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A mostrar mensagens de fevereiro, 2010

Rodízio... espiritual

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Hoje estive no Rodízio. Não num rodízio de carnes... mas numa casa de retiros, em Colares, pertinho da Praia Grande. Fui pregar uma recolecção a um grupo de senhoras que pertencem a um movimento da Igreja Católica, as Noelistas. E como estamos ainda no princípio da Quaresma, foi a Quaresma o tema da recolecção. Um retiro é sempre bom quando agrada e aproveita às duas partes. A mim, como sempre, foi proveitoso não só por poder estar no Rodízio, com o mar no limite do horizonte, mas sobretudo pela partilha da fé e da esperança de uma possível, verdadeira e necessária conversão. Mas ficou-me esta imagem gravada na minha memória. Não é casa onde estivemos nem fui eu que tirei a fotografia. Encontrei-a na net. Esta casa, que foi o antigo convento de São Saturnino e agora um hotel de luxo, está num vale, é o único aglomerado de casas, virado para o mar, como que divinamente colocada entre as duas montanhas. Voltando à casa onde estive, bem mais modesta mas muito agradável, aqui deixo a chama

Pecados capitais

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São sete os chamados pecados capitais. Já foram mais, nunca menos de sete, não fosse este número especial, não só para a numerologia para também para a tradição judaico-cristã, a começar pelo relato da criação, que aconteceu em sete dias e a terminar, opção minha, nestes sete pecados que por estarem à cabeça (na origem) de outros, se chamam capitais. Apesar de não serem matéria da ordem do dia da Igreja não deixam de ser pecados ou, se quisermos, segundo a explicação do catecismo dos anos 50 que tenho aberto diante de mim e que me vai ajudar neste post, melhor diremos se os consideramos como vícios capitais. São, portanto, maus hábitos que nos prejudicam na nossa relação com Deus, com os outros e até connosco próprios. Não seremos nós os mais prejudicados, por exemplo, com o pecado da gula? E já que falamos da gula apresentemos, então, pela sua ordem, os sete pecados capitais: o primeiro, e não é por acaso que o é, é o da soberba ; segue-se o da avareza e depois o da luxúria . Em quar

O que fazer?

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As imagens são terríveis. Não foi um terramoto, foi um dilúvio. Não foi lá longe, foi na Madeira. No sábado à tarde ligaram para o Convento para nos dizerem que estava a chover muito na Madeira e que " Deus estava a castigar os homens ". Obviamente não concordei com quem disse esta barbaridade até porque a sabedoria popular é clara quando diz " Deus perdoa sempre, os Homens perdoam às vezes, a Natureza não perdoa nunca ". É uma mania humana - e que má mania! - remetermos estas coisas para Deus. O mais engraçado é que mandamos para Deus aquilo que já nos ultrapassa, depois de vermos que estamos impotentes... E devíamos ter cuidado com o que dizemos: 'graças a Deus que os meus estão bem....' e então os outros? Nunca vivi pessoalmente um drama destes. Não sei o que é sobreviver a um terramoto, não sei o que é ficar desalojado, não sei o que é ficar sem comida e sem roupa. Venho de almoçar. Na mesa em que estava falou-se obviamente do tema "Madeira". E

Memento quia cinis es

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" Lembra-te que és pó e que em pó te hás-de tornar ". Para quê lembrar o que se quer esquecer? Porquê este triste pensamento depois de dias de folia em que as máscaras reinaram como se o nosso mundo fosse este e a nossa alegria completa estivesse neste mundo? Lembra-te que és pó. Foi o que me disseram ontem, quando sobre a minha cabeça impuseram as cinzas, que lembram a nossa finitude, a passagem que é esta vida, de que este mundo há-de passar. Mas lembram também as cinzas a nossa origem. Fomos criados do pó da terra, por Deus, o oleiro das nossas vidas. E que criação! À sua imagem e semelhança. Não podia ser mais perfeito. Então volta a fazer sentido a frase quaresmal: lembra-te que és pó. Lembra-te que Deus te quer moldar, que Deus quer que voltes a ser sua imagem e semelhança, que te quer restaurar, que te quer dar a dignidade que perdes quando fazes o mal e te esqueces da tua origem divina. Lembra-te que és pó. " Arrepende-te e acredita no Evangelho ". Esta é a

