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A mostrar mensagens de setembro, 2012

Três apontamentos

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Neste meu silêncio, já a semana vai a chegar ao seu termo e, de facto, sinto algumas melhoras, poucas mas algumas, deixo três apontamentos, diferentes entre eles. 1. Quando tomo medicamentos lembro-me quase sempre de uma série infantil dos meus anos de criança "O corpo humano". Há dias vi que relançaram a série, talvez melhorada e acrescentada. Mas imagino os grande combates entre os maus e os bons, entre os intrusos e os do corpo, ajudados pelos medicamentos que ingerimos. Uma verdadeira quimera para o corpo, imagino. 2. Ainda no plano das doenças, aproveitei estes dias para escrever uma conferência que vou fazer no próximo mês, com o título "O tempo da doença, oportunidade para o reencontro com Deus". Pedem a experiência de um capelão. A minha experiência será sempre limitada enquanto não for "tocado na carne". Expressão violenta, esta, tirada do livro de Job, mas que significa isto mesmo; experimentar em si próprio a dor e o sofrimento. Enquanto

O silêncio

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Estou num silêncio "forçado". Uma rouquidão teimosa não me quer deixar nem me dá tréguas. Não se preocupem que está tudo controlado. O médico manda-me não falar por uns dias para descansar a voz. Mandar calar um padre... Só é possível isolando-me. Já quase em desespero de causa - sou muito impaciente com os poucos avanços, seja em que área for - impus-me o silêncio. Evitar falar, atender telefonemas, sair de casa, por causa das variações de temperatura, pode parecer um tormento mas não é (um acólito aqui da igreja, disse-me ontem que, com uma psp, até é fixe e consegue-se ficar calado). Aproveito para adiantar trabalho, escrever (recebi hoje um mail que me dizia que já que tenho de andar mais calado que escreva!), refletir alguns assuntos e ponderar propostas. Tudo em silêncio. Vou aproveitá-lo como um retiro, já que não pode ser uma constante. E que me faça bem ao corpo e à alma.

São Mateus e o apelo à conversão, alegria e missão

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A Igreja celebra hoje a festa de São Mateus. Nos Evangelhos, os relatos de chamamento dos Doze são todos feitos por grupos. Mas São Mateus não. Há este relato de chamamento que, curiosamente, aparece na sequência dos relatos das curas que Jesus vai fazendo. E é o que se sabe deste Apóstolo. A tradição foi acrescentando outras coisas, como, depois de ter anunciado e ter escrito o Evangelho na Judeia e para cristãos vindos do judaísmo, foi pregar o Evangelho para a Etiópia onde foi martirizado. Hoje, ao ler um resumo antigo da vida de São Mateus, o autor dizia que São Mateus, tão contente por ter sido chamado por Jesus, festejou esse chamamento com um banquete para o qual convidou muitos amigos. E foram os dois episódios que escutámos no Evangelho. Gostava, a partir deste evangelho fazer duas pequenas reflexões. A primeira é a relação entre conversão e alegria. O voltar-se para Deus, é o que significa a palavra conversão, significa deixar para trás o passado, o que se vive

A simplicidade dos ritos

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O Evangelho da Missa de hoje é uma beleza singular. Vale a pena lê-lo devagar, uma primeira vez como quem lê um episódio de um livro narrativo ou uma peça de teatro e saborear cada gesto, cada palavra, cada explicação. E depois, sim, reler, como Palavra de Deus que ilumina a nossa vida. A passagem é conhecida: Evangelho de São Lucas, capítulo 7, versículos 36 até ao 50, o episódio da mulher pecadora aos pés de Jesus. O P. Tolentino Mendonça será a pessoa em Portugal que mais sabe sobre esta passagem: a sua tese de doutoramento está relacionada com este episódio. Pessoalmente gosto muito dela pelas atitudes desta mulher anónima, que é conhecida por ser pecadora e que, com muita humildade e discrição, sem aviso nem autorização, aproxima-se de Jesus, ajoelha-se aos seus pés, lava-os com as suas lágrimas, enxuga-os com os seus cabelos, beija-os e derrama sobre eles um perfume caro. Ela não explica a ninguém, nem ao próprio Jesus, porque é que faz isso e com que intenção. Os ritos fazem-

Ars moriendi (com um dia de atraso)

Estou em Ávila, em mais um encontro de dominicanos. Desta feita, viemos todos os conselhos alargados das províncias dominicanas da Ibéria para falarmos do famoso 'proyeto 2016', uma tentativa de união de províncias, apostolados e missão. Está também presente o Mestre da Ordem, com alguns dos seus Sócios. A sessão de hoje começou ao contrario do que estava previsto: irmãos de várias gerações, dos 30 aos 70 anos, partilharam connosco o que é que acham deste projecto. Várias visões, mais espirituais por parte dos mais velhos, mais práticas das gerações mais novas. Mas o "must" desta tarde foi a conferência do fr. Felicisimo Martinez, um frade muito esclarecido nas questões da vida religiosa e da realidade, que nas suas "charlas", escritas e orais, tenta falar-nos de qualidade de vida religiosa e que continuamos na mesma. Hoje falou-nos da Ars moriendi, a arte de morrer. Brilhante, como sempre, não começando a falar do institucional mas do pessoal. Partiu de u

