Um santo universal

Hoje, dia 4, celebra-se a festa do grande São Francisco de Assis. Talvez pelo seu estilo de vida, ou pela sua simplicidade, este santo é um santo universal. Reparem que o Papa João Paulo II reuniu-se várias vezes, em Assim, com membros de outras confissões religiosas para que houvesse paz. Padroeiro dos homens e dos animais (hoje é também o dia dos animais), do ecumenismo e da ecologia, São Francisco está bem e fica bem em qualquer lugar.
São Francisco, tal como São Domingos, são também homens do seu tempo. Numa época de opulência da Igreja, em que os bispos eram senhores feudais, e os cânones eclesiásticos pouco se tinham em conta, aparece este homem que inaugura um novo modo de estar na Igreja. Pela vida comum, conventos nas cidades e viver a pobreza de Jesus Cristo, ensinada no Evangelho, é assim que começam, depois também com São Domingos, as chamadas Ordens Mendicantes. No século XIII havia um refrão conhecido sobre as intenções de fundações dos grandes fundadores: “Bernardus valles, montes Benedictus amabat, oppida Franciscus, celebres Dominicus urbes” (Bernardo amava os vales, Bento os montes, Francisco as cidades e Domingos as cidades mais populosas).
O mais curioso entre estes dois homens, e acrescentamos aqui um outro, o Papa Inocêncio III, foi o sonho que teve: sonhou que a igreja de Latrão (a que pertence ao bispo de Roma) estava em ruínas e que dois homens a sustentavam para que ela não caísse. Uma outra tradição diz mesmo que São Francisco e São Domingos tiveram o mesmo sonho e que, no dia seguinte se encontraram, reconheceram e abraçaram.
São Francisco contagiou o seu tempo e o nosso, crentes e não crentes e até os indiferentes. Em 1981 (7/7), escreve assim o nosso Miguel Torga no seu Diário: “Falava-se do oitavo centenário da morte de S. Francisco de Assis, o meu santo. E louvei-o mais uma vez como pude. Chamei-lhe o Cristo da bem-aventurança terrena. Um Cristo poeta, sem o dramatismo árido do deserto e da expiação, a pregar transparências num cenário de branduras idílicas. Um Cristo que integrou o próprio demónio na fraternidade cósmica. Um Cristo humilde, sem a vocação do mando, alérgico à propriedade privada, fundador do sufrágio universal por voto secreto, anarquista, possesso da alegria da vida. Um Cristo a abrir o caminho do Renascimento só por acreditar no homem e na natureza. Um Cristo do mundo à medida do mundo”.
São Francisco está presente em todos os quadrantes das artes: as igrejas franciscanas com as suas particularidades, os pintores que não cessaram de pintar cenas da vida de São Francisco, e até na música São Francisco tem umas notas agradáveis. Deixo-vos uma, retirada da Legenda áurea (séc. XIII), acompanhada de imagens da vida de São Francisco pintadas pelo grande Giotto, também do final desse século.


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