Dia de alegrias e tristezas
1. Ontem um frade dominicano, um pouco mais novo que eu, fez a sua profis-são solene (votos perpétuos). Tem dois significados: o primeiro é que se trata de uma consagração a Deus "até à morte". Aquela semente que se semeou no baptismo começa agora a dar bom fruto. Que Deus leve a bom termo esta promessa que este meu confrade ontem fez. O outro significado é mais prático. A partir de agora este frade tem poder de decisão nas coisas da Ordem. Em linguagem canónica dizemos que passa a ter voz activa e voz passiva, ou seja pode votar e ser votado. Só agora acontece porque só agora se consagrou solenemente.
Esta foi a última profissão que nós tivemos. A crise das vocações também acontece na nossa Ordem e na nossa Província. Por isso, além da esperança de podermos vir a ter novas vocações, temos que tomar consciência que a oração e o testemunho são os meios mais eficazes para que homens e mulheres se deixem tocar pelo dedo de Deus que continua a chamar.
2. Domingo, dia de ir ao hospital dar a comunhão aos doentes. Ambiente pesado. Além do sofrimento, não tanto o físico mas outros tipos de sofrimentos, a angústia de gente nova que está para partir. Uma mulher, pouco mais velha que eu, com duas gémeas de dois anos. Foram visitar a mãe, passearam com ela, fizeram desenhos. Um homem com menos de 50 anos, casado e com um filho de 6. Angústia da mãe que chora desconsolada, que diz que perdeu a alegria, que era melhor morrer ela do que o filho... Um rapaz que ainda não conheci, mais novo que eu, com dois filhos... À noite alguém me contava que uma senhora disse que diante de casos como estes nem se sente vontade de rezar. Eu discordo. Não peço a Deus a resposta aos porquês... Pelo a Deus que me ajude a entrar neste mistério tão profundo do sofrimento e da morte. Jesus deu sentido ao seu sofrimento e à sua morte. Deus queira que cada um de nós, iluminados por ele, encontre sentido para as suas dores e sofrimentos, mas sobretudo para a sua vida.