de falar de Deus e com Deus, ajudando outros a rezar duas vezes (Quem canta reza duas vezes). Ganha corpo, assim, este projecto desejado e necessário. Um agradecimento ao coro Laudate que desde a primeira hora agarrou este projecto e que o leva até ao fim. E aos que apoiam o CD. Deixo aqui o refrão do hino que estavam a ensa

Simplicidade nas formas e nas fórmulas

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Duas vezes por ano lemos na liturgia o capítulo 6 do Evangelho de Mateus. A primeira vez na quarta-feira de cinzas e a já no Tempo Comum, nesta quinta-feira. Escutamos Jesus a ensinar a rezar, onde, querendo explicar como se reza, acabou por nos deixar o modelo perfeito de rezar, o "Pai-nosso". A versão de São Mateus é diferente da versão de São Lucas, quer no texto quer no contexto. Se na versão de São Mateus é Jesus quem nos diz como devemos rezar, na versão de Lucas são os discípulos que pedem a Jesus que os ensine a rezar. Nesta versão que hoje nos interessa, Jesus faz-nos um duplo apelo. O primeiro é de que as nossas orações devem ser simples nas formas e nas fórmulas. Jesus diz que quando quisermos rezar não o façamos para dar nas vistas mas que entremos no quarto e rezemos em segredo (simplicidade nas formas) e também nos pede para não dizermos muitas coisas porque Deus sabe o que nós precisamos (simplicidade nas fórmulas). Há-de ser a humildade e a discrição da o

Ideais

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Ontem às noite, enquanto esperava pelo sono, fui à prateleira do meu quarto (o de Roma) onde estavam umas revistas antigas da Ordem. Como ando à procura de textos sobre dominicanismo para preparar o noviciado, fui vendo nos índices, o que me poderia interessar, referências e, uma das revistas era consagrada à morte de acidente do Mestre da Ordem Manuel Suarez, Mestre entre 1946-1954. A acompanhar o artigo estava esta citação, que aqui deixo, como ideal da Ordem e dos que a ela pertencem: "A Ordem foi fundada com o objectivo de evangelizar o mundo tal como se encontra, em contínua gestação de si mesmo. Fechar os olhos sobre o que acontece, ceder a um sentimento de medo, não enfrentar abertamente estas questões, seria uma infidelidade ao espírito de São Domingos. Especialmente nos momentos mais importantes da história da Ordem, este espírito foi revivido por muitos dos nossos irmãos como contemporâneos conscientes da situação do mundo em que viviam, permitindo-lhes ser testemu

Vanitatis vanitatum

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1. Este título, que é tirado da Bíblia, do início do livro de Cohelet, é de difícil tradução. A mais normal é "Vaidade das vaidades, tudo é vaidade". Mas não é a melhor tradução. Nós não temos sinónimo de vanitas... que em espanhol seria vanidad e, em português, vanidade, algo que significasse "aquilo que é vão". Não se trata de ser vaidoso ou que as vaidades sejam pecado mas que não adianta andarmos atrás do que é vão porque tudo é vão. Mas escolhi este título para ilustrar a fotografia que coloquei que, na sua medida, vai bater no refrão latino. Trata-se de uma montra, numa rua de Roma, dedicada a paramentos e roupas clericais mas tipo alta costura. Elogia-se a loja de fazer tudo por encomenda, personalizado, não para qualquer um mas para quem tenha dinheiro. Viveu de glórias, de vaidades e vanidades, costurando as batinas e as outras insígnias dos papas. O Papa Francisco travou a sucessão de papas que se vestiam naquela loja, preferindo panos e costuras mais b

Cheiro a tílias e sabor a cerejas

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Com menos um dia de trabalho e com dossiers que se terão de terminar nesta sessão plenária, o tempo corre com os pormenores que aparecem à última da hora. O grande trabalho, no qual já se trabalhava quando entrei na Comissão Litúrgica, é o da aprovação do Calendário da Ordem. A única versão oficial é dos anos oitenta, quando se editou o Próprio da Ordem. De lá para cá, muitos santos e beatos se fizeram e necessitam de espaço no calendário. Não se trata de colocar um em cada dia; existem regras e existe o Calendário Romano, geral, que tem precedência sobre os calendários particulares. Hoje devemos terminar este trabalho que leva já quase dez anos. Daqui a pouco iremos discutir algumas modificações de datas (são cerca de 30/40 modificações e acrescentos) para depois aprovar o Calendário. À tarde, com o Secretário da Comissão, devo preparar todos os documentos para serem entregues na Congregação do Culto Divino: um esboço de carta do Mestre da Ordem a pedir a aprovação, um relatório, a

A primavera da Ordem

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Nós, dominicanos, celebramos hoje a memória de duas grandes mulheres da Ordem dos Pregadores: as beatas Diana e Cecília. Na Missa, o Presidente dizia que elas, juntamente com São Domingos, com o Beato Reginaldo e com o Beato Jordão da Saxónia, fazem parte da Primavera da Ordem. E assim é. Quando lembramos estas duas mulheres, olhamos para o rosto feminino da Ordem, para o que é pura amizade e profundo amor pelos frades e pelas vocações. Da Beata Cecília temos o retrato de São Domingos, que descreveu no processo de canonização e, da Beata Diana, o interesse e amor pela Ordem, em especial quando o Beato Reginaldo foi enviado para Bolonha por São Domingos, e onde vivia Diana, e pelas vocações, interesse tão bem demonstrado nas Cartas que escreveu ao beato Jordão. Numa biografia das suas vidas, que estou tentado a traduzir, diz-se que elas são o exemplo de uma santa e saudável amizade e de uma direcção espiritual bem sucedida. E assim é. A esta memória, tão grata aos dominicanos de Roma

O campo de Deus

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Hoje, nós dominicanos, celebrámos a memória de São Pedro de Verona, ou São Pedro Mártir. É importante lembrar este dia porque este santo, dominicano, foi o primeiro mártir da Ordem dos Pregadores. O primeiro a morrer por causa da fé, da pregação e da salvação das almas. O primeiro a morrer como São Domingos sempre desejou: mártir. Na Ordem sempre houve grande estima por este Santo. Nos primórdios e até São Tomás de Aquino, foi o "segundo" mais importante. Dizem as legendas da sua vida e martírio, que com o sangue que lhe escorria do corpo escreveu as primeiras palavras do Credo; e também que quem o matou se converteu e tornou-se, também ele, dominicano. E celebra hoje a Igreja a memória do Imaculado Coração de Maria. As Irmãs do Coração de Maria pediram-me que fosse celebrar com elas, e aceitei. A celebração foi simples e tranquila, com as vozes das Irmãs, sempre bonitas de ouvir. A homilia que partilhei com elas partiu de um pensamento que o seu Fundador, P. Jean Gailla