Pedro Claverie e Companheiros, Mártires da Argélia

É hoje beatificado um grupo de 19 mártires da Argélia, encabeçados pelo bispo dominicano Pierre Claverie. Além deste dominicano, contam-se também seis religiosas e a comunidade trapista que o filme "Dos deuses e dos homens" veio imortalizar. Todos amigos de Deus e das pessoas, sem distinção de religião. Hoje são para nós um modelo, certamente, mas também uma chamada de atenção para a perseguição religiosa que ainda nos nossos tempos acontece e, tantas vezes, pela calada.
Deixo aqui um extrato da homilia de Pierre Claverie, pronunciada no dia da tomada de posse da sua diocese de Orán, a 9 de Outubro de 1981:
Irmãos e amigos.
Todos nós somos nómadas.
Muitos de vocês são-no por causa do vosso trabalho, outros por causa das circunstâncias que vos forçou a se desenraizarem; mas, espiritualmente, todos somos nómadas.
A fé é o movimento em direcção a Deus: ela responde ao apelo irresistível do seu amor e nos leva a sair de nós mesmos para amar como Deus mostrou que amava a Jesus Cristo.
Movimento para Deus, a fé é igualmente um movimento para o outro que pede e espera o nosso amor, a quem Deus nos envia para manifestar seu próprio amor.
Nós conhecemos esse amor e acreditámos nele; nós vimo-lo em prática na vida de Jesus e na dos que vivem do seu Espírito.
Ele agarrou-nos e preparou-nos. Acreditamos que pode renovar a vida da humanidade se ela o reconhecer.
Mas como reconhecê-la se ela não for praticada por testemunhas autênticas?
Deus concedeu-nos conhecer a Cristo para que fossemos suas testemunhas. Enviado por Ele, onde estamos e moramos o primeiro acto da nossa missão será acolher e deixar habitar esse amor em nós.
Antes de falar, correndo o risco de sermos apenas címbalos que retinem, hipócritas e mentirosos, somos chamados a dar carne ao Espírito de Deus num coração aberto, «um coração que ouve».
Mas como escutar se estamos cheios de nós mesmos, das nossas riquezas materiais ou intelectuais, se corremos o mundo na abundância, se esmagamos os outros com o nosso poder?
A nossa sorte, aqui na Argélia, é ser bastante pobre (mas, será isso suficiente?) de riquezas, de nossas pretensões e de auto-suficiência para ser capaz de ouvir, acolher, partilhar o pouco que temos.
Agradeçamos a Deus, porque ele faz regressar a sua Igreja à simples humanidade, sem trajes aparatosos ou disfarces, sem tons ou brilhos ridículos.
Alegremo-nos por tudo o que nos pode nos tornar acolhedores e disponíveis, mais ansiosos para nos darmos do que nos defendermos. O discípulo enviado por Cristo é o homem na sua humanidade simples, o homem iluminado, disponível, despojado de tudo que o desordena pesa.
O homem que não se confunde com o seu dinheiro, os seus diplomas, as suas decorações... Disponível para amar, com o preço mais precioso que ele tem, a sua vida.

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