Seguir a Cristo

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No Evangelho de hoje, um dos convites que Jesus nos faz é de o seguirmos, com a nossa cruz. Há várias maneiras de seguuir o Senhor. Uma delas é imitando-o na vida, repetir os seus gestos e as suas palavras. Neste dia deixo aqui um texto do dominicano P. Lacordaire, sobre um modo de seguir a Cristo, através do sacerdócio, e em especial, pelo carisma de São Domingos:   Para viver no meio do mundo sem desejar os seus prazeres; Para ser um membro de cada família, sem pertencer a nenhuma; Para partilhar todo o sofrimento; Para penetrar todos os segredos; Para curar todas as feridas; Para levar os homens a Deus e oferecer-Lhe as suas orações; Para voltar de Deus para os homens para lhes trazer o perdão e a esperança; Para ter um coração de fogo para caridade, e um coração de bronze para a castidade; Para ensinar e perdoar, consolar e abençoar sempre. Meu Deus, que vida! E é a tua, sacerdote de Jesus Cristo.

Prantos de Nossa Senhora

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Fili mi, Jesu, Jesu, O mi Jesu, fili mi. Quem me matasse por ti, Porque não morresses tu. Oh vos omnes qui transitis Pola via da amargura, Chorai a desaventura Desta triste Sunamitis, Senti sua grã tristura, Oh, gentes, chorai meu mal, Vede bem sua grandeza, O cutelo de crueza Que corta com dor mortal Minha alma com tal tristeza. Oh judaica crueldade, Onde me levas meu bem. Oh cruel Hierusalém Matador sem piedade Dos Profetas que a ti vêm. Que te fez o meu cordeiro Filho do meu coração, Porque tanto sem rezão Condenaste ao madeiro Toda sua salvação.   (Poema de frei António de Portalegre, séc. XVI. Imagem: Fra Angelico, Jesus a caminho do Calvário com Nossa Senhora e São Domingos)

Oração à Cruz de Cristo

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"Jesus meu, ajoelhado humildemente aos pés da tua santa Cruz, peço-te, com todo o fervor, me dês a virtude da paciência, me faças humilde, e me enchas de mansidão... Jesus meu, olha que essas três coisas as necessito muito" (Oração de São Maria Rafael. Imagem: fr. Felix Hernandez, op, São Domingos abraçado à Cruz, 2012)

É melhor ouvir música

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A esta hora muitos portugueses estarão a ouvir o Primeiro-Ministro. Eu já desisti. Cada vez que ele fala ou quer falar, ele ou um dos do seu séquito, é só para nos trazerem más notícias. E a tão anunciada entrevista que quer dar hoje, a menos que fosse para dizer que se demitia, porque não tem nem coragem nem visão para ver que está errado, vai servir para justificar o injustificável. No entanto, fiquei contente com algumas reacções: as do D. Januário, as do Bagão Félix, as do bispo auxiliar do Porto, hoje em Fátima, que poderão ler no outro blogue. E não se trata de atacar o governo, trata-se de defender os que mais sofrem com estas medidas, que como diz o vidente da TVI, são sempre os mesmos. E o Sr. Presidente da Republica por onde anda que não fala? Estará de férias? Perplexo como grande parte dos portugueses? Estará ainda à espera desta entrevista ou de uma visita a algum lado para dizer que o país está a passar por um mau bocado? Toda a gente a "espicaçá-lo"e ele nad

Intuições

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Tenho para mim que, quando qualquer coisa me aparece inesperadamente duas vezes, é para não ignorar. Seja um tema, uma conversa, até um olhar. Foi o que me aconteceu com um pensamento que, sem procurar nem conhecer, me apareceu em dias diferentes. A primeira vez que o ouvi, não era uma citação exacta mas uma ideia - não o consegui reter. Hoje, enquanto procurava na internet um pormenor da vida de um beato dominicano, voltou a aparecer o pensamento. Já não era ideia mas citação, com identificação do autor. Entendi que era para não ignorar. Chama-se "oração da serenidade", foi feita por um teólogo americano do século passado, Reinhold Niebuhr e reza assim: " Concedei-nos, Senhor, Serenidade necessária para aceitar as coisas que não podemos modificar, Coragem para modificar as que podemos e Sabedoria para distinguirmos umas das outras ". (imagem: Lorenzo Lotto, retrato de um estudante, séc. XVI)

Os lugares de destaque

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As minhas noites de sábado já têm a sua rotina: escrever a homilia de domingo. E como não posso dizer tudo o que queria, sobretudo por respeito ao relógio, fico a pensar em algumas coisas que deveria dizer mas que já não cabem. É o caso da segunda leitura da Missa de amanhã. Iremos ouvir uma passagem da carta de São Tiago (2, 1-5) que nos fala da aceção de pessoas nas celebrações da comunidade cristã. A carta de são Tiago é pequena, só tem cinco capítulos, mas não é de palavras doces. Há um apelo constante à coerência de vida. A passagem de amanhã diz-nos uma coisa muito simples: que nas celebrações litúrgicas não há cristãos de primeira e de segunda e, por isso, não deve haver diferenciação de pessoas nem de lugares. Infelizmente não é o que se vai vendo em alguns lugares. Basta ver as grandes celebrações para as quais há convites com confirmação de presença, ou as autoridades se fazem anunciar, e reservam-se-lhes lugares de honra e, depois, nem responder à Missa sabem... Marcam-se