A chamada "doença terminal" - parte 1
A expressão “doença terminal” é imprópria não só no plano linguístico como também no plano conceptual. Com maior propriedade linguística deveria falar-se de doença “em fase terminal”, mesmo se este termo em todos os casos continuasse a ser um adjectivo impróprio (‘terminal’) que se tornou hoje quase uma marca com a qual se designa os doentes próximo da morte, ainda mais agravado de conotações psicológicas da ideia de “termo”, isto é, de fim, de acontecimento último, irremediável e inelutável (fatal).
Apesar de tudo, tal adjectivo é menos desagradável do que aquele mais imediato que deveria ser doente “moribundo” ou “próximo da morte”. O tabu linguístico que censura a morte e tudo quanto tenha a ver com ela, invadiu também este âmbito pelo que todos, a partir dos operadores sanitários, sentem menos problemático continuar a usar a expressão “doente terminal” por quanto imprecisa possa parecer.
“Por fase ou doença terminal entende-se uma condição patológica cuja presença induz na mente do médico, da família e do próprio doente uma expectativa de morte (a breve prazo) como consequência directa da doença. Por doente terminal entende-se a pessoa que a breve prazo, com muita probabilidade, morrerá” (Di Mola, 1993).
O tipo de doença, com a qual mais frequentemente nos confrontamos, falando de doenças terminais, é constituído naturalmente pelos tumores. No entanto existem outras patologias não menos graves que incluem uma mais ou menos longa fase terminal. Basta pensar na SIDA, na demência de Alzheimer, nas últimas fases dos ictos cerebrais, as distrofias musculares. Entre os problemas de assistência que todas, mais ou menos, comportam a necessidade de alimentação parenteral, o possível aparecimento de escaras, as infecções, a dor (particularmente aguda em algumas neoplasias). Mas juntamente a estes problemas de tipo médico-assistencial, mas não menos importantes, são aqueles de ordem ético.