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A mostrar mensagens de janeiro, 2011

Bem aventurados os outros

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Gestos, atitudes, maneiras de ser e de estar, de resolver e de actuar que vou encontrando em pessoas diferentes de mim. Certamente diferentes e melhores. Quero rapidez na resolução de problemas e aparece-me alguém que me diz: "calma". Fico irritado com qualquer coisa, respondo torto até, e aparece um sorriso que me diz: "muda". Corre-me a vida ao contrário, ando macambúzio, e aparece-me um olhar verde-esperança ou cor-de-mel que me diz: "paz" ou ainda "relativiza o mal da vida". Felizes os de gestos afáveis, os de sorrisos tranquilos, os de atitudes pacíficas que se antecipam aos conflitos e às discussões. Vidas maduras que certamente já ouviram e sofreram muito. Bem dizia Jesus que felizes seriam os mansos porque iriam possuir a terra. E eu digo mais: a terra e o céu. (Hans Memling, O anjo da paz, 1475)

São Tomás de Aquino

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" Nada mais senão tu, Senhor! ", foi o que lhe disse. Ainda não sei que merecimento houve da minha parte para que Cristo Crucificado me falasse naquela manhã, na capela de São Nicolau: " Que bem escreveste sobre mim, Tomás! Que recompensa queres? " Toda a minha vida foi dedicada a escrever sobre Deus. Lembro-me da primeira pergunta que fiz ao meu professor, tinha apenas sete anos: Que coisa é Deus? E nunca consegui responder a esta pergunta. Muito escrevi: sumas, opúsculos, tratados... E tudo considerei palha, quando me apercebi da grandeza que é Deus comparada com o que tão pobremente escrevi. Oração, vida comunitária, estudo e pregação foi o que quis viver toda a vida. Tudo encarado como contemplação. " Contemplar e dar aos outros o contemplado " escrevi eu na Suma. Este é o fruto do que li e do que escrevi: dar aos outros, pregação. Dizem que sou importante, consideram-me uma sumidade, mas quem dera que passasse despercebido como qualquer frade que proc

Em visita canónica

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Todos os anos, mais ou menos por esta altura, o Provincial faz a "visita canónica" a este Convento. Um sinónimo para visita canónica pode ser visita oficial, visita estabelecida. Esta é uma das competências do Provincial: aos conventos 'normais' duas vezes durante o mandato e aos conventos de formação (é o caso do meu convento) todos os anos. Em que é que consiste a visita canónica? Ouvir os irmãos. Todos e cada um. Ver os livros das contas e das actas dos Capítulos e Conselhos e assiná-los. Depois, no final, deixa um 'relatório' advertências e ordenações. Existe mesmo um "Livro das Visitas Canónicas", onde ficam registados os relatórios do provincial. Não sei porquê, os priores são os últimos a falar... talvez para não influenciar as conversas dos outros irmãos. Portanto, eu serei o último... lá para sexta-feira.

A conversão de São Paulo ou nem por isso

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Hoje a Igreja celebra a festa da conversão de São Paulo. Mas, se formos rigorosos não se pode dizer que são Paulo foi um convertido. Os exegetas contemporâneos fazem questão de sublinhar isto porque, de facto, Paulo não se converte a nenhuma nova religião. O que acontece, sim, é um encontro, encontro esse que transformará a sua vida. Lembramos, hoje, esta figura decisiva – amado por uns, odiado por outros – para que se cumprisse o mandato de Jesus que se lê no final do Evangelho de São Mateus: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura”. Paulo, a partir do momento da sua ‘conversão’, não só se torna mais um perseguido – ele que perseguia a Igreja de Jesus – mas torna-se também, e sobretudo, o homem missionário, aquele que leva a mensagem de Jesus aos gentios. De tal modo que na primeira carta que escreve aos corintos irá dizer: “ai de mim, se eu não evangelizar!” (1 Cor 9, 16). Quero, neste dia, realçar duas dimensões da vida de são Paulo que creio poderem ajudar as d

Ressaca eleitoral

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(Aviso prévio: este post não é um retalho da vida de um padre...) No livro de Qohélet, um desencantado do mundo, e que acha que tudo é monotonia, vaidade ou ilusão, chega-se rapidamente a esta conclusão: Não há nada de novo debaixo do Sol! Foi o que pensei ontem quando ouvia o resultado das nossas eleições. Não me considerando tão pessimista como o Qohélet, concluo como ele que o que foi voltará a ser. Um déjà vu . Sem novidade e com muita monotonia. Aliás, é pena que Cavaco Silva só tenha energia nas campanhas eleitorais para andar de trás para a frente, ir para cima dos carros e só comentar o que lhe interessa... Não fique o leitor a pensar que sou de esquerdas... o que é isso hoje em dia? Por isso, não estou contente pela "vitória" de Cavaco, como não estou contente com a senhora Abstenção que nunca se candidata mas que ganha sempre (como é que alguém pode dizer que é presidente de um país quando mais de metade desse país não se sente representada por esse alguém), e não

