Anno histórico: Frei Luís de Granada

No mesmo dia, ano de 1588, com oitenta e três de idade, e quarenta e sete de assistência em Portugal, faleceu santamente na Cidade de Lisboa o Venerável Padre Fr. Luiz de Granada, natural da Cidade do mesmo nome, da Sagrada Ordem dos Pregadores. Foi Mestre de Filosofia e Teologia Especulativa, Polémica, Moral, e Ascética, Varão Apostólico, Mestre universal do Espírito, Visitador e Provincial da Província de S. Domingos de Portugal, eleito de comum consenso pela mesma Província; na qual, e neste Reino, era venerado com afectos de nacional, e venerações de Santo. Foi Confessor de El Rei Dom João III, da Rainha Dona Catarina, e do Cardeal Infante Dom Henrique, e sem o seu parecer não resolviam os negócios graves. Rejeitou com grande constância e resolução o Bispado de Viseu, o Arcebispado de Braga, e a púrpura Cardinalícia, oferecida por Sixto V e se dedicou todo ao serviço de Deus e do próximo, no Púlpito, no Confessionário, nas Missões, e nos piíssimos, e utilíssimos livros, com que ilustrou a Igreja, principalmente com o livro de ouro da Oração e Meditação, que apenas apareceu no mundo, quando se viu traduzido em nove línguas. Escreveu mais na vulgar dez livros espirituais, com treze Sermões das principais festas de Cristo e Maria, a que se ajuntou, em algumas impressões o excelente Tratado ou Sermão dos escândalos, a que deu motivo a Freira da Anunciada, de que falámos em outra parte, sendo o Mestre Fr. Luiz e de Granada um dos muitos homens doutíssimos, que se enganaram com ela. Na língua Latina escreveu nove tomos de Sermões, e de Retórica sagrada. As estimações e aplausos destes livros são incomparáveis. O Papa Gregório XIII lhe escreveu uma carta, em forma de Breve, expedido em Roma a 21 de Julho de 1582 em que lhe recomenda com muitos louvores a continuação dos mesmos livros, com as poderosas palavras seguintes: Prossegui, pois, e trabalhai; e levai por diante as obras que tiverdes principiadas: porque fomos informados trazeis algumas entre mãos; e fazei por acabá-las para saúde dos enfermos, confirmação dos fracos, alegria dos sãos e honra da Igreja Militante e Triunfante. Muitos Bispos, e Arcebispos concederam Indulgencias a quem ler, ou ouvir ler qualquer parte das mesmas obras, por entenderem que não podiam dar às suas ovelhas melhor pasto. Teve ardente caridade, eximia pobreza, profunda humildade, e sublime desapego das coisas do mundo. Nas alterações que houve neste Reino com a invasão dos Castelhanos, sendo perguntado de que partido, e parecera, respondeu: Não sou Castelhano, nem Português: sou Frade de São Domingos.
(Anno Histórico, vol. III, par. VI, p. 566-567)

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