Caminhos de Advento II

Talvez este tempo do Advento seja o tempo mais profundo do ano litúrgico porque, se repararmos bem, a caminhada do Advento resume a toda a nossa existência cristã. De facto, a nossa vida é um Advento, é uma espera de um encontro, do nosso encontro definitivo com Deus. E, na liturgia, durante o tempo do Advento, vão-nos surgindo figuras e temas que nos ajudam não só a preparar o Natal, a recordação da maior intervenção de Deus na História, mas também a vinda actual de Jesus, uma vinda presente, quotidiana e preparamos ainda a sua vinda futura, a escatológica quando Cristo vier no final dos tempos reunir-nos no seu amor.
Neste segundo domingo aparece-nos a figura austera de João Baptista. É chamado de Percursor, ou seja aquele que vem preparar o Natal, o caminho para que passe o Messias.
A palavra ‘Advento’ é anterior ao cristianismo. Aliás, ela vem do mundo pagão. Como sabemos ela significa ‘vinda’. Chamava-se Advento à preparação da vinda do Imperador a uma cidade importante. Por isso tem todo o sentido, em tempo de Advento, a figura de João Baptista.
A missão do Percursor insere-se na missão dos Profetas. João vem anunciar ao povo que o Messias está a chegar e à sua chegada todos devem estar prontos para o receber. Por isso, João percorre as margens do Jordão para chamar ao povo à penitência. João não castiga, João não julga. João é a voz de Deus que clama no deserto.
Porque é que João foi para o deserto? Não teria sido mais eficaz a sua pregação na cidade? João escolheu o deserto talvez porque o deserto lembra a aridez da vida. No deserto não há nada… só areia e às vezes os oásis reais mas muitas vezes imaginários. E o deserto para o povo judeu faz-lhe lembrar o caminho para a terra prometido. Aqueles quarenta anos de caminho duro, em que o povo experimentou a presença de Deus apesar da sua infidelidade a Deus.
João vai para o deserto e o povo que quer preparar a vinda do Messias também lá vai. Vai receber baptismo de perdão. É este movimento que Deus espera de nós. Irmos ao seu encontro, irmos ao deserto experimentar Deus.
João era a voz da esperança para os que o ouviam. Era a voz que denunciava o mal e anunciava o Bem que viria destruir as injustiças, as guerras, o pecado. O Messias virá aplanar tudo, não para destruir mas para tudo florescer com a passagem de Deus.
Esta foi a primeira missão do Baptista: chamar à conversão.
Mas João tinha uma outra Missão: anunciar a salvação não num futuro incerto mas num presente. Lembremos o que João diz quando, no deserto, viu passar Jesus: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”.
Fazer a experiência de Deus como João anunciava implica então, uma conversão de vida como preparação do caminho para Jesus passar. Passar do luto á alegria, como nos convidava a profecia da primeira leitura, ver que todos se alegram com a presença de Deus, de que tudo ganha sentido de que tudo se torna belo.
Com Deus na nossa vida o deserto transforma-se em oásis, a guerra transforma-se em paz, a tristeza converte-se em alegria.
Foi isto que João pregou. É isto que nós devemos preparar neste tempo favorável em que pedimos a vinda de Deus ao nosso mundo, à nossa vida.
Maranatha é a palavra do Advento. Maranatha! Vem Senhor Jesus! Foi este o grito do povo que esperava Messias, foi esta a consolação dos primeiros cristãos em tempo de tribulação. Seja este o nosso desejo para um novo mundo e uma nova vida: Maranatha! Que quando Ele vier, o nosso caminho esteja aplanado, que o saibamos reconhecer e acolher para também nós podermos sentir e experimentar esta salvação que nos é oferecida por Deus.

(imagem: São João Baptista, Francesco del Cossa, 1473)

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