Saudades da minha terra


Tenho saudades da "minha terra". Não é da que me viu nascer. Desta Lisboa vivo-a, percorro-a, perco-me e encontro-me nas ruas, nos túneis e jardins. Tenho saudades da minha terra afectiva. Daquela que fica lá escondida na serra, longe das autoestradas e dos centros comerciais. Da terra que que se tornou o meu refúgio, a minha vida calma, o descanso dos meus dias. Tenho saudades das pessoas, das paisagens, do rio que corre fraquinho, do penedo em frente à minha casa onde o sol bate no fim do dia, da água da fonte, dos santinhos que povoam o tecto da igreja, do fresco das noites, das leituras calmas, das conversas pelo caminho, do gado, dos passeios, dos carros de vacas que me despertam, do sino que toca para rezar, dos cânticos velhinhos que não vêm nos livros e que se aprenderam de ouvido. Tenho saudades da minha mãe lá, dos meus tios e dos vizinhos. Ainda só estamos no principio de Fevereiro é já sinto saudades do que só acontecerá depois de Junho passado.
Alguma culpa destas saudades tem o livro que me entretém. Anda a falar dos beirões, das suas serranias, usos e costumes. Até das capelinhas lá do alto, como a de S. Cristóvão ou da Santa Marta, ele fala: "A capela dos montes consta de um cubo branco com duas lunetas à frente para se espreitar o santinho e uma fresta alta e estreita que ilumina o interior. Sobre a cumeada, de escancha-perna, a sineira de duas ventanas. De longe, tem o seu quê de pomba empoleirada; se lhe dá o sol, com o revérbero, de pomba que esvoaça. Até onde alveja, exerce doce missão pacificadora". É bom ter saudades. É menos bom não as podermos matar quando desejamos. Até Agosto, Feirão!


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