A riqueza do hospital

Um dos motivos que me levou a criar este blogue e até a dar-lhe, indirectamente, este nome, foi o de trabalhar num hospital. Achei, desde o princípio que fui para lá, que me iria fazer bem e que me iria enriquecer. Não monetariamente, claro está, porque entendo que o dinheiro não paga tudo e mal de mim quando fizer da minha vocação uma fonte de rendimentos. Mas, dizia, tenho enriquecido muito. Quer a nível espiritual quer a nível científico mas, ultimamente, a nível literário.
Hoje fui visitar, pela terceira vez, uma senhora, já com alguma idade, que está internada no hospital. Na primeira vez, estava nos cuidados intermédios. Estava à minha espera. Não queria passar o domingo sem comungar. Na segunda vez, já melhor, num quarto partilhado com uma rapariga que poderia ser sua neta (pelo menos). Quando comungou, estando eu a falar com a mãe desta rapariga sobre fé disse-nos: "Quando comungo digo: Senhor, eu creio em vós, mas aumentai a minha fé". E explicou com as mesmas palavras: "Digo: Senhor, eu creio!... mais aumentai a minha fé". Hoje, quando entrei estava a dizer à pequena que quando eu chegasse que me ia recitar um poema. De Sebastião da Gama, seu colega e amigo de faculdade. Tinha perto dela dois livros. Os dois com dedicatória do autor. Qual era o poema? Diário de Bordo. Aqui fica o poema que ela me recitou e eu acompanhei de livro aberto. E digam lá se não é verdade que quem dá, acaba por receber?

Diário de Bordo

Cá estou eu, a julgar que vou remando...

Cá vai Deus a remar
e eu a ser um remo com que Deus
rasga caminhos pelo Mar...


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