Crónica de Burgos

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Regresso de uns dias de descanso e de descoberta. Quatro dias para revisitar cidades onde estive, conhecer novos lugares chegando à conclusão que o imprevisto torna-se mais interessante que o programado. Aqui fica, em linhas gerais o que foram estes quatro dias. 1. Santiago de Compostela. Em ano compostelano (ano xacobeo em galego) foi bom regressar à Catedral do Señor Santiago. Antes, porém, passagem em Padrón, terra dos muito afamados pimientos-padrón que, como não é tempo deles, não se puderam degustar. O bonito de Santiago de Compostela é a cidade antiga, construída certamente a partir da catedral, onde se anda descontraidamente entre ruelas e arcos, pedras escuras e muita gente e muitas máscaras. Na Galiza celebra-se com alegria o ' Entroido ' e as ruas enchem-se de festa. Pena que no Domingo, a catedral a rebentar pelas costuras, para assistir à Missa do Peregrino, não se tenha feito o ritual do "Botafumeiro"; afinal é um dos motivos de atracção, não só para tur

Pecados capitais

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Estou de partida para uns dias de passeio e descanso "por terras de Espanha e caminhos Jacobeus", como escrevi no quadro da Comunidade onde deixamos escrito as nossas ausências. Mas esta manhã fui entrevistado por três estudantes da escola secundária da Amadora, que estão a fazer um trabalho sobre a obesidade e entraram pelo caminho dos pecados capitais sendo a gula é um dos sete pecados que são capitais porque estão à cabeça de outros. Correu bem a entrevista até à pergunta que me fizeram: Os pecados são benéficos à sociedade. Não nos pusemos de acordo. Uma das entrevistadoras, na verdade tirava notas, defendia que sim, que o pecado faz parte da nossa vida e que podemos aprender com ele. Eu, pelo contrário, defendi que não. Que apesar de sermos pecadores e de que tenhamos uma forte propensão para o pecado não é uma fatalidade pecar. Mas, se nos envolvermos na teia do mal, podemos a partir dessa realidade aprender para o futuro. Compreendi o lado dela, não sei se ela compreen

Alfama entre Missas

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Ontem fui à Baixa celebrar duas Missas: uma em São João da Praça e a outra na Sé. E, entre as duas Missas, aventurei-me nas ruas do bairro mais típico e mais antigo de Lisboa: Alfama. " Alfama representa, em relação ao burgo medieval que constitui a Lisboa do século XI, o resíduo mourisco de mais constante carácter. Distinta do outro aglomerado islâmico - a Mouraria - resultante directo da conquista de Afonso Henriques, ela fecha-se sobre si própria e mantém, no seu conjunto, a incerteza do traçado, a irregularidade das linhas de força, a variedade de contornos também comum aos núcleos populacionais do Próximo Oriente ". Este primeiro parágrafo, tirado da Colecção " Monumentos e edifícios notáveis do distrito de Lisboa " - edição de 1973, antes de eu nascer! - diz bem o que se vê quando se palmilham as labirínticas ruas de Alfama. Já não há mouros, como é óbvio, mas vemos as tascas abertas a pouca luz, com o cheiro a vinho ou a fritos, vemos a barbearia e as mercear

Filho és, pai serás

Não há nada pior do que depender dos outros. É um ponto de vista. Uma criança dirá exactamente o contrário porque sabe que depender é bom. A partir de uma certa idade, em que se nota que começamos a ficar limitados, de que precisamos de outras pessoas que nos ajudem a vestir, a comer, a ir connosco a algum sítio, dar banho, essa dependência pode levar a depressões, teimosias mais agudas o que não ajuda nada na nossa qualidade de vida. Como me questionava um doente, no hospital, num destes dias, apontando para o seu corpo: é isto imagem e semelhança de Deus? Acredito que quem esteja a passar por situações destas, e ainda esteja lúcido, se pergunte o porquê de envelhecer... e a resposta não será a mesma de Cícero, que escreveu, lá no longínquo século I antes de Cristo, uma obra a que deu o título " A arte de envelhecer ". Ele tinha uma visão bem mais optimista, certamente partilhada por muitos homens e mulheres que vivem em pleno esta fase de ouro da vida. Chegou a comparar a s

Cruz de Cristo

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Percorro o caderno das músicas profanas do meu tempo de Seminário. Para procurar a pauta " Cruz de Cristo " que ainda me lembro quase de cor e que hoje ando a trautear. Ensaiadas pelo professor Abílio, ex-seminarista, e cantadas por todos, mesmo pelos desafinados que, acredito, tenha sido para eles uma verdadeira tortura. Mas esta música foi ensaiada para ser cantada num dia sete de Fevereiro, na inauguração do albergue do peregrino do Santuário de Cristo-Rei. A música é do P. Lemos Peliz, a letra não se consegue ter a certeza, de tão desgastada estar a pauta, mas parece ser do P. Moreira das Neves. Não tenho registo da música mas tenho a pauta e a letra que aqui deixo, apesar de parecer antiquada, no dia das Chagas do Senhor. " Cruz, Cruz de Cristo. Cruz, Cruz das velas, Das antigas caravelas Contra as ondas sobre o mar. Cruz, Cruz das batalhas sangrentas; Cruz, Sinal de paz nas tormentas; Cruz, Astro das noites sem luar. Cruz heroica dos arnezes Bússula dos Portugueses

