Dia mundial dos pobres: todos os dias!

Ontem, um pouco por todo o mundo se celebrou com os pobres o dia mundial dos pobres. Muitas iniciativas individuais e também institucionais. Este dia nasceu de uma proposta do Papa Francisco, que quer que contagie o mundo. Por isso, mesmo que o mundo o não celebre, nós, cristãos, devemos celebrá-lo e agradecer a possibilidade de os pobres nos ajudarem no bom testemunho da prática da caridade. Dar, partilhar, acolher e escutar são verbos e atitudes que vão entrando no dicionário cristão, imitando o mandamento e o exemplo de Cristo. Como ontem disse o Papa e bem: Os pobres não são a moda de um pontificado mas sim uma tomada de consciência de que eles são a opção preferencial de Deus e também da Igreja.
É um dia de acção de Graças. O Papa Francisco celebrou-o no Vaticano, com cerca de três mil pobres: Missa e almoço.
Destaco aqui um parágrafo da sua homilia, muito apropriado e muito desafiante:
"Jesus ouviu o grito de Pedro. Peçamos a graça de ouvir o grito de quem vive em águas violentas. O grito dos pobres: é o grito estrangulado de bebés que não podem vir à luz, de crianças que padecem fome, de adolescentes habituados ao estrondo das bombas em vez de o ser à algazarra alegre dos jogos. É o grito de idosos descartados e deixados sozinhos. É o grito de quem se encontra a enfrentar as tempestades da vida sem uma presença amiga. É o grito daqueles que têm de fugir, deixando a casa e a terra sem a certeza dum refúgio. É o grito de populações inteiras, privadas inclusive dos enormes recursos naturais de que dispõem. É o grito dos inúmeros Lázaros que choram, enquanto poucos epulões se banqueteiam com aquilo que, por justiça, é para todos. A injustiça é a raiz perversa da pobreza. O grito dos pobres torna-se mais forte de dia para dia, mas de dia para dia é menos ouvido. De dia para dia é mais forte aquele grito, mas de dia para dia é menos ouvido, porque abafado pelo barulho de poucos ricos, que são sempre menos e sempre mais ricos.
Perante a dignidade humana espezinhada, muitas vezes fica-se de braços cruzados ou então abanam-se os braços, impotentes diante da força obscura do mal. Mas o cristão não pode ficar de braços cruzados, indiferente, nem de braços a abanar, fatalista! Não... O crente estende a mão, como Jesus faz com ele. Junto de Deus, o grito dos pobres encontra guarida. Pergunto: E em nós? Temos olhos para ver, ouvidos para escutar, mãos estendidas para ajudar, ou vamos repetindo «volta amanhã»? «Nos pobres, o próprio Cristo como que apela em alta voz para a caridade dos seus discípulos». Pede-nos para O reconhecermos em quem tem fome e sede, é forasteiro e está privado de dignidade, doente e encarcerado."
Passou o dia dos pobres. Poucos, ontem, terão melhorado a vida. Hoje continuam pobres. Precisam de nós para que, aos poucos, recuperem a dignidade e a estabilidade de vida que tanto precisam.

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