Os nossos "Natanaeis"

Faz daqui a poucos dias quatro anos que fui a Bruxelas ao ICNE (Congresso Internacional da Nova Evangelização). Fui a convite do Prior do Convento que queria presença "jovem" para a animação desse Congresso. O mais interessante eram as conferências que, cada manhã, aconteciam na grande basílica do Sacré-Coeur.
Houve uma do nosso dominicano Timothy Radcliffe. A conferência era sobre o anunciar a Boa Nova aos habitantes das grandes cidades da Europa. Na altura não nos tínhamos de preocupar com tirar notas porque, no último dia, era-nos dado um livro com todas as conferências. Trouxe o livro, emprestei-o e o que é certo é que me desapareceu.
No sábado passado, estando no Campo Grande à espera da hora de um casamento, enquanto 'espreitava' a biblioteca do P. João Resina (diz-me o que lês e dir-te-ei quem és), encontrei o livro! Não era o meu, claro está, mas era o mesmo livro. Tirei fotocópias da tal conferência que ontem acabei de ler. E mais uma vez se conclui que Timothy Radcliffe é um homem muito 'open mind'. Simplesmente porque conhece o mundo, conhece a Igreja e acha que o caminho deve ser de inclusão e nunca de exclusão.
Esta conferência, em que o título é a passagem do Evangelho de São João (1, 48): "Antes que Filipe te chamasse, Eu vi-te quando estavas debaixo da figueira", falou dos jovens 'Natanaeis' que habitam nas nossas cidades e como é que a Igreja (nós) se pode aproximar deles para lhes falar de Jesus. Algumas ideias, que são sublinhados meus, à conferência: Encontrar Natanael significa entrar no mundo. Sairmos do nosso mundo e entrarmos no mundo deles. A Evangelização começa pelo reconhecimento daqueles a quem nos dirigimos. Natanael significa «dom de Deus». Mas nós não podemos aceitar este dom que Deus nos dá na pessoa de Natanael a não ser aceitando desde o início a maneira como Natanael se dá a nós. Ou seja, perceber os jovens é aceitar o seu contexto. Antes de mais o seu contexto familiar: muitos pertencem a famílias «irregulares», desfeitas. E por isso - continua tudo isto a ser citação - reconhecer estes jovens é também amar as suas relações. Eles vão dizer-nos: «Para me aceitarem, têm de aceitar a minha família».
Segue a conferência: A Evangelização é o encontro do Evangelho com os valores com os quais os jovens se identificam; aceitando-os mas, ao mesmo tempo analisados com olho crítico. A felicidade, a liberdade e a autenticidade são valores fundamentais para eles. Como é que eles poderão encontrar a liberdade e a felicidade em Cristo, a única que nos torna verdadeiramente livres?
Haveria muito mais a dizer desta conferência. Afinal só dei ideias de três páginas...
Hoje, passados quatro anos, acho que foi uma conferência muito forte. Forte e directa. Todos os que lá estávamos - e éramos muitos! - tínhamos responsabilidades na Igreja: bispos, padres, religiosos, leigos empenhados, jovens...
Hoje, quatro anos depois, não sei se mudou alguma coisa da "nossa parte" em relação aos mais novos. O que é certo é que eles vão à Missa (mesmo que obrigados pelos pais). Estes 'Natanaeis' são um desafio para a Igreja. E se não os "agarramos" agora, acabamos por perdê-los...

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