Vir a Lamego

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Vir a Lamego e ficar no Mosteiro das Irmãs Dominicanas é, para mim, um verdadeiro descanso. De vistas tenho, a descer, os Remédios, em baixo a cidade, à direita São Domingos de Fontelo, à frente Régua e Vila Real e à esquerda os montes da serra de Montemuro. Tudo isto acompanhado de oração, silêncio e fraternidade. Ouço as irmãs, com os seus desabafos, ouvem-me também a mim, fazem-me perguntas sobre os Irmãos, mostro-lhes as fotografias do Capítulo Geral (nem sabiam da existência dos computadores portáteis!), e assim fica marcada a minha passagem por este mosteiro. Isto cá em cima. Quando se desce à cidade (pelas escadas dos Remédios) sente-se o frio – ainda há muita sombra fria às dez horas –, mas vê-se o movimento calmo do Inverno ou de uma sexta-feira. Lamego, fora do tempo de Verão, quase se compara a uma pequena vila, sem grande movimento, o que faz com que seja uma cidade muito calma e boa para descansar. Os horários das irmãs são contrários aos horários do “mundo”. No mundo trab

Lisboa - Viseu - Lamego

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Vim de Lisboa, estou em Viseu e vou para Lamego. Graças a Deus com frio mas sem chuva. O céu está limpo, azul, com muita luz. Quando deixo Coimbra e me encaminho para as berças, vêm-me à memória coisas do passado, da minha infância. Passo na indicação para a serra do Buçaco e lembro-me das intermináveis viagens de Lisboa a Feirão, em que se saía depois do jantar e só se chegava à hora de almoço do dia seguinte… lembro-me das férias passadas em família, da chegada ao Rossio de Viseu e de quando se deixava a N2 em Bigorne para se cortar para Feirão. Lembro-me dos dias de Inverno passados com a minha avó… tudo coisas do passado, como o velho do Restelo. Mas esta viagem tem um duplo objectivo: vocacional e pastoral. Vocacional porque vim falar com um rapaz que está decidido em ser dominicano. Pastoral porque venho visitar o Mosteiro das Monjas de Lamego do qual sou o Visitador. Tudo isto em dia de São Sebastião, padroeiro da Diocese de Lamego. Sábado regresso a Lisboa mas, antes disso, ain

Santa Priscila (Prisca)

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Existe em Roma, no Aventino, perto da igreja de Santa Sabina (Cúria Geral dos Dominicanos), uma pequena igreja dedicada a Santa Priscila ou Prisca (diminutivo). A igreja está escondida, mas é das mais antigas de Roma, falamos do século II, tendo até sido construída sobre um templo dedicada a Mitra, uma deusa pagã. A que se visita hoje não é desse tempo mas muito posterior (Séc. XVII-XVIII). Escreve-se aqui desta santa porque hoje se celebra o dia da sua morte e porque, segundo a tradição cristã, esta foi a primeira mulher mártir cristã e por isso, considerada a primeira mártir do ocidente. O que se sabe dela é mais por tradição do que por dados históricos. Sabe-se que, com treze anos, terá sido baptizada pelo próprio São Pedro e era certamente conhecida por São Paulo (na carta aos Romanos [16, 3] são Paulo manda a uma saudação especial a Prisca e Áquila, seus colaboradores). Como grande parte dos primeiros cristãos de Roma, que eram perseguidos por prestarem culto a Cristo, denunciaram

Agnus Dei

No Evangelho de hoje ouve-se João Baptista apresentar Jesus à multidão como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Num mundo como o nosso em que o mal, sempre inexplicável, actua com violência, os cristãos acreditam que Jesus é aquele que, não tendo pecados, vem redimir o nosso pecado pessoal e universal. E é esta a nossa esperança: no fim, o Cordeiro de Deus, o Bem, virá destronar o mal que às vezes provocamos ou do qual somos vítimas. Quando se folheia um jornal e se vê o mal que grassa: homicídios, genocídios, corrupção, guerras e violências, algumas catástrofes naturais até, não podemos nem devemos perguntar a Deus o porquê nem atribui-lhe a culpa. O que devemos, sim, é rezar: Cordeiro de Deus, que tiras o pecado do mundo, tem piedade de nós e dá-nos a paz. Há uns anos atrás ouvi pela primeira vez este Agnus Dei . A intensidade da voz deste cantor, que ao mesmo tempo se mistura entre o clamor do desespero ou o anúncio de Jesus como o Cordeiro de Deus, lembrando o muezim (c

