Roma revisitada

Vim a Roma. Mais uma reunião da comissão litúrgica, esta com menos dias porque todos andamos ocupados.
Mas deu para ter uma tarde livre. E aproveito para visitar as igrejas que mais me dizem e que quero aqui registar.
Igreja de Santa Maria Sopra Minerva. Uma Igreja dominicana em todos os sentidos. Pinturas de Fra Angelico (de tal maneira surpreendentes que Michaelangelo depois de as admirar disse: este homem viu o céu). Os seus anjos e os seus azuis inconfundíveis, a delicadeza das formas e a harmonia estética fazem daquela igreja uma joia de Roma. Fra Angelico está lá sepultado e Santa Catarina de Sena também. Grande Dominicana, esta, que sem saber escrever tão mulher e mística foi. Fui rezar-lhes para lhes pedir inspiração para as coisas que digo e faço. Por curiosidade, o nosso Cardeal Marto é o Cardeal desta igreja e ontem esteve cá a tomar posse dela.
De lá, nuns não sei quantos mil passos que o telemóvel contou, basílica de São Pedro. Gosto de celebrar lá mas é raro acontecer. Quando penso que é as 17,30h já foi às 17h... Não há problema. Visito o que mais me toca: os túmulos de João XXIII e de São Pedro. A caminho, olho para São Domingos, à direita do altar da Cátedra, e penso na visão que teve e que o consagrou para a missão: vai e prega. Já a sair, paragem no túmulo de Bento XI, papa dominicano, esquecido no meio de tanto barroco e pós barroco. Por falar em barroco, os anjos que seguram as pias de água benta são exageradamente barrocos...
Basílica de São Bartolomeu. Aqui mudam os séculos e as devoções. Uma pequena igreja (basílica porque guarda o corpo do apóstolo São Bartolomeu) situada na Isola de Roma, provocada pela bifurcação do Tibre. Nos altares clássicos e barrocos, em boa hora decidiu a comunidade Santo Egídio consagrá-los aos mártires dos séculos XX e XXI. Dos quatro cantos do mundo, nas mais variadas situações, relíquias dos mártires dos dois séculos recentes. É caso para dizer que o seu sangue se une ao de Cristo.
E para terminar a volta, oração em Santa Maria em Trastevere. Aqui, a beleza da igreja se une à beleza do canto e da oração. Rezar com os pobres, foi a oração de hoje. Não sei se eles vieram rezar mas peço a Deus que cuide deles e me ajude a cuidar deles e a ser pobre.
Comove-me esta oração (das poucas que me comovem mesmo) e comove-me o cristianismo primitivo tão simples, puro e dedicado ao amor de Deus e ao amor ao próximo. Rezar numa basílica onde frequentemente se dá de comer aos pobres, em que o chão onde ajoelhamos é o chão onde se colocam as mesas da refeição, onde os bancos onde nos sentamos para rezar são os mesmos em que os pobres se sentam para comer, é trazer para o presente o que de mais belo herdámos dos nossos irmãos na fé daqueles séculos tão difíceis mas que não abandonaram a fé nem desistiram de amar... Senhor, que a tua Igreja seja verdadeiramente pobre e ao serviço dos pobres.
Entre ruas e pessoas encontro abandonado num banco um "homeless Jesus", do escultor Timoty Schmalz. Páro, para tirar uma fotografia e um casal que me observa, pára também, e olha para mim a fotografar um sem-abrigo. Não se se perceberam que era uma escultura...
Seria injusto não falar da basílica de Santa Sabina, onde estou. Aqui rezo com os meus irmãos. Para não esquecer a cela de São Domingos, onde gosto de terminar os dias. O de hoje termina aqui.

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