Ter o Senhor em casa


A minha casa não é uma casa comum. E a minha família não é uma família comum. A minha casa chama-se convento e a minha família comunidade. Hoje celebrámos, uns com mais alegria do que outros (eu celebrei com muita alegria), o quarto aniversário da dedicação da igreja do convento onde moro. É um edifício simples, que merece a atenção de arquitectos e amantes da arte. Vêm grupos, de cá e de fora, para ver esta igreja. Mas vêm-na sob o ponto de vista da estética: é bonita, é simples, apela ao transcendente, sente-se a paz; é o que vão dizendo quando por cá passam.
Mas esta igreja é mais que o betão, é mais que os vinte e um metros de altura, é mais do que a luz que nela entra, é mais do que os bancos engraçados, mais do que a porta de cobre e do que a cruz moderna. Pelo menos para mim.
Esta igreja é um espaço de encontro e de reunião que serve duas comunidades: a dos frades que nela rezam ou sozinhos ou em grupo e a comunidade de todos os que se juntam às nossas celebrações. Não são duas comunidades diferentes; uma está ao serviço da outra.
E é este o sentido de um convento e de uma igreja na cidade de Lisboa: portas abertas ao serviço de quem nos procura e ter a ousadia de ir ao encontro dos que não nos procuram.
Esta igreja diz-me muito. Foi-me "dada" há quatro anos. Estava eu em Feirão, a passar férias, num final de tarde de verão, quando o Padre Provincial me liga a dizer que o Capítulo Provincial me tinha nomeado "reitor" da igreja, naquela altura ainda em construção e com muitas dívidas. Pensei: porquê eu?
Quatro anos depois cá continuo eu a acolher, a pregar, a ajudar... Digo "eu" mas somos muitos: frades e leigos que afectivamente nos ligámos na amizade e no interesse comum.
Esta igreja diz-me muito porque a vi nascer. Diz-me muito porque vejo que muitos por aqui passam, uns com lágrimas, outros com sorrisos, pequenitos, da minha idade e mais velhos se sentem em casa. Esta igreja diz-me muito porque se conseguiu uma harmonia de celebração. Harmonia e qualidade.
Esta igreja diz-me muito quando está cheia de gente e de luz mas diz-me ainda mais quando está às escuras, só com um ponto vermelho de uma vela que indica ali uma presença: tenho o Senhor em casa! Esta igreja diz-me muito quando nós, frades, nos reunimos para rezar mas também quando estou sozinho a sentir o escuro, o silêncio e a paz.
Esta igreja diz-me muito porque é a casa de Deus e a casa dos Cristãos. É a minha casa.

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