Chorar pelos defuntos?

Escreveu assim São Cipriano, nos finais do século III sobre os mortos:
Também a mim, ainda que seja o menor de todos, quantas vezes me foi revelado, quantas e tão claras vezes me foi ordenado pela bondade de Deus que clamasse sem cessar, que pregasse em público, que não se deveria chorar pelos nossos irmãos já libertos deste mundo e chamados pelo Senhor, sabendo que não os perdemos mas apenas no precedem; que, como viajantes, como navegantes, vão adiante dos que ficamos para trás. Podemos ter saudades deles, mas não chorá-los ne vestir-nos de luto, porque eles já se vestiram de branco; que não se devem dar motivos aos gentios de que eles nos censurem, e com razão, de que vivendo eles com Deus os choremos nós como perdidos e aniquilados; assim não damos provas com verdadeiros sentimentos, do que pregamos com palavras. Somos prevaricadores da nossa fé e da nossa esperança se parecer como fingido e simulado o que andamos a afirmar. De nada serve mostrar pela boca a virtude e desacreditar a sua verdade pela prática.
Reprova e recrimina o Apóstolo Paulo, repreende os que se entristecem desmesuradamente pela perda dos seus: Não queremos, irmãos, deixar-vos na ignorância a respeito dos defuntos, para não vos contristardes como os outros, que não têm esperança. Se acreditamos que Jesus morreu e ressuscitou, do mesmo modo Deus levará com Jesus os que em Jesus tiverem morrido. Diz que os que não têm esperança se entristecem demasiado com a morte dos seus.
Mas nós, que vivemos com esperança e acreditamos em Deus e que Cristo padeceu por nós e ressuscitou, e acreditamos permanecer junto a Cristo e ressuscitar nele e por ele, porque recusamos sair deste mundo ou choramos e sofremos pelos nossos que partem, como já perdidos, quando o mesmo Cristo e Senhor nosso Deus, nos avisa e diz: Eu sou a ressurreição e a vida. Quem acredita em Mim, ainda que tenha morrido, viverá; e todo aquele que vive e acredita em Mim nunca morrerá? Se acreditamos em Cristo, tenhamos fé nas suas palavras e promessas, de modo que, não tendo de morrer nunca, caminhemos alegres e tranquilos para Cristo, com o qual haveremos de viver e reinar sempre.
Se morremos, quando nos tocar, então passamos pela morte para a imortalidade e a vida eterna não pode começar enquanto não sairmos desta. Não é certamente uma saída, mas um passo e passagem à eternidade, depois de ter corrido este caminho temporal. Quem é que não vai ao melhor? Quem é que não desejará transformar-se e mudar-se quanto antes na forma de Cristo e merecer o dom do céu, pregado pelo Apóstolo Paulo: A nossa pátria está nos Céus, donde esperamos, como Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que há-de transformar o nosso corpo miserável, para o tornar semelhante ao seu Corpo glorioso?
Abracemos o dia em que a cada um for assinalada a sua casa, que nos restitui o nosso reino e paraíso, uma vez livres deste mundo e livres dos seus laços. Quem, estando longe, não se apressa em regressar à sua pátria? Quem, a ponto de embarcar para ir tem com os seus, não deseja ventos favoráveis para os poder abraçar quanto antes?
Nós temos por pátria o paraíso. Esperam-nos lá muitas das nossas pessoas queridas, sentem a nossa falta a numerosa multidão de pais, irmãos, filhos seguros da sua salvação, mas preocupados ainda com a nossa. Corramos, amados irmãos, com o insaciável desejo de ir atrás destes para depois estar com eles; desejemos chegar depressa a Cristo.

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