Solidão habitada



Acabo de enviar um mail aos Cartuxos de Évora. Hoje celebram o seu fundador; é dia de São Bruno.
Os cartuxos são conhecidos pela sua austeridade de vida, pelo silêncio e pela solidão. Tudo contrário aos desejos do mundo: temos mais do que o necessitamos, não suportamos o silêncio (dois exemplos: a malta nova com os phones nos ouvidos e a televisão que preenche o silêncio) e vemos a solidão como uma coisa horrível, quase uma doença. Mas com os cartuxos não é assim. Eles optaram pela austeridade, optaram por uma vida de silêncio e pela solidão. Como se vivessem no deserto. Têm como ícone São João Baptista. Acham que Deus fala no deserto, que só com o silêncio se pode ouvir Deus e só com a solidão poderão desfrutar da sua presença.
São pouco conhecidos. Não fazem grandes propagandas nem vocacionais nem existenciais. Mas eles lá estão, rezando pelo mundo e suas necessidades, com os que rezam e pelos que não rezam, com os que têm fé e pelos que a não têm ou a perderam. Um apostolado invisível, que só se sente, não se vê.
Solidão habitada. Esta é a solidão cristã. Solidão como opção de vida, não só para os cartuxos mas para todos os que esperam de Deus alguma consolação. Saber que, mesmo a nossa história nos tenha deixado sós, que o nosso temperamento não sendo de muitos exteriorismos, que por tristeza tenhamos perdido as pessoas mais próximas, há sempre uma pessoa que habita a nossa solidão, que dá cor ao nosso preto e branco, que consola as nossas tristezas.
Neste dia de São Bruno tenho presente todas as pessoas que conheço - e também as que não conheço - que têm medo do silêncio e da solidão. E tê-las presente é rezar por elas para que saibam descobrir no silêncio o diálogo com Deus e na solidão a sua presença consoladora.
(São Bruno, Domingos Sequeira, séc. XVIII)

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