A última carta

 Não queria deixar passar e4ste dia 24 de Novembro sem fazer referência a um grupo de mártires (127), quase todos da Família Dominicana, que durante mais de 100 anos foram perseguidos e executados por ódio à fé. Um deles, bispo, Valentín Berrio-Ochoa, morre com apenas 34 anos, decapitado, por ter fé cristã e por a anunciar.
Neste dia nós, dominicanos, lemos a última carta que São Valentín escreveu à sua mãe. Mostra a ternura de um filho e a força de um bispo. Aqui a deixo, como partilha.
Querida mãezinha do meu coração:
Recebi uma carta sua no princípio deste ano. Que alegria ver a letra da minha mãe! O meu coração ficou muito contente quando soube que estava uma velhinha vivaça e que ainda fiava com prazer.
Com gosto soube que todos os dias vai à Missa e que reza por todos a Jesus amado.
Pergunta-me, minha mãe, pelo meu modo de viver e que comidas como… Querida mãezinha, eu vivo muito bem, como um senhor Bispo, e não me falta nada de comer.
Aqui não há pão. Se tiver uma fatia de pão fresco mande-ma por um passarinho. Oh! Com que prazer comerá o senhor bispo e os missionários o pão feito pelas mãos da nossa velhinha!
Há aqui milho mas comem-no cru. Também eu comi grãos de milho cru por duas vezes.
Aqui abunda muito a pesca de mar e rio; por isso, e porque o manda Nosso Pai São Domingos nas nossas leis, todos os dias como peixe, e carne só uma ou outra vez. Não tenha medo, que a fome não nos há-de matar.
Mas, a senhora pensa que por eu ser bispo andamos de carro? É descalços que fazemos as nossas viagens, de lama e lodo e durante a noite!
No entanto vivemos alegres. Uma noite andei seis léguas com barro por baixo e água por cima, tendo medido muitas vezes a terra, de grande que sou, e mesmo sendo senhor Bispo, cheguei a casa cheio de lama e todo molhado. Mas os cristãos têm grande caridade. Quando cheguei a casa, já tinha água quente preparada, deram-me um banho e fiquei bem para celebrar a santa Missa.
Ai, meu rico filho, dirá a senhora! Que triste é esse modo de viver! Não, minha velhinha, não é triste este modo de viver; aqui andamos com saúde, alegria e agilidade. Deus consola-nos nos nossos trabalhos. No entanto, eu, de ser um rapaz já velho, ando aos saltos nos lodaçais. Mãezinha, o Valentim está feito um rapaz do mato e as barbas fariam tremer os diabos mais velhos do inferno.
Reze por mim a Jesus, que eu também, todos os dias na Missa, me lembro dos meus pais. Peço a Deus que neste mundo a senhora tenha que vestir e que comer e que no outro mundo tenha a glória do céu.
Anime-se, mãezinha, para levar com paciência os trabalhos do mundo. A nossa carne muitas vezes é obstinada, mas a graça de Jesus tem mais força que a carne e que o inferno; por isso devemos pedir-lhe sempre esta graça, tendo como nossos intercessores Maria Santíssima, o patriarca São José, Santa Mónica e todos os santos e santas do céu.
“Agur”, mãezinha, adeus. Recordações a todos os meus parentes. E beijo a sua mão.

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