O mundo da moral

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Se há sítios onde o dogma não entra é no campo da moral. Porque estamos a falar de pessoas, das suas vidas e dos seus comportamentos e das influências externas e internas. No campo da moral o que se pode fazer é formar consciências, dar orientações, defender valores. Não é coutado exclusivo da Igreja Católica ou das religiões mas a Igreja tem o dever de contribuir para uma ética saudável da sociedade, através de orientações que deve defender e manifestar, evitando sempre o conflito ou a imposição ou ainda a ligação a partidos políticos. Escrevo hoje sobre este tema - apesar de não me considerar moralista - por causa de um livro que várias vezes vou buscar à Biblioteca para ler sobre alguns temas. Hoje falo deste livro, de um padre redentorista , Marciano Vidal , que há três anos escreveu esta obra de que falo: Orientações éticas para tempos incertos. Infelizmente não está traduzida em português e, por isso, leio no original, espanhol, que não é nada do outro mundo. Este livro situa-se

Fenómenos estranhos

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O meu silêncio no blogue deve-se, essencialmente, a duas coisas: trabalho e arrumações de ano novo. So hoje acabei de me desfazer de papelada, e que quantidade de papel tinha armazenada, de coisas que, se calhar, daqui a uns tempos irei procurar e não encontrar. Mas isso é só daqui a uns tempos. Mesmo assim foi uma actividade divertida: ver o que arrumo, que na altura achei importante e que agora não faz muito sentido conservar, os artigos que fotocopiei, as sebentas do curso de teologia (dos apontamentos desfiz-me há já uns anos), dos cursos de música e das pautas... Enfim, fiquei reduzido a quase nada e dos estudos de Teologia ficam apenas dois arquivadores: o da minha tese de licenciatura (recordação afectiva) e o da tese de mestrado, que ficou para me lembrar que tenho este assunto ainda pendente. Gostava, mas não o vou fazer, de falar das vergonhas das campanhas eleitorais. De acções compradas em saldos, etc. etc. Isto de um presidente em exercício fazer campanha eleitoral para um

Um Herodes convertido

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Esta semana ando a celebrar nos vários colégios as Missas de Natal. Há pessoas que perguntam: agora? e a resposta é óbvia: sim, agora. Antes do Natal foi Advento... e cada coisa tem o seu tempo. Celebrar uma Missa de Natal em tempo de Advento é a mesma coisa que casar antes do noivado... fora de contexto. Apesar dos jantares de Natal serem feitos no Advento (nós, os da Europa ocidental, perdemos a bela tradição que os países nórdicos têm de diferenciar o Advento do Natal), estas escolas católicas entendem que é ambiente de Natal, mesmo já mais arrefecido, que a comunidade educativa deve celebrar este acontecimento religioso. Hoje celebrei Missa para crianças do 3º e 4º ano do 1º ciclo. Estamos a falar de crianças de 9-10 anos. Prepararam a Eucaristia e representaram o Evangelho, o do Reis Magos, ao pomenor: os três reis com coroas e as prendas, a estrela com um fato azul, o rei Herodes com a sua coroa e o seu manto, e o presépio lá estava com uma vela a iluminar. E é espantoso como as

MMXI

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A ti, Ano Velho, que te preparas para morrer, não quero que partas sem te agradecer a companhia. Mais do que qualquer outra pessoa, foste tu que me acompanhaste ao longo destes dias e destas horas. Para muitos és só mais um, um passado. Para uns foste ingrato, cruel, mau; para outros foste generoso, calmo, óptimo até. A ti, Ano Velho, aí deitado nessa cama, quero agradecer os momentos bons que me deste: as pessoas que conheci e que permaneceram fiéis na amizade, as que conheci e que a morte entretanto levou, as pessoas que se cruzaram meus caminhos ou que eu cruzei nos caminhos delas; quero agradecer-te, o pão, o trabalho, o amor recebido e dado, a fraternidade, as alegrias, as viagens, os encontros, o que aprendi nos livros e no grande livro da vida… tudo o que ajudou a ser melhor. Tu, Ano Velho, certamente terás queixas a meu respeito: que não fui tão tolerante como esperavas, que não soube aproveitar os dias que me deste, que fui egoísta, que nalgumas coisas fui injusto, noutras des