O mais curto dos meses

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" Janeiro geoso e Fevereiro chuvoso fazem o ano formoso ". Fevereiro ainda é tempo de chuvas. Mal vai se já há calor. O povo tem muitos provérbios para este mês e, em quase todos, louva a água que deve chover neste curto segundo mês do ano, quando não, " Fevereiro quente traz o diabo no ventre "... Mas apesar de já irmos em dia seis cá vai uma apresentação deste mês - um devaneio - que, apesar de mais pequeno - " trocou dois dias por uma tigela de papas " - é muito agradável. Logo no dia dois tivemos a Candelária. Os quarenta dias depois do Natal em que lembrámos a primeira ida do Menino Jesus ao Templo. A três, a festa de São Brás, padroeiro das gargantas a das suas maleitas. Dia cinco dia de Santa Águeda; amanhã, dia sete, dia da festa das chagas de Cristo, festa religiosa exclusiva do nosso país. " In hoc signo vinces " leu Afonso Henriques, no céu, quando andava a expulsar mouros (expressão suave para não dizer matar que, na altura, não era p

Saudades da minha terra

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Tenho saudades da "minha terra". Não é da que me viu nascer. Desta Lisboa vivo-a, percorro-a, perco-me e encontro-me nas ruas, nos túneis e jardins. Tenho saudades da minha terra afectiva. Daquela que fica lá escondida na serra, longe das autoestradas e dos centros comerciais. Da terra que que se tornou o meu refúgio, a minha vida calma, o descanso dos meus dias. Tenho saudades das pessoas, das paisagens, do rio que corre fraquinho, do penedo em frente à minha casa onde o sol bate no fim do dia, da água da fonte, dos santinhos que povoam o tecto da igreja, do fresco das noites, das leituras calmas, das conversas pelo caminho, do gado, dos passeios, dos carros de vacas que me despertam, do sino que toca para rezar, dos cânticos velhinhos que não vêm nos livros e que se aprenderam de ouvido. Tenho saudades da minha mãe lá, dos meus tios e dos vizinhos. Ainda só estamos no principio de Fevereiro é já sinto saudades do que só acontecerá depois de Junho passado. Alguma culpa desta

O que aí vem

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Acabaram, esta semana, os meus dias calmos de que tanto gostei. Olho para a agenda e só vejo coisas marcadas. Além do que já faz parte dos ritmos diários, são celebrações, retiros, encontros, reuniões, confissões... muito para dar e também muito para receber. Como ontem. Um dia muito corrido, reuniões, correcções de provas de um livro que vai sair, ida ao hospital missas, últimos retoques do curso que hoje vou começar a dar... Mas foi uma conversa com um doente que marcou o dia. A apontar para o seu corpo, doente, perguntava-me: senhor padre, isto é que é ser imagem e semelhança de Deus? E disse-lhe que sim. Que mais do que imagem e semelhança de Deus era imagem e semelhança de Jesus que também sofreu, que também viu o seu corpo ferido mas que caminhava para um corpo glorioso. Disse-lhe mais: o relato da criação do homem e da mulher, à imagem e semelhança de Deus é motivo para nós reflectirmos sobre a nossa dignidade. É que somos importantes para Deus. Ah! Disse-me ele, agora compreend

Portadores da Luz

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Hoje celebra-se, em todo o mundo, a festa da Apresentação do Senhor. Lembramos o quadragésimo dia depois de Jesus nascer em que os seus pais - judeus observantes - levaram o Menino para ser circuncidado, um rito pelo qual um homem se consagrava a Deus. Nós celebramos este dia não com circuncisões nem com baptismos nem ainda com bênçãos de bebés. Celebramos este dia com velas na mão. É assim que acontece desde, pelo menos, o século IV em que uma peregrina, Etéria, saiu das nossas bandas - entenda-se Ibéria - a caminho da Terra Santa e onde escreveu o seu diário. Passou lá o dia desta festa que narra assim: " Na verdade, o quadragésimo dia após a Epifania é aqui celebrado com suma honra. Há, nesse dia, uma procissão na Anástasis e todos dela participam; tal como na Páscoa, tudo decorre segundo a Tradição e com grande júbilo. Pregam todos os sacerdotes e também o bispo, expondo, sempre, o passo do Evangelho no qual se lê que, no quadragésimo dia, José e Maria levaram o Senhor ao temp